O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 52
Tentando desvendar Vegeta




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― Bulma... Tem certeza de que eu não ouvi errado...? O Vegeta deixou mesmo de lutar?

A cientista nada respondeu, estava tão surpresa quanto ele. Jamais escutaria, vindo dele mesmo, a declaração de que havia desistido de lutar. Vegeta renegando seu instinto saiyajin? Por quê? Desde quando? Não, a história estava muito mal-contada, jamais ele diria tal coisa, nem por brincadeira. Isso era simplesmente um sacrilégio, uma blasfêmia.

Mas... Será que isso tudo teria a ver com o estado “anormal” de Vegeta? Iria buscar agora as respostas. Saiu deixando Trunks e Yamcha plantados.

 

*

 

Um marasmo. Essa era a expressão que melhor resumia como estavam sendo os dias de Vegeta após aquela luta contra Cell. A sensação de inutilidade não o abandonava de jeito nenhum. Seu ânimo para as lutas havia desaparecido consideravelmente. E o restinho que sobrara era duramente combatido pela apatia. Não sabia o que fazer para ocultar aquele tédio tão incômodo. Isso, sem contar com o grande sentimento de inferioridade que tomava conta de seu ser. Naquela luta, terminava de ruir a máscara de toda uma vida em que passou crendo ser superior a qualquer outro ser vivo.

Talvez essa última humilhação tenha sido a pior que já sofrera. Pior até mesmo do que a que sofrera nas mãos de Freeza.

Talvez, não, com certeza! Goku lutou contra o androide, mostrando que seu poder era imenso. Isso porque ele nem sabia o que estava por vir: Gohan e Cell travariam um combate muito acima do que se imaginava, completamente fora do alcance de todos os demais guerreiros. Aquele combate estava totalmente fora de seu alcance. Vegeta não queria acreditar nisso desde que enfrentara um Cell recém-chegado à sua forma perfeita. Mas não tinha jeito, sua máscara de teimosia e arrogância caíra por completo ao ver que logo seria superado.

E o foi de longe, por um garoto. Mais especificamente, um garoto híbrido de onze anos, que um tempo atrás não passava de um bebê chorão.

Para completar, Cell conseguira derrotá-lo com um único golpe, quando, possuído pela fúria após ver o jovem Trunks ser assassinado diante de seus olhos, partiu para cima do androide. Um único golpe fora capaz de nocauteá-lo instantaneamente. Um único golpe fora o suficiente para transformar o príncipe dos saiyajins num completo inútil naquela luta. Seu orgulho havia sido praticamente destroçado. E seus pedaços continuavam espalhados por aí.

Não bastasse tudo isso, seu maior rival estava morto e se negara a ser ressuscitado. O desgraçado do Kakarotto se recusara a voltar e lhe negara sua revanche. Poderia ser pior? Não, não poderia. Sustentava com o resto de suas forças o resto de dignidade que ainda possuía intacto. Não tinha forças para mais nada, nem mesmo para voltar a lutar. Entregara-se ao fracasso e sentia que chegara ao fundo do poço. Agora não era nem sombra do que era até dias atrás. Tanto que fazia tempo que não usava seu costumeiro traje.

Desde então seus olhos negros passaram a ser vazios e distantes. Não havia sequer resquício da chama que movia todo o seu ser. A tal chama era a sua força de vontade, a sua persistência e essa chama havia se apagado. Agora estava distante de vez, distante de tudo e de todos, como se estivesse num mundo à parte. Um mundo regido por sua completa apatia, que impunha barreiras ao seu redor e o impedia de se comunicar de verdade com outras pessoas de seu convívio.

Mais uma vez, era um príncipe isolado em seu próprio castelo.

 

*

 

Depois de alguns minutos procurando por ele, encontrou-o sentado encostado a uma árvore do grande quintal da mansão. Estava a alguns metros de distância de onde ela estava. Ela não se atrevia a se aproximar, pois ele parecia ter uma redoma invisível ao seu redor que evitava qualquer possibilidade de aproximação. Passou a fitá-lo de longe. Seu atual estado a incomodava muito. Ele andava quieto demais, não reclamava como de costume e muito menos discutia com ela como sempre fazia. Pensava que ele poderia estar doente, mas... Será?

Parecia haver um abismo entre Bulma e Vegeta, mesmo estando a apenas alguns passos de distância um do outro. Aquele cabeça-dura havia levantado de novo uma muralha entre os dois. Bulma respirou fundo a fim de tomar coragem e se aproximar do saiyajin. Quando se sentiu decidida o bastante, acelerou o passo para chegar perto. Do jeito que ele parecia distante, havia a possibilidade de não notá-la...

... Mas ele a notou.

― O que você quer? – Vegeta perguntou.

― Oras, eu quero conversar com você!

― Mas eu não quero.

― Tem certeza?

― Absoluta.

― Não quer contar algum segredo para mim?

― Não.

― Desabafar?

― Sem chance.

― Pode contar tudo para mim, pode ser que você se sinta melhor se fizer isso.

― Pra você? E logo pra você?

― Qual é o problema?

― Você é muito escandalosa.

― Você está muito estranho, Vegeta.

― Não sei do que está falando.

― Você está assim desde a luta com Cell.

― E daí?

― Não pode ser verdade que você tenha desistido das lutas, Vegeta... Você sempre disse que isso sempre esteve no seu sangue!

― Por que você está tão interessada nisso?

― Eu... Bem... Estou preocupada. É isso, eu estou preocupada.

― Você, preocupada comigo? – Vegeta debochou. – Conta outra.

― Eu tenho o direito de me preocupar com quem eu quiser! – Bulma empinou o nariz. – Deveria se sentir honrado, já que eu sou uma das pouquíssimas pessoas que realmente se importam!

― Não sabia que o fato de se preocupar comigo era o mesmo que torrar a minha paciência...

― Tem certeza de que vai desistir de lutar?

Passou a fitar o chão e respondeu:

― Não tenho motivos para continuar a lutar. Principalmente porque não vejo mais sentido nisso.

Bulma não entendia mais nada. Vegeta não vendo sentido em lutar? Isso estava tão enraizado em seu ser quanto aquela árvore estava enraizada no quintal. Ele se levantou e, num piscar de olhos, sua aparência mudou.

― Tudo o que consegui... Agora é tão inútil...!

Cerrou os punhos com força mostrando pela primeira vez toda a frustração que sentia desde aquela luta. Aquela frustração era mais dolorida do que todos os ferimentos que recebera naquela batalha contra o androide biológico. Doía mais do que qualquer ferimento grave. E o pior: não passava de jeito nenhum.

― O que vou fazer... Com o que consegui até agora? Não tenho mais razão para lutar... E o maldito Kakarotto, que deveria lutar comigo, está morto... Aquele desgraçado acabou com o meu sonho de revanche, com a minha chance de mostrar que posso ser superior a ele! Essa era a única razão que me fazia treinar feito um louco na ânsia de me superar a cada dia, a cada luta... Era só por isso que eu me motivava a lutar... Mas agora a minha chance de provar minha superioridade morreu... Com aquele imbecil!

Bulma se aproximou dele, que ainda estava na forma Super Saiyajin.

― Tem certeza de que sua revanche com o Goku era a única razão para você lutar? – perguntou.

Ele nada respondeu, apenas mordeu o lábio ainda bastante frustrado.

― Talvez Goku não seja o único que morreu naquela luta. – deu as costas ao saiyajin e saiu rumo à mansão. – Acho que o Vegeta que eu conhecia também morreu naquele lugar. Eu pensava que ele tinha sobrevivido, mas vejo que não. Ah, pobre Trunks, agora tem um pai tão covarde...

Vegeta voltou ao estado normal e seguiu Bulma com os olhos. Bem que queria berrar que não era covarde coisa nenhuma, mas...

... A verdade é que ele realmente estava sendo um grande covarde.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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