Business Project escrita por yumesangai


Capítulo 2
Track 2


Notas iniciais do capítulo

Depois de falharem em conseguir um contrato a vida segue sua rotina, mas por alguma razão Shuichi esbarra novamente com Yuki Eiri.



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Era uma terça-feira nublada, o tempo certamente estava de acordo com o ânimo da Bad Luck. Hiro e Shuichi voltaram para casa de madrugada, a bebida que deveria comemorar a vitória da banda, serviu para afogar as mágoas.

"Eu não tenho ânimo para trabalhar". Hiro murmurou olhando para o teto.

Seu corpo estava jogado de qualquer jeito sobre o futon, por alguma razão, Shuichi dormia com a cabeça em sua barriga.

O sol entrava no quarto mesmo com as cortinas fechadas, indicando que já estavam no final da manhã.

"Eu não tenho ânimo para viver". Shuichi resmungou. "E por que trabalhar? Você não está de folga hoje?" Perguntou se virando, apoiou os braços na barriga do ruivo e ficou ali, meio que em cima dele.

"Não, eu estaria de folga se tivéssemos ganhado, mas como não é o caso...". Se levantou, gentilmente tirando o amigo de cima de si. "O meu turno começa às 14h". E seguiu para o banheiro.

Shuichi rolou no futon. Ele também precisaria de um emprego, as contas e o aluguel não se pagariam sozinhos. Ele suspirou pesadamente, agora era uma boa oportunidade para descobrir se ainda havia um vaga no restaurante que costumava fazer bico nos tempos do colégio.

Só seria estupidamente vergonhoso dizer que a banda ainda não havia alavancado. O gerente e dono do estabelecimento sempre colaborou com as folgas por conta de provas, tempo de estudar e até mesmo apresentações e Shuichi sempre disse que a Bad Luck seria sucesso em pouco tempo...

Suspirou e fechou os olhos, só queria parar de sentir tão pra baixo, sequer ouviu quando Nakano saiu de casa. Shuichi acordou duas horas depois com o estômago roncando.

...

Com a geladeira basicamente vazia, Shuichi foi obrigado a se retirar em busca de suprimentos. Ele seguiu para uma loja de conveniências, escolheu uma porção congelada e saiu de lá meio distraído.

Ao dobrar a esquina acabou se chocando com uma outra pessoa e quase caiu sentado.

"Me desculpe--" Pediu massageando a testa.

"Você não olha por onde anda?" A voz falou ao mesmo tempo.

"Ah... você". Shuichi claramente se arrependeu de pedir desculpas.

Yuki Eiri ajeitou os óculos escuros que quase voaram longe.

"Ora, se não é o compositor sem talento que... como é? Disse que eu ia engolir a minha crítica quando você ganhasse o concurso. E aí, você ganhou?" Perguntou debochado com um sorriso divertido.

Shuichi cruzou os braços. Ele realmente não precisava ser lembrado sobre isso e muito menos de tudo que havia dito ao famoso Yuki Eiri. Seu rosto corou de embaraço.

"Não, mas nós fomos muito bem". Murmurou olhando em outra direção.

E era verdade, ao final do evento, enquanto guardavam as coisas no carro, algumas pessoas haviam os parabenizado e dito que eles deveriam ter ganhado. Pessoas que ele nunca tinha visto e não os fãs já conhecidos.

Eiri pareceu se apiedar do garoto pois decidiu não cutucar a ferida.

"Você certamente tem carisma". Disse de forma neutra.

Shuichi passou a fitá-lo, mas não conseguiu descobrir se ele estava falando só para animá-lo ou se realmente pensava assim.

"E no final das contas você apareceu. Não tem muitos livros pra escrever, escritor-kun?" O provocou um pouco só para voltar a se sentir melhor.

Eiri riu. "Acabei de entregar um rascunho dentro do prazo. Eu precisava ficar acordado a noite inteira e nada melhor do que algo terrível para me deixar com insônia".

"Então beba café, seu idiota!"

Sem perceber, os dois já estavam andando pela rua enquanto falavam e ao mesmo tempo se alfinetavam, mas Eiri tinha um propósito em sua caminhada enquanto Shuichi apenas o acompanhava.

"Você vai continuar a me seguir ou o que?" Eiri finalmente perguntou quando se aproximou de seu destino, um restaurante italiano.

Shuichi sentiu o rosto corar, estava tão entretido em toda aquela baboseira que não percebeu que acabou o acompanhando até ali. Olhou para a sacola que tinha em mãos com uma comida congelada.

"Eu estava esperando que você me convidasse para almoçar". Disse falsamente inocente. "Quer dizer, eu me esforcei tanto e mesmo assim acabei não ganhando o primeiro lugar, e eu acabo de esbarrar com o Yuki Eiri-san, que é um escritor famoso e com dinheiro--"

"Ok, cale a boca e entre comigo".

Shuichi basicamente deu um pulo de alegria e entrou atrás de Eiri. O maitrê o olhou não muito discretamente. Ele certamente não estava vestido para um restaurante daquele nível, usando apenas um tênis velho, bermuda desbotada e uma camisa estampada.

Yuki estava vestido socialmente, mas sem um terno ou gravata. Seu cabelo estava impecável e era a primeira vez que Shuichi reparava que ele tinha a orelha furada.

Agora mais consciente de sua péssima imagem, Shuichi penteou o cabelo com as mãos e tirou um elástico do bolso e prendeu o cabelo num pequeno rabo, ele estava longe de ter uma cabeleira comprida como a de Hiro, mas também não era seu objetivo.

Assim que eles se sentaram um cardápio foi colocado diante de cada um. Eiri sequer pareceu preocupado em ler, Shuichi foi direto para os valores e se sentiu repentinamente zonzo.

"Pode pedir o que quiser". O loiro disse como se tivesse lido seus pensamentos.

"Hmm..." Shuichi se sentiu mal por ter se colocado naquela situação e também ao escritor. Ele parecia mais um caso de caridade do que qualquer outra coisa.

Eiri respirou fundo. "Você tem preferência?"

Shuichi balançou a cabeça negativamente. Todo o cardápio estava em italiano e ele não tinha paciência para as pequenas letras em japonês. Ele nunca tinha comido algo daquela qualidade então não faria diferença nem se viesse ilustrado.

"Cotolleta d'agnello con verdure". Eiri falou num italiano surpreendentemente bom, fez algum pedido de vinho que Shuichi não prestou atenção, só reparou que algo estava errado quando o garçom e o loiro o encaravam.

"Er... água está bom. Sem gás". Acrescentou rapidamente.

Eles ficaram em silêncio depois disso. Shuichi olhava em volta tentando parecer discreto, mas era como entrar num palácio e pedir para olhar em linha reta. O chão era de madeira rústica, as paredes eram de tijolos, havia um piano de cauda no meio do salão, uma parede enorme de vinhos expostos.

"Você não tem graça quando fica quieto desse jeito. Quer entrar para o show business, mas não consegue sequer iniciar uma conversa durante um almoço? Tenho pena de como vai lidar com os negócios".

Shuichi se remexeu desconfortavelmente na cadeira.

"Eu só não entendo o porque desses quadros". Disse encarando os objetos em questão.

Eiri foi pego de surpresa com a resposta nonsense. Mas acabou olhando para as obras de arte exibidas. Eram enormes quadros abstratos. Não que ele fosse um entendido de arte, mas agora que eles haviam sido mencionados...

"Certamente não combina muito com o lugar". Comentou. Já havia vindo ao restaurante inúmeras vezes, mas até agora esse 'pequeno' detalhe tinha passado despercebido.

O clima melhorou, Eiri comentou sobre a arquitetura do ambiente e disse que gostava de visitar diferentes lugares, Shuichi falou sobre novas experiências e como tudo acabava servindo de inspiração.

Apesar das provocações bobas, ambos eram artistas que viviam de suas inspirações. Eles conseguiam manter uma conversa tranquila e até poderiam facilmente colaborar um com o outro se não fossem dignos representantes do tipo sanguíneo AB, orgulhosos.

Shuichi só descobriu o que diabos Eiri pediu quando o prato chegou. Costeleta de cordeiro grelhada com legumes assados. Ele quase chorou de felicidade.

"Então, seu amigo entrou em contato com você?" Perguntou de boca cheia.

Eiri ergueu a sobrancelha. "Quem?"

"Seguchi Touma, ele disse que viu você no galpão". Comentou ainda preocupado em saborear aquele delicioso prato, sem prestar muita atenção a mudança de expressão do escritor.

"E ele foi falar diretamente com você?" Perguntou num tom apático. Isso era certamente a cara de Seguchi, se meter e envolver pessoas.

"Sim, por um instante eu achei que ele fosse oferecer um contrato, sabe?" Shuichi não escondeu o vívido ressentimento.

"Então, você está aqui agora porque está interessado nas minhas conexões?'' Perguntou o provocando novamente.

Shuichi largou os talheres e o encarou.

"Conexões?" Repetiu franzindo o cenho.

"Seguchi Touma". Esclareceu caso não estivesse óbvio. "Você quer que eu mexa os pauzinhos e fale com o Touma sobre a sua banda? Quer uma reunião diretamente com o presidente da N-G? Quer que eu peça para que ele feche um contrato com vocês?"

Eiri o encarava sério a cada palavra, analisando cada mudança de expressão, mas a única que tomou o rosto de Shuichi era a de indignação.

Ele arrastou a cadeira para trás e se levantou.

"Eu não preciso da sua ajuda!" Disparou alto. As pessoas imediatamente olharam na direção deles, mas nenhum dos dois parecia preocupado. "A Bad Luck vai chegar ao topo sem favores. Talento é a única coisa que vai comprar nosso caminho para o sucesso. Obrigado pela comida". E saiu do restaurante em passos largos.

Depois de um discurso tão apaixonante, Eiri teve que sorrir.

"Garoto interessante".

...

"Então, você vai me dizer porque está com essa carranca o dia inteiro?" Hiro perguntou enquanto observava o amigo devorar a segunda caixinha de pocky.

"Eu conheci um cara, e ele é um babaca". Concluiu deitando a cabeça no colo de Hiro.

O ruivo riu pelo nariz. "Não pode deixar que a opinião dos outros te afete tanto".

"Eu não deveria, mas..."

"Mas...?"

Shuichi suspirou. "Não sei". Murmurou sacudindo o pocky no canto da boca.

Hiro inclinou o rosto e deu uma mordida no pocky. Shuichi mordeu mais um pedaço.

"Você quer continuar isso até o fim?" Perguntou ainda com o palito nos lábios.

"É um desafio? Eu aceito". Hiro murmurou.

A brincadeira não tinha perdedor. Não entre eles. Era algo que eles faziam desde o tempo do colégio para agradar as fãs enlouquecidas que haviam cismado que eles tinham um caso.

Seus lábios se encontraram ao final e eles apenas sorriram um para o outro. Shuichi fechou os olhos e se permitiu descansar no colo de Hiro. O ruivo pegou o celular e começou a ver as mensagens que havia ignorado enquanto estava no trabalho.

Todos falavam desagradavelmente da mesma coisa.

"A ASK assinou com a N-G". Comentou se sentindo cansado.

Shuichi deu um longo suspiro. Só talento era mesmo o bastante?


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