O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 23
Um príncipe isolado em seu próprio castelo




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Os dias se passaram e o inverno chegou com seu frio cortante. As árvores do quintal estavam totalmente nuas e poucos pássaros voavam pelo céu encoberto de nuvens cinzentas, trazidas pelo vento gelado que soprava de tempos em tempos. Bulma estava praticamente só em casa. Era fim de semana, os empregados estavam de folga e seus pais haviam saído de viagem.

E estar com Vegeta ultimamente era a mesma coisa que estar com ninguém.

“Droga...”, Bulma pensava, olhando a paisagem fria pela janela. “E eu tô nesse tédio hoje... Nada pra fazer...”

Ela foi para fora de casa para ver melhor a paisagem que se desenhava à sua frente. Vestiu o casaco marrom, o cachecol rosa choque e calçou as botas cor caramelo para complementar a calça jeans. Inevitavelmente olhou para a sua direita, mais precisamente para a nave Cápsula 3. Há dias que ele não saía de lá. Não saía nem mesmo para as refeições ou para dormir. Tudo o que Vegeta fazia, fazia era lá mesmo, até mesmo dormir. Parecia evitar o máximo possível o contato com ela e os pais.

Desde aquele dia...

“EU TE AMO, SEU CABEÇA-DURA! EU TE QUERO!”

Desde aquele dia em que resolveu pôr para fora tudo o que sentia, o saiyajin simplesmente não deu mais as caras na casa. Passou a ficar trancafiado na nave, não saindo de lá para mais nada. E, ainda por cima, conseguiu desativar a comunicação da nave. Os mini-robôs eram simplesmente jogados para fora da nave para serem levados ao laboratório e, depois de consertados, para serem depositados em frente à porta, prontos para serem usados novamente. As refeições eram quase da mesma maneira, mas o suficiente para um dia inteiro, diminuindo ainda mais o contato com quem estava no lado de fora.

Bulma, a princípio, não pensava em esperar algo em troca dele, mas também não esperava esse isolamento total. No máximo, esperava ser tratada com indiferença. Aquilo era bem pior. Porque, mesmo com a indiferença, ela poderia travar algum diálogo, nem que fosse com breves palavras ou um contato apenas visual durante as refeições. Só que do jeito que estava não havia contato verbal, muito menos visual.

Vegeta era agora um príncipe isolado em seu próprio castelo, Bulma concluiu.

 

*

 

Golpes velozes cortavam o ar. Socos e chutes iam contra o vazio. Saltava para o alto como se atacasse um adversário imaginário. Dava mais golpes contra o nada. Desceu e subiu, dando um salto mortal para trás e logo em seguida aterrissou. O suor escorria pelo rosto e pingava no chão. Enquanto recuperava o fôlego, calculava o quanto havia evoluído nos seus dias de isolamento. Sua expressão cansada deu lugar à irritação profunda.

Não evoluíra o bastante.

Como conseguiria ser um Super Saiyajin e superar Kakarotto, se nem sentia que estava perto de se transformar?

À sua irritação juntava-se também a frustração. Treinava duro e se feria muito, mas evoluía pouco não só durante esse tempo encerrado na nave, mas totalizando todo o tempo na Terra. Havia evoluído pouco demais para um guerreiro de linhagem superior. Já conseguia até sentir que poderia se superar, mas não alcançava essa superação. Ficava cada vez mais frustrado. Rangia os dentes e cerrava os punhos com força.

Sabia que existia um poder oculto dentro de si, mas não conseguia liberá-lo. Aquilo apenas o deixava ainda mais irritado consigo mesmo.

Pela janela da nave, viu Bulma no lado de fora, no quintal. O que ela estaria fazendo? Ele não sabia, mas pensar nela parecia tranquilizá-lo. No entanto, seu orgulho o obrigava a parar de pensar nela e a se encerrar em sua solidão. Ah, a solidão... Durante muito tempo, era uma companheira fiel do saiyajin, mas agora ela revelava outra faceta, o outro lado. Desde que passou a viver naquela casa de malucos sentia-se incomodado com isso. Embora não fosse tão visível externamente, no fundo isso o aborrecia. Os dias passavam e a solidão o oprimia de uma forma extremamente cruel.

Ficou ainda pior, desde que decidiu se isolar de tudo e de todos, principalmente de Bulma.

“EU TE AMO, SEU CABEÇA-DURA! EU TE QUERO!”

Por mais que tentasse, não conseguia apagar essa frase da sua memória. Era justamente essa frase da terráquea que fazia com que a solidão fosse ainda mais insuportável. Mesmo assim, precisava esquecer. Precisava continuar seu treinamento, tinha que ficar mais forte, custasse o que custasse. Fechou os olhos a fim de tentar mais uma vez esquecer tudo relacionado a ela. Era impossível.

Deu um soco num botão do painel que regulava a gravidade, ativando meia dúzia de mini-robôs que flutuavam no ar a uma força gravitacional aumentada em 400 vezes.

Os mini-robôs estavam agrupados de dois em dois. O saiyajin os observou atentamente e, logo em seguida, lançou uma bola de energia contra uma das máquinas. Esta jogou a energia para outra, que lhe devolveu instantaneamente, e a primeira máquina atirou direto em Vegeta, que conseguiu se esquivar por pouco.

Não. Não estava suficientemente forte e rápido.

Resolveu usar os seis robôs de uma vez. Lançou três raios, um para cada dupla. Houve o “bate-rebate” e o saiyajin recebeu de volta as rajadas, esquivando-se de todas com toda a velocidade possível. Constatou que esses mini-robôs agora tinham uma precisão surpreendente, mas constatou também que sua velocidade estava muito abaixo do esperado. Sentia-se cansado, mas não queria parar de treinar. Queria ficar mais forte e superar Kakarotto. Era só isso que lhe interessava, mais nada.

Vegeta atirou outras três bolas de energia nos mini-robôs. As máquinas repetiram o mesmo processo que fizeram antes e o alvejaram. Na hora de se esquivar, foi atingido no ombro, rasgando o uniforme e queimando a pele. Ardeu na hora.

― Maldição...! O que... O que está acontecendo comigo...?!

Dava sinais claros de esgotamento. Nos últimos dias sentia-se cansado com certa facilidade. Não só fisicamente, mas também mentalmente. Estava alcançando o seu limite e queria ultrapassá-lo.

Tornar-se um Super Saiyajin era a sua meta.

O seu rosto estava banhado de suor, que pingava no piso. Mesmo nessas condições, estava determinado a levar sua teimosia adiante, mesmo que Bulma se intrometesse.

Fechou os olhos. “Não! Não é hora de pensar... Nela...!”

Por que ela insistia em ficar em sua mente? Ela era fútil, mal-educada, insolente, irritante... Não passava de uma mera terráquea... Mas algo o atraía cada vez mais... Por quê? Tentava, inutilmente, se esquecer dela e concentrar-se em seu treino. Em vão. Era mais uma tentativa inútil. Bulma não o deixava em paz, mesmo ele tentando evitá-la. Tinha que parar de pensar nela, nem que fosse por apenas um minuto... Um mísero minuto...!

Tinha que esquecê-la de qualquer maneira!

Deixou sua energia explodir e lançou rajadas de ki contra os seus adversários mecânicos. Os mini-robôs lhe devolviam os ataques. Ao desviar-se, foi novamente atingido no ombro. Ardeu ainda mais o ferimento. Não conseguiu conter um urro de dor e acabou parando no chão. Seus reflexos estavam lentos. O ferimento do seu ombro ardia como fogo. O seu corpo não aguentava mais nenhum esforço. Estava no seu limite, mas queria continuar de qualquer maneira. Queria tornar-se um Super Saiyajin a qualquer custo e derrotar seu arquirrival. Não podia deixar que um soldado ralé de terceira classe como Kakarotto fosse superior a ele, o poderoso Vegeta, o príncipe dos saiyajins!

Em nome de seu orgulho, não podia deixar isso acontecer!

Seu corpo doía muito. Levantou-se com muita dificuldade. Estava quase sem fôlego e sem forças para continuar. Lutava para não desmaiar. Não queria cair, queria prosseguir. O seu orgulho não permitia que ele fraquejasse.

Lançou outra rajada de ki contra os mini-robôs e estes lhe devolveram os ataques. Ele revidou e conseguiu estraçalhar dois. Esses dois acabaram caindo em cima dos controles de gravidade e provocando um curto-circuito neles. Os “pipocos” acabaram desviando a atenção do saiyajin, que tinha acabado de atacar os dois robôs restantes. A distração durou um ou dois segundos, mas o suficiente para acontecer-lhe o pior. Os robôs acabaram atingindo Vegeta em cheio, sem chance alguma de defesa. O ataque foi forte o suficiente para jogá-lo contra uma das paredes da nave.

Depois desse impacto ele acabou se estatelando no chão. O mostrador do painel de controle passou a indicar uma gravidade aumentada a nada menos do que...  850 vezes!

Seu corpo estava muito ferido pelo último ataque recebido, doía de forma extremamente cruel. Estava muito fraco. O peso exercido pela gravidade aumentada em 850 vezes o prendia no chão, parecendo que iria afundar com o piso. Estava quase sem ar e prestes a sucumbir à força insuportável de toda aquela gravidade.

Não tinha ninguém para acudi-lo e, mesmo que tivesse, não resistiria a essa força que o deixava no chão. Mas não podia se deixar abater. A dor dominava seu corpo ferido pelo ataque que recebera dos robôs, agora também esmagados por aquela gravidade monstruosa. Respirando com extrema dificuldade, conseguiu se arrastar até os controles da nave. Tentou se levantar, ficando de quatro. Mas acabou no chão outra vez, os braços e as pernas não aguentaram sustentá-lo. Sua respiração, entrecortada, ficava cada vez mais difícil. Tinha que se levantar de qualquer maneira. Precisava desligar ou, pelo menos, botar aquela coisa para reduzir a gravidade ao nível normal.

“Droga! Isso é forma de se sobreviver?”, pensou. “Um maldito botão para salvar a minha vida...”

― Isso que dá... Baixar... A guarda... – disse dando bronca em si mesmo. – Não... Consigo... Me... Mexer...

Sua voz saía sufocada. Não entrava ar suficiente em seus pulmões. Parecia sentir o bafo gelado da morte por perto.

― Preciso... Preciso... Alcançar...!

Tentou, de novo, se desgrudar do chão. As mãos espalmadas no chão e os braços esticados conseguiram mantê-lo longe do chão, de quatro. Com uma das mãos, agarrou a mesa dos controles de gravidade. Conseguiu ficar de pé, mas com os braços esticados e as mãos espalmadas no painel de controle.

O botão estava localizado à direita do indicador de gravidade que ainda marcava 850 G. Levantou a mão e deixou-a cair sobre o botão com uma grande força gravitacional prensando-a violentamente contra ele.

Ouviu uma voz artificial dizer:

― Situação atual: Gravidade aumentada em 850 vezes. Restabelecendo força gravitacional normal. Gravidade normal restabelecida.

O indicador, que antes marcava 850 G, passou a marcar 1 G.

Vencido pela exaustão, Vegeta deixou-se cair no chão sem nenhuma resistência. Sua respiração, embora ofegante, voltava ao normal. Mas não conseguia mais mexer nem um músculo do corpo completamente tomado pela dor e pelo cansaço.

― Por quê...? – perguntou-se, com um fio de voz. – Por que... Ainda não consigo... Superar aquele... Debiloide do Kakarotto...?

Sua visão se turvou e seus sentidos se foram. E ali ficou, desacordado e sozinho.

Como um príncipe isolado em seu próprio castelo.


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Notas finais do capítulo

Continua no próximo capítulo...



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