A Morte tem olhos carmesim escrita por Witches


Capítulo 5
Amargo erro, Doce desculpa


Notas iniciais do capítulo

E, como pedido por vocês, meus caros leitores, está aí o 5º capítulo de A Morte tem olhos carmesim! Não se esqueçam de comentar, expor a opinião de vocês, sim? Faça duas autoras mais felizes! E, claro, não se esqueçam:
Apreciem, meus caros vampiros.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/520977/chapter/5

Lyanna tinha ido embora. Ou melhor, sumira. Simplesmente desaparecera com um estranho rapaz de tapa-olho que tinha uma semelhança gritante à própria mercenária. E isso de uma hora para outra.

Ok, a aquela altura ele pouco entendia o que poderia estar acontecendo... mas nos poucos dias que se seguiram, Beyond não usufruiu da sua propriedade no fim do corredor. Ele trancara-se no quarto de Lyanna, enchera o frigobar – antes lotado de garrafas de vodka, a maioria vazia – de vidros e mais vidros de geleia, e em pouco tempo apenas os potes melados restavam lá dentro, vazios mais uma vez. Ele realmente era um consumidor nato de açúcar. E ele não precisava realmente sair dali. À noite, talvez, para caçar.

E fora isso o que ele fez naquele dia.

Foi fácil. Beyond se pegou indo para o porto de Mistic Falls, a imagem do pirata que viera buscar Lyanna ainda em sua cabeça. Haviam alguns mendigos, e prostitutas jogadas ali, que ousaram assediá-lo e desejar leva-lo a um canto mais longe de pessoas...

Bem, com certeza elas não iriam fazer aquilo de novo. Mais tarde, a guarda real de vigia encontraria o corpo daquelas duas mulheres seminuas, mordidas no pescoço, no pulso e uma delas com o lábio arrancado violentamente pelo que eles julgariam ser um animal feroz; alguns mais crentes julgariam como coisa do diabo.

Beyond não sabia nada sobre distância. Talvez como medi-la, mas não seu significado. Não sabia o quão distante ele estava de Lyanna, e o quão perto ele estava de receber uma nova companhia...

Não que isso realmente fizesse diferença. Ele não se importava, pois assim como não se comovia com a beleza dos espelhos d’água no mar ou com as árvores desnudas, negras, carvalhos, vidoeiros, aceráceas, ou até o conjunto de mata verde-esmeralda salpicada de neve iluminada pela luz da lua, ele também não se incomodava em subir as escadas longas e lisas da hospedaria E.O, não se incomodava com o frio, e também não sentia alívio algum em terminar a subida ou em encontrar um casaco para agasalhar-se.

Ele era incansável.

E foi quando alcançou o corredor que ele se deparou com a surpresa. Uma franja de fios brancos, coberta de panos em frente à porta do quarto de Lyanna, foi isso o que ele viu. Ele não tinha realmente uma noção de tempo naquele momento, mas se aproximou levemente, e ele pôde visar a figura mais de perto. A pontinha de esperança que brotara em seu peito se foi quando ele percebeu que era baixinha. Talvez até mais do que Lyanna. Usava um vestido quente, de mangas compridas, babados sutis, típico da nobreza ou algo do tipo. E por cima de tudo, ainda um capuz preto, como se quisesse esconder algo crucial de todos que ousassem passar por ali. Óculos escuros completavam seu visual meio gótico.

― Ela não vai atender.― a voz de B soou como um eco pelo corredor vazio.

Viu os óculos escuros dela se voltarem para si e, à medida que se aproximava, ficava mais fácil que suas habilidades vampíricas o ajudassem a ver por detrás das lentes escuras dela...

Um olho azul. E outro vermelho.

― Como disse...? ― a voz dela então se fez. Combinava com seu corpo franzino, e seu rosto branco como papel. Era naturalmente baixa, livre de entonação, livre de timbre. Era neutra. Como se, mesmo com todas aquelas roubas quentes, não fossem suficientes para proteger sua garganta. Voz congelada.

― Ela se foi. Se está procurando por Lyanna Storm, ela partiu há dois dias... com um cara estranho e estúpido, vestindo um clichê de pirata.

― Droga. ― apesar dela ter dito baixo, quase como um sussurro para si mesma, B pode ouvir. ― Cheguei tarde demais. Não acredito que ele a levou... ― ela voltou a sussurrar, e B voltou a ouvir.

Mas então a garota dirigiu-se a ele.

― Quem é você?

― Está perguntando como eu conheço ela? Bem... pode-se dizer que sou o vizinho do 1313. Sou Beyond Birtdhday. Me chame de B.

― Na verdade, eu tinha uma hipótese quanto a isso... ― ele a ouviu dizer de novo.

― Pelo que ouvi dela, não entro na categoria de “brinquedo sexual”.

A garota pigarreou, ajeitando os óculos sobre o nariz.

― Sou Nymeria...

― Amiga de Lyanna?

Irmã.

O silêncio se proliferou por algum tempo, e B cutucava um de seus caninos, inclinando a cabeça cada vez mais como se estivesse mesmo afim de quebrar o pescoço.

― Quando estava bêbada ela falou algo sobre uma Nym-vadia-Lindberg.

― Hm... ― Nymeria soltou um suspiro abafado. ― Não me surpreendo.

― Você é uma Lindberg? ― B indagou, e completou: ― Devia tentar um óculos mais escuro.

― Este é o mais escuro que tenho.― ela disse... e então escorregou o óculos pelo nariz, comprovando o que ele já sabia. Olhos desiguais lhe encarando. Um vermelho, outro azul. Era quase como se visse uma combinação perfeita do tal chamado Edrick e de Lyanna. O olho vermelho dela brilhava de forma estranha, quase ameaçador...

Beyond sentiria medo se pudesse sentir isso.

Nymeria voltou a esconder suas heterocromia por debaixo das lentes.

― Você quer entrar? Ela deixou a chave do quarto.

Ela pareceu ponderar bastante e severamente sobre o caso... mas logo deu de ombros.

― Já dei viagem perdida. ― declarou com sua voz gélida.

Do bolso à porta, Beyond fincou uma chave prateada e bordada de vermelho nas pontas por ferrugem. A porta se abriu e, depois de um “primeiro as damas”, ele entrou após Nymeria, fechando a porta atrás de si.

― Nem parece dela... ― Nymeria disse, observando o quarto impecavelmente arrumado – exceto por uma porção de geleia de morango pregada na janela que formava um dinossauro.

― Bem... eu estive aqui. Sabe, pelo menos a ducha é mais quente que no meu.

Ela abriu um sorriso quase invisível naqueles lábios pálidos. Como se aquilo fosse o máximo que daria numa piada daquela. Mas aquilo já fosse muito por parte dela.

― Não quer tirar isso tudo? Eu já sei quem você é.

Mais um suspiro por parte dela. Mas Nymeria se livrou dos óculos, pondo-os sobre a mesa de centro...

E depois jogou o capuz sobre uma das poltronas. Como ele previa, longos cabelos prateados.

― Eu já ouvi falar sobre sua família. Bem, na verdade, acho que é meio impossível não ter ouvido.

― Talvez. ― ela foi curta ao dizer. ― O que eu poderia esperar de alguém que dividiu o quarto com Lyanna e não usufruiu de luxúria alguma, afinal?

― Bem, talvez que essa pessoa esteja meio curiosa por saber que a irmã da mercenária queria impedi-la de ir embora com aquele pirata. ― ele não a deu tempo de falar, e completou: ― Entenda que estou preocupado com ela, mais do que já estava.

― Acho que é óbvio que não és o único. ― ela alfinetou. ― Edrick não... é flor que se cheire...

― Você iria embora se ele estivesse aqui quando você chegou?

― Eu vim para falar com Lyanna. Vê-lo ou não era algo que eu não poderia prever. E isso não é para ser tão relevante.

― Mas parece que é, não acha? ―Beyond inclinou a cabeça. ― Parece pior que Lyanna falando sobre ele, e sequer o viu...

― E você parece deduzir demais sobre o que não devia. ― ela o cortou... mas suspirou e continuou: ― Se você ouviu mesmo como diz sobre os Lindberg, deve saber o motivo. Então não insinue tantas coi-...

― O olho, não foi? ― foi a vez de Beyond de dar o corte. ― O olho azul que ele deveria ter. Uma briga de irmãos e uma lança afiada.

E Beyond pôde jurar que a viu engolindo em seco.

Era lógico. Foi por motivos que ele não tinha ouvido falar como o resto da história, que Nymeria Lindberg, no meio de uma discussão satisfatória, fincara – não necessariamente proposital, vai saber – uma lança no olho do irmão, Edrick Lindberg...

Desde então o laço entre os dois era de ódio por parte dele e amargura no estômago por parte dela.

― Não foi proposital. ― ela disse, a voz mais baixa que o habitual.

― Então por que parece se sentir culpada?

― Eu nã-...

― Não se desculpe para mim. ― B disse. ― Eu não a acusaria de nada. ― e, com aquelas palavras, ele teve certeza de que a viu desviar o olhar e, mais uma vez, engolir em seco. E B tornou a dizer:

― Apenas consigo entender que o ódio e a distância dele atingem você de uma forma brusca.

― Entende? ― ela levantou os olhos desiguais para ele.

― Digamos que eu também tenho saudade de velhos tempos. Tenho alguém que partiu faz quase uma década, e não tornou, sequer posso saber se está viva...

― Alguma parente ou... amante? ― e pela primeira vez a Lindberg pareceu interessada.

― Noiva. ― ele pigarreou na palavra, como se tivesse quase engasgado. ― Mellie, é o nome dela.

Beyond tinha falta de Mellie. Muitas. A vampira que um dia o salvara de uma vida miserável e um destino incerto partira há mais de dez anos rumo a um povoado de distância incalculável de Mistic Falls. Em seus séculos de vida, ela se apegara bastante aquele povo e, quando soube de uma guerra interna por parte de países diferentes que atingiriam aquelas pessoas, ela partiu, prometendo voltar quando as coisas amenizassem.

E agora ele tinha duas vampiras para se preocupar, cada uma, quem sabe, mais distante que a outra, correndo mais perigos que a outra. Alguma coisa o fez pensar mais afundo sobre Lyanna, e na promessa que ele a fizera aceitar – parecia tão boba, mas fora a única pretensa garantia que ele poderia ter dado naquele momento, de sua volta. Ele realmente queria que ela voltasse. Havia apenas dois dias e a convivência com ela, a qual durara menos de um mês, já parecia uma rotina que havia se quebrado. Ele não soube como chamar aquilo, nunca havia sentido nada como antes... até parecia que Lyanna tinha ido há mais tempo que Mellie...

Tudo parou quando sentiu braços em si. Braços, em volta de seu pescoço. Braços cobertos de panos, mas que, ele podia sentir, frios por debaixo de tudo. Beyond ficara tanto tempo calado que Nym encontrara-se sem reação... mas seu impulso foi maior que qualquer pensamento realmente frio que ela pudesse ter. A frieza da Lindberg não faria justiça contra a hospitalidade do rapaz de olhos rubros... e Nym sabia bem disso. Foi assim que o envolveu pelo pescoço, fracamente, quase como se aquilo fosse novo para ela, ou há muito ela não praticasse. Não se mexeu, não respirou, não mudou sua expressão congelada.

― Eu também entendo você. ― ela disse.

Foi uma retribuição de abraço, dois sorrisos fracos, um copo de água e algumas palavras de esperança sobre Lyanna, que Nym desapareceu pelo corredor com seus passos sempre tão rápidos...

Foram três meses mantendo contato com Nym, o que fizera Beyond deixar o quarto de Ly – embora o mantivesse sempre livre de poeira. A Lindberg e o vampiro até chegavam a rir juntos, a passear por Mistic Falls – à noite, claro – e já tinham um peculiar vocativo para chamar um ao outro. Foram três meses, e no final do último mês, Beyond recebera uma visita inusitada. Mellie em sua porta, gritando com seu sorriso resplandecente que a guerra chegara ao fim. Foi incrível como ele a abraçou e a girou no ar, o modo como ela o puxou para um beijo molhado, como eles entraram e ele a deu uma massagem relaxante depois de apreciarem morangos com chocolate derretido...

No dia seguinte, tocaram a porta. B abriu, estranhando quando viu um zelador – se não o único – do lugar, parado ali, segurando um embrulho de panos brancos.

― Deixaram na portaria. Tem o número do seu lugar.

Beyond nada disse. Apenas pegou o pacote e fechou a porta, o cenho franzido. Ali mesmo, ele retirou os retalhos e as fitas... e o que se desenrolou diante de seus olhos o surpreendeu...

Um frasco de geleia de morango. No lacre bem fechado, estavam rabiscadas coisas como:

L | B

Na tampa, como se riscado de carvão ou mesmo manchado por cinzas de cigarro, apenas se poderia ler...

Sorry”.

― B, querido, está pronto para caçar? ― a voz de Mellie soou lá dentro da cozinha. E Beyond descobriu em si mesmo que, mesmo com a volta de sua amante, o sentimento de falta em nada havia diminuído....

― Estou. ―ele disse, uma voz robótica, enquanto guardava o pote com o embrulho debaixo de sua cama...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Morte tem olhos carmesim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.