A Morte tem olhos carmesim escrita por Witches


Capítulo 6
Mares de Tempestade




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Quando Edrick chamou Lyanna para fazer parte da tripulação, não disse que ela seria a tripulação... Só havia eles dois a bordo daquele estranho navio, que sem dúvida deveria ter algum tipo de maldição. As velas se hasteavam sozinhas, a âncora levantava e descia sem que ninguém puxasse suas correntes, a comida aparecia do nada... Até mesmo uma providencial garrafa com sangue fresco esperava a mercenária toda noite em seus aposentos...

Mas nem tudo eram flores...

Constantemente Edrick a mandava em alguma missão inegavelmente perigosa, como invadir um navio rival e roubar algum item valioso, ou matar uma sereia carnívora que achara o pirata muito sexy e suculento... E enquanto Lyanna se arrebentava todinha para fazer o que ele mandava, o safado ficava confortavelmente a bordo degustando uma taça de vinho ou uma dose de rum... Fazer o que, vida de mercenária era assim mesmo, ela já havia se acostumado...

Assim, três meses se passaram a bordo do Morte Negra...

–Obrigada, querida irmã, por deixar o convés tão impecavelmente limpo. –disse Edrick numa tarde qualquer, lançando a Lyanna aquele detestável sorriso de psicopata disfarçado. -Fez um excelente trabalho, como sempre.

–De nada, querido... - ela resmungou, com um sorriso quase igual ao dele no rosto, enquanto pensava: “Filho da puta... Um dia ainda vai me pagar por isso”.

O pirata devia achar algum prazer em ver Lyanna esfregando o convés, pois era isso o que a fazia executar diariamente... Ela tinha absoluta certeza de que este poderia se limpar sozinho, assim como todo o resto, mas não contestava a ordem que lhe era dada, reprimindo o doce desejo de estrangular aquele lindo pescoço ou de meter uma bala naquele maldito olho vermelho...

A mercenária jogou a escova dentro do balde com água e sabão, e apoiou-se na amurada, contemplando o céu tempestuoso que tão convenientemente a protegia dos raios solares.

–Então... qual é a próxima missão suicida?

–Nenhuma, por hora... –Edrick jogou um elegante gibão em suas costas, enquanto visava a caolha de um jeito quase agradável... –Pensei em lhe dar esta noite de folga.

–Hein? –ela arregalou o olho azul, incrédula.

–Ora, sei que o sangue engarrafado não lhe satisfaz completamente... E precisarei de você em sua melhor forma em breve. Estamos próximos a ilha de Stix. Achei que gostaria de ir a terra firme caçar.

Lyanna o encarou como se ele estivesse falando outro idioma... Por um instante, achou que era mais um de seus truques, mas como ele não alterou a expressão, percebeu que era sério.

–Ótimo. -ela declarou, por fim- Preciso mesmo de sangue fresco... e outras coisinhas.

–Sei bem... -ele sorriu com malícia, e se retirou para a cabine de comando.

A mercenária franziu o cenho... Podia jurar que Edrick estava planejando algo, que certamente incluia arriscar seu belo corpo mais uma vez... De qualquer forma, isso era assunto para se pensar mais tarde. Seria bom relaxar um pouco e se livrar de seu cativeiro flutuante por uma noite... Então, quando as prais de Stix apareceram na penumbra de um dia que se diluia, Lyanna estava debruçada na amurada, com uma pontinha de ansiedade que podia ser percebida em seu batucar insistente de unhas na madeira. Nem notou quando Edrick surgiu silenciosamente ao seu lado.

–Precisa de um bote?

–Sabe que não.-ela retrucou, ríspida.

–Hum... o pirata soltou um som que lembrou uma risada, e continuou- Você deve estar de volta antes do amanhecer.

–E se eu não voltar? -ela provocou, com um sorriso petulante, esperando ouvir algo do tipo "Te largo lá" ou "Vou embora sem você".

–Tenha a absoluta certeza que irei buscá-la.

Se Lyanna percebeu a ameaça velada escondida por trás daquele sorriso e daquelas palavras sutis, não deu a menor mostra disso. Apenas bateu continência de forma debochada e desapareceu...

Sim, desapareceu.

Lyanna possuia o poder da manipular as sombras, e sua principal técnica era o "Dissolution", que permitia que ela desmaterializasse seu corpo, convertendo-o em sombras. Depois que se tornara vampira, só ficara mais fácil fazer aquilo... Ela reapareceu na praia e, por um breve momento, surpreendeu-se com a quantidade de pessoas que havia por ali. Só então se lembrou que era o Festival de Hast, o deus da natureza, que acontecia sempre na entrada da primavera. Havia lanternas coloridas por todo o lado, e o ar estava cheio do perfume de flores e de frutas frescas. As pessoas bebiam e dançavam ao som de uma sinfonia de flautas e harpas, em um ambiente tão feliz e agradável que a mercenária sentiu vontade de vomitar... Ela botou um sorriso falso no rosto, e se misturou à multidão, em busaca de uma vítima ideal.

Lyanna não parecia incomodada com os olhares que a seguiam enquanto passava por entre as barracas de festival. Afinal, ela era um monstro bem atraente. Seus lábios cheios e permanentemente avermelhados contrastavam com sua pele clara, e o tapa olho e as cabelos prateados lhe davam um ar exótico. Apesar da baixa estatura, seu corpo era bem delineado, com curvas perfeitas e seios muito fartos, bem definidos pela roupa justa que usava, tão destoante dos vestidos longos das outras mulheres... Então, não foi dificil fazer um belo rapaz de cabelos negros cair em seus encantos... Algumas doses de vodka, meia dúzia de obscenidades sussurradas ao pé do ouvido, e logo eles estavam se agarrando em um ponto afastado e deserto da praia.

Tudo muito bem calculado... Algumas horas de lúxuria, depois ele viraria uma boa refeição... E Lyanna poderia aproveitar o resto da noite em algum lugar agradável, preferencialmente uma taverna. Mas, como ela deveria saber, nem tudo sai como o planejado...

O rapaz (que ela não se deu ao trabalho de perguntar o nome, e também pouco importava...) a jogou na areia e pôs-se a afrouxar seu corpete, acariciando seus seios quando finalmente conseguiu abrir todas aquelas fivelas e cordões.

–Nunca te vi por aqui... -ele comentou, com a voz meio embargada pela bebida- Tenho certeza que me lembraria...

–Porque eu acabei de chegar... -ela replicou, o puxando para perto enquanto desamarrava suas calças.

E então, aconteceu... Primeiro, um sutil cheiro de geleia de morango invadiu seu nariz... Depois, os olhos do rapaz brilharam num tom vermelho vibrante... Lyanna tomou um susto, piscou uma, duas vezes, e percebeu que tudo não passara de um devaneio. Ele tinha olhos castanhos, não rubros. E os únicos cheiros que podia identificar eram os de maresia e álcool. Foi o suficiente para acabar com seu libido, como se tivessem lhe jogado um balde de água gelada... Ela o empurrou, e começou a ajeitar a roupa, com um ar mal humorado.

–O que houve?

–Não quero mais. -ela resmungou, puxando os cordões do espartilho.

–Hey... -o rapaz a puxou e a imprensou contra uma rocha, com uma expressão nada amigável- Para uma puta, está com muita frescurinha...

Lyanna abriu um sorriso cheio de malícia... e no segundo seguinte sua adaga estava cravada nas costas dele.

–Sou mercenária, não prostituta... -ela arrancou a lâmina, enquanto o garoto a olhava como se não acreditasse no que estava acontecendo- Não se ofenda, não é nada pessoal... -os canino dela se alongaram, e Lyanna os cravou no pescoço do rapaz.

Alguns minutos depois, ela atirava o corpo dele no mar, e lavava o sangue do rosto com a água salgada. A lua revelou-se numa falha entre as nuvens, e parecia debochar da mercenária. Ela olhou para aquele sorriso prateado, e soltou um suspiro cansado.

"Quando você voltar , quero um beijo seu..."

Essas palavras ridículas nunca saíram de sua cabeça. Lyanna Storm, que já tivera tantos homens que perdera a conta, que colecionava amantes e podia ser comparada às cortesãs da Cidade Baixa, sonhava com um beijo tolo que nunca acontecera...

Menos de uma hora depois, Lyanna já estava de volta a bordo do Morte Negra, segurando uma sacola enorme cheia de garrafas e cigarros. Edrick ergueu uma sobrancelha ao ver a irmã regressar tão cedo, e soltou uma risadinha de escárnio:

–Vejo que alguém teve uma noite ruim... O que foi, adorada irmã, não teve uma caça produtiva?

–Tive uma caçada ótima, se quer saber... -ela fedia a álcool, talvez porque tivesse consumido cinca garrafas de vodka, três de vinho, e uma de rum...

–Está bêbada?

–Foda-se, Edrick... Sou uma vampira, não fico bêbada. -um timbre um tantinho mais estridente em sua voz denunciou que era mentira. Sim, ela podia ficar alcoolizada...

–Sou linguajar refinado me encanta... -ironizou o pirata.

Lyanna deixou a saca no chão e aproximou-se de Edrick, passando os braços pelo seu pescoço. Ele não esboçou reação alguma além de um discreto arquear de sobrancelhas...

–O grande e poderoso Edrick... -a mercenária cantarolou, com o olhar fixo nele, tão próxima que ele pode sentir o cheiro ferroso de sangue por trás de todo aquele álcool... Ele cogitou se era a bebida que a deixava tão ousada... ou burra. -Nascido como um lorde, detentor dos poderes Lindberg, temível pirata... Você se acha muito bom, não é? -ela cutucou o tapa olho dele levemente- Isso aqui prova que não foi o bastante...

–Deveria tomar cuidado com a língua, irmãzinha... -Edrick deslizou o dedo pela face dela, e em seguida fechou a mão em sua garganta, apertando sutilmente, como quem dá apenas um aviso. Lyanna pode sentir o corpo dormente, imune aos seus comandos quando o olho do pirata brilhou, vermelho vivo. Era a segunda vez que ficava presa pelo olhar mágico dos Lindberg, e nem se vingara de Nymeria por causa da primeira...- O fato de você ser útil para mim não te torna insubstituível. E também não confie em seus poderes, sendo vampira ou não. Você não é imortal... Será que fui bem claro?

A mercenária tentou manter a expressão indiferente, embora seu rosto começasse a ficar arroxeado...

–Perfeitamente... -ela resmungou, e o pirata libertou-a da magia, soltando seu pescoço em seguida.

–Boa menina... -Edrick lhe deu um beijo no rosto, o que a fez ter vontade de destroçá-lo- Agora, vá descansar. Preciso da minha mercenária sóbria e em forma para a próxima missão...

Lyanna resmungou alguns palavrões aleatórios, pegou sua saca de bebidas e cigarros e desceu as escadas... Como de costume, o interior do navio reservava uma surpresa. Ao invés de cabines de madeira, uma floresta sombria e enevoada se estendia a perder de vista... Graças a fenda dimensional ali existente, a cada dia um novo cenário se descortinava, alternando entre paisagens belas e lugares tenebrosos. O navio parecia reagir ao humor de seu capitão... A mercenária não deu a menor atenção aquilo, afinal, já se acostumara a tal bizarrice. Apenas virou a esquerda, onde uma porta no meio do nada levava a sua cabine, e se trancou ali.

Ao entrar, deparou com um vidro de geleia no exato lugar onde deveria estar uma taça de sangue fresco... Se era para ser uma piada, ela não achou a menor graça. Olhou para o doce com raiva, arrancou as botas e recostou em sua cama dura.

E bebeu...

Esvaziou uma garrafa após a outra, enquanto as gimbas de cigarro iam se amontoando ao lado da cama... Quando já não restava mais sobriedade alguma, ela pôs-se a cantarolar baixinho, e apanhou o vidro de geleia, rabiscando coisas sem sentido em sua tampa. Por fim, escreveu um "sorry" no rótulo... Porque se desculpava? Ou para quem, já que estava a milhares de milhas da única pessoa a quem gostaria de mandar aquele vidro? Ela não sabia. Seu coração nunca servira de nada, porque agora que estava morto e obsoleto achava que podia se manifestar? Com um suspiro depressivo, ela pousou um beijo frio naquele pote e colocou-o no chão, fechando o olho azul e adormecendo pouco depois. Quando acordasse, ele teria sumido. Ela não daria relevância ao fato, nem imaginaria que aquele vidro apareceria na portaria de uma hospedagem conhecida, com um bilhetinho endereçado ao 1313... Lyanna nunca compreenderia que a magia no navio de Edrick era algo muito complexo. E que alguma coisa, ou alguém, havia interpretado o desejo da mercenária como uma necessidade urgente...

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Lyanna deu graças a todos os deuses por não ser capaz de ficar de ressaca... Afinal, acordar metendo a cara no chão já é suficientemente ruim. Ela sentou, xingando e esfregando o olho, se perguntando o que acontecia. Ou ainda estava bêbada, ou o assoalho havia inclinado o suficiente para todas as garrafas vazias amontoarem-se a um canto. Com um sonoro conjunto de ruídos estranhos, o navio adernou para o outro lado, as garrafas rolaram e a mercenária se levantou aos tropeços, no exato momento em que Edrick abria a porta da cabine num rompante.

–Vamos, depressa!!! -ele parecia empolgado, como uma criança que vislumbra seu presente de natal. Isso pareceu a Lyanna extremamente preocupante... -Nossa visita chegou.

E sem mais explicações, ele a deixou, e ela pode ouvir os passos dele subindo as escadas...

Desde quando Edrick corria?

Lyanna não pensou duas vezes. Pegou sua espada e a pistola, e subiu até o convés, sem nem mesmo calçar as botas. E o que viu quando chegou lá fez seu queixo cair...

Em volta do casco do Morte Negra, como se quisesse esmagá-lo, via-se o corpo de uma gigantesca serpente marinha, coberto de escamas azuladas. A cabeça não estava visível, já que uma espessa neblina os envolvia, mas o seu rugido enchia o lugar, como um agouro. Ainda assim, Edrick parecia bem feliz...

–Esse é o motivo principal de nossa viagem, querida irmã. Preciso que a distraia para mim.

–Distrai-la?!! -a voz de Lyanna falhou, e ela engoliu em seco, antes de começar a esbravejar- VOCÊ FICOU MALUCO!!!? jÁ VIU O TAMANHO DESTA PORRA? E você já reparou no meu tamanho?

Edrick simplesmente sorriu.

–Sou caolho, e não cego. E, quando a trouxe comigo era exatamente com esse intuito...

A mercenária estava pensando numa forma nova de xingá-lo, mas sua atenção foi desviada pela cabeçorra da serpente, que agora se mostrava... Olhos de réptil enormes, dourados como ouro liquido encaravam Lyanna como se ele fosse uma refeição muito suculenta. Dentes grandes e afiados como punhais pingavam uma saliva ácida, que deixou buracos fundos na madeira do convés... Pelo visto, ela não precisaria se dar ao trabalho de chamar a atenção da fera. Enquanto Edrick muito convenientemente sumira de vista, Lyanna teria que se esforçar para não virar comida de monstro marinho...

O monstro deu o bote, arreganhando a boca ao máximo na intenção de devorar a mercenária, mas esta usou a pistola, disparando um tiro certeiro em um dos olhos da serpente, que urrou de dor e retrocedeu um pouco, só para repetir o ataque em seguida. Lyanna foi jogada longe, batendo com as costas na amurada, e sua arma caiu nas águas revoltas.

–Ótimo... -ela resmungou, pondo-se de pé e apanhando a espada que ela deixara cair anteriormente no chão.

Ela logo pode perceber que a espada seria inútil... A lâmina resvalava nas escamas da fera, sem causar dano algum. Depois de alguns minutos de uma frenética e letal brincadeira de pega pega, Lyanna escorregou no convés molhado pela chuva fina que começava a cair, e os dentes da serpente rasgaram seu ombro, dilacerando pele e carne, queimando como fogo vivo por causa da saliva venenosa. A mercenária gritou, largando a espada, atordoada com a dor lacinante.

O monstro preparou o golpe final, e estava prestes a liquidar Lyanna (ou não, porque ela pretendia se diluir em sombras) quando aconteceu...

Um barulho agudo se ouviu, e sabe-se lá como, parte da serpente explodiu com um sonoro "BOOOOM", lançando uma quantidade considerável de gosma azulada por todo o convés... A cabeça dela tombou, sem vida, e rolou para o mar, sumindo rapidamente nas águas...Edrick reapareceu na neblina, com a expressão satisfeita apesar de estar todo sujo de gosma, e um coração roxo pulsante nas mãos...

–Mas o que... -Lyanna franziu o cenho, segurando o ombro de onde o sangue escorria abundantemente. Ela sabia que logo logo sua regeneração daria conta daquilo, mas ainda assim doia pra cacete...

–Sucesso, estimada irmã. -Edrick armazenou o órgão dentro de uma caixa de madeira, e estendeu a mão para a mercenária, ajudando-a a levantar- Enfim, o coração da Serpente Marinha Azul é minha.

–E? -ela levantou-se, fazendo um esgar- O que tem de tão importante nesse troço?

–Ora... Esse é o ingrediente principal da melhor poção de cura existentente. -o pirata abriu aquele sorriso homicida- E o veneno mais letal e sutil também, com o qual eu presentearei Nymeria...

Lyanna nunca saberia dizer porque ficou tão incomodada com as palavras de Edrick... Talvez fosse o veneno ácido da serpente, ou o álcool excessivo do dia anterior... Mas a ideia de que alguém além dela própria pudesse ferir ou molestar Nymeria lhe pareceu obscena, intolerável...

Então, uma decisão foi tomada naquele instante: Edrick não podia permanecer com o coração da serpente... E a mercenária se encarregaria disso.

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Não demorou para Lyanna perceber que surrupiar o coração roxo não seria uma tarefa fácil... Edrick jamais se separava da fatídica caixa de madeira, e a caolha não era tão ignorante a ponto de confrontar o irmão em seu próprio navio amaldiçoado. Portanto, ela esperou...

As condições finalmente se mostraram favoráveis. Pelo visto, Ifurita, a famigerada deusa do azar, dera uma trégua a Lyanna Storm.

A mercenária observou a costa de Mistic Falls, a apenas uns cinco quilômetros do Morte Negra. Ela fez alguns cálculos rápidos, que a levaram a conclusão de que era possível chegar até a praia usando o Dissolution, ou, na pior das hipóteses, só nadar uma pequena distância.

Seu plano era ousado, perigoso, e tinha uma grande probabilidade de dar errado... Bem, não seria surpresa. Entretanto, ela não via outra forma de sair dali com seu prêmio. Então, respirou fundo, e passou da teoria a ação.

Edrick estava em sua cabine, descansando (algo que só acontecia muito raramente), quando Lyanna entrou, vestindo apenas um top com uma caveira bordada no lado esquerdo e um short extremamente curto. Ela abriu um sorriso depravado e inclinou a cabeça, dizendo com uma voz suave:

–Eu estava me sentindo só... Pode me fazer companhia?

O pirata ergueu uma sobrancelha, claramente sem entender o comportamento da irmã, e retorquiu.

–Estamos perto da costa. Se quiser, lhe dou uma folga e você pode ir caçar companhia.

–Acho que você não entendeu, estimado irmão... Eu quero você. -ela subiu em cima dele, e deslizou a mão por baixo de sua camisa. A expressão no rosto de Edrick fez Lyanna quase ter um acesso de riso, mas ela se conteve.

–Sabes que o que sugeres é incesto?

–Hum... somos só meio irmãos... Então seria só meio incesto. Eu não me importo, e sei que você também não...

Edrick certamente estava pensando em uma boa resposta para aquilo, quando Lyanna o beijou. No início, ele tomou um susto tão grande que não se moveu, estático como se fosse esculpido em pedra. No instante seguinte, ele realmente parecia que ia retribuir... Entretando, o pirata a empurrou.

–Estás louca?! Isto é inconcebível!

A mercenária ensaiou um biquinho sentido, assumindo um arzinho decepcionado.

–Qual o problema? Não sou boa o bastante para você?

–Eu não disse isso e... -Edrick corou como uma criança que é pega desprevenida, e só então se deu conta do que estava fazendo... E ficou muito zangado.- Saia daqui, Lyanna.

–Mas, irmãozinho...

–AGORA.

Lyanna se apressou em deixar a cabine, enquanto o pirata passava a mão pelos cabelos, desnorteado. O que passou pela mente de Edrick naquele momento, ninguém saberia dizer...

–Mas que ousadia... O que ela estava pensando... -ele resmungava, até que seu olhar parou na mesinha ao lado da cama... E só então ele reparou que a caixa de madeira havia sumido- Filha duma puta... LYANNA!!!!!!

Ele subiu as escadas correndo, mas nem sinal da mercenária. Apenas uma doce gargalhada ecoou pelo navio, o que fez Edrick ranger os dentes e gritar:

–Sua meretriz dos infernos! Vais me pagar por isso...

Mas Lyanna já estava muito longe...

Quando a mercenária chegou na praia, muito satisfeita com sua façanha, parou para olhar uma última vez para o navio que fora sua moradia durante tantos meses... E viu uma nuvem escura se formando sobre o Morte Negra. Sem dúvida, isso era o sinal de que uma retaliação épica estava a caminho... Entretanto, ela sabia que Edrick não o faria de imediato. Ele armaria uma vingança elaborada e fatal... E Lyanna estaria preparada para isso. Ou não...

De qualquer forma, ela tinha coisas mais importantes se preocupar no momento... Em primeiro lugar, o que fazer com o coração que roubara? Em segundo...

"Será que B ainda mora naquela hospedaria..?"


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