O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 24
Frustrado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/52015/chapter/24

Aos poucos Vegeta emergia da escuridão total e abria os olhos bem lentamente. A claridade o incomodava muito, a ponto de ter trabalho de abri-los por completo. Pouco a pouco ele começou a sentir todo o seu corpo após recobrar totalmente os sentidos. Percebeu que estava deitado em algo macio e que estava bem coberto. Estava sobre uma cama, mas não estava no quarto de hóspedes. Percebeu, pelas paredes metálicas, que ainda estava na nave Cápsula 3.

Recostou-se na cama sentindo o corpo ainda todo dolorido e pesado. Notou que tinha alguns pequenos curativos espalhados pelo rosto. Olhou para a sua direita, onde encontrou a sua armadura e as luvas sobre uma espécie de mesinha presa à parede. No chão estavam as botas.

Retirou o cobertor, que revelou um collant azul bastante desgastado e danificado. Ao fazer um movimento brusco com o braço esquerdo, sentiu uma forte dor no ombro. Lembrou-se de que aquele era o local onde fora atingido por duas vezes pelos mini-robôs e que estava devidamente enfaixado. Além de se sentir dolorido, ainda se sentia cansado e enfraquecido, sem contar com os efeitos que ainda sentia da gravidade aumentada em 850 vezes.

Era uma sensação horrível.

Sentiu um ki fraco se aproximar e ouviu os passos se tornarem mais nítidos até que eles se detiveram.

― Conseguiu descansar? – era a voz de Bulma que fazia a pergunta.

O saiyajin permaneceu mudo.

― Se sente melhor? – ela insistiu.

Nenhuma resposta dele. Parecia absorto demais em seus próprios pensamentos para prestar atenção no que ela dizia.

― Ei! – a cientista tentava chamar a atenção do saiyajin. – Terra para Vegeta! Tô falando com você! O gato comeu a sua língua, é?

― Que é? – foram as primeiras palavras proferidas por ele.

― Você se sente melhor?

― Eu me sentiria melhor se você não me enchesse como está fazendo neste exato momento.

― Tirando o seu mau humor... Você parece um pouco melhor, não é?

― Tire você mesma as suas conclusões.

― Tá bom, tá bom... Vou ver se faço alguma coisa pra gente comer. O papai e a mamãe saíram de viagem e os empregados estão de folga.

― Já vi que a sua gororoba deve ser pior que a que a sua mãe faz.

Bulma se sentiu meio ofendida, mas não se deixou abater por essa observação sarcástica.

― Ah, é? – ela perguntou no mesmo tom. – Então, vamos fazer uma aposta...

― Que aposta?

― Se a comida sair ruim, você ganha e come em um restaurante o que quiser e por minha conta! Agora, se a comida sair boa... Você vai me acompanhar ao shopping assim que estiver recuperado!

― Uma aposta, hein... – disse com ar divertido. – Você disse que, se eu ganhar, posso comer num restaurante por sua conta?

― É isso aí!

― Vai se arrepender.

― Acho que não... Trate de se recuperar rapidinho! – deu uma piscadinha e saiu.

“Pode ir cantando vitória antes da hora...”, Vegeta pensou refestelando-se na cama, já que se sentia melhor com o efeito da grande gravidade sumindo aos poucos. “Aposto que você é tão mimada que nem aprendeu a fritar um ovo...”

Passou a olhar fixamente para o teto e sua expressão ironicamente divertida desapareceu. Lembrou-se do fracasso de seu treino. O que mais o irritava era que não conseguia avançar o bastante para emparelhar seu poder de luta com o de Goku. Ele sempre estava dez passos à sua frente, seja com novos poderes, seja com novas técnicas.

Era frustrante.

Por mais que se matasse de tanto treinar, não conseguia chegar ao seu objetivo máximo, a sua transformação em Super Saiyajin. Parecia algo inalcançável levando em conta o seu poder atual, mesmo chegando tão perto.

A sensação de fracasso começava a se apoderar dele.

Será que ele nunca iria se tornar mais forte? Essa pergunta martelava a sua cabeça de forma ininterrupta e batia de frente com o seu orgulho agora abalado. Para um desmiolado terceira classe como Kakarotto, só havia uma explicação lógica pra tamanho poder: sorte. Só podia ser sorte, e das grandes, para um miolo mole daqueles receber tudo de bandeja. Nunca se conformou – e jamais se conformaria – com aquilo. Principalmente porque ele era o príncipe dos saiyajins, guerreiro de primeira classe. Devia ser o número um, e não Kakarotto.

Cerrou fortemente os punhos, estava inconformado com aquela situação. Por mais que tentasse aumentar seus poderes, por mais que se arrebentasse todo para isso, por mais que tivesse ajuda de Bulma e do pai dela, parecia que nada adiantava. Aquela sensação era horrível e o oprimia sem dó nem piedade. Sentia um nó se formar na sua garganta, surgindo ao mesmo tempo um ardor ali e nos olhos. Estava prestes a desabar, eram muitas frustrações e muitos fracassos acumulados para suportar.

Mas o resto de seu orgulho de príncipe saiyajin não permitiu que chegasse a esse ponto. Agarrou o cobertor com muita força, fazendo até que as pontas de seus dedos ficassem esbranquiçadas por causa disso.

― Vegeta, eu trouxe a comida como combinamos e...

A cientista estacou quando viu o rosto contraído do saiyajin. Percebeu que não era apenas de dor, mas também exprimia uma grande frustração. Inevitavelmente, sentiu pena dele. Com esse tempo de convivência, ela já sabia mais ou menos o que ele sentia após cada sessão de treinos. Conseguia ler aqueles olhos negros que podiam dizer muito mais do que as palavras ásperas e de humor ácido do saiyajin.

Quando ele a olhou, tentou disfarçar o que sentia em relação a ele mas não adiantou.

― Dá pra parar de sentir pena de mim, ou tá difícil?

Ele havia percebido e isso só fazia com que seu orgulho ficasse ainda mais destroçado.

― Eu não preciso da sua piedade humana barata! – ele disse com voz gelada. – Eu não sou um pobre coitado!

Bulma suspirou:

― Me desculpa... Não pude evitar...

Ele ficou sem resposta. Viu no rosto dela um ar meio chateado. Ela deixou o prato na mesinha de cabeceira e já estava de saída. Foi quando sentiu algo puxar firmemente a barra de seu casaco. Olhou para trás e seus olhos se encontraram com os do saiyajin. Era justamente ele quem estava segurando ali no casaco.

― O que você quer, Vegeta?

― Quero respostas.

― Hã?

― Não se faça de surda, que eu sei que você entendeu muito bem o que eu disse.

― Você quer respostas de quê?

O olhar penetrante do príncipe ficou ainda mais agudo.

― Por que, Bulma... Por que não consigo odiar você?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O príncipe, a cientista e o plebeu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.