Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 13
Capítulo 12: Solidão


Notas iniciais do capítulo

Olá! Todos estão bem?

Primeiro, gostaria de um minuto para agradecer a perfeita recomendação do Mr Hastings! Nunca, nunca mesmo, imaginei que receberia duas recomendações seguidas! Precisei relê-la para acreditar e estou emocionada até agora! Muuuito obrigada de coração, nem sei como agradecer ♥

Segundo, muito obrigada também a todos que comentaram o último capítulo, é isso que me incentiva a continuar postando! A quem favoritou e começou a acompanhar agora também fica aqui o meu agradecimento, e não se sintam envergonhados para comentar haha *u*

Espero que gostem do capítulo e tenham uma boa leitura!



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O dia estava frio e nublado, cheio de nuvens escuras, para combinar com o que Jason sentia. Enquanto esperava Rebeca em frente ao prédio dela, tentava fracassadamente dar um laço na gravata que deveria usar para combinar com o terno preto.

Rebeca entrou no carro com uma expressão carregada, usando um vestido negro simples e com os cabelos claros soltos caindo sobre os ombros.

— Aqui, deixe-me ajudar — ela disse, inclinando-se no banco para ajeitar a gravata.

E esse foi o cumprimento daquela vez. Jason abriu espaço para ela sem dizer nada. Não estava em condições de falar qualquer coisa, e Rebeca sabia disso. Quando terminou, ela arrumou a gola do paletó e se encostou.

— Você está pronto?

— Acho que nunca vou estar — ele respondeu, dando partida no carro. — Alguma notícia?

— Ainda não.

Aqui estamos nós de novo, Jason refletiu enquanto acelerava. Indo para Allentown. Dois dias após a morte de Lionel, o funeral estava sendo realizado no cemitério central da cidade em que morava. Jason ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo, que seu avô estava morto. Tinha a sensação de que a ficha só cairia quando visse o corpo.

Não havia convidado Rebeca para ir com ele, assim como ela também não havia perguntado se queria companhia. Simplesmente entraram em acordo, em um combinado silencioso.

A busca pelo homem que o salvara há catorze anos prosseguia sem resultados, o que significava que sua busca por respostas também continuava na mesma. Com mais o golpe da perda de Lionel, as esperanças estavam abandonando Jason novamente. A única coisa que o impedia de desistir estava sentada ao seu lado naquele momento.

Seguiram a viagem de três horas sem conversas. As frases que trocaram foram poucas, e sempre respondidas, por parte de Jason, com monossílabos.

Quando chegaram ao cemitério, todos já estavam esperando. Uma chuva fina começara a cair, e a maioria das pessoas portava um guarda-chuva. Jason e Rebeca adentraram o portão e se aproximaram de onde o padre terminava de dizer suas palavras.

Jason olhou ao redor. Havia muitos rostos familiares ali, ainda que tivessem mudado muito após todos aqueles anos. Alguns tios e primos, uns poucos amigos de Lionel e os empregados da mansão.

Duvidou que seus parentes fossem reconhecê-lo. Talvez fosse melhor daquele jeito. Ele preferia assim. Não suportaria aguentar o bombardeio de perguntas que certamente se seguiria caso algum daqueles riquinhos o visse ali.

Os mais próximos de Lionel Kent se aproximaram do caixão para se despedirem mais uma vez e então foram prestar condolências uns aos outros. Quando a área estava minimamente mais livre, Jason foi até lá com Rebeca atrás.

— Tem certeza de que quer vê-lo? — Rebeca lhe perguntou.

— Sim. Mas você não precisa. Está chovendo, deveria voltar para o carro.

— Não se preocupe comigo. Vá em frente.

O tampo do caixão estava destampado. Com a permissão do padre, Jason observou o corpo do avô estirado sobre a almofada, com as mãos cruzadas sobre o peito e a expressão solene dos mortos; ele parecia até mesmo sorrir. Alguém o havia vestido com seu terno mais caro, de cor cinza, que lhe dava uma aparência ainda mais pálida.

Jason sentiu raiva. Lionel podia ter dinheiro de sobra, mas nunca o esbanjava, e era o completo oposto de esnobe. Quem mandara prepará-lo com certeza não o conhecia direito ou não ligava para suas opiniões.

— Jason — sussurrou Rebeca. — Tem um homem nos encarando. Você o conhece?

Discretamente, ele olhou para onde ela indicava. O sujeito estava bem afastado, perto de outros túmulos, como se não quisesse chamar atenção para si. Apesar de estar usando óculos de sol, estava claro que olhava na direção dos dois.

— Não, não conheço — Jason respondeu. Provavelmente é alguém que se lembra de mim.

— Sentirei saudades dele — Joan, a governanta da casa de Lionel, se aproximou do caixão. — Como você está, Jason? Sei que deve ter sido uma notícia horrível de receber. Eu via o quanto vocês eram próximos.

Jason balançou a cabeça. Os números de seu avô eram altos, ele fazia questão de verificar sempre que o via. Nunca houve nenhum indício de que ele pudesse enfartar tão de repente.

— O que aconteceu com ele, Joan?

— Eu não sei, garoto — ela disse, triste. — Ele estava bem quando foi se deitar naquela noite. No dia seguinte, quando fui lhe levar o café da manhã, estava morto. Os médicos disseram que foi infarto, então é nisso que acreditamos. Parece que a morte não poupa nem os melhores, não é?

— Com certeza, não — Jason concordou.

Joan pôs a mão em seu braço e sorriu com tristeza.

— O testamento será lido neste final de semana e você foi convocado. Sei que Lionel iria gostar que fosse, embora soubesse que não quer. Enviarei o endereço ainda hoje.

Com isso, ela os deixou a sós novamente. Jason deu uma última olhada no corpo e se virou para Rebeca, que também encarava o caixão com muita atenção.

— Acho que está na hora de ir.

— Não vai querer ficar para vê-lo sendo baixado?

Ele negou, portanto os dois começaram a andar para a saída, passando pelo meio dos outros presentes. Uma música lenta foi iniciada no violino enquanto tampavam o caixão e o preparavam para ser enterrado em uma cova ao lado. Flores foram jogadas.

A cada passo que dava para se afastar, Jason sentia o vazio em seu peito aumentar. Seus olhos arderam com a constatação de que a pessoa que o livrara de passar o resto da vida em um hospício estava morta.

Rebeca deve ter percebido a mudança em seu rosto, pois segurou sua mão de forma carinhosa.

Entretanto, eles foram interrompidos por uma voz que Jason desejava nunca mais ter de ouvir.

— Jason, espere!

Ele estancou o passo, mais por surpresa, raiva e atordoamento do que pelo pedido. Ficou paralisado de costas para a pessoa por um momento.

— Queremos falar com você, por favor.

Ele se virou, o maxilar travado. O homem tinha os cabelos arrepiados e os olhos castanhos como os seus, porém possuía barba e vinte anos a mais. Estava conservado para a idade. A mulher era mais jovem, tinha belas feições e cabelos curtos.

— Não tenho nada para falar com vocês — Jason respondeu, querendo ir embora dali o mais rápido possível.

— Vejo que conseguiu sair do hospital — seu pai falou, sem o mínimo de animação na voz.

— Você continua tão perceptivo quanto antes, hein? — Jason alfinetou, sarcástico.

— Por favor, Jason, vamos conversar — sua mãe pediu. Ao menos tinha um pouco de decência ao parecer arrependida. — Já faz tanto tempo... Você nunca deu notícias. Estava com saudades.

— Então devia ter pensado melhor antes de me largar naquele lugar.

Ela baixou o olhar.

— Não vai nem ao menos nos apresentar a sua namorada? — seu pai perguntou, ainda insistindo.

— Não é necessário — Rebeca respondeu por ele. — Eu prefiro manter distância de pessoas como vocês. Até nunca mais, eu espero.

E ela própria o guiou até o carro. Jason não olhou para trás em nenhum momento, e aquele casal não voltou a chamá-lo. Odiava ter de pensar neles como pais. Só o mero som de suas vozes o fazia ter ódio daqueles dois.

Estava na porta do carro quando viu uma figura o olhando do outro lado da rua. Foi rápido demais para significar qualquer coisa, pois no segundo seguinte havia desaparecido, mas Jason teve certeza de que havia algo ali.

Seu coração descompassou anormalmente. Ele levou as mãos ao peito e fechou os olhos.

— Jason! — Rebeca correu até ele. — Ei, ei, ei, você tem que se sentar.

— Eu estou bem, não é nada — ofegou, mas ainda assim obedeceu. Estava ficando com falta de ar.

— Fique quieto. — Rebeca espalmou a mão em seu coração. — Arritmia de novo? — falou para si mesma. — Vamos, respire no ritmo da minha contagem. 1... 2... 3... Mais uma vez. Continue até conseguir entrar nesse ritmo.

Um minuto depois, Jason podia respirar como sempre. Não sabia como Rebeca fazia aquilo, mas a mão fria dela parecia algum tipo de remédio.

— Você disse que não era frequente — ela o acusou, o olhar firme.

— Não é — tentou reafirmar a mentira, mas agora já estava clara sua culpa.

— Jason, é sério. Desde quando tem isso?

— Desde a época do hospício — confessou.

— E nunca descobriu o motivo? — Rebeca indagou. — Já foi fazer algum exame? — Seu olhar ficou ainda mais severo quando ele negou. — Está na hora de fazer, então.

— Beck, eu juro que não é nada de mais — disse Jason, fazendo pouco caso. — Eu convivo com isso há tempos, não vai mudar agora.

— Não custa nada checar. Pode não ser nada, mas também pode ser algo muito sério. Você pode ter um ataque cardíaco uma hora dessas. Eu me preocupo com você.

— Não vou ter um ataque — ele garantiu. — Se não morri até agora, está tudo bem.

— Você acha que é alguma brincadeira? — Rebeca deu a volta no carro, entrou e trancou a porta.

— Não, não acho! Mas confie em mim, nenhum exame vai mostrar que eu tenho alguma coisa.

— Eu sabia que você era cabeça-dura, mas não tanto assim.

— Olha quem fala — ele resmungou, mas ela não escutou. A última coisa que Jason queria discutir agora era sua arritmia. Rebeca não precisava tomar parte naquilo também.

— Como você fazia para parar? — a pergunta veio subitamente, após um momento de silêncio.

Jason não sabia como responder.

— Não sei. Eu só... esperava passar.

Rebeca parou de pressioná-lo. Devia saber que às vezes podia demorar e causava dores pela falta de ar e o coração acelerado demais.

Jason partiu com o carro para longe dali. Se dependesse de sua vontade, nunca mais retornaria a Allentown, mas acabou se lembrando da leitura do testamento da qual Joan o avisara.

Já era tarde da noite ao adentrarem as fronteiras de New Haven, e a chuva tornava a cair ainda mais forte. As estradas estavam estranhamente vazias, o que só deu a Jason uma sensação maior de solidão.

Ele estacionou na frente do prédio de Rebeca e lhe estendeu o paletó para que ela não entrasse em casa encharcada. Subiu com ela até o apartamento. Rebeca parou com a mão na maçaneta.

— Sei que deve estar cansado de mim, mas... Eu posso ficar com você, se não quiser ficar sozinho.

Jason viu em seus olhos verdes a incerteza, como quem está disposto a dar espaço se ele pedisse. Mas Jason não precisava de espaço. Naquele momento, ele soube que precisava de Rebeca.

— Não quero ficar sozinho.

Ela abriu um sorriso singelo.

— Venha, vamos entrar.

O pequeno e humilde apartamento cheirava a incenso como da última vez em que Jason estivera ali. Agora, no entanto, somente Serena estava em casa, deitada no sofá, já que Nilza estava doente e permanecia no hospital da cidade. Serena já estava de pijamas, mas levantou-se quando o casal entrou.

— Oi, Beca. Jason — cumprimentou. — Sinto muito por seu avô.

— Obrigado.

— Não temos nenhuma comida pronta, mas posso preparar algo agora se quiserem. Não tenho nenhum dote culinário maravilhoso, mas meus pratos são digeríveis. — Enquanto falava, Serena já se adiantava para a área da cozinha.

— Não precisa, nós estamos bem — Rebeca interrompeu com delicadeza. — Se ficarmos com fome, eu me viro. Pode ir se deitar, Se. Obrigada. — Ela abraçou a mulher e deu um beijo em sua bochecha. — Boa noite.

— Boa noite, querida. — Serena sorriu para Jason. — Jason, sinta-se bem-vindo aqui. Pode vir quando bem entender.

Ele assentiu, agradecido, e Serena se retirou para o quarto.

— Ela sempre fica acordada me esperando chegar todas as noites para ver se estou bem — Rebeca explicou. — Até parece uma mãe.

Ela apagou a luz da cozinha, deixando somente a da sala acesa. Trouxe uma caneca de chocolate quente para Jason e se sentou ao lado dele, mas ele se sentia incapaz de ingerir qualquer coisa. Ficou olhando para um dos artesanatos de Serena sem realmente vê-lo.

Rebeca o abraçou sem aviso. Jason deitou a cabeça em seu ombro, pensando que poderia ficar daquele jeito para sempre sem se importar em se mover. Os cabelos dela tinham cheiro de morango, e aquele abraço era o mais confortável do mundo.

Um celular começou a tocar.

Gentilmente, Rebeca se afastou um pouco e tirou o aparelho do bolso do vestido.

— Alô? — Pausa. Os olhos dela se arregalaram. — Está falando sério?! Sim, sim, posso anotar, só um minuto. — Lançando um olhar para Jason, ela agarrou um bloco de papel e caneta. — Pode falar. A-hã. Tudo bem. Muito obrigada, Ted, fico te devendo essa!

Ela desligou.

— Quem era? — Jason questionou.

— Meu amigo. — Rebeca ergueu a anotação do bloco para ele. Era um endereço. — Parece que temos um ponto de partida. É o endereço de Thomas Orson. Chicago nos aguarda.


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Notas finais do capítulo

Atingimos os cem comentários, e mais uma vez eu não sei como reagir! Só posso agradecer todo o carinho e atenção que vocês têm me dado (e paciência também com os meus atrasos). Obrigada a quem passa aqui para ler, é muito importante para mim *-*

O que acharam do capítulo? Calmo, já que eu tive de mostrar o enterro de Lionel e o começo de como o Jason vai lidar com isso, mas algumas coisas já podem levantar teorias e/ou suspeitas, não? Fiquem à vontade para me contar suas opiniões!
Até o próximo, beijos ^-^