Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO!!! Como é bom voltar aqui e postar mais um capítulo pra vocês. E aí quem vai votar amanhã, hein? Hehehe. Ok. Aproveitem o capítulo. Bijus.



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Eu corria pelos corredores de casa a procura de Alice, mas não a encontrava em lugar nenhum.

– Cadê ela? – eu perguntava toda vez que entrava em algum cômodo e não a via.

– Cadê quem, Katniss? – ouço Peeta perguntar atrás de mim.

– A Alice, Peeta. Eu não estou achando ela em lugar nenhum. – respondi a procurando em baixo da cama.

– Alice? – perguntou Peeta. – Quem é Alice?

– É sério Peeta. Eu não estou brincando. Eu não estou achando a Alice.

– Eu estou falando sério. Quem é Alice? – me pergunta ele novamente.

Fico surpresa e me levanto olhando para Peeta, ele estava sério. Ele realmente não estava brincando.

– Peeta... Alice é nossa filha. – repondo com calma.

– Filha? Katniss, nós não temos filhos. – diz ele com convicção.

– Que idiotice é essa que você está dizendo? É claro que temos uma filha. – respondo irritada.

Aproximo-me dele e seguro seu rosto olhando seus olhos, buscando algum indicio de que ele esteja tendo um flashback. Mas tudo que vejo é a cor azul de seus olhos, misturado com confusão e preocupação. Ele põe as mãos dele em cima das minhas.

– Não, não temos. – diz ele.

– Temos sim, eu tenho certeza. Eu vou te provar.

Pego ele pela mão e o conduzo até o quarto de Alice. Mas tenho uma horrível surpresa quando abro a porta e noto que o quarto está do jeito que Prim o deixou antes de ir para o Distrito 13.

O que?! Onde está a cama de Alice? Seus brinquedos? Seu armário cheio de roupas? Onde está a pintura da floresta verde com o pôr-do-sol laranja?

Desesperada, saio do quarto e corro até o ateliê de Peeta, mexo em todos os quadros buscando as pinturas que ele fez de Alice, mas não encontro nada. Peeta entra no ateliê, mas não diz nada.

Eu corro até a casa de Haymitch e bato com força na porta.

– Ei, ei, ei. Não vai quebrar a minha porta, docinho. – diz ele abrindo a porta.

– Onde está Alice, Haymitch? Onde ela está? – pergunto quase chorando.

– Alice? Quem é essa? – pergunta ele.

Joe se aproxima e para ao lado de Haymitch. Eu me abaixo e seguro os dois braços do garoto.

– Joe. Onde está Alice? Vocês estão brincando de esconde-esconde? Me diz. Você sabe onde ela se escondeu? – pergunto.

O garoto apenas me olha confuso e assustado.

– Alice? – pergunta ele.

– É Joe. Alice. LICE!!! Lembra que você a chama de Lice?

– Lice? – pregunta o garoto.

– Sim. Você sabe onde ela está?

– Não conheço tia Kat. – responde o garoto.

– O que? É claro que conhece.

Haymitch me puxa, Joe aproveita a chance e sai correndo.

– Katniss qual é o seu problema? Quem é Alice? – fala Haymitch.

– ALICE É MINHA FILHA!!! VOCÊ SABE!!! A GAROTINHA DE CABELOS IGUAIS AOS MEUS, OLHOS AZUIS IGUAIS AOS DO PEETA E DE PERSONALIDADE IGUAL A MINHA. – eu grito em desespero enquanto choro.

– Não é a primeira vez que ela fala isso. – fala Peeta subindo os degraus da sacada. – Já faz algum tempo que ela fala dessa tal Alice. – ele se aproxima de mim e me abraça. – Tudo bem Katniss. Nós podemos ter uma filha se você quiser. Eu também quero. Nós podemos até chama-la de Alice.

Eu saio de seu abraço e me afasto indignada.

– MAS NÓS JÁ TEMOS UMA FILHA, PEETA!!! NÓS JÁ TEMOS A ALICE.

– Calma. – diz Peeta. – Tudo bem.

– NÃO. NÃO ESTÁ TUDO BEM. – eu me viro e saio correndo. Irei encontrar Alice nem que leve o resto da vida para encontra-la. Corro enquanto grito. – ALICE!!! ALICE!!! ALICE!!!

– Katniss. Acorda. Está tudo bem. Vamos, amor. Acorda. – Peeta me sacode.

Me sento na cama rapidamente gritando uma última vez o nome de Alice. Estou ofegante e suada. Parece que eu realmente estava correndo. Olho Peeta por um instante. Ele me observa preocupado. Ele não diz nada. Começo a acreditar no meu próprio pesadelo. Então me levanto e corro em direção ao quarto de Alice... Ou de Prim... Ou de sei lá quem. Abro a porta devagar e sinto um alivio ao ver tudo no seu lugar e Alice dormindo tranquilamente na cama. Me escoro em uma parede e apoio as mãos nos joelhos.

– Não foi real. – sussurro pra mim mesma.

– Foi só um pesadelo. Mais um dos muitos que você está tendo ultimamente. – fala ele entrando devagar no quarto.

Eu realmente estava tendo muito mais pesadelos do que o normal nos últimos meses. E sempre que acordo começo a acreditar que eles são reais, tenho que provar a mim mesma que não passa de coisa da minha cabeça. Esses pesadelos devem ser consequência das inúmeras brigas que Peeta e eu andamos tendo ultimamente. Elas sempre começam do nada. Estamos conversando e quando nos damos conta, estamos gritando um com o outro. Até Alice parece ter se habituado com essas brigas, pois quando a temos ela sempre se afasta calmamente. Vai a outro cômodo.

– Que marca é essa na sua bochecha? – pergunto ao notar uma marca vermelha na bochecha de Peeta.

– Você me deu uma bofetada. – respondeu ele.

– Eu dei?

– Sim.

– Quando? Não lembro de ter feito isso.

– É que você estava tendo o pesadelo e começou a gritar e se mexer na cama. Eu fui tentar te acordar e você acabou acertando um tapa no meu rosto.

– Nossa! Sinto muito. – digo o abraçando. – É que foi horrível, Peeta. Ela simplesmente não existia. E ninguém a conhecia ou se lembrava. Nem Joe a conhecia.

– Não conhecia quem, Katniss? – perguntou Peeta com a cabeça apoiada na minha cabeça.

– A Alice. Ela não existia. Só eu sabia quem ela era. Nem você sabia quem era.

– Ela existe sim, meu amor. Ela está dormindo bem ali, está vendo? E eu sei quem ela é. Foi só um pesadelo. – me consola Peeta, me abraçando com mais força.

– Eu sei. Me desculpa. É que parecia ser tão real.

– Os pesadelos estão ficando cada vez piores, não é?

– É, estão ficando cada vez mais realistas.

– Talvez, seja melhor ligar para o Doutor Aurelius.

– NÃO!!!

– Shhh, fala baixo. Você vai acordar a Alice.

– Não ligue pra ele. – falei baixando o tom de voz. – Ele vai querer que eu volte pra Capital para fazer exames e eu não quero voltar pra lá. Por favor, Peeta. Por favor não ligue para o Doutor Aurelius. Por favor.

– Tudo bem. Mas se isso piorar eu não vou ter escolha.

Eu sei que não adiantaria discutir com Peeta em questão a isso. Se ele quisesse ligar, ele ligaria. Eu não conseguiria impedi-lo. Decidimos sair do quarto de Alice antes que nós a acordássemos com a nossa conversa. Voltamos ao nosso quarto, tomamos banho, escovamos os dentes, trocamos de roupa e descemos pra preparar o café-da-manhã.

– Delly vem hoje, não é? – pergunto.

– Sim, é hoje. – responde Peeta.

Delly ligou duas semanas atrás perguntando se tinha algum problema vir aqui nós visitar, aliás, visitar Peeta. Colocamos o telefone no viva-voz para nós dois podermos falar com ela. Mas quem falou o tempo todo foi Peeta e ela. Ela conseguiu dar um jeito de me manter fora da conversa. Então saí do escritório e fui para cozinha preparar o almoço. Peeta tem me ensinado algumas coisas a respeito disso. Quando volta, ele diz que Delly viria pra cá daqui a duas semanas, ou seja, hoje. Não gostei muito da ideia. Se ela já me deixou fora da conversa por telefone, imagina só nós três na sala. Tenho que confessar que esta visita de Delly não está me agradando nem um pouco. Mas como é amiga de Peeta, não disse nada. Já tirei muitas coisas de Peeta, sua perna, sua família, sua sanidade, ... Não iria tirar os poucos amigos que lhe restaram também.

– Você vai busca-la na estação de trem? – pergunto.

– Vou. Você pode ir comigo, se quiser.

– É, pode ser. – respondo com desdém.

– Tem algum problema acontecendo aqui? – pergunta Peeta suspeitando.

– Nenhum. Por quê?

– Porque parece que você não está muito feliz com a ideia de Delly vir nos visitar.

– Nada a ver.

– Nada a ver? Tem certeza?

– E que eu acordei do lado errado da cama. Meu dia já não começou muito bem.

– Katniss, não minta pra mim. – falou ele me encarando seriamente.

Graças a Deus, Alice entra na cozinha, dando um fim aquela conversa desagradável.

– Olha só quem acordou! – digo para distrair Peeta.

Ele segue meu olhar e sorri ao ver Alice.

– Bom dia, meu anjinho. Vem aqui com o papai. – diz Peeta abrindo os braços para ela.

Alice se senta no colo de Peeta e apoia a cabeça em seu peito.

– Já escovou os dentes, filha? – pergunto enquanto pego o achocolatado em pó.

– Não. – ela responde.

– Mas então vai escovar. – digo.

– Ahhh, mãe. Não quero. – diz ela.

– Não tem não quero. – fala Peeta. – Se você não ir escovar seus dentes, eu vou tomar todo o seu achocolatado.

– Tá bom. – bufa ela, enquanto sai do colo de Peeta e sai da cozinha.

Vejo nos olhos de Peeta que ele ia voltar no assunto sobre Delly, então tratei de arranjar uma desculpa.

– Eu vou lá em cima trocar a roupa de Alice. Você pode terminar de preparar o achocolatado dela pra mim?

– Claro, pode ir. – diz ele se levantando da cadeira.

Subo e ajudo Alice a pentear os cabelos.

– Ai mamãe!!! Está doendo. – reclama ela, quando o pente prende em um nó.

– Desculpa, mas seu cabelo está cheio de nós. Como você consegue fazer isso, hein? Você nem tem tanto cabelo assim.

Termino de arruma-la e nós duas voltamos pra cozinha. Alice logo vai ao encontro de seu café-da-manhã. Peeta estava sentado à mesa, lendo o jornal.

– Por que demoraram tanto? – pergunta ele abaixando o jornal.

– O cabelo da Alice estava repleto de nós. – respondo indo na pia lavar a louça.

– Mamãe fez dodói em mim. – reclama Alice pro pai dela com uma voz dengosa.

– Ah, é? – diz Peeta no mesmo tom de voz. – Mamãe fez dodói em ti? – Alice apenas concordou com a cabeça. – Que feio, mamãe!!! Não faz dodói na Alice.

– Então na próxima vez você tira os nós dos cabelos dela enquanto eu faço o achocolatado dela. – digo me sentando.

– Não, não, não. – responde ele rapidamente. – Tenho certeza que foi sem querer.

Na primeira vez que Peeta tentou pentear os cabelos de Alice, ela morreu chorando. Eu tive que varrer um monte de cabelos que Peeta conseguiu arrancar da cabeça dela. E na última vez, Alice saiu correndo enquanto Peeta corria atrás dela com um pente em mãos. Eu me retorcia de tanto rir quando vi aquela cena.

– Já terminou de ler o jornal? – pergunto.

– Já.

– Pode me emprestar pra eu ler? – pergunto.

– Ah claro, pode pegar. – ele foi tentar pegar o jornal que estava em cima da mesa, mas a mão dele entrou em contato com a madeira da mesa, ele olhou pra mesa confuso e perguntou – Ué? Cadê o jornal que estava aqui?

– Não sei, não estava com você?

– Estava. Como o jornal pode... – ele parou ao ouvir um barulho de papel rasgando na sala. Quando olhamos para trás vimos que Alice havia desmanchado todo o jornal e espalhado tudo pelo chão e rasgava as páginas em pedaços. – ALICE!!! – Peeta se levanta e caminha pra sala, olhando os vários pedaços de papel espalhados pela sala inteira.

– Meu Deus! – falo surpresa. – Como ela conseguiu fazer este estrago todo tão rápido?

Peeta não responde a minha pergunta pois estava ocupado ralhando com Alice.

– Alice, olha o que você fez. Olha está bagunça. Você não pode rasgar o jornal. O jornal é do papai. Não é seu. E mesmo se fosse, ele não foi feito para ser rasgado.

Alice escutava Peeta atentamente a certa distância, estava segurando pedaços de jornal com as mãos.

– Você vai castiga-la? – pergunto.

Normalmente o castigo de Peeta é dar uma leve palmada no traseiro de Alice. É tão leve que nem deve chegar a doer, mas Alice cai no choro do mesmo modo.

– Claro que vou. – ele me responde e volta a falar com Alice. – Alice, pode vir aqui receber seu castigo.

É claro que ela não foi, pois sabe que vai apanhar. Ela sai correndo porta a fora ainda com os pedaços de papel em mãos.

– ALICE! VOLTE AQUI AGORA! – eu grito correndo atrás dela.

Ela corre estranhamente rápido para uma criança tão pequena. Peeta corre mais atrás por causa da perna. Ela corre até a casa de Haymitch e invade a residência. Peeta e eu entramos logo após. Quando chegamos na sala, nos deparamos com Haymitch tentando segurar no colo uma Alice que não para de gritar e se mexer.

– ME SOLTA. – exige Alice quase caindo do colo de Haymitch.

– Pare quieta, menina. – diz Haymitch, assim que vê nós ele pergunta. – O que está acontecendo? Por que ela entrou correndo na minha casa?

Assim que Alice vê Peeta começa a gritar e se mexer mais ainda.

– PAPAI VAI BATER EM MIM. – grita ela em desespero.

– Se seu pai vai bater em você é porque você fez alguma coisa. – diz Haymitch.

– É que ela rasgou um jornal e espalhou todos em pedaços pela sala inteira. – respondo.

– Mas você também é uma figura, né garotinha? – fala Haymitch. – Tome essa criança.

Peeta pega ela e finalmente dá seu castigo a ela. Dá duas vezes na verdade, já que, além de ter picotado e espalhado o jornal, ela também saiu correndo pra rua e invadiu a casa de Haymitch. Ela abre a boca e não fecha mais. Parece até que Peeta deu uma chicotada nela e não uma palmada.

– Pare com esse escândalo, Alice. – eu digo enquanto voltamos pra casa – Seu pai nem bateu tão forte assim em você. Sorte sua não ser filha do tio Hay.

Haymitch também dá uma palmada em Joe às vezes, mas diferente de Peeta, as palmadas de Haymitch deixam marcas no garoto, chega a dar pena. Deve ser por isso que o garoto é tão comportado.

– Sorte dela não ser filha da minha mãe. Aí sim ela poderia fazer essa choradeira toda. – diz Peeta quando entramos em casa.

Quando ele fala isso, lembro do dia que ele me jogou o pão. A horrível marca vermelha que ele ficou no rosto. Nossa, acho que o mundo todo tem sorte de não ter sido filho da mãe de Peeta.

– Então Alice, agora você vai juntar todos esses pedaços de jornal que você espalhou pela sala. Entendeu? – digo.

Ela apenas olha para o chão e balança a cabeça como resposta.

– Ótimo. – continua Peeta. – Depois vamos até a estação de trem buscar Delly.

– Quem é Delly, papai? – pergunta Alice ajuntando os pedaços de jornal do sofá.

– É uma amiga do papai e da mamãe. – responde Peeta.

“Do papai e da mamãe.” Acho que ele quis dizer só do papai. Porque Delly parece não gostar mais de mim como antes. Nos sentamos no sofá, para ver se Alice vai realmente juntar os pedaços de papel do chão ou se vai brincar com eles. Ela junta tudo e me entrega, eu coloco tudo no lixo da cozinha.

– Agora suba e escove os dentes. – digo a ela quando volto pra sala.

– Não. – ela diz.

– O que você disse? – pergunta Peeta, o tom que ele usa chegou a me dar arrepios, vejo Alice dar um passo para trás. – É melhor você obedecer a sua mãe se não quiser apanhar de novo.

Alice corre escada acima. Eu me sento ao lado de Peeta no sofá.

– Ela está ficando mal-educada. – comento.

– Estou notando. Mas pode deixar, eu não vou ser mais tão bonzinho assim com ela se ela não usar dos bons modos.

– É mais fácil ela obedecer a você do que a mim.

– Por que você diz isso? – pergunta Peeta confuso.

– Só pelo fato de você ser homem. A sua voz grossa já ajuda bastante. Até eu fico com medo às vezes.

Peeta começa a rir.

– Vou levar isso como um elogio, então... Obrigado.

– De nada. – respondo rindo também.

– Mas no começo era você que tinha um controle maior sobre ela.

– Você não tinha no começo porque a mimava demais.

– Eu não mimava ela tanto assim. – retruca Peeta.

– Ah, mimava sim. Era só ela dar uma choradinha que você fazia as vontades dela.

– Katniss, isso não tem nada a ver e...

Decidi interromper ele, pois sabia que isso estava nos levando para mais uma briga.

– Tudo bem, esquece que eu falei aquilo, ok?

– Não, Katniss. Me deixa falar...

– Não. Vamos mudar de assunto. Isso está nos levando pra mais uma briga, e eu não quero brigar com você de novo.

– Não estamos brigando, estamos conversando.

– É, mas ultimamente, qualquer conversa que a gente tenha nos leva a uma briga. E eu estou cansada disso.

– Você tem razão. Por que será que isso está acontecendo? – pergunta Peeta.

– Eu não faço ideia. – eu deito no sofá e apoio minha cabeça no colo dele. – Só sei que não gosto disso. E queria que parasse.

– Eu também. – diz ele acariciando meus cabelos.

Alice voltou e decidimos ir esperar Delly na estação de trem. Andamos tranquilamente, cada um de nós segurava uma das mãos de Alice. Ela se pendurava e nós a balançávamos para frente e para trás.

– Papai, estou cansada. – reclama Alice.

– Tudo bem, venha aqui. – Peeta a leva no colo. – Só não vai dormir.

– Eu não vou papai, eu prometo. – responde Alice.

Quando chegamos na estação Peeta solta Alice no chão e ela se põe a correr de um lado para o outro.

– Alice, só não vai correr nos trilhos, pelo amor de Deus! – grita Peeta, eu rio da preocupação dele e ele comenta. – É que ela é arteira, é só a gente piscar que ela some.

Nisso eu tinha que concordar, Alice adora fazer arte. Está sempre nos surpreendendo. O trem não demora a chegar, Alice se assusta quando a apito toca e corre até nós. Olhamos para a porta do trem, esperando para ver quando Delly sairia. Por fim ela sai, carrega uma mala pequena, parece que ela não quer passar muito tempo com nós. Assim que avista Peeta ela larga a mala e corre em direção a Peeta e praticamente se atira nele. Peeta parece mais surpreso do que eu, tanto que ele nem se tocou em abraçar Delly de volta. Ele parece notar e abraça. Que tipo de pessoa se atira nos braços de um homem casado? Ok, é óbvio que eu esperava um abraço dos dois, inclusive Peeta me viu abraçando Gale. Mas Gale não se jogou em cima de mim. Ele me abraçou como um amigo deve abraçar uma amiga. E era esse tipo de abraço que eu esperava dos dois.

– Oh Peeta, que bom ver você de novo. – diz Delly ainda abraçada nele.

– É bom ver você também Delly. – responde Peeta, tentando empurrar Delly, mas ela parece decidida a não solta-lo.

Eu finjo uma tossida e digo:

– Oi Delly, é muito bom ver você.

Ela, finalmente, larga Peeta e me olha como se eu fosse um bicho.

– Ah, oi Katniss. – diz Delly em tom desanimado.

“Já vai começar.” Penso comigo mesma. Olho para Delly com as sobrancelhas arqueadas. Peeta parece notar, pois muda nossa atenção para Alice.

– Você já viu minha filha, Delly? – pergunta Peeta, pegando Alice no colo.

– Ah, então essa é a Alice Mellark? – indaga Delly olhando para Alice com um sorriso no rosto.

– É sim. Ela não é linda?

– É muito bonita. Ela tem seus olhos. – diz Delly.

– Ela é cara da mãe, não é? – pergunta Peeta, deixando claro o orgulho que estava sentindo.

– É um pouquinho parecida. – afirma Delly com desdém.

Um pouquinho? Como assim um pouquinho? Panem inteira diz que ela é uma cópia minha, com exceção dos olhos.

– Como assim um pouquinho? – pergunta Peeta. – Ela é a cópia da Katniss. – ele olha para Alice e a sacode de leve dizendo. – Olha Alice, essa daqui é a Delly. Diz um oi pra Delly.

Alice não diz nada, só fica olhando para Delly.

– Oi Alice. Eu sou a Delly. Sou amiga do seu pai. – fala Delly como se estivesse tentando estimula-la a falar.

Alice continua com a mesma expressão olhando para Delly, como se Delly não tivesse falado absolutamente nada com ela. Ela desvia seus olhos de Delly para mim e ergue os braços na minha direção.

– Mamãe. – diz ela.

Eu a pego e deixo um minúsculo sorriso invadir meus lábios.

– É, acho que ela não gostou muito de mim. – comenta Delly.

– É que ela acabou de te conhecer. – retruca Peeta. – Mas vamos sair desta estação, vamos pra nossa casa.

Caminhamos lentamente para casa, e, mais uma vez, Delly conseguiu me deixar fora da conversa. Alice estava caminhando um pouco a nossa frente, então enfiei as mãos nos bolsos e fiquei observando ela. Em um momento Peeta entrelaça minha cintura com o braço, me puxando para perto dele. Vejo o fogo de raiva queimar nos olhos de Delly.

– Mas nós não queremos, né amor? – Peeta me pergunta.

– Hã? Não queremos o que? – pergunto pois não estava prestando atenção na conversa dos dois.

– Ir visitar a Capital. – fala Peeta olhando pra mim preocupado.

– Não, não queremos. – respondo.

– Você está bem? – pergunta Peeta.

– Por que a pergunta?

– Você está muito quieta.

– É que eu estou cuidando a Alice. – respondo apontando para ela. – Como você mesmo disse: é só a gente piscar que ela some.

– Tudo bem, então. – diz Peeta não se sentindo muito convencido.

Finalmente chegamos em casa, eu levo a pequena mala de Delly para o quarto de hóspedes. Peeta, Delly e Alice ficaram lá embaixo. Ofereço alguma coisa para Delly beber, mas como ela não aceita, eu me sento no sofá com eles.

– Então Delly, decidiu ficar no Distrito 13? – pergunta Peeta.

– Ah sim. – responde Delly. – Ainda mais agora que não precisamos ficar escondidos, esperando que bombas caiam nas nossas cabeças. E você Peeta, ouvir dizer que você reabriu a padaria. É verdade?

– É sim. – responde Peeta animado. – Katniss me deu a ideia, se não fosse por ela a padaria nem existiria.

– Ah. – responde Delly. – Parece que ela fez uma grande diferença na sua vida.

– É claro que fez, sempre fui apaixonado por ela. Lembra que eu ficava enchendo seus ouvidos de tanto falar da Kat?

– É, lembro.

Talvez seja por isso que Delly não vai muito com a minha cara. Imagino Peeta falando todos os dias sobre mim para Delly. Acho que nem eu suportaria.

– E agora estou feliz, ainda mais porque Katniss me deu uma filha.

– Mas você já se recuperou de tudo que aconteceu? – pergunta Delly, mostrando que não queria falar sobre mim.

– Nós estamos nos recuperando aos poucos. Ainda acontecem alguns incidentes.

Como notei que eu estava sendo excluída da conversa, peguei a Alice e a arrumei para irmos para um parquinho que inaugurou há algumas semanas atrás. Visto Alice com um macacão. Arrumo uma pequena mochila pra ela e desço.

– Vou levar Alice no parquinho. – falo sem olhar para Delly, se sou invisível pra ela, ela também será invisível pra mim.

– Você não quer ficar pra conversar com a gente? – pergunta Peeta.

– Não, vou deixar vocês dois conversando. Lembra que você fez o mesmo comigo e com Gale? Acho que está na hora de retribuir o favor.

– Mas eu não me importo se você ficar. – tenta Peeta mais uma vez.

“Mas Delly se importa, seu babaca.”

– Mas agora já arrumei Alice e ela está bem empolgada pra sair. – falo, arranjando mais uma desculpa.

– Tudo bem. Bom passeio.

– Dá tchau pro papai, Alice. – digo a ela.

Alice corre até Peeta e o abraça, deixando um beijo na bochecha dele. Assim que Alice sai de perto de Peeta, eu me aproximo dele deixando um longo beijo em seus lábios. Obviamente fiz de proposito. Se Delly quer que façamos um joguinho então faremos um joguinho. Assim que me afasto dos lábios de Peeta, eu vejo as sobrancelhas dele arqueadas como se perguntasse: “O que foi isso?” Me viro para Delly.

– Até mais Delly. – falo com um sorriso irônico nos lábios.

– Até. – ela responde com um sorriso igual.

Alice e eu caminhamos até o parquinho devagar. Afinal, para que a pressa? Delly e Peeta devem ter muito que conversar. Quando chegamos lá, os olhos de Alice chegam a brilhar quando vê aqueles brinquedos, é a primeira vez que ela vai ao parquinho. Ela aponta para o balanço enquanto grita:

– Olha mamãe.

– Estou vendo, é um balanço. Quer ir nele?

– Quero. – diz ela ao pulos.

Eu rio e respondo:

– Então vamos, eu posso te empurrar.

Ela corre até o balanço e se senta nele, me esperando para empurra-la. Coloco a mochila nas costas e a empurro. Mas em pouco tempo ela se cansa e troca de brinquedo, eu me sento a um banco próximo e a observo. O parquinho está bastante cheio, e Alice consegue fazer bastantes amigos em pouco tempo. Acho que nesse ponto ela puxou ao Peeta. Fico me perguntando de onde crianças tiram tanta energia. Elas não se cansam de correr. Meus questionamentos são interrompidos por uma mulher que se senta ao meu lado.

– Você é a Katniss? – pergunta ela.

– Sou. – respondo.

– Katniss Everdeen? A garota em chamas? O tordo?

– Sou eu mesma.

– Eu não acredito. Eu era sua fã. Minha família inteira sempre torceu por você e pelo Peeta.

Não precisei perguntar, só seu sotaque engraçado já me dizia que ela morava na Capital.

– Obrigada. – falei, pois não sabia o que responder.

– Nossa, espera. Eu preciso falar isso pro meu marido. – ela diz e acena para um homem que brincava com uma criança na caixa de areia. O homem levanta deixando o garoto sozinho e caminha até nós. – Olha, amor. Essa é a Katniss Everdeen.

– Nossa! Jura? Caramba! É um prazer conhece-la. – diz ele apertando a minha mão e quase a arrancando fora.

– O prazer é meu. Agora, com licença. – digo, puxando minha mão e me levantando, indo ao encontro de Alice. – Vamos, Alice. Já está tarde, seu pai está nos esperando.

– Ahhh, mãe. – diz ela.

– Vamos, eu trago você outro dia. – digo pegando sua mão e a puxando.

Ela não reclama mais, eu a pego no colo para irmos mais rápido. Fiquei com medo que aquele casal tivesse a ideia de nos seguir. Parei em frente à porta de casa e olhei para os lados, para ter certeza que ninguém nos seguiu. Parecia estar tudo bem.

Parecia estar tudo bem até o momento em que eu abri a porta e me deparei com a cena de Delly e Peeta se beijando.


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Notas finais do capítulo

Oizinho de novo. Eu sei, alguns de vocês talvez fiquem furiosos comigo, mas não vou poder escrever outro capítulo antes do sábado. Então terão que imaginar o que vai acontecer no próximo Capítulo. Please, não me matem. Até sábado que vem, e, não se esqueçam de comentar. Beijocas da Tia Rafú pra vocês! ;)