A Morte tem olhos carmesim escrita por Witches


Capítulo 7
Ruptura


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei... E NOS DESCULPEM T.T
Sim, demoramos bastante com o capitulo sete de A Morte Tem Olhos Carmesim.
Pra falar a verdade, eu(B) demorei, embora fosse cobrada o tempo todo e.e
Eu fiquei meio sem inspiração, mas... passando essa parte desinteressante do meu estado, eu finalmente consegui, e eu espero que a demora não atrapalhe vocês de apreciarem esse capítulo.
E o próximo, já posso adiantar, vai ser bem... interessantemente cruel.
Por favor, se divirtam. E, se puderem, deixem comentários. São vocês, meus caros leitores, que nos dão força pra continuar nossa pequena história que não é um conto de fadas.
Obrigada e, mais uma vez, apreciem, meus caros vampiros.



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Ruptura

Era uma noite fria e chuvosa, e os relâmpagos que cortavam o céu iluminavam ocasionalmente uma figura encapuzada que se movia calmamente em direção ao castelo Lindberg. Em absoluto silêncio, se moveu pelos portões e, ao chegar na entrada principal, bateu a aldrava com força. Dancer, uma menina esguia de apenas treze anos , que podia se gabar de ser uma das poucas amizades de Nymeria , abriu a porta com um sorriso, se deparando com o recém chegado:

— Pois não?

— Eu gostaria de trocar umas palavras com minha irmãzinha, se possível. –ele tirou o capuz, revelando uma cabeleira negra gotejante e um par de olhos vermelhos. Nas mãos, ele carregava um embrulho que se mexia de forma muito suspeita.

— Irmãzinha? –ela piscou, confusa, até perceber enfim de quem se tratava. Deu um tapa na própria testa e abriu um sorriso constrangido.— Lorde B, não é? Lady Nym me falou do senhor... Já vou chamá-la, me dê só um minuto.

— Já estou aqui, Dancer. –a voz apática de Nym soou enquanto ela descia as escadas. A criança abriu espaço para que Beyond entrasse, e com uma mesura se retirou passando pelo centro do cômodo de entrada até que sumisse para dentro do castelo. Nym, por sua vez, se aproximou daquele Beyond encharcado.— O que o traz ao meu castelo a essa hora, B?

O rapaz estendeu o embrulho para Nymeria, com um ar travesso:

– Bem, geralmente essa hora ainda é um pouco cedo para um vampiro, irmãzinha... mas você tem razão, eu não devia perturbá-la nesse temporal. Porém... eu realmente precisava te trazer algo. Eu encontrei se abrigando sozinha debaixo de um arco de pedra no bosque e... achei que você iria gostar.

A garota de olhos desiguais pegou o embrulho molhado com uma certa desconfiança, sentindo-o remexer-se por debaixo de seus dedos finos, e se surpreendeu ao deparar-se com um focinho úmido, junto de um par de olhos amarelos e uma língua molhada e sorridente. Bem ali, no meio dos panos ensopados, jazia uma cachorrinha de pelo branco como a neve, enrolada naquele embrulho... ela deu um ganido mínimo e lambeu o rosto de Nymeria.

— Ela gostou de você. –Beyond declarou o óbvio, sentando-se num dos sofás da enorme sala aquecida por uma lareira acesa, aparentemente sem se importar se o molharia ou não.

— O que te deste na cabeça? –ela o repreendeu, embora parecesse envolvida em tons simpáticos e talvez até satisfeitos com o bichinho, que agora pulara para o chão e corria em volta dela, fazendo festa, aproveitando o calor.

— Piolhos, mas já me livrei deles.- ele disse simplesmente, como se aquela resposta de fato fosse tudo o que Nymeria precisava saber. Mas Beyond logo completou:— Não sou muito bom em cuidar de coisas vivas, então a trouxe para você...

— E o que te faz pensar que eu cuidaria melhor? –ela sentou-se no sofá em frente, logo a seguir sentindo patinhas úmidas tocarem seus joelhos. Nym tomou a cachorrinha nos braços.

— Sei lá... acho que é o sonho de toda garotinha solitária ter um cachorro, não? –B deu de ombros, inclinando a cabeça daquele jeito estranho. Talvez ele fosse a única pessoa capaz de chamar Nym de “garotinha solitária” sem que levasse um olhar trucidante da parte da mesma.— Tenho certeza que você cuidará melhor do que eu cuidaria.

Nym baixou os olhos desiguais, e foi quase como se o pequeno animal retribuísse o olhar, inclinando a cabeça, como se perguntasse se há algo errado. Foi com um suspiro que Nym mostrou trégua diante daquele olhar inocente da pequena peluda, e num carinho entre suas orelhas, Beyond soube que ela cedera com satisfação ao seu presente.

Beyond e Nymeria passaram um tempo juntos, discutindo sobre amenidades e falando de coisas inúteis. Eles colocaram comida para a cachorra, lhe deram água e B pensou em pedir a Dancer que arrumasse alguns trapos para usar de cama, mas Nym o impediu, dizendo que tinha em mente um lugar melhor para servir de cama para a cadelinha. Ela se sentia bastante solitária desde que seu marido, um homem alto e de cabelos ruivos, viajara para longe por motivos que Beyond não se interessou em perguntar.

Quando, por fim, o vampiro disse que precisava ir embora e se dirigiu à porta, perguntou de repente:

— Tem notícias dela?

Nymeria soergueu uma sobrancelha:

— Lyanna? Não, não tenho. A última informação que tive sobre o Morte Negra foi que ele estava próximo à costa de Mistic Falls, mas não chegou a ancorar. Depois disso, não tive mais notícias.

— Ah... eu entendo. Até mais, Nym... e até mais, Yullie.

Beyond deixou o castelo com um ar mais soturno que o de costume, enquanto lá dentro Nymeria levantava a outra sobrancelha, e lançava um olhar vermelho e azul para a cachorrinha que já adiantava seu sono sobre o sofá. Ela entendeu B. E ela realmente não conseguiria pensar num nome melhor para a mais nova hóspede do castelo Lindberg...

Depois de vagar pela cidade até o dia quase amanhecer, B voltou para a hospedaria. Quando entrou em seu quarto, foi com um bilhete de Mellie que ele se deparou bem ali em cima da surrada mesa de centro, dizendo que precisara resolver umas coisas e que logo voltaria. Bem, ela não era uma pessoa normal para esperar o dia de fato amanhecer e a tempestade passar, certo?

Ela era uma vampira, assim como ele. Era bem compreensível.

Com certo tédio, ele deitou na cama, que rangeu ao receber seu peso, e cobriu os olhos com o braço no exato momento que um raio brilhou pela janela fechada. As tempestades de Mistic Falls tinham bem fama de serem longas. E, naquele silêncio repentino, apenas o bater da chuva no vidro, ele ouvia sussurros. Depois, eram vozes. Depois, eram gritos.

Dentro de sua cabeça.

Ele podia ouvi-las falar sobre sangue e morte, clamar por mutilação e dor, rindo, gritando, chorando. Fazendo-o sentir o que elas sentiam.

Mil sons em sua mente perturbada... talvez, por isso, ele não tenha ouvido o bater na porta.

Mas sua atenção – ou o que restava dela – foi de fato forçada à se voltar à porta assim que as batidas se tornaram realmente fortes e frenéticas.

Não houve raciocínio.

Mas ele sentiu as vozes pararem de repente ao deparar-se com uma juba de cabelos brancos, e sentir um par de braços finos se envolver em sua cintura.

— Eu senti sua falta... – ele ouviu Lyanna dizer. Não houve mudança em seu semblante, mas no segundo seguinte seus braços a tinham envolvido, talvez movidos pelo alívio de ouvir apenas a voz que era dela, retribuindo aquele caloroso abraço, dispensando qualquer palavra.

Num sussurro, ao pé do ouvido dela, ele disse:

— É você, Ly...? –talvez ele tenha afirmado mais que indagado, mas não foi de fato relevante assim que se permitiu completar de imediato.— Achei que não fosse voltar... está tudo tão chato desde que você foi que não acredito que você realmente está aqui... não tenho muito o que conversar e, quando tenho, não quero, e fica tudo tão barulhento, e eu não ouço você parece que há séculos, e tudo-...

— Eu estou.– Lyanna interrompeu aquele falatório. Ela tinha ouvido algum desespero na fala dele. Alguém que queria demonstrar saudade, embora não conseguisse isso em suas expressões. Era bem verdade que B pegava nas pessoas, porque, mesmo depois de tanto tempo, a expressão dela era quase comparada a dele.

Mas não durou muito daquela forma. Ela fechou o olho azul, e apertou B o quanto pode, enquanto mordia o lábio inferior e sentia o seu próprio alívio. Por mais que estivesse extremamente molhada e com frio, por mais que estivesse cansada até o corpo doer, ela se sentiu tão bem ali quanto estaria se estivesse aquecida e deitada na cama tão familiar de seu esconderijo. Quando a mulher se deu conta, segurava agora os ombros de Beyond, e olhava para ele tão diretamente quanto ele olhava para ela, e de repente a respiração dele aqueceu seu nariz por um segundo. Ela acha que se perdeu naqueles olhos vermelhos, como acontecia todas as vezes que o olhava tão de perto. Mas daquela vez foi mais forte. Talvez nunca tivesse estado tão perto. E, agora que estava, os pensamentos que ela tinha, as imaginações que alimentava, as lembranças que até criava, vieram à tona. Ela não iria admitir que pensava naquilo durante toda a sua viagem com Edrick, embora, quem a visse, fosse claro um distúrbio na tão rigorosa e lasciva Lyanna. Assim como ela não usurpara mais do rapaz na ilha, assim como se sentira estranha ao modo como distraiu seu irmão – e, para Lyanna, ela não deveria se sentir nem um pouco daquela forma, mesmo que, pensando bem, tinha assediado seu próprio irmão. Ela não deveria sentir vergonha ou nojo. Nada.

Mas ela se sentiu.... estranha.

E foi movida naquela sensação que ela preferiu ir direto para os braços de Beyond, antes mesmo de fazer qualquer coisa por sua própria aparência ou necessidade.

Ela necessitava de uma coisa mais do que as outras.

— B...— foi uma pausa. O olho dele sequer piscava. O dela também não. —Você lembra?

— Do quê?

— Da promessa... da nossa promessa...

— Oh.

A mercenária não soube exatamente como se aproximou mais, ou como encostou os lábios no dele, ou sequer como aquele beijo foi agitado de vontade. Era quase como se ela tivesse esperado por aquilo uma vida toda. Não existiam outras bocas além da dele naquele momento. E Lyanna quis apertá-lo contra si ainda mais quando ele subiu as mãos pelo corpo escultural – embora molhado – dela e segurou seu rosto frio entre as duas mãos, sem interromper a dança dos lábios, o frio dos rostos pálidos que de alguma forma era acolhedor, o toque, a sensação, o alívio, o silêncio que pela primeira vez para Beyond pareceu tão calmo...

Um trovão rebombou.

— TRAIDOR!!!— e o gritou ecoou pelo corredor. A voz de Mellie. O choro dela a seguir. Foi como se Lyanna tivesse levado um choque ou talvez B, porque ambos se afastaram ao susto. E só puderam ver uma cabeleira rosa se afastando, correndo pelo corredor, descendo as escadarias aos tropeços.

Mel... – Beyond sussurrou.

— Vá.— a voz de Lyanna soou por sua vez. Fria. Desiludida de toda a sensação anterior.— Se quer ir atrás dela, vá. Embora eu realmente prefira que você fique. Podemos nos resolver juntos. Mas se quer Mellie, vá.

— Desculpe...—os braços de Beyond deslizaram pelos ombros dela, depois pela cintura, e se afastaram, ao mesmo tempo que ele mesmo se afastava da mercenária.— Não posso deixa-la daquela forma. Mel!— ele chamou, e ele em si sumiu pelo corredor.

Lyanna apertou os punhos. Ela quis esmurrar algo. Ela quis sacudir aquela vadia de cabelo rosa e dizer para segurar bem os chifres novos. Ela quis chorar. Talvez fosse melhor aprender a guardar seus sentimentos para si. Mas ela sabia fazer isso. Por que então tinha deixado aquilo acontecer?

Merda, Beyond... merda, merda, merda....

Lá fora, a lama pulava debaixo das botas de Mellie, que batiam contra o chão desesperadas, com força. A garota correu até cansar, e abraçou uma árvore molhada, e chorou, e escorregou, e se ajoelhou na grama seca e molhada, se sujou de terra, e gritou de angústia.

Mel. Mel, é fácil entender uma coisa errado quando não se sabe o contexto...— a voz de B soou. Estava ensopado de novo. E se aproximava da garota que estava aos prantos.

— E POR QUE EU NÃO SABERIA O CONTEXTO?!— o grito dela foi mais alto que o trovão que rebombou meio longe.— EU SEI DE TUDO, BEYOND... VOCÊ DEVE ACHAR MESMO QUE EU SOU IDIOTA. QUE EU SOU BURRA. QUE EU SOU A PORRA DO PEDAÇO DE MERDA QUE VOCÊ PODE COLOCAR PRA DEBAIXO DO TAPETE! VOCÊS JÁ DORMIRAM NA MESMA CAMA! VOCÊ DEU ÀS MÃOS À ELA, VOCÊ MEXE NOS CABELOS DELA. VOCÊS ESTAVAM JUNTOS TODO INSTANTE! SE VOCÊ ACHA QUE EU ME ATRASEI NA MINHA VIAGEM, VOCÊ ESTÁ ENGANADO! EU ESTIVE COM VOCÊS. OBSERVANDO VOCÊS!

Ela esmurrou o chão, que formou um buraco enorme e a lama voou pelos arredores, o concreto da calçada rachou ao lado; ela gritou uma vez mais.

— Eu realmente achei que podia fingir que nada estava acontecendo... que ela tinha ido pra sempre, que eu não ia mais me preocupar... seu porco. Seu imundo, seu idiota, seu merda, seu filho da puta!

Beyond teve que segurar os pulsos dela quando Mellie resolveu partir para cima de repente.

É claro que ela era forte. Bem, muito mais do que um humano comum. Por isso, ele sentiu os pés arrastarem no chão, deixarem uma trilha, ela ainda se empurrando sobre si, até que a lama foi afundando, e ele encontrou um modo de parar o empurrão, ainda a segurando.

— É, eu posso muito bem ter feito isso tudo.— foi estranha a calma com que ele falou. Talvez Mellie tenha prestado atenção por causa daquilo.— Acho que eu queria me envolver. Eu sentia sua falta. Estava chato. Posso mostrar as estatísticas de quantos homens traem depois de um longo tempo sem a companheira e sem a certeza de que ela vai voltar. Mas eu esperei por você. Droga, eu esperei...

— Isso não justifica nada.— ela cuspiu aquelas palavras no ar, e fez força para tentar se soltar dele, sem sucesso.

— Acalme-se! Você tem que entender que eu gostaria de impedir aquilo se eu pudesse voltar no tempo. Você tem que entender que eu sinto muito... por favor, Mel!

— NÃO ME CHAME ASSIM MAIS!!— ela se soltou dele, e o empurrou. Ele se afastou alguns passos, e viu uma Mellie completamente louca, desequilibrada ao ponto de passar com força a mão pelos cabelos, cair ao chão de novo, aos prantos.— Pelo amor de Deus...— ela disse em meio a soluços.— Pelo amor de D-Deus, Beyond... diga de uma vez... só diga... DIGA QUEM VOCÊ AMA, SE É QUE AMA ALGUÉM!

Ela sentiu um abraço molhado de corpos ensopados. Beyond estava à sua frente, ajoelhado, abraçando-a de forma acolhedora, embora ela só sentisse raiva...

Ela respirou fundo. Mellie tentou se controlar. Tentou não ter outro ataque. Talvez ela conseguisse. Precisava parar de se humilhar tanto... precisava entender.

Foi aí que ela ouviu B dizer:

— Você ainda quer me bater?

Mellie não entendeu. E insistiu:

— Diga quem...

— Se você ainda quiser, pode bater, porque eu estava mentindo pra você se acalmar. Eu gosto mesmo da Ly, eu não desfaria aquele beijo. Eu não senti nada nesse abraço. Eu senti algo no dela. Mas, sinceramente, se você quer saber, eu ficaria com as duas porq-...

Cinco dedos.

Foi o que B viu se aproximarem de si, e logo depois estavam bem ali, estampados de vermelho em um lado de seu rosto. Mell o empurrou, estapeou outra vez, no mesmo lado, e ele deve ter mordido o canto da boca, porque sentiu um gosto de sangue, e a bochecha ardeu, ardeu demais, ardeu sem parar, assim como Mellie também não parou em sua caminhada silenciosa para longe de Beyond, para longe daquilo que chamava de casa, para longe de sua vontade...

Já Beyond fez o contrário. Ele molhou o carpete sujo que se estendia por todo o corredor dos quartos na hospedaria, e, com o rosto ainda latente, ele procurou em seu quarto por Lyanna.

Nenhum sinal dela.

Mas ele não se desesperou tanto, pois o cheiro da mercenária indicava onde ela estava, e logo ele a achou, em seu próprio quarto bagunçado, no meio de suas próprias coisas.

Fazendo as malas.

— Onde você... o que você está fazendo?— foi a pergunta de um Beyond confuso na entrada do quarto, os olhos acompanhando uma Lyanna raivosa que enfiava as coisas dentro de uma mala surrada.

— Não se faça de tolo. Sou uma mercenária, tenho coisas a fazer, e não tenho sequer o direito de esperar por algo que sei que nunca vai vir. Pode voltar pra sua querida-doce-Mellie. Você não precisa mais de mim aqui, era tudo só um passatempo para você, afinal. Sua promessa, você me fez fazê-la, e agora eu vejo que nunca foi nada sério. Talvez você nem tivesse esperanças que eu voltasse.

Foi um tempo em silêncio. Ela mordeu o lábio inferior de novo. Quis dar uma porrada nele por não dizer nada.

Droga Lyanna, quando você ficou tão sentimental e esperançosa? Isso não é um conto de fadas.

— Ly.- a voz de B soou, mas Lyanna não demonstrou resposta.— Ly, olhe pra mim.

A mercenária ergueu o rosto das suas tralhas para aquele Beyond molhado e abatido. Literalmente abatido. Foi a primeira coisa que ela viu: a marca perfeita de uma mão no rosto dele. O olho azul quis ceder por um segundo, mas, antes que ela se fizesse de teimosa novamente, B falou:

— Acha mesmo que escolhi ela à você? Eu só precisava de uma certeza... e eu tenho ela agora.

O olho azul brilhou. Não de alegria, mas porque Lyanna continha uma lágrima pesada ali. Os lábios dela se comprimiram. Por um momento Beyond pode ouvi-la chorar, embora ela não tenha feito isso. Ela apertou mais um corpete que tinha em mãos e que iria jogar na mala também, e suspirou de forma sútil.

— Depois de tudo isso, Beyond... não sei posso acreditar em você. Isso dói, e não sei se estou afim de brincar de boneca, onde você é a criança sem cuidados que me quebra e ri disso.

— Não quero machucar você.— a voz dele soou perto. Logo ao seu lado, mas Lyanna não se surpreendeu. Ela sentiu o toque dele por cima de sua mão, fazendo com que ela soltasse aquela peça de roupa, que caiu ao chão, e então ele a segurou pela cintura, fazendo-a virar-se para si.— Não foi como você esperava e, vamos aceitar, foi bem tenso... mas acha que eu estaria aqui se não quisesse você? Mellie se foi. E eu voltei. Pra você. Eu sei que você está achando difícil de acreditar. Mas foi o que aconteceu.

O toque dele subiu para o rosto da mercenária, e no momento seguinte os narizes se encostaram.

— Ly... você vai mesmo ter que confiar em mim... se ainda sente alguma coisa. Se acha que não esperei por você e por essa promessa, você está enganada... mas só você pode decidir se acreditar nisso ou não.

Lyanna não soube o que dizer. Ela acreditava, ou melhor, ela queria acreditar. Mas não pode deixar de pensar que talvez estivesse metendo numa roubada.

Mellie se fora pra sempre. E Beyond nem sentira nada com isso. Pelo contrário, ele estava ali, calmo, pedindo a Lyanna uma eternidade que só ela poderia ceder a ele.

Que garantia ela tinha de que não acabaria do mesmo modo? Desiludida, na chuva, com um serial killer sem dar a mínima à ela...

Foda-se.

Ela já sabia disso desde o princípio. Desde quando descobrira os fatos sobre ele. Desde quando permitiu que aquela aproximação acontecesse.

Às vezes, estamos cercados demais de problemas e não percebemos quando o mais grave deles está se aproximando lentamente pelo canto escuro da sala.

E o pior ainda é quando ele tem uma máscara simpática para convencer-nos de que não é ruim.

E o pior ainda, é quando se acredita nisso...

Mas Lyanna? Ela abraçou aquele problema com toda a força e vontade que tinha. E uma lágrima escorreu de seu olho azul, mas ela sentiu que não queria soltar Beyond de jeito nenhum.

— Droga, Beyond...


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