Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 33
Capítulo 31: Cheira a espírito adolescente


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores! Tudo bem com vocês?

Erm... Tem como me desculpar de novo? Eu realmente sinto muito pela demora ç_ç Não tive a intenção, mas às vezes a vida pessoal entra no meio do que nós queremos fazer e dá nisso. Mil perdões a todos que estão aqui comigo e continuam acompanhando! E muito obrigada ao Whit Algood e a Sially por terem comentado no capítulo passado *u*

Não tenho muito a dizer sobre o capítulo porque não quero revelar nada, então... Desejo uma boa leitura a todos! Não deixem de ler as notas finais, sim?



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            — Esse hambúrguer tem gosto de terra — disse Rebeca, mordendo mais um pedaço.

            Jason terminou de mastigar o seu, uma mão segurando a embalagem e a outra no volante para guiar o carro.

            — Então por que ainda está comendo ele?

            Rebeca o olhou como se ele fosse louco.

            — Está brincando? Hambúrgueres são uma preciosidade. Eu comeria três desses, mesmo tendo gosto de terra.

            Jason deu risada, balançando a cabeça. Estavam no meio de uma estrada vazia, à tarde, em alguma área rural. Haviam parado em uma lanchonete para pegar comida para a viagem, e agora Rebeca estava sentada no banco do passageiro com seu lanche, milkshake de morango e batatas fritas pingando óleo.

            — Não que eu esteja reclamando — Rebeca começou, amassando o papel do hambúrguer e o colocando de lado —, mas reclamando um pouco, na verdade, porque eu realmente não me importo de passar meu tempo com você, é só que estamos nessa cidade sem nome há horas e passamos na frente daquela lanchonete umas cinco vezes antes de parar para pedir comida. Isso significa que estamos perdidos. De novo.

            Jason se remexeu no assento.

            — Não estamos perdidos — ele disse. — Só nos desviamos um pouco da rota. Shirley tem tudo sob controle.

            — Shirley é um GPS que está repetindo para “virar à esquerda” pelos últimos trinta minutos — rebateu Rebeca. — E estamos em uma rua reta. Admita que ela está quebrada de novo e me deixe pegar um mapa e dirigir.

            Tudo bem, embora Jason não gostasse de admitir, era verdade que essa era, possivelmente, a quarta vez que se perdiam durante a viagem. Mas ninguém podia culpá-lo, ele imaginava. Era um caminho de quase 20 horas até Allentown, e qualquer um ficaria cansado, mesmo alternando o volante com outra pessoa.

            — Se nos pararem, você vai ser presa por não ter carteira de motorista.

            — Acredite em mim quando digo que, comigo dirigindo, nenhum policial nos pegaria — disse Rebeca, partindo para as batatas fritas. — Não que isso seja certo e eu saia por aí recomendando para crianças que dirijam ilegalmente, mas tempos desesperados pedem por medidas desesperadas.

            — Não estamos desesperados — disse Jason.

            — De qualquer forma — ela mudou de assunto, e ele revirou os olhos. — Eu dirijo melhor do que você. Nunca foi culpa minha que nos perdemos. E você não trata seu carro bem, ele tem que ser tratado como um filho!

            — Vire à esquerda daqui a dez metros — disse a voz do GPS.

            Rebeca lhe lançou um olhar de “eu não disse?” e Jason resolveu desligar o aparelho para não perder o resto da razão. A estrada seguia em frente até onde sua vista podia alcançar, cruzando pastos e pequenas plantações. Ele conteve o suspiro; seria uma viagem longa.

            — Além do mais — Rebeca falou, apontando uma batata frita na sua direção —, o ruim dessa viagem é que estou cansada de ficar dormindo em lugares suspeitos e no banco de trás do carro, já que assim não podemos fazer atividades muito mais agradáveis. Sem roupas.

            — O que...? Ah. — Jason se sentiu enrubescer com a insinuação. Olhou para ela com o canto dos olhos e a encontrou tomando o milkshake com um olhar sugestivo demais, que o fez quase se engasgar com a própria saliva.

            Rebeca gargalhou, o corpo todo chacoalhando. Quando o susto inicial passou, Jason também se pegou rindo e se perguntando o que fizera para merecer isso.

            De repente, Rebeca arregalou os olhos e arfou, o rosto todo se iluminando.

            — Ai, Deus! Aumenta, aumenta! Eu amo essa música. — Ela aumentou o volume do rádio por si só e usou o canudo do copo de milkshake como microfone, seguindo a letra da música sem realmente cantar.

            Jason franziu as sobrancelhas, mirando o rádio e tentando escutar... o que quer que aquilo fosse.

            — Você chama isso de música? — ele perguntou. — É só uma gritaria com guitarra no fundo.

            Rebeca pareceu extremamente ofendida e escandalizada. Até interrompeu sua demonstração com o microfone.

            — Como ousa?! É cultura.

            Jason prestou atenção à letra.

            — “Um mosquito, minha libido”? — repetiu. — O que isso deveria significar?

            — Deveria significar que, para começar, você deveria conhecer essa música. E essa banda. Honestamente, Jason, eu não sei mais o que fazer com você.

            — Ah, me desculpe se eu não tive uma fase sombria para escutar suas músicas — ironizou Jason.

            — Sua vida inteira é uma fase sombria — disse Rebeca com simplicidade, voltando a atenção para as batatas e a canção.

            Jason não podia discutir com aquilo.

            O cara continuou gritando coisas sem sentido e ligação, até que Jason desistiu de entender. Esperou até Rebeca terminar sua comida, já que ele mesmo já havia finalizado o lanche e o refrigerante, para que ela assumisse o volante e eles descobrissem um meio de voltar à rota certa.

            — Certo — ele disse, depois que jogaram os restos no lixo do carro. — Então, vamos parar aqui e...

            Eles ouviram um barulho alto e repentino, parecido com o som de um tiro, que os fez pular no banco. O carro sacudiu por um momento.

            Rebeca fechou os olhos.

            — Ah, não. Por favor, só me diga que o pneu não furou.

            Jason baixou o vidro e espiou sua roda da frente. Então, com a sensação de desânimo chegando, parou o carro no acostamento e virou-se para Rebeca.

            — Neste caso, vou ter que falar a verdade.

            Foi só uma hora mais tarde, com o pneu trocado e novo, que eles acharam o caminho de volta para a estrada certa, Rebeca dirigindo. Jason nunca tivera que trocar um pneu antes, portanto isso também coube a ela; ele fez o possível para ajudar, até que quase estourara o novo e ela o mandara dar uma volta para pedir informação em alguma das casas de fazenda ali perto.

            Eles chegaram a Allentown naquele mesmo dia, no começo da noite. Quando se aproximaram da mansão que pertencera a Lionel, Jason sentiu um aperto no peito de saudades. Ainda teria que se acostumar à ideia de que aquela casa agora lhe pertencia.

            Eles estacionaram e descarregaram as malas, levando-as até a porta de entrada. A governanta Joan os recebeu de braços abertos e um grande sorriso, chamando alguém para ajudar com a bagagem.

            — Jason, Rebeca! Já estava preocupada com a demora. Entrem e se acomodem, subam, desarrumem as malas. O segundo quarto à direita está preparado para vocês. Chamarei quando o jantar estiver pronto.

            — Obrigado, Joan — disse Jason, olhando ao redor no hall de entrada. Nada havia mudado na decoração e aparência do ambiente; tudo continuava no mesmo lugar, como Lionel gostava: quadros, vasos antigos, estatuetas, todos brilhando por terem sido polidos recentemente. — Você faz um trabalho incrível aqui.

            — Não é nada, querido. Apenas o que seu avô teria querido.

            Jason lhe direcionou um sorriso triste e começou a puxar uma mala para as escadas. Rebeca admirava a coleção de seu avô.

            — Todas essas peças... — ela falou. — Remetem a alguma das quatro mitologias. Devíamos ter percebido antes.

            Devíamos, Jason pensou, mas não respondeu. Não tinha estado na mansão desde a última vez que visitara Lionel na companhia de Rebeca. Voltar ali agora, sem a presença dele para recebê-lo, despertava sentimentos que tentava esconder há muito tempo.

            Jason subiu as escadas e entrou no quarto indicado. Era o quarto no qual costumava dormir durante os dois anos que passara ali para se adaptar ao mundo após sair do manicômio. Havia uma cama de casal no centro, cheia de travesseiros e cobertores confortáveis, um guarda-roupas que ocupava uma parede inteira e uma escrivaninha branca no canto. O quarto era amplo o suficiente para se caminhar, e havia uma varanda no lugar da janela. As paredes foram pintadas em um tom azul-escuro, a cor preferida de Jason, assim que se mudara para lá, a pedido de Lionel. Não havia nada nelas para enfeitá-las, como havia nas outras paredes da mansão. Nenhum quadro, ou pôster, ou recordação, como se esperaria encontrar. Eram tão vazias quanto Jason se sentia no momento.

            Ele desfez as malas e organizou suas coisas o melhor que pôde. Quando terminou, saiu para a varanda e ficou de pé, os braços cruzados, encarando o céu noturno. Jason gostava de azul-escuro justamente por ser a cor do céu, mas hoje ele estava sem estrelas e quase negro. Jason fechou os olhos, sentindo a queimação das lágrimas, e deixou a brisa atingir seu rosto para afastá-las.

            Não demorou muito até sentir braços delicados e firmes o abraçando. Rebeca não disse nada. Sua presença foi o bastante para preencher o vazio que se instalara naqueles poucos minutos, e Jason respirou fundo, afundando o rosto na curva de seu pescoço.

            — Precisa de alguma coisa? — ela perguntou, baixo, acariciando suas costas para acalmá-lo.

            Jason negou.

            — Eu vou ficar bem. — Ele se afastou e pegou a mão dela. — Vamos entrar. Está frio aqui fora.

            Ele fechou a porta da varanda ao entrar e sentou-se na cama. Rebeca o acompanhou. Jason ficou olhando para as próprias mãos durante o silêncio que se seguiu, um silêncio confortável. Ele sentiu a mão de Rebeca deslizar por sua nuca num suave carinho, e suspirou. Precisava tanto daqueles toques, daquele envolvimento. Envolvimento que nunca tivera. Nunca tivera uma namorada, ou namorado. Porque gostava de homens também; Sean fora um deles em uma época, mas a situação de ambos era instável e delicada demais para tentar alguma coisa. Passara tanto tempo sem confiar em ninguém, sem poder contar com alguém e sozinho que, às vezes, parecia estranho ter isso agora. Ele não entendia por que Rebeca permanecia com ele apesar de tudo; por que, mesmo antes de saber a verdade, toda a verdade, sobre si ela aceitara ficar ao seu lado. Não parecia real, e ele se perguntava até quando duraria.

            — Jason... — ela o chamou com calma, fazendo seus olhos se voltarem para si em um rompante.

            — Desculpe, você disse alguma coisa? — ele perguntou, sem jeito.

            — Não, só estava te observando. — Ela sorriu e afagou seu rosto. — O que está te incomodando?

            Jason engoliu em seco e moveu os ombros de maneira pueril.

            — Eu não sei... Acho que tenho medo de te decepcionar — respondeu, com uma sinceridade que era destinada somente a Rebeca.

            — Não vai me decepcionar. — Ela tocou seu rosto para fazê-lo olhá-la diretamente. — Eu acredito em você. E... posso contar um segredo? — Ela sorriu. — Eu não estava planejando me apaixonar, até que nós começamos a conversar e acho que meu coração disse “eu não me importaria de ser quebrado por ele”, aí era tarde demais. Eu não estou pedindo nada de você. Eu só quero estar com você.

            Quando Jason apenas a fitou, sem resposta, Rebeca beijou sua bochecha, depois seu queixo, então a boca, e ele estremeceu. A mão em sua nuca era firme, os lábios, exigentes. Jason se deixou levar pelo beijo, que começou lento e comedido e evoluiu para um intenso e frenético, e as mãos tiveram que entrar na jogada.

            Jason abraçou a cintura de Rebeca, brincando com a barra de sua blusa, enquanto ela desceu as mãos por seu pescoço e peito até alcançar o abdômen. Eles se separaram por tempo suficiente para Rebeca tirar sua camisa e jogá-la para longe, então colaram os lábios novamente. Jason a apertou mais contra o próprio corpo, ouvindo-a suspirar, e sentiu como se estivesse em chamas. As mãos dela, normalmente frias, lançavam ondas de eletricidade por sua pele. Ele estava no procedimento de tirar a blusa dela também, erguendo-a acima das costelas, quando foram interrompidos por um pigarro.

            — Hã... O jantar está pronto — uma Joan muito envergonhada avisou da porta, que haviam esquecido aberta.

            Eles se afastaram com um pulo. Jason viu algo que nunca imaginou que veria: Rebeca ficando vermelha. É claro que podia ser tanto pelo flagra quanto pelos beijos, isso ele não podia saber, mas contava como alguma coisa. Ela ajeitou a blusa rapidamente, e ele recolocou a dele com a mesma velocidade.

            — Estamos descendo — ele falou, tentando manter a voz normal.

            Joan se retirou com uma risadinha, murmurando algo que soou como “a vitalidade dos jovens”.

            — Bem — disse Rebeca, estabilizando a respiração —, acho que vamos ter que terminar isso outra hora. Vamos, eu estou com fome.

            — Você está sempre com fome — Jason resmungou, e a seguiu.

            O jantar estava delicioso, e Jason aproveitou para saber como andavam as coisas na mansão. Todos os antigos funcionários continuavam trabalhando ali para manter a casa e os jardins em ordem, principalmente a coleção de arte de seu avô. Rebeca ficou toda contente quando viu que a sobremesa era maçã flambada, sua preferida, e, previsivelmente, emendou um discurso sobre como amava maçãs, que acabou em informações curiosas sobre uma ilha da Grécia.

            Dois dias mais tarde, Carter Singleton ligou para avisar que estava na cidade. Evangeline foi transferida para um dos hospitais equipados da redondeza, todos os gastos pagos por Jason. Ela estava mais estável, mas permanecia em coma, sem previsão para acordar. Carter decidiu por ficar hospedado na mansão após vários pedidos de Jason, que considerava mais seguro se ficassem todos juntos — além de haver quartos de sobra.

            No entanto, na terceira noite em Allentown, segurança foi o que Jason menos sentiu.

            E tudo começou quando Gabriel apareceu.

            Jason, Rebeca e Carter estavam na sala após a janta, conversando amenidades. O anjo apareceu no centro para a surpresa de todos, como costumava fazer. Eles não o viam desde que partiram de Blue Springs e tiveram a discussão, e sua expressão ainda parecia tensa.

            — Precisamos conversar — Gabriel anunciou.

            Jason e Rebeca trocaram um olhar. Carter se endireitou no sofá.

            — Aconteceu alguma coisa? — perguntou Jason.

            — Vai acontecer. Eu perdi o sinal de Sloan, não sei mais onde ela está ou o que está fazendo. Nem ela, nem Rupert. Vocês não me ouviram quando sugeri que atacássemos de volta.

            Eles se levantaram para conversar no mesmo nível.

            — Nós já falamos sobre isso — disse Rebeca.

            — Eles estão usando os sinais de telefone, Rebeca — disse Gabriel.

            De repente, seus olhos adquiriram um brilho azul forte, e ele paralisou. Quando a luz sumiu, Gabriel parecia abatido e perdido.

            — Não, não... — murmurou para si mesmo, balançando a cabeça. — Não! — Ele mirou Jason e Rebeca quase com raiva. — Vocês usaram os celulares para falar com eles? Vocês ligaram para eles?!

            Gabriel praticamente gritou. Jason ficou atordoado pela perda de controle.

            — Respondam!

            — Eles quem? — Rebeca perguntou, assustada. — Ligamos para quem?

            — Meu Deus — disse Gabriel. — Meu Deus... Vocês falaram com eles, não falaram?

            — Eles quem, Gabriel?

            Mas Jason já tinha entendido. Não usara o celular para falar com ninguém além de Carter e outra pessoa, e Carter estava bem, pois estava bem ali.

            Seu coração afundou, o sangue congelou nas veias e ele estava incapaz de respirar. Seu rosto foi tomado por puro choque e, mesmo antes de Gabriel responder, ele pôde ver a compreensão se espalhar por Rebeca também, o desespero a abatendo.

            — Sloan e Rupert os encontraram — disse Gabriel. — Eles levaram Sean e Halee. Querem fazer uma troca: suas vidas pelas deles.


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Notas finais do capítulo

É agora que eu corro para as colinas? Acho que sim *me escondendo*
Então... O que acharam do capítulo? Ele começou leve e nem eu sei como acabei chegando a esse ponto, mas é aquele ditado: vamo fazê o que né? Espero de coração que tenham gostado, apesar de não ter acontecido tanta coisa. Ele foi uma ponte para o que está por vir e contém uma revelação sobre o nosso pequeno Jason ♥

Comentem comigo o que acharam! E, é claro, o que acham que vai acontecer agora com esse final. Deem sugestões, palpites, teorias, elogios, críticas... Vou responder todos com o maior carinho! É sempre importante saber o que os leitores pensam para poder melhorar.

Nota rápida: não sei se vocês perceberam, mas eu uso alguns títulos de músicas para alguns capítulos (como esse). Normalmente, é só a música que me inspira e que combina com o momento, não necessariamente é mencionada. Não é preciso ouvir para entender o contexto, mas, se vocês quiserem saber as próximas, é só falar que eu coloco aqui nas notas finais quando acontecer :3 A desse foi Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. Link da letra e tradução, se alguém estiver interessado: https://www.letras.mus.br/nirvana/28494/traducao.html

Por hoje é isso, espero que tenham gostado! Obrigada a todos que leram e tenham uma ótima seman! Até o próximo o/



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