O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 18
Uniforme novo/Int.: Durma-se c/ um barulho desses!


Notas iniciais do capítulo

Uniforme novo - Intervalo: Durma-se com um barulho desses!

Vegeta só queria uma boa noite de sono, mas algo dizia que ele não dormiria tão cedo...



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Vegeta, pregado de cansaço, subiu as escadas quase se arrastando como um dos zumbis daquele filme que viu no cinema dias atrás. Estava exausto do treinamento do dia. Não havia treinado tanto a ponto de cair cheio de ferimentos, mas estava cansadíssimo. Depois de Bulma tirar suas medidas, teve muito trabalho para recobrar a sua concentração. E quando finalmente conseguiu se concentrar nem viu o tempo passar.

Quando percebeu, já passava de duas e meia da madrugada. Foi sorrateiramente até a cozinha, comeu um lanche improvisado e decidiu tomar um bom banho de chuveiro quente a fim de dar uma relaxada em seus músculos tensos. A noite estava meio fria, o inverno estava perto de chegar. A água quente caía sobre o seu corpo agora mais relaxado. O vapor tomava conta do banheiro e parte dos cabelos encharcados caía por sobre a testa criando uma “franja”. O espelho refletia a cara de um saiyajin acabado e quase morto de cansaço.

Nada que uma boa noite de sono não resolvesse.

Após se enxugar, vestiu um pijama curto e foi afundando na cama, embaixo do edredom. Para se refazer dessa última sessão de treinamento teria que dormir até mais tarde. Talvez até umas sete horas da manhã, já que ele costumava acordar às cinco em circunstâncias normais. Mas não conseguiu pegar tão facilmente no sono... Aquela cena das medidas ainda não saía da sua cabeça. Muito menos a Bulma. Tinha quase certeza de que sonharia com ela de novo...

... Se não tivesse um chato barulhando no lado de fora!

― BULMA! BULMA! VOCÊ TÁ AÍ?! – uma voz gritava a plenos pulmões.

Vegeta tentou ignorar os gritos e tentou dormir. Mas eles não paravam.

― BULMA! ACORDA, EU PRECISO FALAR COM VOCÊ!

O saiyajin se virou de bruços a fim de tampar os ouvidos com o travesseiro, principalmente depois de reconhecer de quem era aquela voz incômoda. Mas a voz não parava de chamar Bulma.

― ACORDA, BULMA! ACORDA!

“Eu não acredito!”, ele pensou ainda com o travesseiro sobre a cabeça. “Como esse verme inútil tem coragem de vir aqui a esta hora?”

Para piorar um pouco mais a situação, acabou se lembrando de que Bulma tinha um sono muito pesado. Como os terráqueos diziam, ela dormia feito um urso... Apesar de ele ainda não saber o que diabos era um urso. E claro, ele não admitiria para ninguém que não sabia o que era um urso!

Mas de toda forma ela não acordaria tão fácil e, pelo jeito, aquele verme imbecil continuaria a chamá-la sem parar.

― BULMA, EU SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ! POSSO SENTIR O SEU KI! VEM CONVERSAR COMIGO!!

Pelo menos uma vez na vida queria não ser um saiyajin, mesmo que fosse se arrepender depois de tamanho “sacrilégio”. A “blasfêmia” que estava pensando era perfeitamente justificável. Pelo menos um humano, por exemplo, não tinha um sentido de alerta tão aguçado como o de um saiyajin.

Já no outro quarto, finalmente Bulma acordava depois de tanta insistência de quem a chamava.

― Ah, eu não posso acreditar nisso... – disse esfregando os olhos  com voz sonolenta. – Será que eu tô sonhando...?

― BULMA, VEM CONVERSAR COMIGO, PRECISO TE VER! É URGENTE!

Ela massageou as têmporas.

― Não, eu não tô sonhando... Isso só pode ser um pesadelo... – olhou para o despertador do criado mudo. – Yamcha fazendo esse barulho, e logo às duas e cinquenta da manhã...!

 

*

 

Yamcha estava esperançoso em ver Bulma sair para a sacada do quarto. Estava louco para fazer-lhe uma surpresa, acreditando piamente na reconciliação. Tanto é que até juntou dinheiro para alugar novamente a mesma roupa que usara na festa dos pais dela. Sentiu um pequeno ki se mover. Viu uma luz se acender na janela e reconheceu a silhueta feminina aproximar-se da porta que dava para a sacada.

Era ela, e ele mal podia se conter de alegria nessa hora. Mas não por muito tempo.

― O que você quer? – ela perguntou toda desgrenhada e com uma cara que não estava lá essas coisas.

― “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente;” – ele recitou. – “É um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer...”*

Bulma logo ficou surpresa com a visão que tinha: Yamcha estava vestido como um príncipe, com o mesmo traje do dia da festa e ajoelhado como um ator de peças de Shakespeare.

― Bulma – ele prosseguiu. – Eu sei que cometi o pior erro de toda a minha vida, mas quero te pedir mais uma chance pra te mostrar o quanto tô arrependido e o quanto eu quero recomeçar a nossa história.

A cientista estava paralisada. Ele estava elegante, verdade, mas... Não conseguia sentir nada por ele. Yamcha já não lhe inspirava mais confiança. Ela ainda estava ferida por causa dele, apesar de aparentemente continuar a mesma. A lembrança daquela noite da festa, o flagra e o rompimento retornaram com força à sua mente. Depois, o “gelo” que lhe dera no dia seguinte, quando ele havia ido até sua casa para devolver-lhe a mesma roupa que ele usava naquele exato momento. Aquela mágoa, adormecida em seu coração, voltava à tona.

E a cena de Yamcha aos beijos e amassos com Lina reaparecia diante de seus olhos como num filme que se repetia num loop infinito.

Ela fez um grande esforço para conseguir aparentar indiferença, mesmo que por dentro parte de seu coração ainda estivesse despedaçada pela decepção. Na verdade tinha ainda vontade de chorar, porque seu peito voltava a doer. Tentava a todo custo ocultar a sua frustração amorosa para os outros e encarar aquele episódio como apenas uma página virada em sua vida.

Mas era difícil. Ainda se lembrava do quanto havia chorado depois do rompimento após o fim da festa. Aquilo ainda doía.

― Yamcha, eu...

― Bulma – ele disse flutuando diante dela. – Se você topar voltar comigo... Pode marcar a data do casamento. Estou disposto a ficar com você.

Nisso, ele abriu uma pequena caixinha preta. Dentro dela estava um delicado anel de compromisso. A cientista ficou impressionada com a atitude do lobo do deserto, mas seu coração já não batia forte por ele como antigamente. Não. Os tempos eram outros e ela já não acreditava mais em nenhuma palavra dita por ele. Nem mesmo em uma letra.

― Por favor, Bulma, volta comigo... Vou fazer o possível pra te fazer feliz.

O rosto do ex-ladrão se aproximou do dela. Queria beijá-la como prova de que estava disposto a recuperar a confiança perdida. Toda essa cena estava sendo presenciada por Vegeta, que estava quase borbulhando de raiva apenas com a simples presença daquele “verme”. Cerrou os punhos e saiu voando pela janela do quarto de hóspedes em direção à sacada do quarto vizinho, onde se desenrolava toda aquela cena que fazia com que seu estômago se revirasse.

Num movimento rápido o rosto de Yamcha recebeu um forte golpe.

― O... O quê...?! – ele perguntou totalmente atônito. – Por que você fez isso?!

Yamcha tinha tomado um belo tabefe de Bulma, segundos antes de Vegeta descer na sacada.

― O que você pensa que sou pra me comprar com um anel e me prometer casamento? Uma garantia de que vai ser sustentado pelo resto da vida? Deixa de ser mentiroso me prometendo o que você JAMAIS vai cumprir, Yamcha! Você NUNCA será capaz de me fazer feliz... Nunca!

― Bulma...

― Desaparece daqui, Yamcha... Não quero mais ver essa sua cara de idiota tão cedo!

Bulma simplesmente deu-lhe as costas e entrou no quarto. Mas Vegeta permanecia lá com os olhos faiscando de raiva. Yamcha desceu à sacada a fim de seguir Bulma, mas encontrou na sua frente o olhar gelado do saiyajin.

― Sai da frente, Vegeta. Preciso falar com a Bulma.

― Fica longe dela. – o príncipe simplesmente rosnou.

― Que direito você tem pra me dizer isso?

― O mesmo direito que tenho pra te transformar em pó!

― Não tenho que ficar aqui falando com você. Me dá licença, eu quero falar com a Bulma!

― Ela não quer falar com você, verme!

― Como tem tanta certeza?

― É cego? – Vegeta perguntou com sarcasmo. – A menos que aquele tapa seja uma demonstração terráquea de afeto, acho que ela não quer te ver.

― Já falei pra você sair da minha frente! Não tô pra brincadeira!

― Não vou sair! Não dou atenção ao que vermes como você dizem!

― Eu não sou um verme!

― Vou avisar pela última vez... – Vegeta dizia cada palavra de modo assustador. – Fica longe dela, ou vou te mandar pro inferno!

Yamcha ignorou o aviso do saiyajin e tentou avançar, mas se deu muito mal. Vegeta simplesmente aumentou seu ki, gerando uma fortíssima rajada de vento que jogou o ex-ladrão pra fora da sacada.  Yamcha ficou impressionado com o grande poder de Vegeta, mas ficou ainda mais assustado quando viu uma pequena, mas significativa mudança no saiyajin. Por um breve instante, os olhos negros dele ficaram verdes e depois voltaram à cor normal.

Depois de se recuperar da queda inesperada e da surpresa, o ex-ladrão se levantou e olhou para a sacada. Não havia mais ninguém no lado de fora. Humilhado, percebeu que as chances de reconciliação já chegavam a quase zero e resolveu ir embora.

Mas o mais impressionante fora a reação de Vegeta. Por que ele queria tanto “defender” Bulma?

“Não...”, ele pensou. “Só pode ser brincadeira... Vegeta, apaixonado pela Bulma? Não... Não dá pra acreditar nisso! Aposto que ele só quer usar ela!”

Com a cabeça lotada com esses pensamentos, só lhe restou ir embora. Já tinha se metido em confusão demais para uma noite só.

 

*

 

O seu coração ainda doía. Aquele idiota cutucara a sua ferida outra vez, justo quando ela começava a parar de doer. Mas agora voltava a doer muito. Quem Yamcha pensava que ela era? Uma idiota qualquer como a tal da Lina, que tinha pouco cérebro e muito silicone? Uma poupança vitalícia? Ainda se sentia usada por ele durante todos aqueles anos. E o fato de se lembrar disso fez com que as lágrimas viessem aos olhos e, inevitavelmente, deslizassem pelo rosto.

Aquilo ainda não havia cicatrizado. Talvez só se cicatrizasse com o tempo.

Nem percebeu direito a confusão envolvendo Vegeta e Yamcha. Mas acabou vendo o saiyajin perto da porta da sacada e em vão enxugou as lágrimas.  Ele já havia visto tudo.

― Por que ainda chora por esse verme?

Ela não respondeu, seus olhos azuis apenas encararam os olhos negros dele. Ele, por seu turno, percebeu uma nuvem de tristeza naquele olhar. Secou, meio que desajeitadamente, o rosto dela com os dedos. Depois disso sumiu pela sacada, deixando Bulma sozinha no quarto um pouco mais aliviada, embora surpresa.

― Obrigada... Eu acho!


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Notas finais do capítulo

*Trecho do Soneto de Camões.

Continua...

Próximo capítulo: Capítulo 19 - Uniforme novo: Enfim, pronto!

Até lá!