Alison

Eu corro pelos corredores de Hogwarts sem olhar para trás, eu estou com a sensação de estar sendo seguida. Sinto uma mão em meu braço e sou puxada para trás de uma armadura.

Olhos claros, cabelos loiros. Amber.

― Que susto, Amber! ― disse colocando a mão no peito ― Estou com a sensação de estar sendo seguida.

― Sempre salvamos a pele uma da outra! ― Amber disse e deu de ombros ― Mas não é sobre isso que quero falar com você.

Fiz um sinal com as mãos para ela continuar.

― Você sempre foi a filha perfeita, a irmã perfeita, amiga perfeita. Não é a toa que te chamam de “garota de ouro”. Inteligente como nossa mãe, corajosa como nosso pai. Mas eu sinceramente não te vejo mais como perfeita. Nosso pai está morto e é por sua causa Alison ― Amber disse e essas palavras me doeram muito mais do que qualquer crucio ― Logo a filha preferida fez isso. É tudo culpa sua. Você deveria ter ficado na França.

Não pude evitar que as lágrimas saíssem dos meus olhos e uma dor insuportável preencheu meu peito. Como ela pode?

― Amber... ― foi tudo o que eu consegui dizer

― Vai se fazer de boazinha agora? Assassina! ― Amber disse

― Não foi culpa minha! ― sussurrei

Coloquei a mão na boca para evitar um soluço, mas não consegui fazer as lágrimas pararem de sair dos meus olhos.

― Ele duelou com Belatriz, porque ficou com medo de você falhar e morrer. Você ainda ficou assistindo o duelo deles e não fez nada. Você é culpada por tudo, Alison! Culpada ― Amber me segurou pelos ombros e me sacudiu ― Alison!

Mas não vejo mais os olhos de Amber e sim os olhos de Kimberly. Então não estou mais em Hogwarts e sim no meu quarto.

― Alison! ― Kim gritou ― Alison!

Pisquei os olhos para me acostumar com a claridade e suspirei.

Kimberly está sentada na minha cama com uma expressão estranha no rosto.

― O que foi? ― pergunto

― Você estava chorando ― Kim disse e eu suspirei ― O que aconteceu?

― O mesmo pesadelo de novo ― disse

Kim ficou me encarando. Desde que saímos de Hogwarts, ela está na minha casa. Minha mãe conjurou uma cama para ela no meu quarto e foi a casa dela pegar umas roupas para ela.

― Você sabe que a culpa não foi sua ― Kim disse

― Eu sei. Que horas são? ― pergunto

― Dez e meia.

Levantei da cama e peguei uma roupa no armário.

― Vou tomar banho ― disse

Tomei um banho relaxante. Se eu pudesse fazer um desejo agora seria que os meus problemas desaparecessem.

Coloquei a roupa que peguei e sai do banheiro.

― Amber já saiu do quarto? ― pergunto

― Saiu para tomar café da manhã e se trancou de novo ― Kim disse

Amber passa praticamente o dia todo no quarto. Ela não quer ver ou falar com ninguém. No fundo eu entendo ela.

Sai do quarto e desci as escadas. Andei até a cozinha e vi minha mãe cozinhando.

― Por que não foi trabalhar? ― pergunto

― Dia de folga! ― ela responde

― Mãe ― disse e suspirei ― Precisamos conversar.

O assunto não é muito agradável, mas é necessário.

― Sobre...? ― ela pergunta sem nem ao menos me encarar

― Amber ― disse

Minha mãe suspirou alto e voltou toda a sua atenção para mim.

― Alison, cada um lida com a dor de uma forma. Deixe sua irmã em paz! ― ela disse séria

― Não é isso. Eu sei que você está tentando lidar com isso da melhor forma possível, mas nós precisamos ser fortes agora. Pela Amber. Eu só não sei como ser forte num momento como esse ― disse com toda sinceridade possível

― Eu não preciso ser forte, Alison. Eu só preciso do meu marido de volta ― ela disse e uma lágrima sai do seu olho

As palavras de Katherine Black foram como facadas no meu coração e eu simplesmente não consegui falar nada.

― Por que vocês não escrevem uma carta? ― a voz de Kim ecoou pela cozinha

Franzi as sobrancelhas.

― Do que você está falando? ― pergunto

― Sobre escrever uma carta para o seu pai ― Kim respondeu como se fosse óbvio

Encarei minha mãe e ela suspirou.

― Mas ele nunca lerá a carta. Por que escreveríamos uma? ― pergunto

― É uma boa forma de colocar tudo o que você sente para fora ― Kim disse

― Ela tem razão! Vou falar com a Amber ― minha mãe disse e saiu da cozinha

― Isso é desnecessário! ― disse

― Vai por mim. É necessário ― Kim disse e piscou para mim.

Subi as escadas. Kimberly sempre convence as pessoas a fazerem o que ela quer.

Entrei no meu quarto e vi que ela já tinha pegado tudo para eu escrever. Ela deixou tudo em cima da minha cama.

― Vaca! ― murmurei

Ela deu de ombros.

― Faz parte do meu charme ― ela disse se sentando em sua cama e ri fraco

Sentei em minha cama e peguei o pergaminho que está em cima dela. Molhei a pena no tinteiro e comecei a escrever.

Pai,

Desde que você se foi tem sido insuportável. Eu nunca senti uma dor como essa. É pior que um crucio.

Mas eu parei de escrever. Eu não posso escrever isso. Não posso ser a vítima mais. Essa não é quem eu sou.

― Continua ― Kim disse

― Não ― sussurrei

Eu tenho sido tratada como uma boneca de porcelana, frágil e fácil de quebrar. Mas essa não é Alison Black. Eu sou bem mais do que isso.

Rasguei o pergaminho no meio e joguei-o no chão. Fiquei de pé e encarei Kimberly.

― O que você está fazendo? ― Kim disse ficando de pé

Ela me encarou como se eu fosse louca, mas eu simplesmente dei de ombros.

― Cansei de ficar chorando o tempo todo. Meu pai não gostaria de me ver assim ― disse ― A partir de hoje eu vou sorrir e vou ser forte.

Mas diferente do que pensei, Kimberly sorriu.

― Minha melhor amiga está de volta! ― ela disse e me abraçou

Retribui o abraço e forcei um sorriso.

Ser forte agora não é mais uma escolha. Eu vou aguentar firme por todos.