O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 10
Depois da festa - Parte I




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Depois de desaparecer do salão de festas, Vegeta sentiu necessidade de tomar um pouco de ar e precisava ficar o mais longe possível de qualquer contato com humanos. Voou a toda velocidade até uma colina bem distante de qualquer civilização, onde aterrissou e se sentou sobre a relva.

Os últimos momentos haviam sido a gota d’água para começar a pôr à prova sua sanidade.

Naquela hora se sentia o sujeito mais ridículo de todo o universo. Como havia conseguido chegar àquele ponto, de se deixar ser dominado por sentimentos tão idiotas? De se deixar contaminar com atitudes tão patéticas? Já não podia descer mais baixo, estava no fundo do poço, ele pensava. A pior coisa que podia acontecer a um guerreiro saiyajin era ter “sentimentos”. Se para qualquer saiyajin isso já era ruim, pior para alguém da elite.

E pior ainda para um príncipe saiyajin como ele.

“Aonde vim parar?”, começou a pensar. “Moro de favor, uso roupas que não são minhas, dependo de seres insignificantes para ficar mais forte... E agora quase enlouqueço por causa de uma terráquea maluca! Não podia ser pior!”

― Às vezes, acho que era melhor ter ficado morto. – pensou em voz alta. – Não precisaria passar por tudo isso.

Pensava seriamente se o fato de permanecer na Terra seria o começo de sua derrocada. Se bem que, na verdade, sua derrocada havia começado mesmo quando seu planeta fora destruído e desde então vivia como um mercenário nômade a serviço do carrasco de sua raça. Isso, por si só, já era um golpe duro para seu orgulho. Mas o golpe mais duro ele recebeu na Terra: derrota para um saiyajin de classe inferior. Depois, a queda para o fundo do poço.

Agora, isso... Cair diante de uma fêmea de raça inferior! Onde havia surgido uma fraqueza tão idiota como essa? Odiava admitir, mas não sabia. Só sabia que essa fraqueza estava nele. Desde aquela trombada havia perdido completamente o foco de seu treinamento. Bulma estava na sua cabeça o tempo todo e o fazia se esquecer do verdadeiro objetivo de seus treinos.

Tinha que voltar a treinar com o claro objetivo de enfrentar os androides e depois acabar com Kakarotto. Depois de tudo isso, destruiria a Terra e desapareceria espaço afora.

Será?

Uma interrogação brotou na sua cabeça. Será que teria coragem de destruir a Terra depois de derrotar os androides e Goku?

Outra vez a imagem de Bulma veio à sua memória. Será que não conseguiria mais apagá-la da sua mente?

Definitivamente estava se sentindo um completo idiota. Mas não podia negar que aquela mulher de cabelo azul mexia muito com ele. Não só no sentido físico, mas parecia que ele e a terráquea tinham muita coisa em comum no que se referia à personalidade. Sem contar que ela era a única que batia de frente com ele sem medo.

Já era raro algum amigo de Kakarotto não o temer... Tirando Kakarotto, é claro. A única que pouco se lixava para o poder que ele tinha era Bulma. Ela, sim, o desafiava sem medo. E ganhava em boa parte das vezes.

O que era isso que sentia, só de pensar nela?

Toda vez que a via era obrigado a engolir saliva e se acalmar. Se a via com o namorado – agora ex-namorado – ficava com raiva. E se sabia que o tal verme aprontara com ela, se enfurecia. E quando discutia com ela, num verdadeiro “duelo verbal”, sentia-se bem.

Cada vez menos entendia a si mesmo... E ao seu corpo. Há meses que seus hormônios fervilhavam dentro de si. No dia da fatídica trombada com Bulma, eles ficaram tão à flor da pele que se não tivesse se controlado no último instante, teria cometido uma grande loucura. Sentia que seus impulsos ficavam mais fortes a cada dia. Às vezes não conseguia controlar suas próprias ações.

Como há pouco.

Durante a festa ele tivera uma vontade enorme de encontrar Yamcha para pelo menos chutar-lhe o traseiro, principalmente depois de ver Bulma aparecer transtornada. Depois, ele a observou durante todo o tempo, de seu canto, distante de todos. Tinha visto que ela estava totalmente diferente de quando começou a festa. Sabia que ela se sentia totalmente solitária... Da mesma forma que ele em seu canto.

Era estranho, mas sentia que algo invisível o atraía a ela. Não era pela questão física, embora tivesse motivo para tal. Não. Realmente não era a questão física que mais lhe chamava a atenção... Ou seria? Agora é que ficava ainda mais confuso. E a coisa piorou com aquele beijo. Detalhe: era o seu primeiro beijo em toda a sua vida! Naquela hora, uma onda de novas sensações o invadira sem pedir licença, tudo era novo para ele.

Praticamente tudo.

Desabotoou a gola do uniforme azul-marinho, que tanto lhe caíra bem e se deitou na grama. Olhou para o céu, mais especificamente para as estrelas. Por quantos sistemas solares havia passado antes de chegar para esse da Galáxia Norte?

Vários, com certeza.

Permaneceu por vários minutos olhando para o céu estrelado, em seguida se levantou. De repente, sentiu uma forte dor na região das costelas.

― Argh! Nem me lembrava disso! Por que resolveu doer só agora?

Engraçado... Enquanto estava naquela festa nem se lembrava do ferimento. Nem mesmo quando dançara com Bulma. Pelas suas contas, ainda faltava pelo menos um dia para se recuperar por completo e poder retomar seu treinamento. E ainda tinha que esperar pela boa vontade da terráquea e do professor de consertar a nave, e desligar a parte elétrica dela da rede da casa.

O velho e suas maluquices... Aquela doida tinha a quem puxar.

A “doida” voltou mais uma vez à sua mente. Os sedosos cabelos de cor azul-turquesa, o nariz arrebitado, o corpo bem-feito... Os olhos azuis...

Azul era a sua cor favorita.

“Essa não! O que eu tô pensando? Não tenho que deixar esses sentimentos idiotas me dominarem... Não... Não posso...”

Levantou-se e apertou com força os punhos, enquanto o vento soprava e agitava a vasta cabeleira negra do saiyajin.

― Não vou... Não vou cair nessa! Eu sou o príncipe dos saiyajins, e não pretendo cair nessa! Sentimentos são para os fracos! Não vou me deixar levar por essas sensações patéticas!

Por mais que não quisesse, sentiu necessidade de voltar para a casa de Bulma. Embora não tivesse lutado nem treinado, estava cansado. Ainda não estava totalmente recuperado da última sessão de treinamento. Precisava de mais descanso. Aumentou o ki para voar mas sentiu novamente a dor de seu ferimento. Detestava admitir, mas tinha que continuar pegando leve até estar cem por cento recuperado.

Já eram altas horas da madrugada. Entrou na casa pela janela do seu quarto, que ainda estava aberta. Começou a desconfiar que alguém o esperava. Atravessou o quarto, saiu pelo corredor e foi até o quarto de Bulma.

Viu a porta entreaberta.

Abriu mais um pouquinho, bem devagarinho. O local estava fracamente iluminado por um abajur, que – supôs – ela havia se esquecido de apagar. Olhou para a direção da cama e a viu deitada, já dormindo profundamente. Instantes depois, ela se virou e ficou toda largada, ocupando todo o espaço a que tinha direito da grande cama.

O saiyajin logo fechou a porta, deixando do jeito que havia encontrado e resmungou enquanto ia para seu quarto:

― Ela é estranha até na hora de dormir... Eu, hein?


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