Passado escrita por Amorita


Capítulo 10
Hans Part 2: Segredos de Família


Notas iniciais do capítulo

Yayy!!! Mais um capítulo pra vocês *--*
*Desvia das Pedras, varinhas, canetas-espadas, ou sei-lá-mais-oquê*

Ok, já está se tornando monótono, mas eu realmente peço desculpas por ter demorado tanto. Eu realmente não achei o capítulo que eu tinha pronto legal. Precisei refazer, e, pra piorar a minha situação, fiquei sem inspiração por uns meses.. E realmente não fiquei muito contente com este :P
AVISO ANTES DE COMEÇAR:
Lá para o final do capítulo, teremos uma cena, um pouco.. anh.. forte. Por isso,recomendo que as pessoas mais sensíveis não leiam.
Enjoy!



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FAMÍLIA

Família.
Família...
Todos temos,
Dela viemos.
Nela nascemos...
Então crescemos.

Para uns,
a família é só o pai,
para outros, só a mãe,
muitos só têm o avô...
Mas é família:
sinônimo de calor!

Tem família
que é completa,
repleta,
discreta,
seleta,
aberta...

Outra,
é engraçada,
atiçada,
afinada,
engrenada,
esforçada,
empenhada...


Família...
Família é assim:
lá não temos capa
– nada nos escapa!
Máscaras, como usar?

Não, não dá prá enganar!
Às vezes queremos fingir,
mas isto é apenas mentir.. {...}

Noélio Duarte"

“ E quem não tem família? Como faz?” O ruivo perguntou a si mesmo. Para ele, ter a família que tinha era o mesmo que não ter família. Ele apenas compartia o mesmo teto que eles. Não se considerava nem um pouco um “legítimo Westergaard” Era como se fosse a gata borralheira daquele livro que lera outro dia.. “Como se chamava mesmo? Oh sim! Cinderella.” A diferença era que ele era um príncipe, e não precisava limpar tudo como a pobre coitada. No entanto, era tratado da mesma forma que Ella. Hans as vezes pensava em fugir de casa. Mas fugir? Fugir pra onde? Não ele não teria a audácia de fugir. Não só por não tinha pra onde ir, mas porque,mesmo que não quisesse admitir, ainda tinha uma mínima esperança guardada dentro de si. Sim, ele ainda tinha esperança.Tinha esperança de algum dia conseguir o afeto que tanto desejara. No entanto, a cada dia essa esperança morria, demorada e dolorosamente. Então o príncipe chegou a conclusão de que, “ Se eles dão as costas pra mim, eu dou as costas pra eles” ...

Hans era um típico rapaz em seus plenos quatorze anos. Seus olhos eram verdes vivos como esmeraldas, idênticos aos da mãe, e seu cabelo ruivo como os do pai. O garoto ainda tinha leves sardas, um corpo magro, e tentava criar costeletas. O que parecia ser uma missão impossível.

“ Aceite Hans, você não é homem o suficiente para ter costeletas!” Harry havia lhe falado um dia desses.

“Verdade, seu rosto só tem penugem, seu palito de fósforo!” Acrescentou Henry com desdém. Hans já se acostumara, Harry e Henry nunca mudariam. Sempre teria essa personalidade travessa..

O ruivo agora para se divertir costumava ler os livros de poesia largados por aí em algum cantinho da biblioteca. Ele tinha fascínio pelas coisas despercebidas, que as pessoas jogavam fora por acharem inúteis. “Mal sabem eles os tesouros que se encontram por aí” Ele costumava pensar.

Não sabia o porque de pensar assim, mas pensava. Talvez pelo fato de Ele ter sido jogado fora desde que nasceu. E, os livros de poesia eram uma dessas coisas. Largadas por aí. Havia de todo tipo, desde de Sonetos de Shakespeare até os mais simples. E cada uma destas obras possuía uma beleza diferente. Ele gostava de diversos tipos de poesia e poemas, desde os que falavam sobre coisas simples da vida, até os que nos fazem refletir. Seus dedos ágeis passavam pela folha amarelada pelo tempo, e seus olhos iam da direita a esquerda continuamente, devorando cada letra, cada palavra.

O livro era de aspecto velho, com a capa de um branco muito encardido, e por letras douradas muito gastas, quase invisíveis, o título “ Os 103 melhores poemas e poesias do século XVI” poderiam ser lidos em sua capa. Havia também uma dedicatória bem na primeira página, que dizia :

“ Para a minha amada. Quando o ler lembre-se de mim.

19/03/ 1589.”

Hans olhou surpreso e incrédulo para data. Aquele livro sem dúvidas estava largado por aí a décadas, literalmente. Com certeza pertencera a um membro da família muito antigo, e como sua mãe, Catharina, sempre resmungava dizendo que não suportava ler, e seu pai, Alexander, só se interessava por livros de domínio mundial, história, coisas do gênero,e achava que poemas e poesias não eram coisas que um homem devia saber. Que era apenas ” Besteira de mulher”, seria mas do que lógico o livro estar largado as traças.

Para ser sincero,a biblioteca inteira vivia deserta, sendo os únicos que a visitavam constantemente, Charles, por causa de suas pesquisas ciêntíficas, e algumas vezes, Danillo, que Hans já pegou no flagra se agarrando com mulheres bonitas. “ A minha cabeça dói até hoje por isso” Ele pensou lembrando-se da surra que levara do irmão, logo em seguida balançando a cabeça para afastar tais pensamentos. Voltara a folhear o livro de poemas a procura de um interessante, que ele ainda não lera. Uma leve brisa de verão adentrava seu quarto e balançava as cortinas de veludo vermelhas, vez ou outra tornando-se forte a ponto de bagunçar-lhe os cabelos. Ele, particularmente amava aquilo.

. “Toc Toc”

Foi o barulho que o tirou de seus devaneios, o fazendo olhar em direção a porta curioso para saber quem é, e após alguns segundos, identificar que a batida era de Charles o quinto irmão, e voltar a concentrar-se no livro de novo. Não é que ele não gostasse do irmão, apenas não gostaria de vê-lo agora. Normalmente sempre que o mesmo vinha para o seu quarto era para pedir algo..

“Pode entrar”

Hans falou com um certo melancolismo na voz, e Charles, assim como era de se esperar entrou. Charles era alto, magricelo, usava óculos, possuía cabelos negros e olhos azuis, como os de sua falecida avó, Petúnia.

– Bom dia Hans! – O menino cantarolou contente, enquanto Hans resmungou algo ininteligível..

– Bom dia

– Nossa que bom dia mais seco

– Se quiser algo mais molhado sugiro ir procurar na cozinha.. – Ele falou sem tirar os olhos do livro

– Credo, que bicho o mordeu hein? – Charles falou parecendo ligeiramente ofendido pelo comportamento rude do mais novo.

– Caso não tenha reparado, estou de castigo. – Ele falou finalmente encarando o irmão pela primeira vez no dia. Havia até se esquecido que estava de castigo. Na verdade, de tanto ficar de castigo por armações de Henry e Harry, e por qualquer besteira, ele já havia se acostumado. – Agora, será que dá pra falar logo o que você quer?–

– Ei! Uma pessoa carinhosa como eu não pode simplesmente querer ver como o seu querido irmão caçula está?–

– Não no seu caso..

– Assim você me ofende! Ora, onde está a sua sensibilidade Hans Westergaard?– Por um momento Hans pensou realmente que Charles só queria ser gentil. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios, assim que ele pensou “ Ele só quer ser Legal” Até o mais velho falar um..

– Mas já que perguntou.. Será que poderia me ajudar com uma coisa? – Hans bufou irritado.O sorriso foi embora. Dando lugar a uma cara mal humorada.

– Ah vai, fala logo! – O ruivo revirou os olhos e levantou-se de sua cama parando de frente ao irmão.

–Simples! Preciso que pegue algumas coisa para mim, no porão e..

– Sem chance! Papai disse que o porão é uma zona proibida! E se ele descobrir, meu castigo só vai aumentar. – Hans falou logo cortando Charles. Ele não era burro. É lógico que aquilo iria sobrar pra ele..

– Certo, então vou contar o seu "segredinho" pro papai. – Charles falou virando-se e indo em direção a porta pronto para sair do quarto. Hans no entanto ficou curioso, e como Charles já sabia o que ia acontecer começou a contar baixo um “ Três… Dois… Um”…

– Espera!

– Eu sabia que ele não iria aguentar – Murmurou dando uma leve risada. Uma coisa que Charles sabia fazer bem era manipular as pessoas para conseguir o que queria... – Pois não?

– Hum.. Você falou algo sobre segredos? que segredos?– Hans falou arqueando uma sobrancelha curioso.

– Ah, nada de demais! Apenas que você derramou tinta na tapeçaria da vovó.– Hans observou-o incrédulo , e não conseguiu fazer mais nada se não caiu na gargalhada. O mais velho porém já estava se cansando daquilo. Revirou os olhos impaciente e bufou irritado. – Quer parar de rir? –

– Ora.. – Ele falou se recuperando enquanto secava uma lágrima com o dedo indicador – Eu não derramei tinta nenhuma!–

– Você não! Mais eu posso cuidar deste pequeno detalhe a qualquer momento.

– Mas você não teria provas contra mim!

– Desde quando papai precisou de provas para te punir?

– Você não ousaria..

– Ah eu ousaria sim. – Charles respondeu com um sorriso maldoso.

– E o que quer que eu pegue no porão, afinal? – O ruivo perguntou com um semblante impassível, arqueando levemente uma das sobrancelhas. Pelo que o mesmo sabia, o porão estava cheio de tralhas e coisas inúteis..

– Preciso achar o antigo telescópio do papai! –

– Um telescópio? E o que aconteceu com aquele que o papai importou da Alemanha? – Hans perguntou enquanto cruzava os braços.

– Ora,Eu o quebrei acidentalmente! E então, temos um acordo? – O mais velho estendeu a mão sorrindo. O mais novo sem exitar a apertou.

– Certo.. Mas, como vamos chegar no porão? Quero dizer.. A entrada está sendo vigiada, esqueceu? – O ruivo de olhos verde-esmeralda perguntou confuso.

“Nem todas as entradas estão bloqueadas..”

***

“ No que eu fui me meter?” Pensou o jovem príncipe. Aquele plano tinha muita chance de dar errado e se seu pai descobrisse que ele havia ido a “zona proibida” do castelo, e pior, enquanto estava de castigo ele não iria aliviar… Receberia uma enorme punição, tinha certeza. Ainda não havia acreditado em como Charles conseguiu convencê-lo a fazer aquela loucura… Como a porta do porão estava trancada e a poucos metros de distância dela haviam guardas assegurando que ninguém entraria no local, os meninos tiveram que procurar uma passagem secreta. Charles havia conseguido a informação com Henry, que sabia de todas as passagens, becos ou qualquer coisa que aquele castelo escondesse. Havia um buraco pequeno, no exterior do castelo, que dava para o porão. Porém, o local era muito pequeno, e apenas alguém suficientemente pequeno conseguiria passar.. É lógico que este alguém seria Hans. O jovem sempre fora pequeno para a idade. Lúcia a empregada, costumava dizer que isso era falta de nutrientes, que o menino precisava comer mais. E que com o tempo ele estaria grande também, assim como os outros príncipes…Com um pouco de dificuldade, o ruivo agachou-se e comprimindo-se pela passagem estreita, conseguiu passar. Ouvindo um “Viva!” de felicidade vindo de Charles.

– Muito bem, aqui está a lamparina á óleo! O telescópio está desmontado dentro de uma maleta, provavelmente próximo a algumas caixas com tralhas inúteis…–

– Nossa, ajudou muito Charles! Advinha, o porão é cheio de caixas com tralhas! – Falou o menino irônico.

– Ah vá logo! De acordo com Henry, quando ele esteve aqui á uns quatro anos, ele o viu próximo a escada da entrada. – E assim o menino, virou-se estressado, não antes de resmungar algo sobre Charles só o meter em confusão. Chegando a escada próxima a entrada, ergueu a lamparina para tentar ver o conteúdo das inúmeras caixas por alí jogadas… Porém única coisa que viu foi, livros velhos, roupas rasgadas, uma boneca, mapas, retalhos de tecidos, um rato morto “ Eca!” até seus olhos pararem em algo que ele nunca esperar encontrar ali. Havia um pequenino berço de madeira. O berço era branco e muito empoeirado. Parecia estar ali há uns treze anos. Nele haviam detalhes de corações esculpidos na própria madeira, um cobertor aparentemente nunca usado, cor-de-rosa, e, o que mais o surpreendeu. O nome Hanna Esculpido.

"Hanna?" Pensou consigo mesmo.

“ Ande logo Hans” O mais velho falava impaciente.

“ Ora, cale a boca Charles!” Ele berrou. Esfregou um pouco o berço no local onde estava escrito o nome para ter certeza do que estava vendo. Não tinha como estar errado. O nome escrito alí simplesmente era Hanna. Ele voltou de seus pensamentos quando Charles disse que se demorassem mais poderiam ser descobertos. Então seus olhos fizeram uma busca rápida pelo local,até achar uma maleta preta meio aberta, algo semelhante a ouro reluzia ali dentro. O jovem logo percebeu que se tratava do telescópio que Charles tanto queria, e com um movimento rápido fechou a maleta e foi em direção a saída. Quando estava pronto para sair, ouviu uma voz familiar e voltou para dentro.

– Charles? – Era Willian o oitavo filho. Tinha dezesseis anos, tinha cabelos negros que batiam nos ombros, normalmente presos para trás, um leve barba e olhos acinzentados meio tempestuosos. – O que faz aqui? pelo que eu saiba nunca gostou muito de ficar nos jardins do castelo… – Willian falou aproximando-se do irmão, que parecia ter visto um fantasma. Um sorriso torto foi posto em sua face, enquanto o mesmo ficou na frente do buraco na intenção de que Willian não vesse Hans. Will era muito correto, e nunca permitiria que os dois aprontassem algo do tipo. Se ele descobrisse com certeza contaria ao rei Alexander. Infelizmente, a cara de culpado de Charles praticamente gritava dizendo que ele estava aprontando. O mais novo desconfiado arqueou uma sobrancelha esperando uma resposta coerente. Inúmeras desculpas passaram pela cabeça do rapaz, cada uma mais capenga que a outra. Hans apenas revirava os olhos com a atitude do menino “ Humpf! Amador, ele pode até ser bom em manipular as pessoas mas, sem dúvidas mentir não é seu forte..”

– Er.. E-eu.. Bem.. D-digamos.. Er.. – Falou se embolando mais ainda – Eu… Vim ver o céu! O dia hoje está esplendido não? – Respondeu por fim. Hans apenas levou a mão a cabeça constrangido pelo ocorrido. Deste jeito era lógico que seria descoberto!

– Hm hum, sei…– O mais novo falou, observando cada movimento do mais velho.

– Eu falo a verdade! Juro! –

– Olha, eu acho que.. – O moreno iria falar algo, provavelmente acusando o irmão, mas um barulho o fez virar bruscamente e ver Henry e Harry montados nos cavalos. Era lógico que eles não poderiam montar naqueles. Eram os cavalos de seu pai. O mesmo correu na direção dos dois logo os repreendendo por tal ato, esquecendo por completo de Charles e seu péssimo jeito de mentir. Enquanto isso o mais velho ajudava Hans a levanta-se e mexia os lábios sem pronunciar nenhuma palavra. Hans com um pouco de linguagem visual conseguiu identificar que o garoto dizia um “Vá logo!" E assim ele foi.Entrou pela porta dos fundos mais próxima. A da cozinha.Hans se surpreendeu, nunca entrara alí em todos os quatorze anos que vivera no palácio. A cozinha era abafada, e parecia muito pequena com o tanto de gente que se encontrava nela no momento. As pessoas então, o olhavam mais surpresas ainda por o verem naquela parte do castelo. O garoto rapidamente avançou em direção a saída, não antes de "furtar" uma bandeja de sanduíches. Em pouco tempo ele já estava no corredor, e em seguida em seu quarto. Bateu a porta com tudo e aliviado largou a bendita maleta do telescópio em um canto qualquer. Jogou se na cama e pôs-se a comer os sanduíches. Ignorando qualquer regra básica de etiqueta, o príncipe comera desesperadamente como se a qualquer momento a bandeja criasse asas e saísse voando pela janela. O fato era que Hans mal comera naquele dia. Quando estava fazendo seu dejejum, Alexander chegou furioso o acusando de ter quebrado um vaso muito antigo que custara uma fortuna, e por isso, ficou de castigo. " Malditos Henry e Harry" Ele pensou enquanto enchia a boca de um sanduíche " Hum! Os de atum são os melhores!".

Hans parou rapidamente de comer, ao ouvir ruído da porta se abrindo. Por um momento pensou ser seu pai. Os olhos de esmeralda se arregalaram de forma absurda, e o corpo magricelo agora tremia de medo. Mas para seu alívio, assim que a porta foi aberta, um par de óculos enormes foi o que ele viu. Charles chegara contente no cômodo, e pelo visto conseguira livrar-se do irmão...

– Nosso plano foi um sucesso!- Falou com um sorriso enorme.

– hm hum! - Hans falou enquanto colocava mais um sanduíche na boca.

Por um momento Charles ficou mexendo no telescópio vez ou outra murmurando um " Que design fantástico!!" Enquanto Hans terminava de comer. No entanto assim que a bandeja foi esvaziada por completo, seus pensamentos voltaram a ser focados não pequeno bercinho do porão. Talvez o bero tivesse sido feito para ele. No entanto o carpinteiro entendeu seu nome errado e o escreveu na versão feminina " Hanna" Por isso o berço foi jogado nas tralhas inúteis do porão. Claro, aquilo era apenas uma hipótese. Hans pensou se talvez Charles não conhecesse o fato dele estar lá. Seria natural já que ele sabe de tudo. Não custava nada perguntar..

– Hm.. Charles?

– O quê?

– Você sabe de um berço largado lá no porão?

– Ora Hans, um berço no porão?!

– Mas é verdade! Eu juro que vi um berço lá embaixo esculpido com o nome de "Hanna"

De repente o semblante de Charles parecia ter mudado, e ele desconcertado parecia engasgado pois tossia muito alto. Hans logo percebeu que havia algo de errado. Uma de suas maiores qualidades era ser muito perceptivo. – Hanna? Num berço? tem certeza?? O-onde você o viu Hans?

– Eu o vi jogado perto de um ratinho morto, lá embaixo no porão. Por que de repente você ficou todo interessado? – O ruivo perguntou desconfiado, arqueando levemente uma sobrancelha.

Charles agora era branco como um fantasma.

– Escute Hans, para o seu bem esqueça este berço! Você ouviu? Esqueça ele!- Ele parecia realmente irritado, e agora gritava com Hans. Se tinha algo que ele não suportava era quando alguém o tratava assim.

– E porque? Você nunca se importou comigo! - Respondeu com rispidez

– Seu menino idiota! Não tem a ver com você, tem a ver com todos nós! Se comentar deste berço com nosso pai ele..

– Ah claro! Você está pensando em si próprio de novo! Porque vocês nunca se importam comigo? Eu também sou da família!

– VOCÊ É UM IDIOTA HANS! QUER PARAR DE SER CRIANÇA? VÊ SE CRESCE!... O mundo é assim. Cada um por si! E se não começar a si habituar, ele te destrói.

"Blam" Foi o que ouvira em seguida. Uma batida de porta tão forte que a mesma estremeceu.

Se o garoto fosse o menino de dez anos que era antes, a esta hora estaria aos prantos, chorando triste. Mas, não. Tinha quatorze anos, e precisava agir como tal. Uma única lágrima escorreu de um de seus olhos, e ele tratou de secá-la imediatamente. Odiava sentir -se vulnerável, e odiava saber que sentimentos o dominavam. Ele deveria aprender a ser frio, e simplesmente não sentir mais. Para não ter mais o coração pisado como sempre teve..

***

Depois do que aconteceu, Hans parecia extremamente conturbado com tudo. Tentando processar todas aquelas coisas que ouvira. Quem era Hanna? Porque Charles ficou daquela forma só com um simples comentário sobre a mesma? E acima de tudo.. Que ligação ela tinha com os imponentes rei e rainha das Ilhas do Sul? Muitas ideias passaram pela cabeleira ruiva e despenteada do rapaz, uma mais ridícula que a outra. O jovem depois disso desceu rapidamente para o jantar, e como se estivesse em outro mundo, praticamente engolira tudo que se encontrava em seu prato, sem nem perceber o que comera, os olhos fixos em um ponto inexistente. Hans ouvia de longe algumas palavras, quando acordava de seus devaneios por derramar a comida para fora do prato.

" Estou muito ansioso para nossa viagem" Falou Louis excitado.Hans bem que teve vontade de perguntar-lhe que viagem era aquela, mas resolveu por a curiosidade de lado, pois sem duvidas receberia um seco e rude " Não é de sua conta" e deste tipo de resposta já estava farto.

Vez ou outra ouvia também um " O pudim de ameixa está divino" vindo de William ou um suspiro de cansaço vindo de Augustus. O rei aprecia extremamente ocupado em responder cartas de outros reis de reinos vizinhos, resmungando vez ou outra por sua mulher reclamar um " Aqui não é lugar para trabalhar, Alexander!"

Assim que o jantar terminou, Hans correu apressado para o quarto ignorando os olhares intrigados que recebera dos empregados. ( A família real mal sentira sua falta, e de alguma forma, o garoto ficou feliz por isso) " Pelo menos me poupam o trabalho de inventar uma mentira qualquer.."Enquanto comia teve a ideia de procurar no salão de quadros (um local dedicado apenas a quadros dos milhares de antepassados da família das Ilhas do Sul) que ficava localizado na ala leste do palácio. E após caminhar pelo extenso corredor, a procura de um quadro escrito Hanna, não encontrou nada. A não ser um par de meias de lã laranja-berrante muito estranhas que pareciam ter sido tricotadas por duas mãos esquerdas.. Então chegara a conclusão de que precisava voltar ao porão para procurar mais pistas, e seria hoje! A noite.

***

O castelo tinha um aspecto sombrio durante a madrugada. Tudo era extremamente deserto e o único barulho que poderia ser ouvido, seria o uivo do vento que levava folhas secas das arvores dos jardins reais, ou um melódico " tic tac" que vinha do relógio localizado no corredor. Aparentemente seriam umas cinco da manhã, o príncipe nunca acordara tão cedo na vida. Vez ou outras, suas pálpebras levemente pesadas pelo sono se fechavam demoradamente. Seu corpo parecia implorar para voltar a cama, e vários bocejos saiam de sua garganta, particularmente seca. Andando o mais rápido que podia, ele avançou em direção aos jardins. O céu tinha uma cor engraçada, lembrando um rosa que se fundia com o dourado dos raios de sol, que começava a surgir pelas montanhas. Então, o jovem abriu com os braços o arbusto que escondia o enorme buraco que dava para o porão e entrou no local. Hans ergueu a lamparina a óleo, como fizera da última vez, e caminhou devagar pelo cômodo extensamente grande.

Parou próximo a escada. Procurando sinais do berço que vira no dia anterior, e após coçar os olhos várias vezes, na esperança de que isso ajudasse o garoto a perder o sono, avistou-o. Seus olhos foram direto no nome da tal garota de nome semelhante ao seu.

– Quem é você afinal? – Ele murmurou sem desgrudar os olhos do objeto empoeirado, como se esperasse que por magica o mesmo lhe respondesse.

" Deveria ser alguém importante pra ter algo dela aqui no palácio.."

O ruivo resolvera então procurar por algo que respondesse sua pergunta, em meio as milhares de caixas espalhadas pelo local. Quase meia hora se passou, enquanto o garoto vasculhava objetos inúteis, que ele realmente gostaria de saber o porque de não terem sido jogados fora de uma vez, até que quase desistindo, Hans encontrou algo no chão.

Primeiro viu uma bonequinha de pano com um "H" Bordado nas vestes,

Aparentemente era um livrinho encardido, cor-de-rosa de capa dura, com os dizeres gravados em ouro "O Diário de uma mãe."

Mas, antes que o rapaz pensasse sequer pensar, escutou uma agitação incomum nos jardins. Ele agachou-se para o buraco e pôde ver o que havia acontecido. Praguejou baixinho ao ver que Henry e Harry já acordaram, assim como Will, George e Danillo. Henry e Harry aparentemente estavam cutucando uma coisa peluda escondida no mato, enquanto Will lia uns livros a sombra de uma árvore e George e Danillo treinavam esgrima no pátio central. Sem dúvidas ele passara mais do que trinta minutos naquele lugar.

E agora? O que fazer?

" Pensa Hans, Pensa!!"

A única maneira de sair do local era pelo buraco.. Não havia escolha. Precisaria sair por lá mesmo. Com cuidado para não fazer barulho, o ruivo resolveu que levaria o caderno cor-de-rosa consigo. Tentando manter o máximo possível de cautela, o ruivo saiu do local com passos lentos, sem fazer barulho. E após alguns passos logo foi percebido.

–Hans? O que faz aqui pirralho?– Pergunto George, limpando gotículas de suor de sua testa que agora estava bem vermelha por causa da "Luta" com o irmão.

– Resolvi acordar mais cedo hoje.. Quero observar bem a paisagem antes de fazer um novo desenho. – O ruivo falou. As palavras saíram de sua boca sem nem se tocar. Mentir já havia se tornado um hábito tão natural que nem se abalava mais.Os garotos bufaram e deram risadas desdenhosas. Pelo visto havia dado certo.

– Você é realmente um ser deplorável, não? "Vou fazer um novo desenho" – Disse Danillo imitando a última frase com a voz de um bebê – Você só nos dá desgosto. Olha só a cor do caderninho da menininha.. Cor- de-rosa!

Hans havia esquecido de esconder o caderno.. Droga! Agora seria motivo de piada pelo resto da vida. Mas não iria baixar a cabeça como fizera muitas vezes no passado. Enfrentaria com dignidade!

– Bom, então se não se importa, A menininha vai se retirar.

E assim, vermelho como um pimentão, não como quem está com vergonha, e sim com raiva, ele se retirou. Percorreu os corredores agilmente. Sempre se perguntara o porque deles agirem de tal forma. Certo que não tinha nada de especial, que não fosse sua beleza. Hans sabia que era bonito. Tinha plena consciência disto. E chegava a pensar se talvez, esta não seria sua arma. Talvez, devesse usar a beleza a seu favor.. Mas pensaria nisto depois. O importante no momento era chegar ao quarto em segurança sem que ninguém soubesse que ele havia entrado na "zona proibida"

Após alguns segundos, finalmente viu a porta de madeira clara se aproximar, e então, chegara finalmente. Jogou-se com tudo numa poltrona de chintz, se assegurando de trancar a porta antes. Agora quem sabe, descobriria quem era Hanna, que possivelmente era uma menina, por causa da cor do caderno, e se a mesma tinha alguma ligação com ele..

Sem cerimônia, abriu o grande caderno. As páginas eram amareladas pelo tempo, parecendo frágeis a ponto de rasgar a qualquer instante, e nelas haviam uma caligrafia requintada e extremamente caprichosa. Naturalmente era de uma menina.

"

Após anos tentando eu finalmente conseguirei. Estou esperando uma menina!! Este sem dúvidas é o dia mais feliz de minha vida. Após conversar com a a parteira da região, ela chegou a conclusão que pelo formato de minha barriga terei uma linda menininha. Eu já comecei a comprar tudo. Até mesmo roupinhas. Ela será uma linda e adorável menininha e fará companhia aos irmãos dela.

Ass: C.W das Ilhas do Sul

"C.W das Ilhas do Sul??Esta história está ficando mais confusa ainda." Ele pensou. Afinal, C.W ra uma tia sua? Ou quem sabe uma avó?? Era tudo um mistério. Hans folheou rapidamente o caderninho, muito desinteressado nas besteiras que a C.W escrevera como " Faltam 36 dias para o nascimento" ou " Meu marido está tão contente" ou até mesmo, fatos que ele á sabia como " Decidimos o nome da minha menina. Ela se chamará Hanna" Ele enfim parou em uma das últimas folhas do caderno, que aparentava estar muito malcuidada. A caligrafia caprichosa deu lugar a uma caligrafia apressada e muito borrada quase que ilegível. E o papel tinha um aspecto terrível de que uma jarra d'água havia sido despejada sobre ele.

A única coisa que o jovem conseguiu identificar foram palavras como " Tristeza" ou " Desprezo" e até mesmo "Ódio"

Hans, finalmente deu-se por vencido. Hanna foi uma garota provavelmente, sua prima, que foi muito amada pela mãe, e não havia nada de suspeito em sua infância..

– HANS!!!! – Ele ouvira um berro vindo de lá de baixo. E de uma coisa ele sabia, era uma voz masculina. " Se Charles abriu a boca e falou pro meu pai que... Ora, eu o mato!" Com muita rapidez, ele guardou o diário em uma gaveta com chave e desceu apressado as escadas, temendo o pior. Ao chegar no salõ principal, soltou um enorme suspiro de alívio ao ver que quem o chamara era nada mais nada menos que seu irmão, Edward.

Edward era o quarto filho. Era um jovem que sempre tinha um propósito. Nunca ajudava alguém simplesmente por caridade, e apesar disso as pessoas realmente gostavam dele.Ele administrava as finanças das Ilhas do Sul. Edward batia o pé impaciente vez ou outra consultando seu reloginho de bolso. Os olhos azuis perceptivos do mesmo logo avistaram Hans, fazendo ele exclamar um " Até que enfim, molenga"

– Edward, se me chamou aqui para... – Hans começou mas logo fora interrompido.

– Não, não! De forma alguma. O chamei aqui porque Charles insistiu que eu te levasse junto.. – O ruivo nada entendera, e o mais velho logo percebendo a confusão do menino, bufou e se apressou em acrescentar. – Eu e James estamos indo ao vilarejo escolher cavalos novos, os nossos estão muito velhos. Você vem??

Hans mal acreditara no que ouvira. Ele realmente iria ganhar um cavalo?? Depois de anos pedindo ele finalmente conseguiria um? E porque Charles havia feito aquilo por ele? Bom, talvez ele se preocupasse realmente com o mais novo.. Ainda meio aturdido, a única coisa que ele conseguiu fazer foi acenar com a cabeça em modo de afirmação. Logo Edward o guiou para fora do castelo, onde James já estava esperando. Hans nunca sorriu tanto na vida. Excerto quando Henrique ficara pendurado no telhado.

– Olá pequeno! – James o cumprimentou. Hans soltou um mísero "oi" Ele não tinha muita intimidade com o irmão.– Fiquei sabendo que você gostava de cavalos. E então, ansioso?

– Bastante! Sempre quis um.

– Eu lembro como se fosse ontem quando ganhei o Bart. Ele era pequeno ainda, a crina mal crescera.. Mas hoje em dia, está muito velho, o melhor é descansar, entende? Ele não aguentaria nem uma hora de cavalgada.

O tempo foi passando e Hans e James conversaram durante todo o trajeto. Edward apenas balançava a cabeça em negação, e vez ou outra revirava os olhos, visivelmente não aprovando as besteiras que ambos tanto conversavam.

Finalmente após chegarem na aldeia, e logo avistaram a singela loja de animais do sr. Thomas.

O Sr. Thomas era um homem muito velho, com um bigode branco reluzente que combinava com o pouco de cabelo que tinha na cabeça. Seu corpo era esguio e seu nariz era muito torto.

– E então meus príncipes, O que posso fazer por vocês? – O Sr. Thomas perguntou bondosamente. Parceia ser uma honra ajudar a família real com o que quer que fosse.

– Viemos comprar cavalos. – Edward respondeu secamente.

– Ora, tem certeza?? Acabaram de chegar animais exóticos!

– Uh, exóticos é? – James perguntou parecendo muito excitado com a ideia, mas ao olhar para a cara de Edward, ele presumiu que não era uma boa ideia. – Err... Obrigado sr. Thomas, mas... Ficamos só com os cavalos mesmo.

–Pois bem! Então sigam-me até o estábulo altezas. – O velhinho respondeu de bom humor. Eles foram levados para dentro da loja, passando por uma passagem estreita que dava para os fundos. Lá haviam mais de vinte espécies

de cavalos. Edward foi diretamente examinar um cavalo árabe com uma cara de mal. Já James no entanto, puxou Hans pela mão, e ambos foram ver um Puro-sangue inglês.

– O que acha deste Hans? Acho que seria um bom cavalo para cavalgadas..

– É.. –Ele respondeu olhando em volta. Ele esperava mais do que um cavalo bom de correr. Queria encontrar um em que ele se identificasse em algo. Mas, aparentemente nenhum deles era bom o suficiente. Após alguns minutos observando diversos tipos de cavalos ( Incluindo um particularmente doido que babava e dava coices para todos os lados,) ele chegou a conclusão de que talvez, o cavalo ideal ainda não existisse.

– E então milordes, decidiram o que vão querer?

– Oh sim Thomas, eu ficarei com este árabe mesmo. – Edward respondeu.

– Bom, sendo assim eu fico com o Fallabella mesmo. – James respondeu.

–E você jovenzinho??– Indagou o velho.

– Ahn..Nenhum, obrigado.– Ele respondeu meio desapontado consigo mesmo. Nem Edward nem James pronunciaram mais nenhuma palavra. A volta foi silenciosa, e assim que Hans chegara em seu quarto, desejou ter comprado um cavalo. Talvez, essa coisa de "conexão" entre animal e homem fosse coisa dos livros...

***

Logo chegou a hora do jantar e todos já estavam presentes. O garoto sentou-se no seu costumeiro lugar, e pôde perceber que a maioria de seus irmão cochichavam e apontavam para ele. Obviamente, todos já sabiam que Hans não havia comprado cavalo algum. E agora deveriam estar inventando inúmeras possibilidades do porque.

– Será que ele teve medo? – Henry perguntou a Harry

– Talvez. Hans sempre foi um molenga.

– Isso mesmo um molenga!

E logo os dois estavam cantando " Hans é um molenga" para todos ouvirem.

Ambos os irmãos riam agora, ao ver o rosto do mais jovem corado, e ligeiramente inclinado para o prato a sua frente, talvez tentando não demonstrar o tamanho da vergonha que sentia agora, e que sem dúvidas estava estampada em seu rosto.

– O que foi Hans? Achou que o cavalo era assustador demais? – Danillo falou.

– Ou talvez, achasse que não era homem o suficiente para ter um animal deste porte.. O que não deixa de ser verdade não?– George concluiu e logo todos da sala riam. Isso incluía seu pai. Sua mãe por outro lado, apenas revirava os olhos. Ele gostaria que ela fosse uma mãe de verdade que o defendesse agora. Mas, em vez disto, ela pôs-se a beber de um líquido escuro, aparentemente um vinho norueguês, de sua taça de cristal. Hans sentia-se profundamente irritado. Porque ele era tratado assim? Nem mesmo um cão é tratado desta forma. Ele gostaria de se manifestar. Falar palavras de baixo calão para todos ali presentes, dizer o quanto sentia raiva e remorso por ter sido abandonado todos estes anos. Queria explodir. Queria.. Queria desabafar. O ruivo agora sentia-se como uma bomba. Ele tremia dos pés a cabeça tentando segurar o garfo e se focar na comida. Mas, quando menos esperava, num súbito impeto de ira ao ouvir um " Molenga" Vindo de Charles ele finalmente soltou o que queria falar desde hoje cedo:

– Eu queria ter tido uma família de verdade. Como a Hanna teve.

A primeira coisa que ele ouviu em seguida foi um som bem semelhante a um engasgo. A rainha Catharina logo estava tossindo, e parecia perplexa pelo que acabara de ouvir. Ele logo percebeu que falara algo errado pois todos se calaram imediatamente. Ele observou o semblante de todos e viu que a maioria estava muito abalada, como se ele acabasse de falar algo muito impróprio, outros como, Alexander, o rei, pareciam furiosos com a simples menção daquele nome. A rainha no entanto, agora que acabara de se recompor, parecia extremamente abalada. Seus olhos, tão belos, estavam marejados e sua expressão forte parecia aterrorizada.

– C-como você ousa..

– Mas eu só falei o nome Hanna! – Todos prenderam a respiração. – O que há de errado?

– Saiam daqui.– A rainha falou. Ela mal olhou para o rosto de Hans. Os demais começaram a se adiantar e um barulho ensurdecedor de cadeiras sendo movidas e talheres sendo postos sobre os pratos preencheu o salão.

– NÃO! – Ele responde firme. – Não vou sair daqui! Eu quero saber o porque de tudo isto! Porque está tão chateada assim?– A rainha não se virou para encarar o filho, ela apenas continuou seu caminho, aparentemente indo em direção ao quarto.

– Henrique, eu exijo que..–

– NÃO! O meu nome não é Henrique, ouviu? – Berrou – É Hans e você deveria se lembrar disto! Você é minha mãe. PARE DE ME TRATAR FEITO UM VERME E OLHE PRA ..

O garoto não pôde completar a frase,pois, logo Catharina se virara e dera um tapa em sua cara. Tudo acontecera tão rápido que chegara a ser difícil processar. Ele esfregou o local com a mão e logo algumas lágrimas começaram a rolar sobre seu rosto. Não lágrimas de dor física, e sim emocionais. Catharina parecia prestes a desabar em lágrimas também, no entanto, algo parecia a impedir. Como se fosse um dever como rainha nunca derramar uma única lágrima.

– POIS PRA MIM É O QUE VOCÊ É! – Ela gritou.– Estou farta de você! Desde que nasceu só trouxe desgraça e desonra a todos nós! Basta! Você nunca será como Hanna teria sido!

– COMO HANNA TERIA SIDO? O QUE QUER DIZER COM ISSO?

– Você seu insolente, nunca chegará aos pés do que a minha menina teria sido! Desde o início de minha vida matrimonial eu sonho em ter uma menina! A minha vida inteira eu tentei ter uma! E sabe o que eu ganhei com isso? Vermes como você!

– Mas.. mas, eu não..

– Quando chegou a minha décima terceira gravidez eu me senti confiante! Algo dentro de mim dizia " Será uma menina desta vez" Até a parteira me disse que o formato de minha barriga era o de uma garotinha. Me senti tão contente, finalmente teria a minha querida filha nos meus braços. Comprei berços, vestidos, tudo o que puder imaginar! Para no dia do grande nascimento de Hanna, eu ter a infeliz notícia de que você, seu verme, você nascera no lugar dela! Foi o pior parto que já tive em minha vida pra no final nascer você! Um serzinho desnutrido de sete meses de vida!

– Mas, isso não foi minha culpa! Não tive culpa de nascer! E tem mais, porque você não tentou ter uma menina dep..

– Ah claro! Ainda tinha este detalhe não é? Após o seu parto, eu nunca mais pude engravidar. Você seu garoto medíocre só me arruinou!

– VOCÊ É MUITO EGOÍSTA! A MINHA VIDA INTEIRA EU FUI TRATADO ASSIM POR ISSO?

– BASTA SEU INSOLENTE! – O rei, que até então não se manifestara urrou – Você teve tudo que bons pais teriam te dado.

– Tudo menos o mais importante! – Hans falou. – Você podem ter me dado brinquedos luxuosos, uma verdadeira vida de príncipe, mas nunca me deram a atenção que eu merecia! Nunca me deram amor!

O silêncio reinou por um momento. Hans viu que seu pai exibiu um semblante sem expressão, assim como sua mãe. Durante alguns segundos que lhe pareceram horas nada foi dito da parte de nenhum dos dois. Hans queria confrontá-los. Sentia-se finalmente mais leve por ter dito tudo que estava entalado na garganta á anos. Por fim, a rainha simplesmente derramou uma única lágrima, e respondeu

– Você nunca será um Westergaard.

E saiu. O rei a acompanhando. Hans sentia-se profundamente mal por ter ouvido aquelas palavras. Pois, não se sentir a vontade dentro de sua própria casa, era diferente de saber que nem seus pais se sentiam a vontade com sua presença. Ele ficou parado ali por alguns segundos. Sozinho na sala de jantar. Várias lágrimas insistentes rolaram sobre o rosto do rapaz. Ele correu. Correu com todas as suas forças em direção ao jardim.Um local isolado, onde ninguém o veria sofrer. O garoto sentou-se a sombra de uma arvore, e pôs se a chorar escondendo o rosto nas vestes, molhadas e ligeiramente amassadas. Ele abraçou as próprias pernas, em busca do abraço que com certeza uma mãe de verdade teria lhe dado. Hans teria chorado mais se não tivesse ouvido o barulho de passos se aproximando, e logo em seguida, um sombra tapando o sol, que outrora banhava sua pele. Ele enxugou o rosto com a manga da camisa e ergueu-se. Danillo e George o aguardavam com um olhar furioso.

– O que querem? Vieram dar risada?

– Oh não Hans. – George falou. – Viemos aqui porque todos nós estamos de castigo por sua causa, molenga.

– E porque você magoou profundamente o coração de nossa mãezinha. – Danillo concluiu, forçando uma cara triste, semelhante a que Catharina havia feito a minutos atrás.– Por isso, resolvemos te dar uma lição.

Hans sentiu um frio na espinha. Ele agora era branco feito um fantasma.

– U-uma lição?

– Isto mesmo! – Ele logo viu Danillo retirar o cinto. – É hora de receber um castigo adequado, verme.

– ISTO É PELA NOSSA MÃE!–

Slap!

Hans sentiu uma forte dor que parecia queimar sua perna esquerda. E em seguida, na direita também.

– Não por favor! Vocês são meus irm..

Slap!

Hans começou a responder quando sentiu a dor, desta vez mais forte, nas costas. Logo recebera outro no antebraço esquerdo, quando foi proteger o rosto. Hans urrava de dor a espera de alguém que o pudesse salvar desta situação. Mas quem? Não tinha amigos, muito menos família de verdade. Ele se contorceu no chão, chorando. Logo os irmãos, deram risadas.

– Vamos menininha! Se levante. – Danillo falou segurando o rosto de Hans, logo em seguida aproximando os lábios do ouvido dele. – Apanhe com dignidade. – Sussurrou.

E ele assim fez. Mesmo sentindo uma profunda dor, Hans tentou se erguer. No entanto ao apoiar o braço para tentar levantar, caiu outra vez. Ele mal aguentava o peso do próprio corpo. Os dois riram. Hans tentou outra vez, e tremendo, ele se apoiou no tronco da árvore ficando em pé. Ergueu a cabeça, e tentou não demonstrar sentimento algum. Embora as lágrimas e sua expressão sofrida não contribuíssem.

– Isto mesmo, verme. – Danillo falou.

Slap.

Mais uma vez a dor aguda. Hans chorou,e caiu com tudo no chão. Seu corpo fez um barulho oco no chão. George e Danillo gargalharam outra vez. George o chutou na barriga inúmeras vezes, e Hans logo percebeu que estava sangrando.

Logo o jovem estava acabado. Sentia todo o corpo doer. O líquido vermelho escorria de seu nariz, que a pouco havia sido socado. Vários hematomas pelo corpo. Danillo por fim falou algo com George, que Hans não soube identificar o que era. Não ouvia mais nada. Muito menos enxergava. Sua visão era tão distorcida que as vezes parecia estar rodando. Ele sentiu ser colocado de quatro por um dos dois, e logo mãos quentes e enluvadas segurarem seu ombro e sua cabeça. Ele sentiu algo de coro roçar em seu queixo e após fazer muito esforço, conseguiu ver que era uma bota.

– Você sempre será a desgraça desta família Hans.– Ouviu a voz de Danillo.– Você nasceu para ser mandado por nós, curve-se diante de mim, peste.

O dois riram. Hans nada respondeu. Sentia-se desgastado demais para responder algo.

– Adeus, praga. – George despediu-se, e logo Danillo o acompanhou. Hans não moveu um único músculo.

Sentia-se desgastado demais. Tanto interna quanto externamente. Ele não conseguia sentir nada mais naquele momento que não fossem, rancor, raiva e humilhação.

Sentia tanta raiva da vida que levava. De seus doze irmãos que não tinha a menor consideração com ele, de como gastavam seu tempo com coisas fúteis, quando podiam estar bolando estratégias para conseguir mais parceiros comerciais para o reino, ou algo do tipo. Sentia ódio de seus pais, que pouco se preocupavam com ele, de sua mãe que mal olhara em seu rosto por anos por conta de uma besteira. Mas acima de tudo, sentia ódio de si mesmo.

Quantas e quantas vezes o mundo havia lhe provado que não se deve esperar muito dos outros? O mundo era um lugar cruel. Não havia nada de poético em viver. Se ao menos recebesse o devido valor que achava merecer...

Um barulho foi ouvido em meio ao mato que o cercava. Hans mexeu molemente a cabeça e a virou na direção do barulho.

Será que eles haviam voltado? O garoto tentou frustradamente se mover, e parecer menos fraco do que se encontrava, mas mal conseguia ficar de pé. Ele se encostou na árvore mais próxima com um pouco de dificuldade e perguntou.

– Quem está aí?

A pergunta foi mais um sussurro do que tudo. Hans sentia-se muito fraco até mesmo para falar. Nenhuma resposta foi obtida a não ser um barulho no arbusto outra vez.

– Apareça!

E, um pouco desajeitada a figura que escondia-se pelo mato foi revelada. Era um equino, mais precisamente um cavalo, castanho. Sua crina era muito despenteada e rebelde e possuía duas colorações. Preto e branco. Além deste detalhe incomum, Hans pôde perceber que o cavalo era bem magro, parecendo até mesmo desnutrido e seus olhos eram castanhos escuros. Hans olhou bem nos olhos do animal assustado e pôde ver que ele sentia o mesmo que ele. Dor. O cavalo era assustado e parecia muito tristonho. Hans tentou tocá-lo. O equino recuou. Parecia não ter experiências muito boas com humanos. Hans o entendia perfeitamente bem.

– Está tudo bem! Não vou te machucar.

O cavalo parecia meio confuso. Ele inclinou levemente o rosto para o lado.

– Eu sei como se sente... Está sozinho? Não tem família?

O animal descarnado assentiu meio tristonho com a cabeça.

– Sei bem como é.. Sabe, eu acho que tenho uns cubos de açúcar no bolso da minha calça.. Espere..

O garoto fez muito esforço, mas conseguiu tirar seis bloquinhos do bolso. Ele estendeu a mão para o animal que se afastou ligeiramente.

O cavalo cheirou desconfiado, lançando um olhar receoso ao ruivo.

– Olha, eu não tenho nem forças pra te machucar, então fica calmo!

Ainda receoso ele começou a se aproximar dos cubos de açúcar, e meio relutante pegou o primeiro. Vendo que não tinha perigo o animal começou a comer o resto. Após acabar, e encharcar a mão de Hans de baba, ele o lançou um olhar pidão pedindo por mais.

– Sinto muito.. – O garoto respondera, logo em seguida gemendo, por ter se mexido de forma brusca. Ele ainda estava banhado de sangue, e cheio de hematomas.. – Só tenho estes.Eu tenho mais no castelo, se você quiser.

O animal assentiu parecendo ligeiramente contente, e anda um pouco assustado lambeu o rosto do novo amigo. Hans sorriu.

– Ah! Eu me chamo Hans! Sabe, você precisa de um nome. Não posso ficar te chamando de cavalo todo o tempo.

Hans pensou um pouco. Era difícil decidir o nome de um cavalo. Haviam várias possibilidades. Ele olhou para cima e viu que sentara na sombra de um limoeiro. Ele sorriu.

– Sitron* . Seu nome será Sitron.


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Notas finais do capítulo

* Sitron: Palavra norueguesa, que significa "Limão".

Sempre gostei desta conexão, animal e ser humano!! É um das coisas que mais gosto na Disney! Sempre me comovo quando vejo, Ariel e Linguado, Alladin e Abu, Cinderella e os ratinhos, e lógico, o Kris com o Sven :)

*--* E por gostar tanto, eu não podia fazer diferente com Siltron e Hans xD

A fic está chegando ao fim galera, :( Em breve teremos o último cap do Hans, e então partiremos para Anna



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