8:00

– Droga! Filho, filho... levanta. - Gritava ela.

Sim, era domingo, mas ela e seu bichinho sempre acordavam cedo para aproveitar o sol da manhã. Tudo bem que mais por vontade, implicância, e insistência dela, que por vontade do menino.

Ela dizia que o sol da manhã alimenta, faz bem, e ele respondia que bastava abrir a cortina e a janela, e estava tudo certo, só pra implicar com ela. E também, ela fazia questão de tomar café da manhã junto com toda a família, pois acabava que durante o dia cada um se ocupava dos seus afazeres e só se reencontravam novamente no jantar, todos cansados e loucos pra cair na cama.

O menino por fim se deu por vencido, como sempre acontecia, pulou da cama, foi pro banheiro, tomou uma ducha rápida, vestiu sua sunga boxer preta, sua bermuda vermelha, uma camiseta branca e foi ao encontro da família na cozinha (como sempre fazia e irritava profundamente a mãe, não pesteou o cabelo, só o sacudiu) pra tomar seu café. Ela já estava com sua saída de praia branca, seu biquíni azul, e sua bolsa, que tinha de tudo, óculos, protetor solar, biscoito, remédio para quase todas as dores, absorvente, e mais tudo que tem em bolsa de mulher, e principalmente de mulher que é mãe.

Enquanto tomava uma rápida ducha, Clara pensou em sua vida, em como tudo estava diferente, em como sua vida era gostosa, agradável. Tudo estava em seu devido lugar, até mesmo ela, que sempre se sentiu deslocada, fora de lugar, e que já até tinha se acostumado a ser infantilizada por sua família, que a via como "a moleca", não por ela ser irresponsável, mas por ser uma menina doce, amável, gentil, uma princesa, enfim, a maior boa praça da cidade. Hoje ela se sentia mais mulher, mais dona do próprio nariz, não deixou de ser mulherzinha, mas se sentia mais forte, enfim, ela desabrochou.

Terminou a ducha e correu pra cozinha, fez um rápido café, arrumou a mesa com pão, queijo, requeijão e algumas frutas, e quando estava terminando o seu bichinho chegou, tomaram café falando sobre tudo, rindo e saíram, pois já era 9:00 e se bobeassem perderiam o sol; e ela ainda lembrou o filho, que Cadu, seu pai, já deveria estar o esperando para jogar futebol na praia.