Os Ptolomeus escrita por Mr Viridis


Capítulo 2
Capítulo I - Enígma


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas eu postei o primeiro capítulo! Estava em um momento sem inspiração, porém foi só eu ficar cheio de trabalhos para fazer que ela voltou. #SchooltimeSadness
Bem, está aí. Espero que gostem.



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As folhas dos loureiros no Templo de Apolo balançavam ao vento. Cirene ficava localizada na borda de um planalto, em um penhasco a poucas milhas do mar onde estava seu porto Apolônia. Ali, diferente de sua cidade gêmea na costa, uma brisa suave e refrescante soprava o dia todo. Nos jardins do templo estava uma nascente, onde Apolo teria levado a jovem Cirene para dar a luz ao seu filho. Foi por esse motivo que ali foi construído um Templo a ele, e a cidade nomeada com o nome da jovem. Fazia parte da tradição da cidade a noiva e o noivo se banharem nas águas da fonte, um gesto que definia a aprovação de Apolo a união, e abençoava o casal com fertilidade. Se fossem noivos comuns, os parentes carregariam odres cheios de água até as casas deles, mas Berenice e Demétrio não o eram. A Rainha e o futuro Rei da cidade detinham certos privilégios.

A procissão começou ao nascer do sol, quando os dois foram levados ao Complexo de Templos de Zeus e Hera. O noivo foi abençoado pelo Sacerdote de Zeus, enquanto sua noiva era abençoada pela Sacerdotisa de Hera e acendia uma lamparina no pequeno santuário de Héstia. Após isso deixaram oferendas a Deméter, no templo dedicado a ela fora dos muros da cidade. E então se reuniram a elite da cidade e aos convidados estrangeiros em um grande banquete na Agora.

Berenice vestia um longo vestido branco repleto de desenhos de pavões bordados com fios de ouro. Um véu vermelho e uma coroa de flores de murta completavam as vestes da noiva. Ela agradecia aos deuses por estar com seu rosto coberto por um véu, não conseguiria fingir que estava alegre com aquele casamento nem por um minuto. Já sua mãe, não poderia estar menos radiante. A filha estava se casando com irmão do Rei da Macedônia, e logo esperava que a união resulta-se numa aliança contra os Ptolomeus do Egito e principalmente contra os Selêucidas da Pérsia, que os haviam traído quando selaram a paz com os primeiros. O noivo sentava-se inclinado e arrogantemente apoiado em um dos cotovelos, vestia uma túnica azul-marinho com bordas douradas, presa apenas em um dos ombros, mostrando o seu peito bem torneado. Além disso, ostentava uma coroa de folhas de louro douradas, que parecia querer rivalizar até mesmo com a do deus Apolo.

– Saudações, minha Rainha. - exclamou o governador de Cirene. Ela assentiu com a cabeça. - Meu Rei – continuou ele, porém sem receber a atenção do soberano. – Recebam o meu presente e o de toda Cirene em função de seu casamento. Que Afrodite abençoe seu ventre, minha Rainha, Hera este casamento e Zeus esta Aliança entre o Reino da Cirenaica e o da Macedônia.

O governador recuou e apresentou o presente. Uma caixa de madeira, ricamente decorada com entalhes de animais e marfim, foi trazida por uma garota até Berenice. Ao abri-la, um colar de perolas com um pendente de Lápis-lazúli foi revelado.

– O colar é tão lindo quanto à cidade que você governa, Édipo, obrigado pelo presente.

– Sua beleza excede a de ambas, Majestade. – Argumentou, enquanto se aproximava para beijar-lhe as mãos. – O falcão guarda uma mensagem, tenha cuidado – segredou ao ouvido dela.

Ela não entendeu a frase, um enigma na verdade. O governador seguiu as formalidades beijando a mão de Demétrio, seu novo rei, e depois a de Apama, sua Rainha-Viúva, como se nada houvesse ocorrido. As entregas de presentes continuaram, um verdadeiro desfile de objetos e animais exóticos. Um grande peixe foi oferecido pela cidade-porto de Apolônia; de Arsíone receberam uma falange de guerreiros da Partia, para servirem de guarda para a Rainha; de Balagras, um casal de pavões brancos; de Euspérides, vários manuscritos raros da Academia de Platão; de Barce vieram uma Lira, uma Cítara e um Aulo feitos de madeira nobre, marfim e bronze; da Marmárica vieram vários ramos de silphium, uma planta rara e que tinha poderes de cura e afrodisíacos; e por último de Amônio veio um amuleto abençoado pelos sacerdotes de Amon.

E fora assim que Berenice havia ido parar no último ponto da procissão, a Fonte de Apolo. Suas amas a ajudaram a entrar na fonte, ao mesmo tempo em que Demétrio, trajado apenas por seus panos de baixo, também entrava. Se ele imaginava que seu corpo desnudado faria a noiva ser atraída por ele, estava enganado. Ela reconhecia que ele era realmente muito belo, mas sua arrogância e presunção a enojavam. Perguntava-se onde estaria Ptolomeu neste momento. Reunido com seus conselheiros se preparando para declarar guerra, talvez, ou procurando uma nova noiva e aliança. De uma coisa ela tinha certeza, a ambição de sua mãe levaria destruição ao seu Reino.

A água estava gelada, o que era ótimo em um dia de verão na Cirenaica. Ela e o noivo se posicionaram no meio da fonte, defronte ao sacerdote de Apolo, que estava ladeado por dois ajudantes que carregavam vasilhas de ouro. O sacerdote pegou a vasilha que estava a sua direita e derramou sobre Demétrio dizendo:

– Que Apolo dê-lhe sabedoria, e Zeus a virilidade para que possa gerar muitos filhos e príncipes de Cirene.

O noivo balançou a cabeça bruscamente para tirar o excesso de água. Após isso, o sacerdote derramou a outra vasilha com água sobre Berenice completando:

– Que teu ventre seja tão fértil quanto de Cirene, a fundadora de nossa cidade, e que a graça de Hera e Hestia a acompanhe na administração do Lar.

Berenice então foi tomada por Demétrio em um beijo. Os braços dele a seguraram forte e desceram por suas costas invasivamente, e sua língua entrou bruscamente pela boca dela. O corpo dele buscava o prazer, gerado pelo dela, a qualquer custo. Os presentes bateram algumas palmas tímidas, lideradas por Apama. Quando ele se desenlaçou dela, ela sentia ódio e nojo. As lagrimas quase lhe vieram à face.

Ao saírem da fonte, foram colocados sentados em dois tronos puxados por touros, e a procissão continuou até a Acrópole e o Palácio Real. Durante todo o trajeto, Demétrio tentou conversar com ela, mas sem resultados.

– Esse é o seu casamento, você poderia pelo menos fingir que está feliz. – Exigiu o noivo.

– Uma Rainha não precisa fingir. Máscaras e bajulações são para os outros, para quem necessita de favores. Eu não dependo de ninguém.

– Dependerá da minha proteção agora que você e sua mãe quebraram o tratado com o Egito. Ptolomeu III não é fraco como o pai, ele não perdoará traições.

– Prefiro morrer pela espada de Ptolomeu, a receber suas carícias na cama.

– Qual o seu problema? Sou um homem perfeito. Posso ter todas as mulheres que eu quiser aos meus pés, e eu escolhi a você. Deveria se sentir grata e feliz.

– Você pode ter a todas, menos a mim. Não importa se me forçares a ir para a cama, estará se deitando com uma mulher morta, um cadáver sem paixão.

– Veremos quando eu a tomar em meus braços hoje à noite. Escutarão-te gritar de prazer de Cartago ao Rio Oxus.

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Finalmente sozinha em seus aposentos, Berenice pôde soltar seus cabelos louros escuros e despir-se dos extravagantes trajes nupciais. A festa matrimonial ainda ocorria nos salões principais do palácio, porem ali os únicos vestígios dela eram os abafados sons de música e vozes. As cortinas de linho egípcio branco flutuavam movidas pelo vento revelando a Lua cheia, símbolo da deusa Artêmis, para qual a moça dirigiu uma prece.

– Ó senhora da Lua, eu lhe rogo, salve-me. Protetora das virgens, não permita que este bárbaro tire a minha virtude. Eu prometo dar-lhe sacrifícios, além de virgens para serem suas sacerdotisas e uma generosa doação ao seu Templo. E por favor, que sua Luz ilumine meu caminho neste momento em que estou sem a proteção e a ajuda de seu irmão Apolo, agora e para sempre.

Ao terminar sua prece, o Enigma de Édipo voltou-lhe a mente: “O falcão guarda uma mensagem, tenha cuidado”. Mas que Falcão? Pensou, O falcão é o símbolo de Hórus... que para nós é Apolo... mas ele também é o protetor dos Faraós do Egito... Faraós... Èdipo... Caixa!

Ela correu para o canto do quarto onde estavam colocados os presentes de casamento. A caixa que continha o presente de Édipo, o governador de Cirene, estava ao lado dos instrumentos oferecidos por Ícaro, o governador de Barce. Virou a caixa viárias vezes, observando com cuidado todos os seus lados. Cavalos, bois, veados, garças e leões passaram por seu olhar, até que finalmente o falcão que carregava um papiro. Todos os animais de marfim estavam ligados á margem que havia em cima e em baixo, menos o falcão. Berenice estava certa, aquilo não poderia ser uma coincidência. Ela forçou a peça de marfim, que acabou caindo e revelando que a parede da caixa era oca. Na concavidade da madeira estava escondido um pequeno pedaço de papiro, uma mensagem, mas de quem? Não houve tempo de desenrola-lo, ela ouviu passos no corredor... Passos de um homem vindo reclamar seu prêmio.


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Notas finais do capítulo

Qual será o conteúdo da mensagem na Caixa de Édipo? O que Demétrio irá fazer com Berenice? E onde estará Ptolomeu?
Deixem seus comentários aqui embaixo, teorias também.