O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 44
Deixando tudo para trás




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― Eu devia saber... Eu devia saber que ele ainda seria capaz disso... Como pude ser tão ingênua... Logo eu?

― Calma aí, Bulma, não fica assim. Você precisa relaxar um pouco... Toma, pega o meu lenço emprestado.

― Obrigada, Yamcha... – ela agradeceu, enxugando as lágrimas e em seguida assoando o nariz no lenço que lhe fora oferecido. – Toma de volta...

― Não se preocupe, Bulma... – ele ficou constrangido. – Pode ficar com ele por enquanto.

“Que irônico”, pensou consigo mesmo. “Eu aqui consolando a Bulma por causa do meu ‘rival’. O destino me prega cada peça, viu...”

― MAS EU SOU UMA GRANDE IDIOTA...! – Bulma desabava mais uma vez, rompendo-se em prantos. – Por que eu tinha que falar tanta bobagem? Por quê...? Por minha culpa, o Vegeta foi embora pra não voltar mais...!

Ela chorava enquanto via o local onde costumava ficar a nave e que agora estava vazio.

― Peraê, Bulma! Tá ensopando o meu casaco!

Bulma ignorava o que Yamcha dizia e continuava a chorar no ombro do ex-ladrão, chegando até a soluçar muito. O pobre guerreiro estava cada vez mais embaraçado com aquela situação. Mas, apesar disso, não ousava interromper aquele desabafo. E por que estava lá, servindo de “ombro amigo” para a sua ex? Porque ele ainda se lembrava do que a vidente lhe dissera naquele dia. Lembrava-se muito bem de cada palavra que ouvira.

“A bola de cristal não mente, rapaz. Eles estão destinados um ao outro, embora as aparências enganem.”

Essa frase ele jamais esquecera, até porque o fizera desistir de tentar mais uma vez reconciliar-se com Bulma. Já não sentia mais nada em relação a ela a não ser a amizade e nada mais. Sentia as lágrimas quentes molharem o casaco cada vez mais. No entanto, os soluços já se acalmavam.

― Vamos, não fica assim. – ele disse. – Você não pode ficar desse jeito, Bulma.

Ela nada respondeu.

― Onde está a Bulma que eu conheci? Corajosa, animada, briguenta e até meio maluca? Cadê aquela Bulma que eu conhecia?

Ela secou os olhos azuis e o fitou.

― Me desculpa, Yamcha... Me desculpa por fazer você ouvir toda essa choradeira minha... Você nem precisava ficar aqui.

Ele sorriu.

― Que é isso... Amigo é pra essas coisas. E vamos combinar que você tá bem frágil.

Ela suspirou.

― É verdade. Pareço uma boba. Tenho que parar com isso... Já falta menos de um mês pro Trunks nascer e não quero que ele me veja com essa cara.

Outro suspiro.

― Mas é difícil fazer outra cara numa hora dessas...

 

*

 

Estava onde queria. Num lugar deserto, isolado e longe de tudo e de todos. Mais precisamente, estava longe do planeta Terra. Bem longe do Sistema Solar, apesar de ainda estar na Galáxia Norte.

Estava bem longe de “casa”... Se é que considerava assim.

Descansava sentado na poltrona da nave depois de mais uma sessão de treino enquanto olhava pelo monitor a rota sendo cumprida conforme o programado até àquela altura. Ajustou mais algumas coordenadas assim que visualizou um planetoide à frente. Segundo o computador de bordo, aterrissaria em questão de minutos. Sentia-se novamente como naqueles tempos em que era uma espécie de “nômade do espaço”.

Os seus tempos de glória.

No entanto, não parecia estar tão empolgado quanto se esperava. Seu corpo estava mais relaxado, mas a sua mente, não. Mal esperava a hora de descer daquela nave após dias inteiros enfiado nela. Até porque tudo lembrava Bulma e ele não estava disposto a se lembrar dela tão cedo. Queria limpar sua mente de tudo que acontecera na Terra e manter seu foco única e exclusivamente em sua maior ambição: a transformação em Super Saiyajin. Não queria mais distrações, mas resultados concretos. Queria o poder de Super Saiyajin. Queria vencer os androides que surgiriam dentro de um ano. E, por fim, queria superar Kakarotto e destruí-lo.

E depois disso? O que faria?

No momento não lhe interessava. Se tivesse saído da Terra antes, não teria se metido em tantas “distrações” nos últimos dois anos e não teria atrasado tanto seus planos. O computador de bordo apitou avisando que era hora de fazer os procedimentos de aterrissagem. Coisa extremamente fácil para um veterano em viagens interplanetárias como ele.

Hora de voltar a se concentrar.

 

*

 

― Puxa vida... Eu não sabia que isso ficaria assim. Ainda bem que ninguém saiu morto nessa história, pelo menos isso!

Yamcha pensava alto enquanto caminhava para o edifício onde se localizava seu atual apartamento em meio às ruas não muito movimentadas das cercanias. Já não nevava mais, o inverno estava chegando ao seu fim. No entanto, ainda fazia algum frio, o que obrigava o lobo do deserto a ainda estar com um casaco.

“Eu deveria estar contente por Vegeta ter ido embora... Mas não consigo comemorar a ida daquele saiyajin chato e antipático pro espaço. Fiquei com dó da Bulma.”

Ele nunca a vira chorar daquele jeito por causa de uma típica briga de casal. Nem mesmo quando ele namorava a cientista. E olha que ele lhe dava motivos para tanto. Mas, talvez ela tivesse agido de forma tão dramática por conta da gravidez. Mesmo fazendo pouco tempo após voltar do deserto e reencontrá-la, ainda lhe metiam medo as mudanças bruscas de humor da cientista.

No entanto, havia sido testemunha de uma discussão bastante feia... Nunca vira igual.

 

― Espera aí! Que conversa é essa de treinar longe daqui? A nave não é o suficiente? Ela tá toda reformada e já resolvi o problema da porta!

― Não precisa repetir.

― Então por que você tá com essa ideia na cabeça, Vegeta? O treino afetou os seus miolos por acaso?

― A minha sanidade mental ainda é melhor que a sua!

― Vindo de um psicopata como você, é apenas um elogio! – Bulma já estava totalmente alterada devido à rotina de presidente interina da Corporação. – Um elogio vindo de um extraterrestre psicopata folgado metido a sabe-tudo e rei da cocada preta!

― Você está cada dia pior. Nem sei por que eu ainda fico aqui!

― Ah... – ela disse sarcástica. – Talvez porque você seja um príncipe destronado e sem-teto, de uma raça em quase total extinção sem ter aonde ir! E, por mais que finja o contrário, é um coitado que não tem nada, nem mesmo a roupa que está no corpo!

― O quê? – agora Vegeta começava a ficar nervoso. – Como é que você tem coragem de me insultar desse jeito?

― A mesma coragem que eu tenho de te hospedar aqui!

O saiyajin desta vez ficou mudo. Estava tentando se controlar diante de tudo aquilo que estava ouvindo.

― E em pensar que eu gostava de você... Como eu sou idiota... Como é que eu me envolveria em sã consciência com alguém como você? Esperando algo em troca? Sou mesmo uma idiota... – as lágrimas surgiam nos olhos azuis. – Uma grande idiota que se iludiu demais!

Ele continuava mudo, mas parecia mais calmo.

― Você é cruel, Vegeta...! – ela disse enchendo o peito dele de socos. – Cruel demais comigo!

Por fim, Bulma desabou de vez no choro.

― Você não liga mais pra mim...! Por que eu ainda acreditei em você? Por quê? Tá afim de desaparecer? Desaparece, mas desaparece logo...! Não quero te ver... Não quero!

Vegeta, não aguentando mais aquela “ceninha” de Bulma, simplesmente saiu rumo à nave Cápsula 3. Ia a passos decididos rumo a ela e sem olhar para trás. Entrou nela, fechou a porta e deu a partida. A nave decolou e, por fim, alcançou a estratosfera tornando-se uma fugaz estrela em plena luz do dia.

E deixando um grande vazio no quintal.

 

Yamcha havia testemunhado absolutamente tudo naquele momento. Tudo mesmo.

E ainda assim custava a entender como poderia acontecer tudo aquilo que a velha vidente lhe falara. Na verdade, estava colocando em xeque tudo o que ela dissera em relação à Bulma e ao Vegeta.

Mas ali estava a mesma velha vidente...

― Há quanto tempo, jovem Yamcha! – ela o saudou. – Vejo que está melhor do que aquele dia!

― É, com certeza.

― Mas você ainda parece cheio de dúvidas na sua cabeça.

― De certa forma, sim.

― Ah, entendo... As dúvidas são sobre a sua ex-namorada e o “estrangeiro”... Mas dê uma olhada aqui. – apontou para uma pequena bola de cristal na sua mão. – Ó poderosa bola de cristal, revele a este rapaz o que acontecerá daqui a oito anos!

Yamcha não conseguiu desprender os olhos da bola de cristal de alta definição. Estava vendo uma cena específica que aconteceria oito anos depois. E isso o deixou boquiaberto apesar de ter sido algo meio vago.

― Isso... Isso é verdade? É verdade mesmo? – ele por fim indagou.

― Sim, jovem Yamcha. Isso vai de fato acontecer. Só que você não pode contar a ninguém, ou o destino deles estará em risco. E quando digo ninguém, incluo tanto eles como até mesmo o seu melhor amigo e confidente. Deve ficar só pra você, entendeu?

― Entendi. – ele assentiu ao entender a seriedade da coisa.

― Mas antes de chegar a essa cena que mostrei vão acontecer muitas coisas nesse meio tempo entre eles. E a sua ex vai precisar de sua amizade nesse tempo. Está percebendo como você continua tendo alguma ligação com ela?

― Estou.

― Ótimo. Não é uma ligação igual à que o “estrangeiro” possui com ela. A sua está na esfera da amizade, como aquele a quem ela considera um irmão. Está compreendendo o que estou dizendo?

― Sim, estou.

― Então desempenhe bem o seu papel, jovem Yamcha. Tudo vai dar certo e o destino vai se encarregar do resto. Até de você.

― E o que o futuro me reserva?

A velha vidente sorriu:

― Quer mesmo que eu conte ou prefere manter a surpresa?

O lobo do deserto ponderou por alguns instantes, para finalmente dizer:

― Bom, prefiro deixar as coisas acontecerem naturalmente. O que seria da vida sem algumas surpresas, não é?

― Certo. Então se cuida!

― Pode deixar. A gente se vê algum dia?

― Quando for necessário.

― Está bem. Muito obrigado!

― Não foi nada! Só estou ajudando!

Cada um tomou seu rumo. Yamcha seguiu seu caminho até o seu apartamento e a velha vidente desapareceu misteriosamente. Agora o ex-ladrão estava mais consciente do seu destino e disposto a fazer a sua parte. Afinal, se um saiyajin era incapaz de enfrentar o destino, o que dizer de um simples humano?


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Notas finais do capítulo

Continua...