A Morte tem olhos carmesim escrita por Witches


Capítulo 8
Mentes Doentias Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, não demoramos tanto desta vez... E agora a história começa tomar um novo rumo, e esperamos que agrade vocês... Boa leitura, seus lindos!



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Beyond não esperava se deparar com um corpo...

Bem, quando Lyanna saíra a dois dias, dizendo que precisava resolver uns assuntos, o serial killer limitou-se a dizer um “tudo bem”. Eles estavam juntos a pouco tempo, e depois da volta da mercenária e do pequeno incidente com Mellie, ele realmente preferiria mantê-la por perto. Entretanto, sabia que ela tinha coisas a fazer. Então, deixou-a ir...

Mas, quando o segundo dia se passou, Beyond decidiu que não esperaria mais. Se dirigiu então a parte baixa da cidade, lar das prostitutas, ladrões e vagabundos, onde a mercenária mantinha um de seus esconderijos. O assassino não teve a menor dificuldade de encontrar o lugar, pois a própria Lyanna lhe dissera onde ficava. Ao parar frente a porta carcomida por cupins, localizada num beco escuro e sujo, bem ao lado da entrada de um bordel, ele franziu o cenho, antes de bater duas vezes. A resposta que veio lá de dentro foi um palavrão seguido de um “O que foi?” mal humorado, numa voz que ele conhecia bem...

–Ly, sou eu.

Silêncio.

Depois de alguns minutos, ele pode ouvir o som de correntes e trancas, e logo a porta se abriu, mas ele mal teve tempo para dizer um “oi”, pois a mercenária o puxou para dentro rapidamente, trancando a porta novamente.

–B, o que faz aqui? –Lyanna perguntou, erguendo uma sobrancelha, embora realmente parecesse feliz em vê-lo.

–Você demorou muito. –ele respondeu, simplesmente, deixando subliminar a parte do “fiquei preocupado”

Só então Beyond parou para reparar nela... Lyanna vestia um quimono comprido, de seda pura, que caía em um ombro, e estava suja de sangue da cabeça aos pés. Antes que ele pudesse perguntar, ele viu o motivo: amarrado em uma cadeira, havia um corpo mutilado.

A sala era uma confusão de lâminas, sangue, pedaços de armadura e papéis espalhados, com o defunto ali bem no meio daquele caos. E Lyanna não fora clemente com o coitado, que pelos cabelos grisalhos e rugas, devia já ter uma certa idade...

Uma marca de dentes no pescoço sugeria que ele havia servido como refeição da vampira, previamente... Os dois olhos dele haviam sido arrancados, e flutuavam dentro de um vidro com éter, como se ainda olhassem para o rosto que outrora os possuíra. Todos os dedos das mãos foram amputados, e estavam devidamente enfileirados sobre a mesa... E por fim, uma mancha sangrenta no meio das pernas... Pelo visto, a mercenária arrancara suas partes viris, que também deveriam estar por ali em algum lugar, mas Beyond não fez questão de procurar...

–Então... –Beyond pigarreou. A visão não o incomodava, apenas havia a surpresa de que aquilo era obra de Lyanna, e não dele... Não teve como não sentir uma pontinha de orgulho.- O que o velho te fez para sofrer isso tudo?

–Ah... -ela estalou a língua, ajeitando o tapa–olho- Foi esse filho da puta que arrancou meu olho quando eu era bebê...

–Sério? Então acho que foi bem justo... E o que descobriu com isso?

–Me ajuda a me livrar do corpo, e limpar essa sujeira, que no caminho de volta eu te conto...

–Tudo bem... Vamos lá.

Em algumas horas, eles já tinham limpado tudo aquilo, se livrado do defunto, jogando-o numa vala qualquer, a caminhavam de volta para a hospedaria, sob um céu lotado de estrelas. A mercenária exalava um cheiro frutal, resultado do sabão de melancia que usara para se lavar de todo aquele sangue, e discorria sobre como descobrira a identidade do cavaleiro andante que matara, e como o capturara... O que havia incluído fazer de conta que trabalhava no bordel e seduzir o cara, coisa que Beyond não aprovou muito...

–Eu o procurei durante anos, achando que ele podia me dar as respostas que eu precisava... No fim das contas, não foi de muita utilidade... –Lyanna deu um suspiro cansado e colocou as mãos nos bolsos- Só valeu pela desforra. E por alguns detalhes que me escapavam...

–Será que você poderia me explicar? –Beyond coçou a cabeça, embaraçado- Eu nunca consegui entender essa história muito bem...

–É uma história meio longa... Mas vou tentar resumir o máximo, okay? –Lyanna enlaçou o braço no dele, e começou sua narrativa- Você deve saber que os Lindberg são uma família muito antiga e poderosa, não é? Pois então... Eles têm costumes próprios, alguns bem estranhos, diga-se de passagem. E um desses é que a liderança da família sempre passa para o descendente que nascer com olhos desiguais, seja menina ou menino. Só costuma nascer uma criança assim a cada geração... Mas dessa vez nasceram três.

–Deixe-me adivinhar -B levou um dedo aos lábios, fazendo de conta que nem tinha imaginado aquilo- Os gêmeos, Nymeria e Edrick, e você.

–Sim, espertinho... –Lyanna tirou um cigarro do bolso e o acendeu, dando uma tragada e soltando a fumaça lentamente, antes de continuar- Nesse caso, assumiria o mais velho, ou seja, eu. Eu tinha nascido poucos dias antes dos gêmeos, entretanto, eu era bastarda, fruto do adultério de meu pai com alguma mulher que nunca descobri a identidade... Mas isso não interferiria no fato em que a liderança seria minha, pelas regras da família. Então, alguém mandou que sumissem comigo. O cavaleiro que matei disse que uma mulher encapuzada, carregando o emblema dos Lindberg, entregou-me a ele, com a ordem de que me levasse para longe, matasse, e trouxesse o olho vermelho como prova. Ele me levou para longe, tirou meu olho, mas quando ia me matar, escutou que lobos se aproximavam, e fugiu. Nunca podia imaginar que um bebê, sangrando, debaixo de uma nevasca, e com uma alcateia de lobos por perto, sobreviveria...

–Que burro. –Beyond disse, inconformado- Isso é o cúmulo da incompetência... O imbecil não foi capaz de matar um bebê... Se fosse eu...

–Hey! –Lyanna o olhou com desaprovação- Se fosse você, eu certamente não estaria aqui...

–E isso seria lamentável... –ele devolveu o olhar dela, com um sorrisinho cínico- Continue, continue...

Ela lhe mostrou a língua, e prosseguiu:

–Ed Storm me encontrou antes dos lobos, me levou para casa, cuidou de mim e me adotou como filha... Mas nunca me disse nada sobre minha origem. A única pista que eu tinha era um lenço com um brasão bordado, cujo nome fora queimado com cigarro. Só fui descobrir que era o símbolo dos Lindberg a pouco tempo atrás, quando reencontrei Nymeria. Aquela vaca...–ela parou, trincando os dentes. As lembranças não eram boas, e a raiva aflorou antes que ela pudesse controlar.

–Ora, não fale assim de Nym... –protestou B, com um biquinho quase infantil.

–Não defenda a vadia. -Lyanna respondeu, ríspida- O fato de morrer de amores por ela não quer dizer que eu tenha que suportá-la também...

Ele franziu o cenho, enquanto subiam finalmente as escadas da hospedaria que levavam aos quartos...

–O que diabos houve para vocês terem toda essa hostilidade uma com a outra? –Beyond abriu a porta do quarto de Lyanna, que era onde eles passavam a maior parte do tempo nos últimos dias, e abriu caminho para que a mercenária entrasse primeiro- Você sabia que sua irmã esteve aqui para lhe avisar sobre Edrick? Chegou meia atrasada, mas...

–Não importa. –Lyanna o cortou, mal humorada, sentando na cama e começando a desamarrar as botas- Eu só quero distância dela.

Beyond ensaiou um biquinho quase infantil, mas percebeu que nada demoveria Lyanna de sua teimosia... Então, subiu na cama e abraçou a mercenária por trás, depositando um beijo em seu pescoço, enquanto comentava ironicamente:

–É tanto amor fraternal que até fico comovido...

Ao sentir os lábios de Beyond roçarem em sua nuca, ela se arrepiou... Mas a aspereza em sua voz não diminuiu:

–Se não pretende continuar, não deveria nem começar...

–Mas...

A expressão de Beyond murchou como uma flor na geada. Aquilo andava sendo um problema... Lyanna não era de se contentar apenas com beijos e abraços. Em contrapartida, Beyond não parecia disposto a perder sua “inocência”... Esse pequeno impasse costumava macular a tênue harmonia que havia entre eles, e gerava um constante desconforto. Houve até uma ocasião em que a mercenária o perguntara se ele era gay... Obviamente, Beyond se sentiu bastante ofendido, e retrucou com um simples “Eu não estou pronto”... E as coisas ficaram por isso mesmo.

–Sem “mas”, B... Não sou sua inocente e meiga Mellie... Se queria uma relação de crianças, deveria ter ficado com ela... Ah... esqueci que ela te chutou.

Beyond abriu a boca para dizer alguma coisa, mas pareceu mudar de ideia. O fora havia sido tão fenomenal que ele não encontrou meios de rebater. Só sentiu vontade de ficar longe dela. Então se afastou de Lyanna, indo sentar na janela, com um ar aborrecido, e em completo silêncio. E a vampira sentiu uma pontinha de remorso... Ela contou mentalmente até três, olhando as unhas com falso desinteresse, recusando-se terminantemente a se redimir... Mas ela gostava demais dele....

–Ok, eu lamento por isso... Não quis magoar-te.–ela caminhou até ele e o abraçou de uma forma quase fraternal, passando a mão por seus cabelos cor de piche- Sou grossa, estúpida e ridícula...

– Não me magoou, só me irrita ser provocado desse modo. -B deu um suspiro cansado, e retribuiu de forma hesitante o abraço. Ele havia ganhado agora uma bela dor de cabeça e os pensamentos ainda faziam questão de não deixá-lo em paz, mas ele achou melhor deixar aquilo passar em branco à ela.- Eu estou bem, senhorita grossa, estúpida e ridícula...

–Não, não está... –ela murmurou, e segurou o rosto dele entre as mãos- Não é só isso, é? Tem algo a mais perturbando você...

Beyond ergueu os olhos rubros para encará-la, e disse baixinho:

–As vozes... Elas estão mais fortes a cada dia. –Ele preferiu não frisar que isso ocorrera após a volta dela, e que ao mesmo tempo que queria muito protege-la, uma parte dele queria matá-la de forma lenta e dolorosa... Aquilo o estava deixando mais louco que o normal.- Não é nada demais...

–Você mente muito mal, B... –ela abriu um sorrisinho de canto- Mas acho que eu posso te ajudar com isso. Um manipulador de mentes me ensinou umas coisas, há bastante tempo... Geralmente uso essas habilidades para causar alucinações em meus inimigos, mas creio que eu possa usar para acalmar as vozes na sua cabeça...

–Eu não sei se é uma boa ideia... -ele resmungou. Às vezes, Beyond não parecia um psicopata, e sim uma criança indefesa...

–Confie em mim... Me deixe tentar ajudar...

B refletiu durante alguns segundos, e então concordou com um aceno de cabeça. Ly sussurrou um “vai ficar tudo bem”, e olhou fundo na íris dele, dizendo as palavras que iniciavam o encantamento:

–Shadown Ilusion...

E foi ai que tudo deu errado...

Lyanna nunca soube explicar... Talvez tenha sido os poderes de vampira que tenham potencializado suas habilidades psíquicas, ou talvez tenha ocorrido uma reação adversa a mente doentia de Beyond... O fato é que, ao invés de acalmar as vozes que ecoavam na mente de B, ela começou a ouvi-las também. E, de repente, tudo escureceu e sua consciência apagou. Lyanna foi arrastada para dentro da mente de Beyond Birthday...

E o que veria lá dentro mudaria sua vida para sempre...


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