Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 20
Capítulo 19: Quando a barragem rompe


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada aos que comentaram no capítulo anterior! E um agradecimento especial à RedLover que recomendou a fic ♥ Obrigada meeesmo, mal pude acreditar quando vi a recomendação maravilhosa que você deixou! Me sinto honrada por receber aquelas palavras *-*

A imagem contida no capítulo foi enviada pela Sially e eu resolvi colocar porque... Bem, acho que representa bastante o Jason e a Rebeca hahaha.
Sem mais enrolações, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521704/chapter/20

Mesmo com a vista privilegiada do ponto mais alto da cidade de Lancaster, Ohio, Gabriel não conseguia saber com certeza onde eles estavam. As informações que recebera foram breves e pouco precisas, de forma que ainda não tivera a localidade exata e, portanto, não pudera se apresentar.

— Ah, Serena… — murmurou, encarando o papel que ela lhe entregara com as instruções.

Nenhuma parte do episódio da formatura deveria ter acontecido. Se não fosse pela intervenção de Gabriel, as coisas teriam sido ainda mais catastróficas. Logo após todo o incidente, tivera uma séria discussão com Sloan.

— Eu avisei que se eles não tomassem participação por bem logo, seria por mal — ela dissera. — Não sei por que está surpreso.

— Você foi longe demais — ele falou, mas então soltou uma risada de desprezo. — Mas é engraçado ver que, mesmo sem saber de nada, eles deram um jeito de se livrar dos serpopardos em questão de segundos. Parece que você os subestimou.

Sloan o olhara com ódio.

— Aquelas eram criaturas de baixo calão, apenas uma mostra do que está por vir. Não espere que eu seja generosa da próxima vez.

— Eu não concordo com suas atitudes, Sloan, mas acredite em mim: se continuar com isso, não pouparei esforços em acabar com os seus também — Gabriel ameaçou.

Ela sorriu.

— É o que eu mais quero. Vamos ver quanto tempo você anda na linha antes quebrar as regras... de novo.

Gabriel balançou a cabeça na intenção de afastar a memória. A última coisa de que precisava agora era ser movido pelas provocações de Sloan. Estava determinado a fazer tudo corretamente dessa vez, e ninguém iria atrapalhá-lo e fazê-lo desviar de seu caminho.

Com esse pensamento, ele foi atrás da presença que permanecia tão marcante quanto a que encontrara há quase oito anos.


0000****0000****0000

Don't it make you feel bad
When you're trying to find your way home
You don't know which way to go?
If you're going down South
They got no work to do
If you don't know about Chicago

Rebeca cantarolava uma música do Led Zeppelin quando Jason saiu do banheiro após tomar banho. Ela estava terminando de amarrar os tênis, vestida com roupas de ginástica.

— Não tinha uma música mais irônica para você escolher? — ele perguntou com um sorriso.

Ela o olhou, tirando um dos fones de ouvido.

— Até tinha, mas eu gosto desta — replicou, levantando-se.

— Você vai sair?

— Vou fazer uma corrida. — Ela prendeu os cabelos em um rabo de cavalo. — Não gosto de ficar enclausurada e já posso aproveitar para descobrir em que cidade estamos, já que nos perdemos em algum lugar da estrada. Quer vir?

— Por que não? — Jason respondeu e foi se trocar.

Fazia dois dias desde que haviam deixado New Haven, pulando de um motel a outro para passar a noite. A tal visita que tinha respostas ainda não aparecera, e eles tinham perdido a direção, portanto sequer sabiam em que estado estavam. Poderiam ter ido parar no Canadá e seguiriam em frente.

Saíram do motel e começaram a caminhada. O estabelecimento não ficava muito longe da saída (ou entrada) da cidade. Logo viram uma placa que não haviam enxergado durante a noite: Bem-vindo a Lancaster.

— Nós até parecemos um casal normal fazendo uma caminhada quando se olha assim, não é? — Rebeca puxou assunto, acelerando para uma corrida.

— Quem dera essa fosse a realidade — Jason suspirou. — Você tem falado com alguém?

Ela negou.

— Serena não deu nenhuma notícia. Halee me ligou e tem mandado mensagens, mas eu não a atendi nem respondi. Achei melhor não arriscar caso alguém esteja tentando rastrear o sinal dos celulares. E você?

— Nada também. Então... Para onde você acha que deveríamos ir agora?

— Não sei. Nós vamos apenas continuar atravessando uma cidade após a outra sem rumo?

— Temos mais alguma coisa para fazer?

Rebeca ponderou.

— Na verdade, eu estava pensando em irmos até a universidade mais próxima e conversar com um historiador — ela falou enquanto se aproximavam de uma pequena praça arborizada. — Os serpopardos são da mitologia egípcia, mas eu não acredito que essa história acaba por aí. Deve envolver mais coisas, porque não há nada de números nessa mitologia. Sem contar que eu andei pesquisando sobre esse pássaro do colar.

— E o que descobriu?

— Bom, ainda não tenho muita certeza, mas parece que é...

Jason não conseguiu ouvir o resto da frase. Acabou tropeçando por fixar o olhar no rosto de Rebeca, banhado pela luz do sol matinal.

Ela explodiu em risos, arrancando dele um olhar tétrico.

O tropeção o fez cair, quase de cara no chão, se não tivesse usado as mãos para se apoiar e assim conseguir vários arranhões extremamente agradáveis nas palmas. Que bela maneira de parecer abobado na frente da namorada no meio de um assunto tão importante!

— Você quer parar de rir? — perguntou mal-humorado, o que apenas a fez rir mais, com a diferença de que agora ela tentava segurar a risada descarada.

— É que isso foi... isso foi... a queda mais patética que eu já vi! — Ela caiu na gargalhada. — Foi quase em câmera lenta e você saltou para frente com uma cara de “adeus, mundo cruel” e...

Ela parou de falar ao vê-lo levantando com uma expressão de poucos amigos.

— Jason?

— É melhor você voltar a correr. E bem rápido — avisou.

Começou a caminhar na direção dela, com passos cada vez mais longos e rápidos enquanto ela se afastava meio de costas, com os olhos presos aos dele. Assim que Jason correu, ela disparou também, em direção à praça que ficava naquela mesma direção.

— Cuidado para não cair de novo, hein! — Rebeca gritou em provocação.

— Você vai ver quem vai cair! Ainda tem que me pagar pelo bolo na cara no meu aniversário — Jason apontou, aumentando a velocidade, mal conseguindo rir pelo esforço físico a que não estava acostumado.

— Tem que me alcançar primeiro!

Eles chegaram à praça minutos depois e correram por ela, descendo por um caminho de areia E foi quando um cão surgiu absolutamente do além, correndo rápido na direção deles, empolgado com a agitação. O problema foi que, de alguma forma, Rebeca conseguiu se desviar do foguete em forma de cachorro, e ele se esborrachou nas pernas de Jason, fazendo-o cair empolado consigo no chão – de novo.

O cão ganiu com o choque e a queda, e se afastou em seguida lançando-lhe um olhar ofendido, como se ele fosse um cara rabugento que não sabe brincar. Jason teve vontade de atirar um toco de árvore no cachorro. E lá estava Rebeca, apoiada nos joelhos, rindo de novo da cena. Ao menos dessa vez ele havia caído na grama.

Ela se aproximou, ainda gargalhando, e esticou a mão.

— Vem, você se vinga da próxima vez.

Jason cogitou aceitar a ajuda, porém, ao invés disso, aproveitou para lhe passar uma rasteira que a fez cair ao seu lado no chão. Rebeca xingou até a sua terceira geração depois de soltar um resmungo de dor.

— Agora estamos quites — ele falou, dando risada. Beijou-a antes que ela continuasse o mandando ir a lugares bem ruins, e felizmente ela não protestou. — Rebeca, você não está preocupada? — perguntou de repente. Ela parecia bem demais com toda a situação, fazendo Jason se perguntar se estava exagerando com toda a preocupação que sentia.

Ela se sentou e abriu um sorriso tranquilo.

— Sim, eu estou preocupada. Mas, veja bem, é exatamente por isso que quero desfrutar de todos os momentos de calma que nós temos antes que a tempestade realmente venha. Não vou parar de viver e ficar pensando no que poderá acontecer enquanto estou viajando pelo país com o meu namorado.

Jason escutou aquelas palavras, mas ainda não entendia como Rebeca era tão otimista. Simplesmente não fazia sentido para ele. Não parava de pensar em como estava levando a si mesmo e a ela para o que poderia ser uma tragédia; não era tolo em se enganar achando que os números que viam eram um bom sinal ou tinham um bom propósito. Não via o mundo com bons olhos, não após doze anos presenciando os casos do hospital psiquiátrico.

— Eu não consigo pensar assim — externou seus pensamentos em um murmúrio. — Não dá. Os anos no hospício me mudaram.

— Eu sei — disse Rebeca. — Mas você saiu de lá, Jason. E nunca vai voltar, nunca. Eu não vou deixar que isso aconteça. Se você precisar de ajuda, eu vou estar aqui sempre. Além do mais — ela acariciou seu rosto —, se você não vê um futuro depois daqui, não tem problema. Eu tenho esperança suficiente para nós dois.

Jason não se lembrava da última vez em que se sentira realmente feliz como naquele momento. Percebeu que Rebeca não somente era dona do rosto que o impedia de enlouquecer como também sentiu que nunca amaria nada do modo como a amava.

Pigarreou, procurando algo para dizer.

— Beck, eu sei que te falei algumas coisas na formatura, e você deve ter achado que era só a bebida se manifestando. Mas é só que... com todos os sonhos e os acidentes... Eu não suportaria se algo acontecesse a você. Falei sério quando disse que você é a pessoa mais importante para mim.

— Não se preocupe — ela respondeu. — Eu vou ficar bem.

Eles ficaram mais um tempo curtindo a paz daquela praça e o calor do sol. O cão que derrubara Jason retornou e ficou brincando com eles até que sua dona veio chamá-lo para ir embora.

Perto do meio-dia, foi a vez de Jason de voltar ao motel. Talvez fosse mesmo um sedentário no final das contas, pois havia cansado somente com aquela corrida. Rebeca decidiu caminhar mais um pouco antes de acompanhá-lo. Recolocou os fones de ouvido e saiu correndo pela rua enquanto ele tomava o caminho de volta.

Parou para comprar alguma comida em uma padaria e, quando chegou, foi pôr as coisas no frigobar que havia no quarto. Aquilo estava pior que casa de esquimó. Havia gelo e... gelo.

— Jason.

Quase pulou para fora do corpo ao escutar a voz bem atrás de si. Não poderia confundi-la. Era a voz que falara com ele das últimas vezes. Jason reagiu tão rápido que bateu a cabeça na porta do frigobar e agarrou a coisa mais próxima que tinha para se defender – que acabou sendo um abajur – e girou nos calcanhares.

— Quem é você? O que você quer? Como entrou aqui? — descarregou as perguntas de uma só vez, erguendo o abajur acima da cabeça como se fosse um bastão.

— Acalme-se, Jason — pediu o homem. — Eu vim para conversar.

— Como diabos entrou aqui? — Jason tornou a perguntar, ignorando totalmente o pedido de calma. Para o inferno com a calma, ele pensou, o coração tão acelerado que era capaz de ter uma crise de arritmia. — É sua a voz que eu tenho ouvido, não é? Quem é você?

— Sou quem vai lhe explicar tudo o que está acontecendo, como Serena avisou — ele respondeu de forma simples, sem se abalar.

Jason conteve-se, encarando-o desconfiado. Não era velho; aparentava estar perto dos vinte e oito anos. Ele era mais alto do que Jason, e mais musculoso também. Tinha cabelos curtos castanho-claros e olhos azuis, além de linha da mandíbula bem definida e nenhuma barba. Trajava coturnos, calças jeans escuras, camiseta e jaqueta de couro preta.

Mas o que mais lhe chamou a atenção foi que não havia nenhum número brilhando acima de sua cabeça.

— Continue — disse Jason, ansioso por respostas.

— Meu nome é Gabriel — o intruso falou. — Sinto muito por só ter vindo até você agora, mas houve inúmeras complicações.

— Então você é o responsável por tudo o que está acontecendo? — Jason perguntou, sem se segurar.

— Não exatamente — ele respondeu. — Mas sou o guardião de vocês. É minha obrigação guiá-lo em suas ações e na sua missão.

— E o que eu tenho a ver com toda essa história?

Então Gabriel soltou a bomba:

— É isso que você ainda não entendeu, Jason. Nada disso se trata sobre você. Sempre se tratou de Rebeca.

Paralisado, Jason não teve tempo de responder antes que a porta do quarto se abrisse e a própria Rebeca entrasse, ainda alheia à presença do estranho.

— Ei, Jason, o que você acha de...

Ela estancou na porta e empalideceu ao notar a presença do outro homem. O coração de Jason ameaçou parar quando ela disse, na voz mais indignada possível:

— Gabriel?!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Trilha sonora de Avenida Brasil tocando*
Então gente, que acham que isso significa? Finalmente o Gabriel apareceu de vez, e agora vamos poder conhecê-lo melhor (e desvendar os mistérios hehe). Me contem suas opiniões sobre o capítulo, o que acham que vai acontecer agora, tudo! Vou adorar conversar com vocês ^^
Obrigada por lerem e até o próximo capítulo :3