Ao nascer de uma nova Esperança escrita por Rafú


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO, consegui postar em tempo recorde e conseguir matar a curiosidade de vocês, obrigada pelos comentários, nunca tive tantos em um único capítulo. Não pensei que tantas leitoras ficariam tão furiosas comigo. Mas acho que eu agiria da mesma forma. Enfim, vamos ao capítulo. Aproveitem!!! Bijus.



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Mas ouço um grito. Não vindo de Peeta, mas vindo provavelmente de Dexter. Abro os olhos e ao invés de Peeta caído, vejo Dexter caído com sangue escorrendo pela sua perna enquanto ele fala inúmeros palavrões. Mas atrás vejo Gale com a arma ainda apontada para Dexter enquanto se aproxima. Ele é seguido por vários outros homens fardados que apontam suas armas para os comparsas de Dexter. Peeta ainda está ajoelhado com olhos fechados, bem apertados. O homem que me segurava acaba de me soltar e eu corro e direção a Peeta me ajoelhando na sua frente e segurando seu rosto com as duas mãos.

– Peeta, abra os olhos. Você está vivo. Está tudo bem. Abra os olhos. – digo.

Ele abre os olhos, deixando várias lágrimas escorrer pelos olhos.

– Katniss...- é a única coisa que ele diz antes de me abraçar com toda força. Ajudo ele a se levantar e nos abraçamos outra vez. Eu me solto e vou em direção a David.

– Solte agora a minha filha. – digo com raiva.

Gale que tinha algemado Dexter interviu.

– Katniss, calma. Está tudo bem. David trabalha pra mim na verdade.

David me passa Alice sem resistência nenhuma.

– Trabalha pra você? – pergunto a Gale.

– Sim. David e Jim trabalham para mim. Jim é o homem que estava te segurando. – responde Gale pegando meu arco e minha aljava de flechas. Passo Alice para Peeta e pego minhas flechas e meu arco das mãos de Gale.

– Notei que ele não me segurava com tanta força. – digo. – Mas o que eles estão fazendo com o Dexter?

– Eles são espiões. Entraram para o grupo vingativo de Dexter para conseguir informações. – responde Gale.

– E foi assim que você soube que eu viria aqui hoje? – perguntou Dexter sentado, encostado no chafariz e olhando para Gale com ódio.

– Na verdade, sua irmã entregou você. – diz Gale calmamente.

– Minha irmã? – Dexter pergunta parecendo não acreditar.

– Sim, eu entreguei você seu babaca. – fala uma mulher ruiva se aproximando.

– Eu sabia. Eu sabia que não poderia confiar em você, sua vadia, desgraçada. – grita Dexter.

– Senhor o que fazemos com ele? – pergunta um homem a Gale.

– Levem para o hospital e logo após para a Capital, ele vai ser julgado e preso. Foi pego em flagrante. – responde Gale ao homem. – E não esqueçam dos comparsas. – fala apontando para os comparsas de Dexter que já estão algemados.

Eles levam Dexter embora, ele continua a gritar de dor e soltar vários palavrões.

– Será que podemos entrar? Para eu poder explicar pra vocês o que aconteceu? – nos pergunta Gale.

– Claro. Vamos entrar. – responde Peeta.

Entramos e nos sentamos no sofá. A irmã de Dexter entrou junto. Gale começa a contar toda a história.

– Então é o seguinte: há mais ou menos um ano e meio atrás, descobrimos que um dos filhos de Snow queria fazer vingança com as próprias mãos, de imediato começamos uma busca, mas percebemos que precisaríamos pegar ele em flagrante para que seu tempo na cadeia fosse maior. Então recrutamos dois de nossos espiões para esse grupo. Eles conseguiam nos passar informações, e além disso eles tem um rastreador aplicado no braço e onde quer que eles estivessem, Dexter estaria também.

– Conseguimos conquistar a confiança de Dexter, por isso para onde quer que ele ia, ele nos levava junto. – afirma David.

– Lembra quando vim aqui dizendo que iria levar minha mãe e meus irmãos para morarem comigo? – pergunta Gale.

– Lembro. – afirmo.

– Na verdade esse era um dos motivos para eu ter vindo aqui. O outro era pra ter certeza de que Peeta e você estavam seguros. O rastreador de David estava marcando o Distrito 12. O que me levou a pensar que ele iria querer te matar naquele dia. Mas fui informado que só David e outros comparsas haviam sido escolhidos para virem ao Distrito 12 para espionar vocês e conseguirem alguma informação para Dexter. Ele queria saber como era a rotina de vocês. Dexter ainda estava em seu esconderijo na Capital.

– Por que você não me contou nada aquele dia? – pergunto.

– Porque você estava grávida, eu já tinha causado muitas coisas em você aquele dia, então não tive coragem de te contar. E além disso, suspeito que tenha escutas nessa casa inteira. Se eu te contasse, isso só colocaria você e sua família em um perigo maior ainda. Falando nisso, posso mandar um dos meus homens conferir a sua casa?

– Claro, pode sim. – respondo.

Gale mandou dois homens conferir a casa enquanto continuava a história.

– Fui embora tranquilo, sabendo que você estava viva ainda. Mas sabia que o perigo continuava. Há uma semana atrás Jim conseguiu nos informar que dali a duas semanas Dexter iria para o Distrito 12, colocar seu plano em prática. Mas ele decidiu mudar seus planos na última hora.

A irmã de Dexter interviu nesse momento.

– Posso tomar a palavra, por favor? – perguntou ela.

– Claro, pode falar. – responde Gale.

– Creio que vocês não me conheçam. – fala ela se dirigindo a nós. – Sou Abigail Snow, filha de Snow e irmã de Dexter. Eu nunca concordei com o governo de meu pai, notava as injustiças e só assistia aos Jogos Vorazes quando era criança, pois meu pai me obrigava. Quando cresci ele não me obrigou mais. E eu não queria mais ver crianças inocentes matarem umas as outras. Mas meu irmão idolatrava meu pai, e amava tudo o que ele fazia, como meu pai odiava a Katniss, Dexter passou a odiá-la também. E esse ódio aumentou mais ainda após ele assistir nosso pai morrer. Ele estava decidido a conseguir vingança a qualquer preço. Ele montou um grupo de pessoas que estão contra o governo de Paylor. Começou a montar planos e espionar a vida de Peeta e Katniss. Ele me contava tudo que iria fazer, me deixava a par de cada detalhe. Ele já havia marcado a data para matar Peeta, ele queria pagar com a mesma moeda. Queria que Katniss sofresse o resto da vida. Mas ele decidiu mudar a data por um único motivo: o aniversário da irmã de Katniss. Ele soube o quanto ela ficava deprimida e se aproveitou disso. Não sei como ele conseguiu aquele gaio tagarela, ele não quis me contar isso.

Abigail foi interrompida por Jim:

– Ele nos falou hoje mesmo que iriamos ao Distrito 12 efetuar seu plano de vingança, em meia hora nos partimos. David e eu não tivemos tempo de avisar Gale que ele já estava vindo para cá. Mas eu sabia que Abigail era contra tudo isso e antes de partir consegui passar-lhe o número de Gale e disse a ela para ligar e avisar que a data seria hoje.

– Então, assim que Dexter se foi, eu liguei para Gale e avisei que Peeta seria morto hoje. – completou Abigail.

– Viemos para cá e esperemos o momento certo para conseguir pegar Dexter em flagrante. Assim que ele sair do hospital ele irá para a Capital, onde será julgado e preso, pássara um longo tempo na cadeia. – falou Gale.

– E como os juízes não vão saber que vocês estão mentindo? – pergunta Peeta, segurando Alice que acabou dormindo em seu colo.

– Simples, as roupas de David e Jim tem micro câmeras, foi tudo filmado. Além disso, temos Abigail que se ofereceu como testemunha contra o próprio irmão. – responde Gale com um sorriso satisfeito.

Nessa hora, os dois homens que Gale havia mandado conferir a casa, voltaram com vários aparelhos nas mãos.

– Senhor, achamos uma escuta em todos os cômodos da casa. Uma por cômodo. – eles colocaram tudo na mesa de centro.

Fiquei um pouco aflita. O que será que eles podem ter ouvido? E se ouvissem algo que não deveriam ouvir? Fiquei vermelha só de imaginar.

– O que vocês vão fazer com essas escutas? – perguntei com medo que eles tivessem a ideia de ouvi-las.

– Vamos queimar. – respondeu calmamente Gale. E logo após começou a rir. – Imagino que a pergunta que você realmente queria fazer era: “Vocês não vão ouvir isso, né?”

– Não. – tentei me defender. – É que... Bem... Quer dizer... Eu vou tomar um copo de água. – falei me levantando e me dirigindo a cozinha. Que droga. Ficou tão na cara assim? Iria ter que voltar a sala alguma hora então tentei disfarçar e mudar o foco da conversa. Voltei pra sala e perguntei. – Alguém aí quer suco? – me surpreendi quando todos, mas todos mesmos, com exceção de Alice que estava dormindo, disseram “Eu quero”. – Então venham até a cozinha porque eu não vou trazer tudo isso de copos até a sala.

– Será que eu posso levar nossa filha para o quarto ou tem algum perigo ainda? – perguntou Peeta, se levantando do sofá.

– Não, está seguro agora. Pode levar a pequena lá pra cima. –responde Gale.

O resto do pessoal me segue até a cozinha onde eu sirvo suco. Fiquei com medo que faltasse, mas, felizmente, deu pra todo mundo matar a sede. Eu queria oferecer alguma coisa pra comer, mas não havia comida suficiente para todo esse pessoal.

– Você está bem? – sussurra Peeta no meu ouvido, enquanto vejo Gale e seus soldados conversarem na cozinha.

Apenas balanço a cabeça em um sinal afirmativo. Mas na verdade eu estava me sentindo péssima. Primeiro, é aniversário de Prim e Prim não está aqui para comemorar o próprio aniversário. Segundo, descubro que caí em uma armadilha montada pelo filho de Snow. Terceiro, Peeta quase morreu, quase perdi meu marido e Alice quase perdeu seu pai. Quarto, Gale sabia disso o tempo todo e não pode me avisar. Quinto, havia escutas pela minha casa toda e só Deus sabe o que Dexter pode ter ouvido. E sexto, minha casa está cheia de soldados bebendo suco de laranja e eu não posso descontar toda a angustia que eu passei o dia todo com minhas lágrimas.

Haymitch invade nossa casa do nada como um louco.

– O que aconteceu lá fora? Porque tem uma poça de sangue perto do chafariz e um gaio tagarela morto dentro do chafariz? – ele para de gritar ao notar que minha casa estava cheia de homens ele olha para eles antes de perguntar – E por que esta casa está cheia de soldados?

Effie entra com Joe no colo.

– Meu Deus, Katniss. Vocês estão bem? O que aconteceu? Tem uma poça gigante... De onde venho esse povo todo?

– Calma, calma. Vamos pra sala que eu vou explicar a história toda. – fala Peeta tranquilamente.

Haymitch e Effie seguem Peeta até a sala. Eu fico de pé ao lado de Gale que está escorado na pia.

– Obrigada. – falo sem olhar pra ele.

– Pelo que?

– Você sabe. Por ter salvado meu marido.

– Não foi nada de mais. Estava apenas fazendo meu trabalho.

– Como assim não foi nada de mais? Peeta poderia estar morto agora. – digo um pouco mais exaltada.

– Eu sei. Eu só estava brincando. – diz ele se virando e lavando o copo que tinha em mãos.

– Ah, tá. Desculpa.

– Tudo bem. – um breve minuto de silêncio se faz – Ela é muito bonita, sabia?

– Quem?

– A sua filha. Qual é o nome dela?

– Alice.

– Ela é a sua cara. – diz ele rindo.

– Isso é o que todo mundo diz. – respondo com um sorriso. – Haymitch vai ter um treco assim que Peeta terminar de contar a história.

Mal termino de dizer isso vejo Haymitch se levantar do sofá e começar a gritar.

– MAS O QUE? NÃO ACREDITO. É CLARO QUE AQUELE VELHO BESTA DEVERIA MORRER. SE KATNISS NÃO DESSE UM JEITO NELE, EU MESMO DARIA. SORTE DESTE TAL DE DEXTER TER VINDO AQUI ENQUANTO EU NÃO ESTAVA EM CASA. SE NÃO, ELE IRIA VER COMO É QUE SE MATA UMA PESSOA. ESPERO QUE MORRA NA CADEIA E ENCONTRE O PAI DELE NO INFERNO. – todos na cozinha param de falar e observam Haymitch.

– Calma, Haymitch. – fala Peeta. – O importante é que ele já vai ser preso e nós vamos poder viver em paz.

– CALMA O CARAMBA. VOCÊS QUE FORAM MUITO CALMOS DE CONSEGUIREM PASSAR POR DUAS ARENAS E AINDA DAR A VOLTA POR CIMA E RECOMEÇAR A VIVER... – Haymitch ficou falando por um bom tempo, aliás, gritando por um bom tempo enquanto todos nós o observávamos da cozinha.

Sinto alguém cutucar minha perna, quando olho para baixo vejo Joe olhando para mim. Eu o pego no colo.

– Tia Kat, me dá suco? – pergunta ele.

– Claro. – falo soltando ele e indo até a geladeira pegar o suco.

Entrego um copo de suco a Joe, ele bebe tudo extremamente rápido e me devolve o copo. Eu o deposito na pia. Sinto mais uma vez uma cutucada na perna. Desta vez eu me abaixo. E Joe sussurra no meu ouvido.

– Tia Kat, cadê a Lice?

– A Lice está dormindo agora meu amor, tá?

– Tá. – ele volta correndo em direção a sala, mas é atacado por um dos soldados.

– Ô, pequeno. – diz David. Joe se assusta mas para e olha para o homem fardado. – Vem cá, moleque. – Joe caminha até lá, com medo. David o pega e coloca sentado sobre o balcão. – Diz aqui pro tio qual é o seu nome.

– Joe. – responde a criança.

– Você o assustou, seu idiota. Olha aí, o garoto está tremendo. – diz Gale.

– Caramba, desculpe garoto. Não quis te assustar. Sou um tio legal. Sou do bem e não do mal. – fala David.

– Mas o que você vai fazer com o garoto? – pergunta Jim.

– Poxa cara, esse moleque lembra muito o meu filho que eu deixei lá em casa, pô. – responde David. – Então Joe. Gosta de soldados?

– “Goxto”. – responde o garoto, timidamente.

– Legal, sabia que eu sou um?

– É? – pergunta Joe com os olhos brilhando.

– É. Eu tenho armas, essa roupa legal.

– Tanque? – pergunta Joe.

– Se eu tenho um tanque? – Joe balança a cabeça afirmando. – Digamos que sim.

– Chão. – fala Joe tentado descer.

David coloca o garoto no chão e ele vai correndo para a sala.

– Acho que o Joe não gostou muito de mim. – fala David um pouco decepcionado.

Joe volta correndo e ergue os braço para David, ele o pega e coloca sentado novamente no balcão. Joe tem algo nas mãos.

– Olha. – diz Joe entregando um carrinho de brinquedo em forma de tanque.

– Mas veja só. Você também tem um tanque. – fala David pegando o brinquedo, Joe solta uma risadinha. – Viu só? Você já é quase um soldado.

– É?

– Claro que é. Tem até um tanque. E esse tanque é bem mais bonito que o meu. Mas só falta uma coisa: o chapéu. – ele devolve o pequeno tanque para Joe e tira seu chapéu de soldado colocando na cabeça de Joe. Claro que fica maior que o Joe. O garoto começa a rir. – Agora sim. Você é um soldado. Bem vindo a equipe.

Effie entra rapidamente na cozinha.

– Joe, cadê você? – pergunta ela.

– Mamãe, sou um “sodado”. – grita Joe do balcão.

Effie começa a rir assim que enxerga Joe.

– Claro que você é. É o soldado mais bonito de toda Panem. – afirma Effie.

– Opa, não vamos exagerar que o soldado mais bonito de toda Panem sou eu. – diz um outro soldado próximo a mim.

– Não. É eu. – afirma Joe.

Todos começam a rir. Até que Haymitch aparece seguido de Peeta.

– Vamos para casa, Effie. Está ficando tarde. O que o Joe está fazendo com aquele chapéu na cabeça? – pergunta Haymitch.

– Ele é um soldado. – respondo.

– Ah, é? – fala Haymitch, e ouço Peeta rindo. – Mas que soldado, hein? Vai pegar todas as menininhas do quartel.

Effie dá um ligeiro tapa no braço de Haymitch.

– Não tem nada de pegar todas as menininhas do quartel. Vamos Joe. – fala Effie pegando o garoto. – Não esqueça de devolver o chapéu.

– Ah, não. Pode ficar com ele. Eu consigo outro. – fala David.

– Como é que se fala, Joe? – pergunta Effie.

– Valeu aí. – responde o garoto.

– O que eu te ensinei, não o que seu pai te ensinou.

– Ah, “bigadu”. – fala Joe novamente.

– De nada, soldado. – responde David.

– Tchau, Katniss. – fala Effie pra mim.

– Tchau Effie.

– Tchau, docinho. – diz Haymitch.

– Tchau Haymitch. – respondo novamente.

– Aí, por que aquele cara te chamou de “docinho”? – perguntou um dos soldados cheio de curiosidade.

– Não sei, ele sempre me chamou assim. – respondo.

– É porque ela é um doce de pessoa. – fala Peeta, maliciosamente.

– Ei. – digo a ele.

– Ah, ela é um doce de pessoa sim. – apoia Gale. – Quando está nos nossos sonhos ela é.

– Gale!!! – digo. Todos começam a rir. – Eu mereço.

– Ok, já chega. Já ocupamos demais o tempo deles. Vamos embora. Em alguns dias será o julgamento de Dexter, temos que nos preparar. Vocês vão ao julgamento? – pergunta Gale para nós.

– Vai ser na Capital? – indaga Peeta.

– Sim.

– E somos obrigados? – pergunto.

– Não. Só vão se vocês quiserem.

– Então a gente não vai. – conclui Peeta.

– Katniss? – pergunta Gale.

– Não, eu também não quero ir.

Não queria voltar a Capital, um lugar que traz tantas lembranças. E também havia Peeta. Ele poderia ter flashbacks lá. E além disso, não queria ver nunca mais a cara de Dexter Snow. Peeta e eu acompanhamos todo o pessoal até a porta, Abigail e Gale são os últimos a sair. Não tenho nada contra Abigail, até porque ela é totalmente contra a ideologia de seu pai e de seu irmão. Dou um abraço apertado nela antes de agradecer.

– Obrigada, muito obrigada mesmo. – digo ainda abraçada a ela.

– Não foi nada, sinto muito vocês terem que passar por isso. Como se já não bastasse tudo o que meu pai fez vocês passarem. – responde Abigail.

– Vamos esquecer o passado, deixar ele para trás. Não fará diferença ficar falando dele.

– Você tem razão. Adeus.

– Adeus. – digo enquanto ela vai em direção a Peeta e o abraça.

Gale para na minha frente. Eu o abraço por impulso. Agora terei uma dívida com ele que nunca poderei pagar.

– Obrigada Gale. – digo.

– Tudo bem, Katniss. Esse é meu trabalho: salvar pessoas, não é? – fala Gale.

– É sim. E você faz um ótimo trabalho.

– Então nos vemos algum dia, talvez. E que não seja por um motivo como o de hoje.

– Sim, algum dia nos vemos de novo. E sem farda desta vez.

Peeta vem até ele e estende a mão para Gale.

– Obrigado Gale. – diz Peeta com a mão ainda no ar.

Gale olha para a mão estendida de Peeta por algum tempo. Fiquei atentada a pegar uma frigideira na cozinha, nunca se sabe o que se passa na cabeça desses homens. Até que ele finalmente a aperta, dizendo:

– Não foi nada. Estou aliviado em saber que vocês estão seguros, principalmente a Katniss. Tchau pra vocês.

– Tchau. – respondo enquanto ele se vira e vai embora.

Fecho a porta e me viro para Peeta, ficamos nos olhando por algum tempo, até que o abraço fortemente.

– Está tudo bem. – fala ele com o queixo apoiado na minha cabeça.

– Eu sei. Mas por pouco poderia não estar. Você não faz ideia de como eu me senti com a ideia de viver sem você. – respondo.

Saio do abraço enquanto pego meu arco e minhas flechas que eu coloquei no lado do sofá e começo a subir as escadas. Peeta me segue. Entro no quarto de Alice e me certifico que ela esteja dormindo. Vejo ela com seus olhos fechados, enquanto seu peito sobe e desce, acompanhando o ritmo calmo de sua respiração.

– Você acha que ela vai se esquecer deste dia? – pergunta Peeta atrás de mim.

– Eu não sei dizer. Ela quase viu o pai dela ser morto. – respondo em um sussurro para não acorda-la.

Viro-me e saio do quarto, indo em direção ao meu quarto. Entro e guardo o arco e a aljava de flechas dentro do armário. Viro-me e vejo Peeta fechando a porta atrás de si.

Ele suspira antes de falar.

– Agora responda com sinceridade: você está bem? –pergunta ele.

– Com você aqui, vivo e respirando, está. – respondo.

– Está mesmo? Ou só está falando isso para eu não me preocupar?

– O que você quer que eu diga? Peeta eu estou bem. Enquanto eu tiver você ao meu lado eu vou estar bem. Eu preciso de você.

– O que você disse?

– Peeta eu estou bem. Enquanto...

– Não, a última frase. Qual foi a última frase que você disse?

– Eu preciso de você.

– Não é a primeira vez que você diz isso pra mim, ou é?

– Não. – respondo. A segunda arena. Aquela havia sido a primeira vez que falei aquela frase. Peeta fez uma cara confusa.

– Na segunda arena. Eu estava tentando convencer você de que era você que devia ser a vitoriosa. Eu lhe dei um medalhão. Você me perguntou o que seria de mim. Eu lhe respondi que ninguém precisava de mim. Então você disse: “Eu preciso, eu preciso de você”. Verdadeiro ou falso?

Abri uma das gavetas que havia dentro do armário e peguei o medalhão. Segurei pela corda e deixei ele balançar. Peeta ficou vidrado no medalhão.

– Verdadeiro. – respondi.

– Você ainda o tem. – sussurra ele.

– É claro que eu tenho. Pensei que seria a última lembrança sua que eu teria além da pérola.

– A pérola. Eu realmente te dei aquela pérola?

– Sim. – falei pegando a pérola na mesma gaveta que peguei o medalhão, segurei ela entre os dedos polegar e indicador.

– Você a tem também. – fala ele se aproximando e pegando a pérola dos meus dedos. – Pensei que era um sonho. Mas essas coisas realmente aconteceram. Posso fazer uma última pergunta?

– Claro. – falo pegando a pérola e guardando junto com o medalhão dentro da gaveta.

– Quando você disse que precisava de mim, você estava sendo sincera ou aquilo era só mais uma encenação?

Respirei fundo e pensei antes de responder. Naquele momento, eu estava dentro de uma arena. Estava tentando salvar Peeta ao invés de mim. Estava tentando deixar Peeta seguro, enquanto ele tentava fazer a mesma coisa por mim. Meus sentimentos estavam todos embolados dentro de mim. Mas acho que sempre soube o que sentia por Peeta, só nunca quis admitir. Naquela momento, dentro da arena, ele estava sendo sincero comigo, então eu também estava sendo sincera com ele.

– Eu estava sendo sincera. – respondo finalmente. – Eu precisava de você. Eu preciso de você. – me aproximei e o beijei nos lábios quando nos separamos sussurrei novamente – Eu preciso de você. – beijei sua bochecha. – Eu preciso de você. – beijei seu pescoço – eu preciso de você. – cheguei perto de seu ouvido e sussurrei. – Eu preciso de você.

Ele me segura no colo e senta na cama comigo em seu colo e começa a me beijar.

– Eu também preciso de você. – ele sussurra assim que nossos lábios se separam.

Continuamos a nos beijar até que somos interrompidos pelos gritos desesperados de Alice.

– PAPA!!! PAPA!!! – ela grita desesperadamente.

Peeta e eu interrompemos o beijo e nos olhamos apreensivos. Saio de seu colo e disparo rumo ao quarto de Alice. Peeta me segue. Quando chego vejo minha filha se esperneando no berço enquanto grita. Ela está tendo um pesadelo. Vou até ela e a pego no colo, ela acorda, pois agarra com força meu pescoço, mas continua a gritar.

– PAPA!!! PAPA!!!

Peeta a pega de mim e a abraça.

– Shhh. Tudo bem. Papai está aqui, está tudo bem. – fala Peeta. – Katniss, ela está tremendo.

– Ela teve um pesadelo. – respondo enquanto acaricio a cabeça de Alice que está apoiada no ombro de Peeta. Ela diminui o choro, restando apenas alguns soluços. – Está tudo bem, meu amor. O papai está bem. Foi só um sonho ruim. – digo a ela. Ela olha em meus olhos, e vejo o pavor que ela está sentindo. Ela levanta a cabeça e passa a observar Peeta, como se estivesse procurando algo em seu rosto.

– Oi. – fala Peeta sorrindo pra ela.

– Oi. – responde Alice.

– Que tal dormir com o papai e a mamãe hoje? – pergunto a ela.

Ela apenas concorda com a cabeça.

– Pega ela, vou fazer uma mamadeira pra ela. – fala Peeta me passando Alice.

Pego ela e vou para meu quarto, deito na cama com ela. Peeta chega um pouco depois e deita na cama, entregando a mamadeira para Alice, que ficou deitada entre nós dois. Ela toma o leite abraçada ao braço de Peeta.

– Ela dormiu. – falo um tempo depois, notando que Alice parou de chupar o bico da mamadeira.

– Dormiu mesmo. – concorda Peeta tirando a mamadeira de Alice e colocando na cômoda ao lado da cama. Falamos sussurrando para não acorda-la. – Meu braço está dormente.

Eu rio e tiro devagar os bracinhos que Alice colocou ao redor do braço de Peeta. Peeta fala um “Obrigado” só movendo os lábios e eu repondo com “ Não há de que”, só movendo os lábios também. Ficamos virados de frente um para o outro nos olhando, sendo separados só pela Alice que ficou em nosso meio. Até que Peeta fecha os olhos e dorme. Eu fecho os olhos também, feliz por saber que amanhã cedo veria Alice e Peeta junto comigo. Veria aqueles dois pares de olhos azuis por mais um dia. E fico mais feliz ainda sabendo que não seria o último dia que os veria.


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Notas finais do capítulo

Então... acabou tudo bem. Espero estar perdoada. Não tive tempo de revisar, então se tiver algum erro me avisem. Comentem!!! Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)