Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 28
Capítulo 27: Belas e malditas


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos! Como vão?

Queria agradecer de coração a Sora pela recomendação maravilhosa que me deixou! Muuuito obrigada mesmo, nem tenho palavras para agradecer! É um prazer enorme ter você como leitora ♥

Desejo uma boa leitura a todos!



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O estômago de Jason se revirou e trocou de lugar com o cérebro. A comida que estava nele ameaçou retornar, o que o fez curvar-se sobre o próprio corpo para impedir que acontecesse. O mundo inteiro girou por vários segundos, e foi só quando o chão e o céu voltaram a ser coisas distintas que ele pôde, finalmente, respirar direito.

— Caramba — Rebeca praguejou, ao seu lado, pálida. — Tudo certo aí?

Jason estava tonto, mas conferiu que não tinha perdido nenhum membro no caminho. Fez que sim com a cabeça.

— E você?

— Estou inteira, pelo menos. Cara, isso foi pior do que uma montanha-russa. — Ela olhou ao redor, respirando fundo. — Bom, parece que Hermes não vai ficar para ajudar.

De repente, Jason ficou atento. Estavam em frente à casa de Carter, do outro lado da rua. Não havia mais ninguém por perto, nenhum movimento. Apenas silêncio. As luzes de dentro da casa estavam acenas, indicando que um dos dois estava presente e, fora isso, a rua se encontrava escura. Jason não pôde evitar olhar para cima, na direção dos postes de iluminação; a maioria das lâmpadas estava piscando.

— Isso nunca é bom sinal — falou. Da última vez, dois serpopardos haviam os atacado depois de um palco de som pegar fogo, na formatura.

— Vamos entrar — disse Rebeca, começando a atravessar a rua. — Não podemos deixar que os monstros que Hermes disse estarem vindo cheguem perto de Carter e Evangeline.

Jason a seguiu, mas segurou-a pelo braço antes que pudesse tocar a campainha.

— Evangeline não sabe o que estamos fazendo. Devíamos esconder as armas antes.

Rebeca concordou. Colocaram o revólver e a adaga por baixo da blusa e cobriram o volume com a jaqueta. Em seguida, Rebeca estendeu novamente a mão para apertar a campainha, mas outra coisa a impediu.

Latidos de cães ecoaram pela rua, raivosos, como se anunciassem a presença de alguém. Jason se virou para ver, mas, embora o som estivesse se aproximando, não havia nada. A rua que levava até a estrada para fora da cidade continuava deserta.

— Mas que diabos... — Rebeca resmungou enquanto apertava a campainha. Olharam na direção da reserva florestal a alguns metros e, mais uma vez, nada se mexeu.

— O que você acha que... — Jason começou, mas foi interrompido quando a porta foi aberta, revelando Evangeline.

— Jason, Rebeca! Chegaram cedo, hoje. Pensei que só viessem mais tarde.

— Nós nos esquecemos de avisar, desculpe — disse Jason, incomodado pelos latidos de cães, cada vez mais altos. — O Carter está?

— Sim, acabou de chegar do trabalho. — Evangeline lançou um olhar intrigado para fora, revistando a rua. — É melhor vocês entrarem. Fiquem à vontade, daqui a pouco Carter aparece, ele está terminando o banho.

Ela abriu espaço para que passassem, o que não demoraram a fazer. Mal Evangeline terminou de fechar a porta, ouviu-se um longo uivo do lado de fora, que se estendeu por vários segundos. Um arrepio percorreu o corpo de Jason.

— Achei que não houvesse lobos aqui — comentou Rebeca, tensa, enquanto Jason vasculhava discretamente a casa com o olhar para ver se tudo estava em ordem.

— Eu também achei — disse Evangeline. — Ninguém costuma passear com os cães aqui perto também, mas acho que há uma primeira vez para tudo. Podem se sentar.

— Estamos bem, obrigado — disse Jason, ainda olhando em volta. As janelas eram cobertas por cortinas, impedindo que se visse o lado de fora. Ele teve a incômoda sensação de estar preso. — Desculpe aparecer antes da hora marcada, foi uma decisão de última hora.

— E por que resolveram vir?

— Hã... — ele hesitou. “Viemos proteger vocês de monstros” não parecia uma resposta adequada.

— Eu só queria ver se já posso tirar isso do meu pulso — Rebeca respondeu por ele, apontando para o braço enfaixado. — Não aguento mais ficar parada.

Evangeline não pareceu convencida. Antes que falasse mais alguma coisa, porém, Carter saiu de uma porta no começo do corredor e sorriu ao ver as visitas na sala. Jason ainda estranhava vê-lo em roupas comuns ao invés do uniforme de médico.

— Jason, que surpresa — ele disse enquanto os cumprimentava. — Estou ficando louco ou vocês estão adiantados?

— Estamos adiantados — Jason confirmou. — Mas podem continuar fazendo suas coisas, não se preocupem com a gente. Vamos ficar aqui na sala sem fazer barulho, e você fala conosco quando tiver tempo. Não tem nada de errado.

Carter franziu o cenho diante daquele comportamento. Jason pôde até sentir a reação de Rebeca em resposta a suas palavras, com aquele nervosismo nada discreto. Estava começando a achar que Carter perguntaria algo quando ouviram batidas na porta.

— Está esperando mais alguém? — Evangeline perguntou, confusa.

— Não. — Carter foi até a porta para abri-la enquanto Jason e Rebeca trocavam um olhar.

— Você sempre mente desse jeito? — ela sussurrou para ele.

— Normalmente, é pior.

Rebeca deu uma risadinha discreta, e eles voltaram a atenção para a porta.

Do outro lado, estavam quatro belas jovens – e “belas” era dizer muito pouco. Todas tinham cabelos sedosos e brilhantes, feições suaves e inocentes. Usavam roupas de festa, que modelavam o corpo cheio de curvas, como se tivessem acabado de sair de um show. Definitivamente, não era o que Jason estava esperando.

— Hum... Posso ajudar? — Carter perguntou, visivelmente constrangido.

A moça que estava na frente deu um sorriso encantador, revelando dentes perfeitos.

— Olá! Não queríamos incomodar, mas nosso carro quebrou a alguns metros daqui e não temos como voltar para casa. Será que podemos usar o telefone para chamar um guincho?

Carter olhou para trás para pedir a confirmação de Evangeline. Ela simplesmente acenou com a cabeça, e ele respondeu para as três jovens:

— Claro. Entrem, o telefone fica na cozinha, logo em frente.

— Muito obrigada — a que falara primeiro disse, passando por ele e lhe lançando um olhar quase lascivo. Jason viu Carter engolir em seco enquanto as outras três entravam. Ouviu um toc-toc no chão, como se algo metálico batesse nele. — Pode me mostrar onde fica?

Carter, então, foi com ela até a cozinha. Ao passar por Jason, a moça piscou para ele depois de analisá-lo dos pés a cabeça com um sorriso provocante. Espantado, ele desviou o olhar e acabou encontrando Rebeca, de braços cruzados, encarando a estranha se afastar.

— O quê? — ele indagou quando ela se virou para ele, as sobrancelhas erguidas em ironia.

Rebeca revirou os olhos.

— Elas mentem melhor do que você, pelo menos — disse baixinho, para que as outras não ouvissem.

— Acha que elas são os monstros? — ele perguntou no mesmo tom.

— Eu ficaria surpresa se não fossem.

— Vocês não são da cidade, são? — Evangeline questionava as três jovens, que estavam espalhadas pela sala.

A que estava mais próxima dela, uma ruiva de cabelos cheios, respondeu:

— Só de passagem.

— Essa estrada anda perigosa — o tom de acusação era claro na voz de Rebeca. — Vocês deram sorte em chegar aqui seguras.

A ruiva sorriu em retorno.

— Acho que sim. Perigosa, você diz?

Rebeca deu alguns passos na direção dela. Jason quis puxá-la para trás, mas deixou que ela prosseguisse, atento aos seus números. Com um susto, percebeu que não tinha olhado os de Carter antes de ele se afastar.

— É, sim. Ou vocês não ouviram os latidos e o uivo agora há pouco? — ela perguntou com sarcasmo.

— Não, não ouvimos — a jovem confirmou, desencostando-se da parede em que estava para se aproximar de Rebeca.

Lá na cozinha, Jason ouviu a outra estranha falando ao telefone e Carter esperando bem na entrada. Ele olhou para os lados: uma das recém-chegadas estava perto das janelas, quase no meio dele e de Rebeca; a outra estava perto de Evangeline, e a ruiva, é claro, na frente de Rebeca.

— E nem vimos nada de anormal, também — ela continuou tranquilamente.

Rebeca sorriu.

— Eu me pergunto por quê.

Subitamente, Jason ficou tenso. Os números de Rebeca e de Evangeline se embaralharam, transformando-se numa bagunça laranja sem explicação que, com certeza, indicava perigo.

A ruiva devolveu o sorriso.

— Não tem nenhum palpite, Rebeca?

Jason pulou para frente no momento em que a ruiva atacou, tirando-a do caminho. Evangeline gritou, e a jovem se virou para os dois completamente mudada. Seus cabelos, agora, eram literalmente fogo; grandes labaredas se desprendiam de sua cabeça, combinando com os olhos vermelhos. Ela chiou – Jason só depois foi entender que era um rosnado –, mostrando presas afiadas no lugar de caninos. Quando Jason olhou para baixo, aterrorizado, viu que ela tinha cascos: uma de suas pernas era uma pata de burro enquanto a outra era de bronze, o que explicava o barulho que ouvira anteriormente.

Carter surgiu da cozinha, correndo para ver o que causava todo o barulho.

— O que está acontecen...?

A moça que estava na cozinha o agarrou pelas costas e fincou as garras em seu ombro.

— Carter! — Evangeline gritou e fez menção de ir até ele, mas o monstro que estava mais perto dela a interceptou.

— Jason, sua arma — disse Rebeca, já sacando a adaga de dentro da roupa. A ruiva tornou a atacá-la, e as duas entraram em uma luta acirrada.

Jason se moveu para ajudar, mas a que estava atrás de si o derrubou com um soco tão forte que ele ficou zonzo. Caiu em cima da mesinha de centro, que se partiu com seu peso, e parou com o traseiro no chão. Pegou a arma do cós da calça e mirou no peito do demônio que o encarava.

— Por favor, não atire em mim! — ela pediu, erguendo as mãos em rendição. Estava com a aparência normal, da jovem atraente que passara pela porta. — Eu não sou um monstro! Vai cometer um erro se me matar. Venha comigo.

A voz dela o envolveu. Era doce, pura, e foi como ser coberto por um véu enevoado. Por algum motivo, Jason sabia que ela deveria ser capaz de convencê-lo a fazer o que queria. Mas seu momento de hesitação durou apenas um momento, e ele puxou o gatilho.

O tiro a atingiu no ombro, perto do peito. Ela soltou um grito estridente de raiva e seus cabelos explodiram em chamas. Jason mirou mais uma vez e atirou. Dessa vez, acertou entre as costelas, e ela cambaleou para trás com o impacto antes de pegar fogo por completo, desfazendo-se em cinzas.

Jason se levantou em um pulo. Levou um segundo para registrar tudo o que acontecia no ambiente. Carter havia pegado uma panela e batido com ela na cabeça do primeiro monstro, o que apenas servira para deixá-la mais nervosa. Ele tinha alguns cortes dos quais escorria sangue nos braços, mas estava se virando bem, ao menos mantendo-a longe de si com a panela.

Rebeca ainda lutava com a demônio ruiva; o monstro havia a derrubado no chão, levando o sofá junto, e a segurava pelo pulso torcido, de modo que ela tinha que segurar a adaga com a mão esquerda. O monstro tentava perfurar seu pescoço com as presas, enquanto a mantinha presa com as patas.

— Ficarei honrada em drenar a vida da suposta Fênix — a ruiva disse, exultante. Avançou para enterrar as presas, mas Rebeca deu um jeito de se mover e lhe dar uma joelhada no estômago que a desnorteou. Empurrou-a para o lado imediatamente, livrando-se dela e se pondo em pé. A ruiva a imitou, chiando, mas Rebeca já esperava pelo ataque. Enquanto ainda se erguia, Rebeca tomou a frente e enterrou a adaga fundo em seu peito. Ela estremeceu e olhou para Rebeca antes de se transformar em cinzas.

Evangeline era quem estava com problemas; havia conseguido escapar de seu monstro, com o custo de perder vários fios de cabelo no processo quando foi segurada. A demônio começou a correr atrás dela, e Jason posicionou o revólver.

— Evangeline, abaixa! — gritou.

No momento de adrenalina, ela fez o que foi pedido, cobrindo a cabeça com as mãos. Quando Jason atirou três vezes seguidas, ela soltou uma exclamação de “Meu Deus!” e se recusou a olhar o que havia acontecido. Os dois primeiros disparos erraram o alvo por muito, e a demônio se aproximou perigosamente de Evangeline. A explosão de chamas só ocorreu no terceiro tiro, que acertou a cabeça. Jason não sabia como havia conseguido aquilo.

— Evangeline, você está bem? — Agachou-se ao lado dela para ajudar.

Ela parecia em choque, fitando as cinzas do que antes era uma mulher. Deixou-se ser ajudada por Jason para levantar, mas arregalou os olhos logo em seguida.

— Carter!

Jason se virou.

Rebeca já corria até ele em auxílio, mas o médico não estava bem. O monstro o segurava pelo pescoço preso a uma parede, e pressionava as mãos com garras, enforcando-o. Ele segurou seus pulsos para afastá-la, mas começava a ficar sem ar e forças. Rebeca os alcançou e tentou puxar o monstro para longe dele, mas foi empurrada para trás com a força sobrenatural da mulher até bater as costas em outra parede.

Jason atirou. Na pressa, suas mãos tremeram e ele atingiu apenas a perna, e a de bronze. A bala ricocheteou com um ruído e caiu no carpete, inofensiva. Tudo o que conseguiu foi atrair a atenção da besta para si – o que já era alguma coisa, considerando salvar seu amigo. Ela largou Carter, que desabou, sufocado, e foi na sua direção. Jason puxou o gatilho de novo, mirando da forma correta, mas, ao disparar, descobriu que estava sem munição.

A mulher veio com garras e presas para cima dele, atacando furiosamente, tentando acertá-lo em qualquer lugar. Jason manejou dar uma coronhada em seu queixo com o revólver, o que só a fez girar a cabeça em um ângulo ao qual seria impossível sobreviver se ela não fosse um monstro.

Como se recolocasse a cabeça no lugar, ela girou os olhos vermelhos para ele. Com um movimento, jogou o revólver longe e avançou novamente. Pela visão periférica, Jason viu Evangeline ajudando Carter a se recuperar em um canto e Rebeca atrás da besta, com a adaga prontamente em mãos. Jason conseguiu mantê-la parada por tempo suficiente para que Rebeca cravasse a lâmina em suas costas.

O demônio soltou um lamento terrível, escancarando a boca com o grito. Jason ainda estava colado a ela devido ao combate. Um brilho de vingança apareceu em seu olhar e, antes de pegar fogo, ela impulsionou a pata de bronze contra ele, dando-lhe um coice poderoso no peito.

Jason sentiu que estava voando. Mal notou quando atingiu o chão, tampouco sentiu a dor da queda. Seu corpo inteiro estava amortecido, a visão rodava. Captou o brilho alaranjado do fogo antes que perdesse os sentidos por alguns segundos. Seus pulmões travaram quando o coração perdeu o ritmo pela pancada, parando para depois acelerar em uma velocidade alucinante.

— Jason! — ouviu Rebeca berrar. Então, percebeu que ela estava ao seu lado, apoiando-o nos braços. — Jason! Carter, ele precisa de ajuda!

Houve uma pausa em que Jason pensou que havia desmaiado, pois não escutou mais nada. Em seguida, o rosto de Carter apareceu sobre ele, preocupado e meio afogueado pelo quase enforcamento. Alguém pôs uma mão fria sobre seu peito, lançando pontadas horríveis de dor, mesmo que a temperatura fosse reconfortante.

— Ele está tendo uma crise de arritmia. — Não soube discernir quem falou. Sua visão ainda rodava, turva, e ele não conseguia respirar. Não, não conseguia. Era o mais difícil. Parecia que havia algo pressionando seus pulmões, e a dor no peito não diminuía nunca.

— Carter, faça alguma coisa, ele está convulsionando! — Com certeza, aquela era a voz de Rebeca.

E foi a última coisa que ouviu antes de desmaiar.

Quando acordou, tudo estava meio embaçado e pesado. Suas pálpebras fizeram um esforço enorme para abrir, e isso foi o máximo de movimento que pôde realizar. Felizmente, não precisou de muito mais. A primeira coisa que encontrou foram os lindos olhos preocupados de Rebeca.

— Seja bem-vindo de volta, campeão — ela gracejou, sorrindo fraco. Passava delicadamente um pano molhado em sua testa.

— O... O que aconteceu? — ele perguntou, a voz rouca.

— Aquele coice quase estourou de vez o seu coração já disfuncional e trincou duas costelas — Rebeca disse em tom de reprovação, como se a culpa fosse dele. — Aí, pra melhorar, você teve uma crise de arritmia e convulsionou. Eu só consegui colocar um pano na sua boca para você não cortar a língua antes de me tirarem de perto. Acho que entrei em pânico e Evangeline teve que me arrastar. Não sei o que Carter fez; ele pegou umas coisas de médico em uma maleta e te ajudou. É o que eu sei. Agora, estamos aqui.

Jason forçou-se a olhar ao redor. Reconheceu que ainda estava na casa do amigo, e deitado em uma cama. Presumiu que fosse o quarto dele.

— Você quase me matou do coração junto — Rebeca disse. — Me deu um baita susto.

Ele tentou sorrir para tranquilizá-la.

— Foi mal. Juro que não tinha a intenção.

— Você tinha que bancar o herói, não é? — ela disse suavemente, continuando a passar o pano em sua testa. — Igual a quando enfrentamos os carregadores no hospital. Pelo menos, dessa vez, você não chamou ninguém de palhaço.

— Achei que você não fosse gostar.

Rebeca sorriu, então o abraçou de um jeito meio desajeitado, para não machucá-lo mais. Segurou sua mão apertado e deitou a cabeça em seu ombro.

— E a Evangeline? — Jason perguntou após um tempo.

— Carter está conversando com ela agora. Acho que vai contar a verdade. O que ela viu não é fácil de processar.

Jason assentiu. Não queria ter preocupado tanto Rebeca, mas o que importava era que os monstros estavam mortos.

Não tardou até que Carter entrasse no quarto.

— Ah, que bom que acordou — disse em um suspiro. — Jason, você nos deu um susto e tanto. Como está se sentindo?

— Não sinto nada, para falar a verdade — ele respondeu. Nem mesmo as costelas trincadas eram perceptíveis.

— Eu te dei uma anestesia forte, era a única que eu tinha em mãos. Vai precisar ficar em repouso por um tempo. Provavelmente, até eu tirar a tala do pulso de Rebeca.

Ambos fizeram uma careta de desconforto.

— Carter, eu sei que você já tinha visto o Jason ter arritmia antes — Rebeca falou. Jason ia protestar, mas ela o cortou. — Nem adianta negar. Você sabe o que é?

Carter suspirou.

— Jason tem a síndrome de prolapso da valva mitral. Apesar do nome complicado, ela é uma anormalidade cardíaca comum e pode-se lidar com ela de uma boa forma. É só tomar cuidado com certas coisas, como levar uma pancada no peito, por exemplo.

— Mas... — Rebeca hesitou, e Jason temeu a pergunta que ela faria a seguir. — A de Jason, especificamente, tem alguma causa?

Jason e Carter se entreolharam. Jason quisera manter aquilo em segredo, mas não via mais sentido em esconder nada de Rebeca. Não havia motivo, e ele já aprendera sua lição quanto a guardar segredos dela. Além disso, não havia mais nada que ela não soubesse; até mesmo sobre sua recém-descoberta irmã e sobre a ansiedade havia falado.

Respirou fundo, o que lhe rendeu algumas pontadas no peito, e se preparou para falar.

— Eu... não contei tudo sobre a época do hospício — começou. — Acho que você já imaginava isso. — Ela confirmou com a cabeça. — A questão é que... Os antigos médicos do hospital acharam que os remédios não estavam funcionando e resolveram testar uma nova técnica para o meu “distúrbio”. Tratamento de choque.

Rebeca soltou uma exclamação, horrorizada.

— Mas isso é um método cruel! E arcaico!

— Os cientistas de lá não achavam — disse Jason. — Eles tentaram por muito tempo, mas, como você sabe, não há cura para o que eu tenho.

— De qualquer forma, achamos que essa possa ser a causa para a arritmia — completou Carter. — As descargas elétricas afetam bastante o coração, principalmente se usadas periodicamente.

Rebeca ficou calada por longos minutos, ainda pasma com aquela informação. Jason quis dizer algo para acalmá-la, dizer que aquilo havia sido há muitos anos, mas não conseguia. Não porque não sabia o que dizer, mas porque seria uma mentira para si mesmo. As lembranças do hospital psiquiátrico ainda o mantinham acordado à noite, e a mera menção ao lugar o deixava desconfortável. Os pesadelos com Rebeca não eram os únicos que tinha.

— Como Evangeline está? — resolveu mudar de assunto.

— Está se recuperando do choque ainda — Carter respondeu. — Mas melhor do que poderíamos esperar. Acho que ainda não acredita totalmente em tudo isso. Só precisa de um tempo. De qualquer forma, concordou em manter o assunto em segredo. E você precisa descansar, Jason. Rebeca, dê a ele os comprimidos daqui a uma hora, por gentileza. Vou deixar vocês a sós.

— Carter — Jason chamou quando ele já estava na porta. — Obrigado por tudo.

— Estou sempre aqui por um amigo. Mesmo que isso signifique quase ser estrangulado por uma mulher demoníaca.

Ele saiu, deixando o ar mais leve. Rebeca pousou o pano molhado em uma bacia no criado mudo e olhou para Jason.

— Só para deixar claro — avisou —, se você quase morrer nos meus braços de novo, eu te mato.

Jason riu.

— Vou tentar me manter vivo. Mas só por você.


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Notas finais do capítulo

Peço perdão pela demora de um mês, mais uma vez. Dessa vez, a culpa foi minha mesmo. Estava com um bloqueio enorme para escrever qualquer coisa por causa de alguns assuntos pessoais, e o capítulo só conseguiu sair agora. Muito obrigada a todos pela paciência e por ler, vocês são lindos! E obrigada, de novo, a Sora pela recomendação, que foi aquele empurrãozinho que eu precisava para começar o capítulo.

Mas então, o que acharam da luta e do que aconteceu? Jason é um sofrido mesmo, coitado :c Espero que tenham gostado! Comentem comigo suas opiniões, eu vou adorar saber e responder!

Beijos e até o próximo ^-^



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