Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 18
Capítulo 17: Desenhos


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada aos que comentaram e leram o último capítulo!

Como eu havia prometido, a segunda parte está aqui ^^ É uma continuação direta do anterior, e também está um pouco maior do que o normal, mas eu espero do fundo do coração que gostem. Esse capítulo estava planejado desde quando comecei a escrever a história, e está cheio de coisas hihi.

Boa leitura!



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Rebeca colidiu com a porta para abri-la de uma só vez. Jason já corria atrás dela, tentando andar em linha reta, e fechou a porta novamente atrás de si assim que passou por ela. Seus pulmões estavam comprimidos pela corrida e pela fumaça e ele teve de se apoiar nos joelhos para tomar fôlego.

— Meu Deus, você tem algum desejo de morte? — exclamou, tossindo. — Achei que seus cabelos fossem queimar quando passou raspando naquele maldito fogo! E como é que você correu com esses saltos? Eu mal consegui andar rápido sem eles. Aliás, que merda nós estamos fazendo aqui? Seria tão mais fácil se tivéssemos só ido embora junto aos outros. Sabe quanto tempo os bombeiros podem demorar para chegar? Muito! Daqui a pouco a fumaça vai começar a entrar aqui também...

Rebeca o ignorou deliberadamente; sequer deu a impressão de estar o ouvindo. Seus passos ecoaram no corredor meio escuro pela falta de energia – apenas as luzes de emergência, que eram pequenas, estavam acesas – quando ela começou a caminhar, gritando pelo nome de Halee sem receber resposta.

E Jason continuou falando:

— Eu posso ver quanto tempo falta para cada um morrer, e os números de todo mundo estavam baixando. Cara, isso é tão errado — acabou desabafando. — Estou com uma péssima sensação de andar por esse corredor escuro, silencioso e vazio só com você...

JASON! — Rebeca gritou de repente, parando e se virando para ele.

Aquilo o fez reconsiderar a questão do “silencioso”.

— Sim? — perguntou, envergonhado.

— Cale a boca.

— Eu não posso evitar, parece que algo mortal vai surgir da escuridão e nos atacar a qualquer momento...

Arrependeu-se amargamente de dizer isso em voz alta justo quando estavam numa curva.

Porque foi exatamente o que aconteceu.

Jason ouviu o que parecia ser um chiado misturado a um rugido, e na sua opinião meio distorcida não poderia haver nada mais macabro. Um vulto longo e veloz saltou à sua direita na direção de Rebeca, que estava na frente, e ele teve de agradecer aos céus por sua namorada ter bons reflexos e pular para trás com um grito.

— Mas que diabos...

As criaturas voltaram a sibilar. Tinham o tamanho e os corpos de leopardos, de cor bege e com manchas negras, mas seus pescoços... Deus, o que era aquilo? Eram pescoços de cobras: delgados, verdes e escamosos, tão longos que ficavam na altura dos olhos, parecendo ser capazes de engolir ou estrangular um adulto. A cabeça também era a de um leopardo, mas seus olhos eram vermelho-escuros.

Jason nunca quis tanto acreditar que estava alucinando. Chegou a rezar para ser uma miragem, puro efeito da bebida nojenta que ingerira durante a festa, mas aquelas coisas pareciam reais demais.

Rebeca estava tão chocada quanto ele.

— O que... — Jason começou, mas não teve tempo de concluir. As duas criaturas idênticas o fitavam diretamente com seus olhos malignos, e avançaram mais uma vez.

— Mexa-se! — Rebeca gritou, empurrando-o para o lado no momento em que uma delas cuspiu um jato de saliva e o que parecia ser ácido na parede, no exato local em que a cabeça de Jason estivera segundos antes. A pintura derreteu, e fumaça se desprendeu da argamassa.

— Vamos! — Jason segurou o pulso de Rebeca e disparou em uma corrida desesperada para longe daqueles animais. Infelizmente, o corredor que escolheu não tinha saída, e foram forçados a entrar em uma porta que descobriram ser a cozinha.

— O que é aquilo? — ele perguntou assim que pararam, ofegantes. Sabia que as criaturas iriam atrás dos dois. Estava até vendo a porta indo pelos ares quando aquelas coisas a destruíssem.

— Como é que eu vou saber? — devolveu Rebeca, exasperada. — Não sou eu o ímã para ocorrências sobrenaturais.

— Qual é, a culpa não é minha! — Jason se defendeu, ofendido. — Eu não pedi pra isso acontecer. Você quis vir até aqui quando todos estavam seguros.

— Deveria me agradecer por livrar essa sua cabeça de vento de ser derretida por ácido!

— Minha cabeça não é de vento, e eu teria me desviado mesmo sem você me empurrar.

— Era mais fácil ter tropeçado nos próprios pés sem a minha ajuda. Não sei como conseguiu chegar até aqui sem cair.

— É porque meu equilíbrio é fantástico! — Jason se gabou, querendo provocá-la. Não entendia o que o levava a brincar numa hora dessas, mas isso o tranquilizava. Rebeca também não estava brava, embora olhasse para todos os cantos procurando por algo que os ajudasse. — Eu poderia correr uma maratona agora. Ou te carregar até o meu apartamento sob a luz do luar...

— Ah, não comece com esse falatório de novo ou eu juro que quebro os seus dentes com um soco — ela ameaçou.

Os dois se encararam por exatamente um segundo, em silêncio, até que desataram a rir de forma histérica, com o desespero crescendo. Jason dobrou o corpo em busca de ar.

Foram interrompidos pelo barulho da porta de metal sendo atacada por garras. Se as patas daquelas criaturas podiam rasgar metal, Jason certamente não queria descobrir o que fariam com ele se o alcançassem.

— A cozinha não tem outra porta — disse Rebeca, retomando o tom sério. — Só temos como sair por ali.

— Qual a chance de matarmos essas coisas antes que elas nos matem?

— Considerando que não sabemos o que elas são, que estamos encurralados e que elas cospem ácido, eu diria que... Bem pequena.

— Olha quem está com o falatório agora.

— Vá se ferrar — Rebeca amaldiçoou no instante em que as fechaduras que prendiam a porta arrebentaram com um baque, atingidas pelo pescoço dos dois animais ao mesmo tempo. A estrutura de metal foi ao chão, dando espaço para que passassem, o que não tardaram a fazer.

Jason e Rebeca se separaram, indo cada um para um lado para fazer o contorno do balcão da cozinha, onde as panelas ficavam penduradas. Algumas ainda estavam no fogão deixado às pressas, borbulhando.

— Deve ter facas naquelas gavetas ali atrás — murmurou Rebeca. As criaturas davam passos lentos na direção deles, o que os levou a seguir o exemplo para trás. Elas os sondavam com os olhos vermelhos, analisando, espreitando como serpentes prontas para dar o bote.

Jason girou a cabeça para ver a que Rebeca se referia e viu do outro lado da cozinha a bancada com várias gavetas. Certamente uma cozinha guardava facas, não é?

— Só não corr... — Rebeca avisou, mas era tarde demais.

Jason disparou até lá, esperando que facas pudessem matar aquelas coisas. Elas avançaram, e eram muito mais rápidas do que ele previra, embora não esperasse outra coisa de leopardos, ou o que quer que fosse metade leopardo.

Rebeca, que ficara para trás, desviou-se das garras de um deles e acertou-lhe a cabeça com uma tábua de madeira que achou jogada no balcão. A criatura não pareceu feliz e tratou de espirrar a saliva ácida, que felizmente errou o alvo.

Jason puxou as gavetas enlouquecidamente até encontrar a que possuía facas. Agarrou o cabo de um cutelo para carnes e se virou para o animal que havia pulado sobre a bancada e agora o encarava novamente de frente. Jason recuou com o susto, a faca ainda erguida, mas sem agir.

Viu pelo canto do olho quando Rebeca cuidou da outra criatura de forma muito peculiar. O monstro avançou para ela com garras e dentes, e ela apanhou de cima do fogão uma panela com molho fervente e derramou-o sobre sua cabeça. O grito que aquilo soltou ao ser queimado foi o pior lamento que Jason já ouvira. Ele se contorceu por uns momentos, sacudindo-se para se livrar do líquido, e acabou batendo o pescoço na quina de madeira. Atordoado, caiu no chão, e segundos mais tarde já não se movia mais.

Seu companheiro aproveitou a pequena distração de Jason para pular em cima dele e tentar atingir seu rosto. Ele se defendeu com a ajuda dos braços e do cutelo, causando um arranhão no bicho. Com um impulso, Jason o chutou no peito e o mandou uns passos para longe. Não desperdiçou a oportunidade: brandiu o cutelo no alto da cabeça e o desceu com toda a força que possuía no pescoço da criatura enquanto ela se recuperava.

Era mais difícil do que imaginava. Teve de atingi-lo mais uma vez e outra antes que o pescoço fosse separado do resto do corpo. Jason aguardava um jorro de sangue, mas não foi o que aconteceu. A carne era esponjosa e seca, e apenas caiu com um barulho ruidoso no piso liso.

Rebeca o encarava meio surpresa, meio chocada.

— Parecia mais fácil nos filmes — Jason argumentou, sem controlar a língua.

Antes que ela respondesse, um novo chiado preencheu a cozinha. Eles olharam para baixo, onde as criaturas estavam caídas e mortas, e viram os corpos começarem a se desintegrar. Desfizeram-se em questão de segundos, sem deixar um rastro sequer além de um montinho de... areia vermelha. E esta logo sumiu também, levada por uma rajada de vento que veio de lugar nenhum.

— Mas que merda foi essa? — Jason praguejou, os olhos esbugalhados. Sua mente estava entrando em pane com toda essa sequência de acontecimentos.

Rebeca só balançou a cabeça em negativa.

— Só... vamos embora daqui.


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Jason podia aceitar várias coisas.

Podia aceitar que tinha algo de muito errado consigo mesmo. Podia aceitar que via o tempo restante até cada pessoa morrer. Aceitava que estava envolvido com ocorrências sobrenaturais. Lidava com isso porque tivera anos para refletir e se conformar com esses fatos e que não poderia mudá-los.

Mas se havia algo que definitivamente não podia aceitar era que dois monstros ridículos tentassem matar sua namorada.

— Tem certeza de que está bem? — perguntou pela milésima vez quando adentraram seu apartamento. — Não está machucada nem nada? Aquele bicho não tocou em você?

Rebeca revirou os olhos.

— Estou inteira, saudável e ótima, Jason, relaxe.

Haviam saído pela porta de emergência da área dos funcionários, logo ao lado da cozinha. Do lado de fora do salão, os formandos, familiares e professores se amontoavam em uma confusão só, tentando saber o que acontecera para causar o fogo e a perda de energia. Era possível ouvir as sirenes do corpo de bombeiros ecoando ao longe. Halee estava segura como Jason achava, e já havia ligado para Rebeca para saber onde ela estava.

— Precisamos descobrir o que era aquilo — Rebeca falou, andando de um lado para outro na sala. — Estavam atrás de você.

A cabeça de Jason latejava cada vez mais, chegando a doer. Parecia que o efeito do álcool começava a passar, abrindo espaço para a pior parte.

— Rebeca, eu juro que não tenho a mínima ideia do que fazer — ele desembuchou, exausto, deixando os ombros caírem. — Juro que não sei o que aquelas coisas eram e estou me borrando de medo com tudo isso.

Ela se aproximou.

— Jason...

O que quer que fosse dizer, foi interrompida por algo sendo atirado contra a janela com tal força que o vidro se quebrou e fez estilhaços voarem pelo carpete. Jason olhou a tempo de ver uma sombra desaparecer, e de alguma forma soube que era a mesma das outras vezes.

No chão, um rolo de papel estava enrolado como um canudo, amarrado com barbante dourado. Foi Rebeca quem se aproximou e o pegou, desdobrando-o em seguida para ver o que havia escrito. Jason espiou por cima de seu ombro a única frase:

Saia da cidade imediatamente.”

Foi como levar um soco. Jason se afastou alguns passos, atordoado. Deveria sair da cidade? Era tão perigoso assim o que estava ali? Ele podia confiar naquele bilhete? Depois de tudo – a morte de seu avô, de Thomas e os avisos anteriores – Jason resolveu não dar chance ao azar.

— É isso — ele murmurou. — Eu vou embora.

Foi até o quarto em busca de malas e mochilas para enfiar algumas roupas dentro rapidamente e então partir de New Haven. Rebeca o seguiu de perto.

— Jason, espere — pediu, parando na porta. Ele jogou uma mala em cima da cama e a abriu para guardar seus pertences. — Jason — ela chamou novamente, mas ele não deu ouvidos. Então o segurou e o fez encará-la. — Eu vou com você.

— De jeito nenhum — ele negou de imediato.

— Você está louco se acha que vou deixá-lo ir sozinho.

— E você está louca se pensa em se arriscar a vir comigo — Jason respondeu, firme. — Você viu o que aconteceu no salão. É perigoso demais.

— É exatamente por ser perigoso que não vou te deixar sozinho! — Rebeca insistiu.

— Eu não quero que você se envolva ainda mais na minha vida! — ele explodiu. — Não quero que você me acompanhe!

— Por que não?!

— Porque não quero te ver morrer de novo!

Silêncio.

Jason quis arrancar a língua com os próprios dentes, mas o que dissera não tinha mais conserto. Havia perdido o controle e falado demais. Rebeca o fitava de um modo que ele não pôde decifrar, abrindo e fechando a boca sem produzir som.

— De novo? — sussurrou. — Quantas vezes você já me viu morrer?

— O bastante — Jason confessou no mesmo tom. Não havia mais sentido em continuar a mentir.

Rebeca baixou os olhos, magoada.

— Eu perguntei tantas vezes se havia mais alguma coisa para me contar e você mentiu até agora... — Voltou a encará-lo, e seus olhos verdes estavam marejados. — O que é, Jason? E, por favor, não esconda mais nada.

— Eu... — Jason começou, mas se interrompeu. — Só um minuto.

Deu-lhe as costas e foi procurar por algo no guarda-roupas. Remexeu em algumas camisas para abrir caminho, pois sempre o mantinha escondido bem no fundo. Pegou seu caderno de desenhos e o depositou em cima da cama para que Rebeca visse por si mesma.

— Eu também menti quando disse que desenhava paisagens — Jason falou enquanto abria no primeiro desenho.

Toda a cor sumiu da face de Rebeca, e ele achou que ela fosse desmaiar.

Era ela no papel.

Mais jovem, com os cabelos mais curtos e feições inocentes, mas definitivamente era o seu rosto no papel. Um rosto de criança, gorducho, de mais de dez anos atrás. Poderia ser facilmente confundido por uma foto em preto e branco. O brilho no olhar permanecia inalterado.

— Desde o dia do acidente, cada mês eu sonho a mesma coisa — Jason contou enquanto Rebeca virava as páginas devagar, observando a evolução com o passar dos anos. Parou para admirar um desenho em que estava sorrindo, com aproximadamente quinze anos, e segurava uma rosa nas mãos. — Uma garota aparece e é morta, cada vez de um jeito diferente. A garota é você.

Rebeca ergueu os olhos para ele.

— Eu te vi morrer centenas de vezes e nunca consegui fazer nada para impedir. Um dia, você estava em frente a Yale e eu avistei o nome da faculdade no fundo. Guardei o nome e, assim que me vi livre do hospício, comecei a planejar minha mudança pra cá. Só para ver quem você era e garantir que estava viva, saber se era real. Minha intenção não era me aproximar nem falar com você, mas acabou acontecendo por acaso. Foi o desejo de te conhecer que me manteve são até agora. Você tem sido minha única esperança há catorze anos.

Uma lágrima escorreu pela bochecha de Rebeca, mas ela não se incomodou em secá-la.

— Isso é tudo? — perguntou, a voz rouca.

— Sim — confirmou Jason. — Eu juro.

Ela engoliu em seco e assentiu depois de fechar o caderno de desenhos. Passou a mão pelos cabelos como se precisasse de tempo para processar a informação, e Jason não a culpava. Se fosse o inverso, ele também teria problemas em acreditar e lidar com tudo.

— Sinto muito por ter escondido isso de você até hoje — disse, incerto do que fazer nessa situação. — Eu não queria te assustar. Sei que foi errado porque a envolve também, mas... eu não tive coragem.

Rebeca pareceu não escutar ou decidiu relevar essa parte. Soltou uma risada estranha, meio inconformada, e disse:

— Pelo menos agora podemos dizer que eu sou literalmente a garota dos seus sonhos, não é?

Ela ria, mas seus olhos denunciavam o medo por trás da barreira. Aquilo ainda era pouco perto do terror que Jason sentiria se alguém lhe dissesse que sonhava com ele morrendo uma vez por mês durante quatorze anos.

— Eu não sei se deveríamos rir disso.

— Não deveríamos.

Rebeca se virou e respirou fundo. Então, o encarou novamente.

— O que estamos esperando, então? Termine de arrumar suas coisas e me leve até o meu apartamento para eu me despedir de Serena e nós sairmos de New Haven.

— Você ainda quer vir comigo? — Jason perguntou, imaginando se teria ouvido certo. Rebeca não podia estar falando sério.

— Como você mesmo disse, eu já estou envolvida — ela falou, dando de ombros. — De qualquer maneira eu iria sem saber dos sonhos, agora não adianta nem discutir. Vamos sair da cidade e dar um jeito de descobrir o que tudo significa. Juntos.

Jason queria argumentar, mas era verdade: Rebeca tinha o direito de decidir o que fazer se sua vida estava ameaçada. Além do mais, se queria mantê-la segura, o melhor meio para isso seria tê-la perto de si.

— Vai ser perigoso — avisou, como se ela não soubesse. — Tem certeza de que vai largar tudo que tem aqui?

— Absoluta — ela afirmou, acabando com qualquer chance de contestação. — É minha escolha. Quero estar com você.

Sem acreditar que estava fazendo aquilo, Jason terminou de arrumar e empacotar suas malas. Pegou algumas roupas, os cartões de crédito e mais o que Rebeca achou necessário e fechou o zíper das mochilas. Jogou uma por cima dos ombros e levou outras duas nas mãos.

— Vamos — chamou, já caminhando para fora do apartamento. Deu mais uma última olhada para o que fora sua casa por breves meses e apagou as luzes para em seguida trancar a porta.

Pisou fundo no acelerador quando entraram no carro. Dez minutos depois, parou em frente ao prédio simples em que Rebeca morava. Os dois desceram do automóvel correndo e subiram de escada ao invés de esperar pelo elevador. Rebeca destrancou a porta do apartamento e a empurrou para entrar.

Jason estancou ao olhar lá dentro. Havia duas malas de viagem prontas apoiadas ao lado da mesa. Serena foi ao encontro deles assim que Rebeca apareceu e envolveu a garota em um abraço.

— Graças a Deus vocês estão bem! — exclamou, apertando-a como se quisesse se assegurar de que era realmente ela. — Pensei que o pior tivesse acontecido. Eu nunca me perdoaria se um de vocês estivesse machucado.

— Serena, do que está falando? — Rebeca perguntou, confusa, e se afastou franzindo as sobrancelhas. — O que significam essas malas?

— Beca, me desculpe por não ter falado nada antes, por favor, me perdoe... — Serena passou a mão pelo rosto de Rebeca enquanto falava.

— Não ter falado o quê, Se? — Rebeca perguntou, desesperada por respostas e totalmente perdida. — Me diga o que está acontecendo.

— Não há tempo agora — a grande mulher afirmou. — Você precisa partir com Jason imediatamente. Não posso lhe dizer mais do que isso, Beca, vocês terão de descobrir por si mesmos. Arrumei suas malas, é o suficiente por enquanto.

— Não, não — Rebeca pediu, segurando suas mãos. — Me diga o que está acontecendo, por favor. Eu... Eu não sei o que fazer. — Olhou para Jason e, pela primeira vez, deu sinais de vacilar. — Nilza ainda está no hospital, eu não posso deixá-las...

— Só estaremos em perigo se vocês permanecerem aqui. Não é atrás de nós que estão — alertou Serena. Desvencilhou-se do aperto e buscou algo nos bolsos da calça. Colocou um colar com um pingente que Jason não conseguiu enxergar ao redor do pescoço de Rebeca e entregou outro. — Usem isso sempre. Não importa o que aconteça, vocês devem manter esses colares com vocês.

— Serena... — Jason tentou, aproximando-se.

— Vocês precisam ir — ela o cortou, olhando fundo em seus olhos. — Há muito mais do que podem sonhar envolvido nessa história. Eu confio em vocês e Nilza também. — Dirigiu o olhar a Rebeca. — Eu amo você, querida, e acredito na sua força. Terão um caminho difícil pela frente, mas vai valer a pena. Beca, você precisa saber que... Tê-la morando comigo foi como cuidar de uma filha.

Rebeca soluçou, e Jason não gostou do tom de despedida.

— Jason — Serena prosseguiu. — Você é muito mais do que um garoto problemático. Acredite nisso. Há coisas que acontecerão que você não pode controlar, e não é sua culpa. Agora vão.

Ela se afastou e levou as malas até Rebeca.

— O tempo está acabando, precisam partir agora. Em breve alguém aparecerá para explicar tudo como deve ser feito. Esperem por ele.

Rebeca abraçou Serena mais uma vez antes de aceitar as malas. A mulher comprimiu os lábios para não se desmanchar em lágrimas.

— Adeus, Se.

— Adeus, Beca.

Rebeca levou as malas até o corredor. Jason se virou para trás.

— Obrigado, Serena.

Ela apenas assentiu, e os dois foram embora do apartamento para pegar a estrada que levava para bem longe de New Haven.


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Notas finais do capítulo

E é agora que a história vai começar de verdade! Prometo que esse foi o último capítulo de mistérios antes que as perguntas comecem a ser respondidas. Foi um capítulo que eu gostei de escrever e fundamental para a história, já que é o divisor de águas dela. Estou meio insegura com ele porque não escrevo muitas cenas de lutas e essas coisas, e havia muito a ser trabalhado em poucas palavras, então eu agradeceria demais se todos comentassem ao menos nesse para me dizer o que acharam e me contar o que esperam daqui para frente *-*
Fiquem à vontade para deixar suas perguntas, críticas, sugestões... Vou respondê-los com o maior carinho!
Muito obrigada por lerem e até o próximo ^-^