Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 17
Capítulo 16: A vida começa agora


Notas iniciais do capítulo

Apesar da pequena demora, estou de volta! Como eu havia dito a alguns, esse capítulo é muito importante e será como um divisor de águas (então prestem atenção aos detalhes!). Infelizmente, ele acabou ficando enoorme, por isso eu o dividi em duas partes; ainda assim, essa primeira está bem maior do que o normal, mas espero que isso não seja um problema :3
A segunda parte sai no máximo até o domingo, porque já está quase finalizada e só precisa de uma revisão - que eu mesma faço, então peço que perdoem eventuais erros e falhas.
Sem mais delongas, boa leitura a todos!



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Os quinze dias até a formatura passaram tão rápido que foi alarmante. Parecia que, em uma noite, Jason estava deitando-se para dormir na cama de Rebeca e, quando acordou, já era o dia tão esperado pela maioria dos alunos de Yale.

Não teve tempo para pensar em mais nada com a quantidade de matéria que precisou estudar – ou melhor, decorar. Sua cabeça ficou tão cheia com os projetos de arquitetura que acabou por deixar de lado completamente todo o resto que o vinha perturbando pelos últimos meses, o que se tornou algo bom no final.

Sinceramente, não fazia ideia de como conseguira se formar. Claro que suas notas eram as mais baixas na turma e por pouco não alcançaram o mínimo, mas ainda teria o diploma em mãos dali algumas horas. Entrando no último semestre e ainda levando as matérias daquela forma era quase incabível que desse um jeito de terminar graduado. Não havia frequentado uma escola de verdade quando adolescente; antes de ir para Yale, tivera aulas de matemática e física para ao menos chegar com uma base, mas era só. Talvez alguém houvesse manipulado suas notas. Ou talvez a vida simplesmente decidira parar de cagar em suas costas por um dia.

E, aparentemente, só por um dia mesmo.

Às oito horas da noite de sábado, Jason estava pronto para ir à formatura. Vestia um terno escuro simples, calças sociais e sapatos. Havia tentado ajeitar os cabelos castanhos arrepiados, mas agora eles pareciam mais bagunçados do que outra coisa. O problema era aquela gravata maldita em que não sabia dar nó. Após várias tentativas fracassadas, deixou-a de qualquer jeito, com um meio laço amassado por baixo do paletó. Deu uma última olhada no espelho, suspirando, e saiu do apartamento.

A festa e a entrega do diploma seriam realizados em um salão apropriado que ficava no subúrbio de New Haven. Levava apenas alguns minutos do prédio de Jason até lá, isso se ele não errasse o caminho, o que aconteceu. Assim, quando encontrou um lugar para estacionar, praticamente todos já haviam chegado, e a frente do lugar estava lotada.

Seus professores e os outros formandos aguardavam, conversando ansiosos. Pela porta de vidro dupla na entrada, Jason pôde ver que alguns já haviam entrado. O salão era uma estrutura elegante de apenas um andar, baixa e comprida. Havia um pequeno caminho de pedras que guiava até a porta. Estava se adiantando até lá quando avistou quem realmente estava procurando e seu queixo foi ao chão.

Rebeca era naturalmente linda, mas hoje estava quase brilhando. Usava um vestido verde-escuro sem alças que ia até os joelhos e sapatos de salto pretos. Os cabelos claros estavam enrolados e jogados por sobre um dos ombros. No pulso direito, carregava diversas pulseiras diferentes, enquanto o esquerdo portava um relógio.

— Jason! Até que enfim — ela se virou para ele quando o viu se aproximar, abrindo um sorriso enorme. — Você demorou para chegar. Já é hora de entrar.

Mal ela terminou de falar, as portas foram completamente abertas, e os professores avançaram para tomar seus lugares no palco. Mas Jason não conseguia tirar os olhos de Rebeca ou prestar atenção ao resto.

— Você... está... Uau! — foi o melhor que conseguiu dizer. Tinha a impressão de que todas as palavras decentes do dicionário haviam evaporado de sua mente.

Ela riu alegremente.

— Obrigada. Você também está uau. É incrível como homens ficam bonitos de terno. Não, espere... — Franziu o cenho para sua gravata amassada e tratou de amarrá-la devidamente. Depois sorriu, orgulhosa. — Agora sim estamos prontos. Vamos entrar, quero um lugar lá na frente.

Eles se posicionaram na fila que se formava. Jason disse seu nome ao organizador e adentrou o salão ao lado de Rebeca. Era um anfiteatro com poltronas azuis dispostas em diversas fileiras em frente a um palco de madeira simples. Ele avistou os professores e o reitor de Yale já posicionados, aguardando os formandos.

Seguiu na direção de três poltronas vazias mais perto do palco, mas foi impedido de se sentar quando Halee surgiu do nada e agarrou Rebeca pelo braço, puxando-a alguns passos para longe dos outros.

— Com licença, preciso roubá-la de você um instante! — avisou, fazendo um cumprimento com as mãos. Parecia agitada como sempre, e também deslumbrante em um vestido vermelho longo.

Jason se conformou em esperar, mas ainda estava próximo o bastante delas para ouvir a conversa em voz baixa que tinham. Nunca fora enxerido e não gostava de se intrometer em assuntos alheios, mas estava preocupado com a expressão nervosa de Halee.

— Eles ainda não chegaram... — ela dizia, olhando ao redor.

— Mas vão chegar — garantiu Rebeca com uma certeza absoluta, apertando suas mãos. Jason se perguntava a quem elas se referiam.

— E se não vierem mais? — Halee voltou a indagar, volvendo seus olhos cheios de lágrimas para a amiga. — Já era para estarem aqui. O voo acabou há três horas, é tempo suficiente.

— Halee, confie em mim, eles vão vir. Não há motivo para não virem, eles te prometeram e você é o maior orgulho deles. Essas viagens são cansativas, e não é tão difícil se perder em New Haven para quem acaba de chegar na cidade.

Nem me fale, Jason pensou, amargurado. Finalmente entendeu que Halee e Rebeca falavam sobre os pais da garota.

— Olha, Beca, mesmo assim eu... — Ela hesitou, tomando fôlego. — Eu não consigo fazer o discurso.

— O quê?! — Rebeca quase berrou, e sua boca foi tapada pela mão de Halee imediatamente.

— Não dá! — ela tentou se explicar. — Olha quantas pessoas tem aqui. Eu nem sei se me lembro de todo o discurso. E se eu esquecer alguma coisa? E se eu gaguejar?

— Ah, por favor, você decorou toda e cada palavra que escreveu — Rebeca falou para animá-la. — Repetiu tudo um milhão de vezes. Mas se errar, e daí? Ninguém vai rir de você.

— Argh! É você quem deveria subir lá e fazer essa droga de discurso. Praticamente o fez inteiro e...

— Até parece que eu vou deixar você ter preparado tudo isso para no final dar com o pé atrás. Halee, presta atenção em mim: não há motivos para estar nervosa. Você vai ser maravilhosa, independente de gaguejar ou não. Engula esse choro.

Halee secou os olhos rapidamente e adquiriu uma expressão mais firme.

— Ótimo — Rebeca aprovou, com um sorriso travesso. — Então, quem é incrível?

Eu sou incrível — Halee respondeu, empinando o nariz.

— Exatamente. Agora vá lá em cima e arrase. Quero ficar orgulhosa.

— Eu sempre arraso — ela brincou em um ar arrogante. — Quando foi que te decepcionei?

— Se eu for numerar todas as vezes, vamos ficar aqui a noite inteira e eu acho que não temos tempo para isso. Todo mundo está te esperando.

Halee riu e a xingou ao mesmo tempo, dando um soquinho em seu braço. Em seguida, abraçou-a, murmurando mais alguma coisa que Jason não pôde escutar. Quando se afastaram, Rebeca foi se sentar ao lado de Jason enquanto Halee subia ao palco e se posicionava perto de uma professora.

— Você é a melhor em dar apoio moral — Jason disse.

— Queria ver se você se sairia melhor do que aquilo — Rebeca alfinetou.

— Qual é o problema com os pais da Halee? — Lá estava ele se metendo de novo na vida dos outros. Porém estava curioso; dizer que sabia “pouco” sobre seus amigos chegava a ser um exagero.

— Eles moram no Kansas, então é raro os três se encontrarem desde que ela se mudou para cá para estudar — explicou. — Os pais dela prometeram que viriam mesmo sendo longe demais, mas Halee ainda estava insegura, e eu não a culpo por isso.

Jason não podia dizer que entendia, já que mal se lembrava de como era a convivência com seus próprios pais, mas tentava imaginar a situação. Apenas assentiu e, com a dúvida surgindo de uma hora para outra, perguntou:

— E quanto aos seus pais? Eles não vêm?

Rebeca pareceu incomodada.

— Não. Não tenho mais contato com eles desde que saí de casa.

— E por que não, Becky?

A expressão dela se fechou tão subitamente que Jason estranhou, temendo ter dito algo errado.

— Não me chame de Becky.

— Por quê? — ele perguntou, surpreso.

— Bom, porque... — Ela tentou se explicar, mas estava claro que era uma invenção, ainda que o humor já estivesse de volta em seu rosto. — É um apelido infantil.

— Só por isso?

— É! Imagina se eu começo a te chamar de Jay-Jay, você iria gostar?

— Jay-Jay? Parece nome artístico de algum rapper. Já não existe algum parecido com isso? — ele arriscou, já que estava quase totalmente desatualizado de todo tipo de entretenimento.

— Se você está se referindo ao Jay-Z, passou longe. — Rebeca riu. — Agora fique quieto, vai começar.

Jason abriu a boca para continuar falando, mas sabia que ela o ignoraria a partir dali e, de fato, o reitor da faculdade estava indo até o microfone para dar início à entrega dos diplomas. Jason ficou bem ciente de que Rebeca ainda não havia respondido a sua primeira pergunta e usado aquela desculpa como distração, porém não insistiu mais.

Escutou a fala do reitor, parabenizando a todos ali, resumindo os cinco anos do curso e chamando os professores para também dizer algumas palavras. Em seguida, observou enquanto a primeira aluna era chamada ao palco para receber o diploma e aplaudiu junto aos outros.

Não demorou o tanto que Jason gostaria até seu nome ser chamado. Com um empurrão de incentivo de Rebeca, ele se levantou e caminhou até o palco sob o olhar do restante, e foi só então, quando estava olhando para o anfiteatro inteiro, que percebeu que não conhecia metade das pessoas ali. Sequer havia visto alguns rostos durante os quase seis meses que passara junto deles, quem dirá saber os nomes, e seis meses era um período de tempo suficiente para fazer mais do que três amigos.

Não tem problema, você não se mudou para Yale por causa disso, disse uma vozinha em sua cabeça. Mesmo que fosse verdade, ele passara tantos anos confinado que de repente lhe parecia bom ter com quem conviver, e arrependeu-se de ter se mantido afastado da maioria dos eventos da faculdade.

Seu coração estava acelerado e quase tropeçou ao pegar o diploma; não estava acostumado com tantos olhares. Só ficou confortável novamente quando foi aplaudido e retornou à sua poltrona, respirando fundo.

— Você está bem? — Rebeca lhe perguntou. — Parece pálido.

— Estou bem, sim — ele a tranquilizou, sorrindo.

Alguns minutos mais tarde, foi a vez dela de ser chamada ao palco. Quando todos os diplomas haviam sido entregues, foi a vez de Halee se aproximar do microfone em passos hesitantes. Ela buscou o olhar de Rebeca na multidão, que a encarou de volta e fez um aceno com a cabeça.

Com um pigarro, começou:

— Foram cinco longos anos até chegarmos aqui. Entramos em Yale sem saber por onde começar, o que fazer, se o que escolhemos de curso era o que realmente queríamos para a vida. Estávamos sozinhos, mas agora é só olhar para o lado e ver quantos amigos conquistamos. Talvez o contato seja menor daqui para a frente, mas há amizades que valem por uma vida inteira, e muitas vezes são o que nos fazem continuar. — Ela pareceu relaxar depois de pegar o ritmo, e ergueu os olhos para todos. — Não vou dizer que foi fácil; pelo contrário, foi muito difícil aguentar esses cinco anos. Tenho certeza de que houve vezes em que muitos aqui quiseram desistir, mas não o fizeram, e isso, no final, é o que mais conta. Houve brigas, desentendimentos, tempos horríveis... Mas nós finalmente conseguimos. Superamos tudo isso e seguimos em frente para alcançar nossos objetivos. E hoje temos nossos diplomas em mãos, e a sensação de vitória ao saber que concluímos mais uma etapa de nossas vidas.

Halee fez uma pausa, engolindo em seco. Jason seguiu seu olhar até a porta de entrada e viu um casal de pele negra e tão elegante quanto ela adentrar o recinto com cuidado para não fazer muito barulho. Sentaram-se no final do auditório, num dos poucos lugares vazios, e sorriram abertamente ao ver a filha no palco.

Halee retribuiu o gesto e continuou seu discurso, agora muito mais emocionada:

— Mas isto não significa que acaba por aqui. Ainda temos milhares de coisas para viver, e não ficará mais fácil. Teremos de moldar nossas próprias vidas, arranjar um trabalho. Porém, isso não é o mais importante. O que realmente importa é que mantenhamos nossa essência e nunca percamos o foco. Precisamos ser nossos próprios super-heróis e nos cercar de otimismo. Acredito que todos têm um pouco daquele sentimento de “quero salvar o mundo” dentro de si, mas eu quero dizer que não há nenhum problema se você conseguir salvar apenas uma pessoa, e se essa pessoa for você. Nós sobreviveremos, porque a vida começa agora.

Rebeca foi a primeira a se levantar e aplaudir. Jason foi o próximo, e logo todos estavam de pé batendo palmas, enquanto Halee sorria meio constrangida em cima do palco. Até mesmo os professores aplaudiram, e Rebeca assoviou para fomentar a algazarra.

— Agora vamos aproveitar a festa, porque merecemos! — Halee falou alto ao microfone para ser ouvida por cima das comemorações.

Os formandos e seus familiares formaram uma fila bagunçada para seguir até uma porta na extremidade esquerda do auditório, que levava ao salão de festas. Jason e Rebeca se deixaram ficar para trás para aguardar Halee. Ela desceu o palco correndo e foi até eles.

— Você foi incrível! — Jason elogiou, sincero.

Rebeca pulou na amiga para abraçá-la.

— Eu disse que você seria maravilhosa! Me deixou até com lágrimas. — Ela fez um gesto dramático de quem enxuga os olhos, e as duas gargalharam.

Phillip se aproximou e abraçou Halee por trás. Eles se beijaram antes de ela olhar para os pais, parados a poucos passos de distância, esperando para conversar.

— Vá até lá — encorajou Rebeca. — Nós esperamos por você lá dentro.

Halee concordou e foi encontrar os pais. Ela parou em frente a eles por um segundo, antes que eles abrissem os braços e ela se jogasse de encontro a eles para ser recebida em um abraço duplo.

Rebeca puxou os rapazes até o salão de festas. Jason ficou impressionado com a beleza do lugar, ainda que não tivesse ido a muitas festas para ter um parâmetro. O salão era circular, com pisos de ladrilho branco, e as mesas de toalhas de linho ficavam em uma metade enquanto a outra estava livre para a dança e o palco da banda que já estava pronta. Globos de luz se espalhavam pelo teto, assim como máquinas de gelo seco e luzes coloridas. Os garçons já circulavam para atender aos que estavam acomodados em suas mesas. As paredes, também claras como o piso, estavam decoradas com flores brancas e cristais.

— A mesa de vocês é aquela ali, Halee fez questão de reservar apenas para os dois — Phillip avisou, apontando. — Estou na mesma mesa que ela. Divirtam-se.

Jason foi com ela até a mesa propriamente dita e se sentou, observando o nome deles no cartão em frente ao vaso. Não demorou até que a banda anunciasse o início da festa.

— A primeira dança será a valsa de abertura, então agarrem seus parceiros e venham para a pista! — o vocalista disse, obtendo um grito coletivo de apoio enquanto a maioria se levantava.

Jason não ficou surpreso quando Rebeca os acompanhou. Em realidade, ficou surpreso porque ela esticou a mão para ele com exigência.

— Vamos.

Ele piscou.

— Aonde?

— Para casa assistir Netflix — ela disse sarcasticamente, revirando os olhos. — Dançar, é claro!

— O quê?! Ah, não, não, não, eu não faço isso.

— Agora faz — Rebeca afirmou. — É só uma dança, não vai te matar. Normalmente se dança primeiro com o pai ou com a mãe, mas como não vejo nenhum dos nossos parentes aqui, acho uma boa ideia irmos juntos. Você não vai me deixar ficar sozinha, não é?

Jason quase foi convencido apenas pelo olhar brilhante e pidoso que ela lhe lançou.

— Eu não sei dançar — confessou.

— Tudo bem, é fácil. Um passo para um lado, um para o outro. Agora venha. — E ela o agarrou e o levou até a pista, mesmo sem que ele concordasse totalmente.

A música já havia começado, por isso eles ficaram um pouco afastados da massa. Jason se sentiu como um garoto de doze anos e não um homem de vinte e quatro quando Rebeca ajeitou suas mãos no lugar certo - uma em sua cintura e a outra junto da dela. Foi ela quem o conduziu, não o contrário, e ele ficou mais concentrado em mexer os pés sem se enroscar do que manter uma conversa.

— Não é tão ruim assim, é?

Ele chutou o pé dela sem querer.

— Acho que isso pode responder por mim.

Ela riu. Constrangido, Jason apenas continuou dançando conforme a música pedia. Achou que teria paz quando ela acabasse, mas Rebeca insistiu para permanecerem ali e ele não teve como negar. Nunca se arrependera tanto de uma decisão.

A banda resolveu tocar músicas animadas, daquelas em que as pessoas pulam, cantam e dançam junto, e aquilo era a última coisa que Jason queria fazer. Preferia esconder-se num buraco. Foi um pouco difícil voltar para a mesa na intenção de comer alguma coisa. Os formandos praticamente formaram uma barreira para não deixar ninguém se afastar e ele foi forçado a recuar para onde estava anteriormente.

Abandonou a ideia de retornar à mesa – sob os protestos de completa indignação de seu estômago - quando Halee e Phillip se juntaram a ele e Rebeca. Era mais provável que o inferno congelasse antes que as duas o deixassem ir embora.

Acabou agarrando uma bebida horrível que estavam oferecendo, com esperança de que aquilo servisse para descontraí-lo, e o mesmo fizeram Halee e Phillip. Como Rebeca não tomava nada alcóolico, apenas continuou se divertindo ao lado deles. Foram espremidos, pisoteados, esmagados enquanto todos os formandos dançavam.

Pareceu se passar uma eternidade até que os quatro fossem se sentar. Jason não se lembrava de ter dançado, mas provavelmente acabara no meio dos outros imitando alguns passos – que o fizeram parecer uma barata tonta. Uma vez que não estava acostumado a beber, sua cabeça já dava sinais de rodar após alguns copos de barriga vazia.

— Vá com calma, cowboy — Rebeca lhe disse quando ele caiu sentado na cadeira, achando graça de sua situação. — Aqui, coma isso. — Entregou-lhe um prato com salgadinhos frios que ele logo aceitou, enfiando três na boca de uma vez.

— Que horas são? — perguntou, mastigando, e sua voz saiu mais engrolada do que planejara. Não parecera tão rouca dentro de sua cabeça.

— Duas da manhã — Rebeca respondeu, observando-o. — Nossa, sua resistência é uma porcaria. Me lembre de nunca mais te deixar beber desse jeito.

— Foram só uns copos, eu tô bem — ele se defendeu, ou ao menos tentou.

— Ahã, é exatamente por ter sido só alguns que você não combina com essa vida — debochou Rebeca com um sorrisinho. — Até parece que é um adolescente bebendo pela primeira vez.

Tirando a parte do adolescente, é verdade, ele pensou, e só percebeu que tinha dado voz ao pensamento quando ela gargalhou mais ainda. Halee e Phillip estavam entretidos demais engolindo os rostos um do outro para prestar atenção a conversa, e só fizeram uma pausa quando uma funcionária se aproximou de Halee e falou algo em seu ouvido.

Ela revirou os olhos.

— Já volto, tem alguma coisa errada com a energia.

Seguiu a mulher até uma porta atrás do palco, e Phillip se levantou quase na mesma hora para voltar a dançar. Jason continuou dando atenção aos salgadinhos enquanto Rebeca balançava a cabeça no ritmo da música.

— Esses salgadinhos estão realmente bons — Jason falou de boca cheia. — Será que a gente não pode levar uns pra casa? Eu me esqueci de ir ao supermercado essa semana.

— Claro, vou colocar o que sobrar na minha bolsa, assim está bom pra você? — Rebeca aderiu ao pedido, e ele sequer notou a ironia.

Ao invés disso, sorriu como uma criança.

— Está ótimo! Você é demais, Beck, realmente demais. Eu já te disse isso? — Abocanhou umas batatinhas que estavam na mesa e desatou a falar. — Eu devia ter dito, já que você é a pessoa mais incrível que eu já conheci na vida. Não que eu tenha feito muitos amigos, só alguns com distúrbios mentais, mas tenho certeza de que, se tivesse, nenhum seria tão impressionante que nem você.

— Jason, tudo bem, eu sei que você não está no seu juízo perfeito — ela disse, compreensiva, achando mais graça. Estava se segurando para não rir da situação.

— Não, não, eu tenho que te falar isso — ele pediu, piscando tão lentamente que parecia dormir um pouco cada vez que suas pálpebras se fechavam. Agarrou as mãos dela. — Você é o mais importante para mim. Te conhecer foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Jason sentiu um alívio ao falar aquelas palavras e sorriu bobamente. Por que será que Rebeca o fitava daquele jeito engraçado? Parecia até que não sabia como responder, o que era impossível, já que sempre tinha algo pronto na ponta da língua. Talvez ele tivesse dito algo errado, era o que normalmente fazia. Mas tudo que dissera era a mais pura verdade.

— Volte a comer, sim? — Rebeca falou por fim. — Daqui a pouco você melhora.

Ele concordou inconscientemente e já estava esticando a mão para pegar mais uma batata quando as luzes do salão piscaram várias vezes e se apagaram. Ainda restava racionalidade suficiente a Jason para saber que não era um mero efeito de balada, mas sim um problema.

— Estou com um mau pressentimento — desabafou, sentindo a tensão na boca do estômago.

— Não brinca — Rebeca replicou.

A energia parecia ter acabado, pois a banda silenciou. Ouviu-se um urro de desagrado da multidão que ainda estava em pé apesar do horário. As luzes reacenderam por alguns instantes antes de voltarem a piscar insistentemente.

A mente de Jason ficou atenta, lutando contra o álcool. Os salgadinhos estavam se misturando com as bebidas, e ele podia prever que teria uma baita dor de barriga mais tarde.

Sua atenção foi atraída de repente para o palco. Um dos cabos que ligava a caixa de som soltou uma faísca e estourou. As pessoas pularam para longe quando as faíscas se tornaram brasas e o equipamento mais perto pegou fogo. Os músicos saíram do palco enquanto as chamas ameaçavam se espalhar pelo resto dos instrumentos, tampando toda essa parte do salão com calor e fumaça.

— Esvaziem o salão! — alguém gritou, e Jason imaginou que havia sido o reitor.

Viu alguns possivelmente ligando para os bombeiros enquanto o restante se precipitava para a saída em uma confusão só. Rebeca se pôs de pé em um pulo, o medo visível em seu rosto. Jason a imitou, quase plenamente alerta com o susto, mesmo que tivesse cambaleado num primeiro momento pela rapidez com que se ergueu.

— Temos que sair daqui — falou, observando os números de todos se embaralharem em uma loucura que crescia e decrescia em uma velocidade alucinante. Só isso foi o bastante para aumentar sua tontura.

Rebeca segurou seu cotovelo, atraindo a atenção para si.

— A Halee está lá. — Apontou para a porta atrás do palco, que agora queimava e não fazia menção de parar. Um ou outro professor e funcionário havia agarrado extintores de incêndio para tentar aplacar o fogo, mas era uma força mísera comparada a ferocidade das chamas.

— Talvez ela já tenha saído — Jason arriscou, incerto. Todos os alarmes de incêndio soavam, alertando o perigo. A essa altura, as pessoas já deviam ter deixado o salão. — Deve ter outra saída daquele lado.

— Não posso deixá-la lá! — Rebeca contestou.

Franziu os lábios em uma determinação férrea e, antes que Jason pudesse impedir, saiu correndo na direção do palco em chamas.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que estão achando? Como eu disse, tive de dividir o capítulo ou ele ficaria com mais de seis mil palavras, então talvez o corte tenha sido meio abrupto. Farei o meu melhor para que o próximo saia rápido e vocês não percam o ritmo!
Por favor, me digam o que acharam! Significa muito para mim, e sempre ajuda a melhorar e incentivar *-* Muito obrigada a quem leu até aqui, mil beijos e até o próximo o/



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