Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 44
R.I.P. Swan


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta jujubas e com mais um cap fresquinho!
Enjoy



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— Com quem está falando?

Encarei a mensagem de íris com os olhos arregalados vendo Percy e Nico do outro lado, preocupados e confusos com a voz que rugiu. Antes que pudesse me despedir senti as mãos fortes de meu raptor se prenderem em meu cabelo e minha cabeça ir de encontro a parede com um baque poderoso. Minha visão embaçou e gemi de dor, enquanto a mensagem de íris desaparecia de repente devido toda a turbulência. Pisquei freneticamente, minha cabeça ainda latejando, mas a visão voltando ao normal aos poucos, e encarei o homem que ria debochadamente.

— Não adianta chamar reforços, cria de deuses. – Ele caminhou e se pôs a minha frente com os dentes rangendo em ódio. Ergui os olhos, sustentando seu olhar com meu próprio ódio. – Desta vez você não tem escapatória. Meus monstros já chegaram e logo partiremos para o portal mais próximo, em direção ao mestre.

— Porque todo vilão adora contar seus planos maléficos? – Murmurei comigo mesma e revirei os olhos no exato momento em que um grupo de três harpias superdesenvolvidas entravam na caverna, granindo e batendo as asas, fazendo gotículas de água choverem sobre mim. 

Encarei a entrada da caverna e vi a chuva que acabava de começar. Recostei-me contra a parede, sentindo o braço deslocado transmitir a dor por todo meu corpo. Eu já havia avisado a Percy e os outros, mas não poderia me manter parada, no aguardo do resgate. Tinha que agir e fazer o que eu fazia de melhor: falar e irritar o idiota a minha frente.

— Por favor, eu acabei com cinco monstros e um portal sozinha – Debochei e cruzei as pernas, mantendo uma atitude desleixada apesar de estar completamente em desvantagem. – O que acha que vocês quatro podem fazer?

— Não sei se percebeu, mas desta vez está algemada. – O homem, que parecia ter idade para ser meu pai, vociferou com os punhos cerrados enquanto os monstros se postavam a sua volta, ansiosos por suas ordens. – Além disso, da última vez eu não estava aqui.

— Se me lembro bem eu já te derrotei, Gasparzinho diabólico. Quatro vezes. Ou acha que não percebi quem Paolo realmente era? – Respondi com um sorriso libertino enquanto mexia as mãos nas costas. Contive o suspiro aliviado quando senti a pulseira de ondas ainda em meu pulso. Meu sorriso se alargou. – E sobre estar algemada...

Apesar de ainda sentir meu corpo doer como o inferno, o tempo que fiquei desmaiada me ajudou a recuperar um pouco de minhas forças e, aproveitando dos segundos de confusão de meu captor, joguei o corpo para cima e me ergui em um salto enquanto tirava o tridente da pulseira e o lançava ao ar, fazendo-o voltar como minha fiel espada. Estiquei os braços para trás, cerrando os dentes quando a pontada aguda soou em meus ossos, e senti a espada cair exatamente entre meus pulsos cortando a corrente que unia minhas mãos. Puxei os braços a frente do corpo, o metal frio da algema quebrada ainda em contato com meus pulsos agora livres, e peguei a espada do chão no momento que os monstros voaram em minha direção. Ergui a lâmina no momento que uma das harpias acertou sua asa contra meu corpo. Pude ver a lâmina entrar em sua carne causando um ferimento profundo ao mesmo tempo em que sua asa me lançou a metros de distância. 

Minha cabeça girou enquanto meu corpo rolava pelo chão de pedras e grama até eu parar do lado de fora da caverna, a chuva forte caindo contra mim e levando o calor restante em meu corpo. Levantei com dificuldade, meu corpo mais lento devido ao veneno que a sombra injetara em mim, e limpei a água que embaçava minha visão. Minhas pernas bambearam quando me ergui completamente, mas respirei fundo e me pus em posição de defesa. Eu estava mal; não tinha condições de atacar e, provavelmente, apenas uns dez por cento de chances de me defender até Percy chegar, mas desistir nem passava por minha cabeça. Apertei os dedos contra o cabo da espada e vi o momento que a sombra deixou o corpo do homem desmaiado no chão da caverna enquanto seguia em minha direção, serpenteando pelo ar. As harpias guincharam e se aproximaram com as garras a mostra, tentando me encurralar contra uma das árvores. Esquivei de um golpe por pouco e ergui a espada no momento que outra harpia atacou, a lâmina afiada partindo uma das garras ao meio. Me pus atrás da árvore no momento que a terceira harpia atacou, escapando de ser decapitada por centímetros. Forcei o ar em meus pulmões apesar da dor. Meu corpo estava desistindo e eu estava pensando seriamente em fazer o mesmo no momento que senti as garras de um dos monstros circundar meu tórax. Gemi devido minhas costelas quebradas enquanto sentia o chão se distanciar de meus pés. Mesmo o monstro não me segurando com força suficiente para me partir ao meio, ele não era assim tão delicado! Resisti bravamente, mas não foi suficiente. Meu corpo me traiu e suspirei derrotada enquanto a harpia me levava em direção à Sombra. 

— Agora vamos saber o que se passa nessa cabecinha antes de leva-la para o Mestre. – A Sombra se aproximou, seu corpo ondulando como fumaça e seus olhos ocos como buracos negros. – Quem sabe não descubro o paradeiro de seus amiguinhos e mato todos?

— Então você vai me possuir, assim? Esperava ao menos um jantar romântico antes. – Respondi, sarcástica e meio grogue, mas ainda consegui tirá-lo do sério. – Não, acho que é pedir demais. Que tal apenas um nome que não seja Sombra Maligna e Estúpida que Sempre Perde Para uma Simples Língua Encantada?

A coisa grunhiu, um barulho parecido ao uivo de um fantasma, e investiu contra mim que ainda pendia imponente nas garras da harpia. Fechei os olhos esperando a sombra dominar meu corpo, mas nada aconteceu. Com cautela abri um olho a tempo de ver o vulto negro voando para cada vez mais longe de mim enquanto uma espécie de escudo dourado se desfazia ao meu redor. O poder atingiu apenas a sombra já que eu continuava presa pelo monstro, mas sorri ao ver a sombra voltar e parar a metros de mim.

— Odeio cobre de Maat. – Ele rugiu e encarei o colar que brilhava por baixo do meu casaco negro. Mas é claro! O colar do mesmo material do de minha avó! Agradeci a vovó mentalmente e ouvi a sombra gritar: - Vamos, o mestre não tolera atrasos!

Então as harpias alçaram voo enquanto a sombra seguia na frente, guiando-os pelo céu cinza e chuvoso. Eu estava encharcada, o vento forte fazia meu cabelo prender nos lábios e eu sentia a água escorrer por meu corpo, pingando no chão que se afastava cada vez mais. Percy, Nico, nenhum deles chegara a tempo, mas, por outro lado, eu descobriria o esconderijo do mestre antes de terminar a missão. Poderia dar muito errado acelerar o processo e eu poderia acabar morrendo antes do tempo? Sim, mas não havia mais nada a fazer, não havia escapatória então eu teria que aproveitar a situação da melhor forma possível. E enquanto eu divagava sobre como pegar o mestre de surpresa sendo que ele esperava pela minha chegada, mal percebi a adaga que perfurou as costas da harpia até ela explodir em pó e meu corpo se ver em queda livre, caindo velozmente em direção à morte certa. Assustada, não contive o grito que saiu de minha garganta enquanto via o chão se aproximar cada vez mais. Ao longe três pontos começaram a se destacar, um deles brilhando em prateado. Logo senti algo circundar minha cintura e vi as garras de outra harpia se prendendo a mim, para logo explodir em pó quando outra adaga transpassou seu peito. Me senti em um desenho animado onde o chão parece distante e, ao mesmo tempo, extremamente perto enquanto a queda livre seguia seu percurso. Logo os pontos tomaram forma e distingui três garotos. O primeiro de cabelos castanhos e cacheados enquanto chamas dançavam em suas mãos, o segundo era um pouco mais alto com cabelos negros e uma corrente de água circundando seu corpo enquanto o último empunhava uma adaga afiada com seu casaco de aviador chicoteando ao vento. Leo, Percy e Nico. Poderia chorar de emoção se não fosse morrer em poucos minutos. Até a terceira harpia vir em minha direção e agarrar minha perna com toda força. Gritei de dor, mas senti minha queda desacelerar e antes que a harpia voltasse ao seu voo comigo pendurada vi mais uma adaga de Nico voando em sua direção e acertando sua cabeça em cheio.

— De novo não! – Gritei no momento que o monstro virou pó e eu voltei a cair.

Dessa vez eu estava a uns cinco metros do chão, provavelmente não morreria, mas ainda assim seria uma boa quantidade de ossos quebrados. Fechei os olhos e me virei, cair de costas poderia poupar alguns dedos e dentes quebrados. Sentia a distância com o solo diminuir e cerrei os dentes, aguardando o impacto. Até sentir os braços macios e fortes que circundaram minha cintura e pernas. Abri os olhos e ergui a cabeça vendo os olhos de Nico fixos em meu rosto e um sorriso de alívio pontilhando seus lábios. Ele me salvara, mais uma vez.

— Você está viva! Graças aos deuses, você está viva!

Ele me apertou contra si como um náufrago se abraçaria a um bote salva vidas, o que me fez gemer de dor. Nico se afastou rápido me encarando com preocupação. 

— Braço esquerdo deslocado, algumas costelas quebradas, concussão leve e ferimentos superficiais. – Dei de ombros como se não fosse nada demais. – Vou sobreviver. 

Nico respirou fundo e me encarou sério, mas antes que pudesse gritar comigo palmas soaram de dentro da caverna. Todos os olhos se voltaram para o local onde o homem que me captara vinha caminhando calmamente comum sorriso diabólico nos lábios.

— Ora, ora, eu não deveria ter subestimado seus amigos, Língua Encantada. – O homem falou e parou em frente ao grupo com os braços cruzados. – Pena que terei de interromper o belo reencontro, o Mestre nos espera.

— Só por cima do meu cadáver. – Nico vociferou, ódio puro borbulhando em cada sílaba, e me colocando no chão delicadamente, se pondo a minha frente de forma protetora.

— Com prazer. – O homem rugiu e investiu contra nós.

Leo lançou suas bolas de fogo, as quais o homem desviou com facilidade correndo em direção à Percy que lançou um jato d’água em sua direção. O homem foi atingido, mas logo se recuperou e voltou a lutar com os garotos. Eu me sentia imponente, fraca e cansada demais para participar da luta. A chuva voltara a aumentar e encarei ao redor, vendo minha espada jogada entre os arbustos. Caminhei cautelosamente até lá, desviando de resquício de fogo e água que os garotos lançavam, e logo pude sentir o peso de minha arma novamente. Logo que a prendi na pulseira vi o arbusto se mexer e um pequeno rabo negro surgir das folhas verdes. 

— Totó? 

Ao ouvir minha voz o cãozinho saiu dos arbustos e pulou em meu colo com alegria.  Aparei seu corpinho minúsculo e percebi que ele trazia algo na boca.

— Meu livro! Caramba, está encharcado!

Segurei o livro delicadamente entre os dedos vendo uma cascata cair dele enquanto o erguia até os olhos. O título ainda brilhava e usei meu poder para retirar toda a água acumulada, o fazendo voltar a ser novinho em folha. Guardei-o no cós da calça, impedindo de pegar chuva novamente, e ouvi Totó latir enlouquecidamente olhando para a luta às minhas costas. Voltei o olhar para o local a tempo de ver Nico com sua espada negra voltada para meu antigo raptor, prestes a transpassa-la em seu peito.

— Nico, não! – Corri em sua direção e parei abruptamente quando senti minhas costelas latejarem. Respirei fundo e encarei o filho de Hades que mantinha seus olhos ensandecidos voltados para o homem que mantinha seu sorriso sarcástico. – A culpa não é dele.

— Ele raptou você. – Nico rugiu, o ódio tão forte em suas palavras que me fez recuar. – Ele machucou você. Como a culpa não foi dele? Ele merece morrer por ter encostado em você!

— Isso, cria de deuses. Mate-me, agora, se for capaz! – O homem gritou e Nico ergueu a espada.

— Não, ele esta possuído pela Sombra. – Ergui as mãos com os olhos arregalados enquanto Percy e Leo revezavam os olhares entre mim e Nico. – A mesma sombra que possui você, o Leo e o Jason. Este homem é inocente e se baixar essa espada estará matando um mortal e deixando o vilão de verdade escapar!

— Não dê ouvidos a ela. – O homem murmurou. – Eu sou o vilão. Não quer me fazer sofrer pelo que fiz a sua garota?

Nico encarou o homem com os dentes cerrados e desceu a espada contra ele. Prendi as mãos no cabelo, meu coração martelando contra o peito como se fosse sair a qualquer momento. Até que o filho de Hades parou no meio do caminho e sorriu ferozmente para o homem.

— Eu sempre dou ouvidos a minha garota.

E desceu o cabo da espada contra o rosto dele fazendo o homem desmaiar imediatamente. Suspirei aliviada e caminhei em sua direção com um sorriso no rosto enquanto Nico me encarava com os cabelos molhados sobre os olhos e um sorriso lindo nos lábios. Como eu senti saudades daquele sorriso! Apressei o passo até ver a sombra sair do corpo do homem e flutuar em direção a Nico que estava de costas para ele. 

— Não! - Ignorei a dor e corri o máximo que pude ficando entre Nico e a sombra no momento que ela iria possuí-lo. A criatura foi de encontro ao meu corpo e, assim como da última vez, foi lançada pelos ares pelo campo de força que surgiu a minha volta. Encarei a coisa com os olhos em chamas. – Nunca mais se aproxime dele!

A sombra guinchou e me encarou com os orbes ocos repletos de ódio.

— Ainda não acabou Língua Encantada. Da próxima vez verei seu corpo desfalecer em pó entre meus dedos.

E ela serpenteou pelo ar, sumindo no céu escuro enquanto eu sentia meu corpo desfalecer em dor e cansaço. Cambaleei e cai de joelhos até sentir braços fortes me segurando e ver os olhos verdes-mar de meu irmão perscrutando meu rosto com preocupação.

— Não se preocupe, maninho. – Murmurei e forcei um sorriso, mantendo os olhos aberto com dificuldade. – Eu só preciso de uma boa e longa soneca. Vou ficar novinha em folha!

Percy respondeu, mas não compreendi uma palavra já que meu corpo me traiu e meus joelhos falharam enquanto minha consciência resolveu dar um passeio pelos domínios de Hipnos. Ainda pude ouvir a voz grave e melodiosa de Nico soar como se estivesse a quilômetros de distância.

— Ela precisa de ambrosia. Agora!

E então apaguei.

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P.O.V. Annabeth 

— Acho que você ainda não colocou a mão nessa parte da parede. – Piper comentou indicando, pela milésima vez, uma parte da parede que eu tinha certeza já ter colocado a mão.

Suspirei, mas fiz o que a filha de Afrodite pediu. Nada. Nenhuma pedra se movendo, nenhuma passagem secreta se revelando. Já fazia uma boa meia hora que estávamos naquilo. Depois que os garotos foram resgatar Duda, eu, Piper e Jason seguimos para o Pathernon que já estava fechado para visitas. Passar pelos guardas foi a parte mais fácil, Piper e seu charme eram realmente imbatíveis. Rapidamente seguimos para a parte mais antiga do Parthenon e iniciamos a busca, mas a única coisa que consegui foi areia entre os dedos.

— Não adianta, já alisei todas as paredes em todos os lugares possíveis. – Bufei e passei as mãos pelos cabelos nervosamente. – Não está funcionando.

— Tem que ter um pedaço de parede que você ainda não tenha tocado! – Jason explicou encarando o salão com cautela, como se procurasse algum interruptor ou um leitor de mãos. – Esse é nosso único palpite.

— Pedaço de parede. É isso! – Exclamei com um sorriso vitorioso e vasculhei os artefatos que estavam expostos na sala até encontrar o que queria. – Apesar de ser a ala mais antiga do Paternhon, esta também foi restaurada devido os risco que a construção passou a oferecer no decorrer do tempo. Ou seja, as rochas que compõe essas paredes não são exatamente aquelas que estavam aqui na época dos sacerdotes. 

Caminhei em direção a um pedestal no centro da sala. Exposto sobre ele estava um pedaço de tijolo conservado. Senti meus amigos se aproximarem, encarando o artefato com expressões confusas. Voltei a explicação enquanto admirava o pedaço de rocha.

— Portanto eles conservaram um pedaço de tijolo que compôs a estrutura original e o expuseram aqui para a curiosidade de arquitetos e arqueólogos que vem visitar o local. – Completei e o casal arregalou os olhos, finalmente entendendo onde eu queria chegar. – Eu estava tocando a parede errada. Espero que esta seja a certa.

Ergui as mãos e segurei o pequeno tijolo entre os dedos. Alguns segundos se passaram sem que nada acontecesse, até que o chão começou a tremer e um barulho alto soou ás minhas costas. Virei-me e vi a parede se separando aos poucos até que uma passagem escura e estreita surgiu e o tremor cessou abruptamente.

— Você encontrou, Sabidinha! – Uma voz masculina surgiu do corredor que dava para a ala onde eu estava.

Encarei o dono da voz que tanto amava a tempo de ver seus braços me circundando e me amparando em um abraço caloroso. Quando nos afastamos, Percy sorriu em minha direção apesar de eu ver claramente a dor estampada em seus olhos.

— O que houve? – Questionei assustada ao ver que apenas Leo surgiu atrás de Percy. – Onde está a Duda?

— Ela... ela foi envenenada, mas ainda está viva. – Percy respondeu com lágrimas invadindo seus olhos. Vê-lo chorar fez meu coração se despedaçar e puxei-o para um abraço ainda mais apertado. – Estava sendo levada por aquela sombra que é capanga do Mestre no momento que chegamos lá. Não sei o que teria acontecido se não tivéssemos chegado a tempo.

— Mas chegaram, deu tudo certo, amor. – Afastei Percy apenas o suficiente para encarar seus olhos verdes e tirei seu cabelo molhado do rosto. – Onde ela está agora?

— Nico ficou com ela. – Percy me encarou forçando um sorriso. – Disse que cuidaria dela para que eu pudesse voltar para você.

— Bem, ela não poderia estar em melhores mãos. – Brinquei e Percy bufou, revirando os olhos o que me fez sorrir. – Você sabe que ele morreria para salvá-la.

— É, eu sei. – Percy deu de ombros com um sorriso ameno. – Você nunca mais vai me ouvir admitir isso, mas não poderia pedir melhor cunhado do que Nico.

— Agora só falta eles dois perceberem isso!

— Verdade. – Jason, Piper e Leo concordaram em unissom e todos rimos.

Encarei a passagem aberta às minhas costas e respirei fundo, a expectativa pelo desconhecido fazendo meu estômago embrulhar. Apesar de Nico contar sua experiência nas entranhas da fonte de Trevi com calma e controle, era visível em seus olhos o quanto aquilo o desestabilizou emocionalmente. O que as entranhas do Parthenon faria comigo? Cerrei os olhos até sentir os dedos de Percy acariciando meu braço.

— Sabidinha, você é forte e corajosa. Não a nada que não consiga fazer! – Percy em puxou para perto, seus braços rodeando minha cintura e seus olhos presos aos meus. Verdes como os mares mais antigos da Grécia, atraindo a tempestade cinza dos meus olhos como se pertencessem um ao outro desde o início dos tempos. – Estaremos te esperando aqui fora. Além disso, não importa o que aconteça, eu sempre vou te encontrar.

— Eu sei, cabeça de Alga. – Sorri, contendo inutilmente as lágrimas em meus olhos e me aperte ainda mais contra ele. – Eu te amo.

— Eu também te amo. – Ele ergueu meu rosto e tomou meus lábios com paixão e volúpia. 

Queria me perder no sabor salgado dos lábios de Percy, mas o beijo terminou rápido demais. Quando abri os olhos ele me encarava com seu sorriso brilhante que aqueceu meu peito com a esperança que eu ansiava. Eu voltaria para ele, sempre, nem que fosse a última coisa que fizesse na vida. Contrariada, me soltei de seu abraço e me despedi de cada um de meus amigos, prometendo voltar o mais rápido possível. Logo estava caminhando em direção a pequena passagem, a escuridão à frente fazendo meus pelos arrepiarem. No momento que pisei no primeiro degrau uma luz fraca surgiu, iluminando poucos degraus a frente. Com um último olhar para meu grupo de amigos atravessei a passagem e ouvi um trovão rimbombar acima do Parthenon antes da parede se fechar as minhas costas, enclausurando-me em uma prisão de pedra. 

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P.O.V. Duda

Eu morri.

Esse era meu único pensamento. Essa era a única verdade.

Eu morri e não concluí a missão.

Eu morri e não derrotei o Mestre.

Se eu pudesse me bateria naquele momento, mas não consegui sentir nenhuma parte de meu corpo. Era como se estivesse flutuando e me lembrei de todos os filmes que vi com anjos e almas passeando entre as nuvens. Quem diria que aquilo era real! Abri os olhos, pronta para ver o céu azul e as nuvens brancas ao meu redor, enquanto anjos cantavam e tocavam harpa. Franzi o cenho quando o céu azul escuro acima surgiu embaçado e ondulante, como se coberto por uma camada de água, as nuvens brancas pareciam mais distantes do que deveriam estar e nada de harpas ou vozes, apenas o profundo silêncio como se eu estivesse mergulhada no oceano. 

Vai ver um oceano espiritual é a pós vida dos filhos de Poseidon.

Então todas as sensações voltaram repentinamente. Meu corpo formigou dos pés à cabeça, meu braço esquerdo latejou como se consumido por chamas apesar de eu estar claramente debaixo d’água. Respirei fundo quando outra onda de dor se espalhou por meu corpo e arregalei os olhos, emergindo subitamente e um pouco desajeitada. Inspirei e expirei, sentindo as ondas do mar baterem contra minha cintura e transmitirem a paz e calmaria que eu precisava para voltar a pensar claramente.

— Eu não estou morta. – Murmurei comigo mesma encarando meu reflexo na água turva, a surpresa aos poucos sendo substituída pela compreensão e alegria. Em poucos segundo meu sorriso mal cabia no rosto e contive um grito quando ergui a cabeça em euforia. – Eu não estou morta!

Meu coração ainda batia acelerado quando olhei para frente e dei de cara com um Nico perplexo me encarando de volta. Os olhos negros suavizaram, alegria e alívio se misturando em um único olhar enquanto um suspiro escapava por seus lábios molhados do mar. As batidas em peito triplicaram involuntariamente e exclamei surpresa no momento que os braços longos de Nico circundaram minha cintura e seu peito coberto por uma camisa preta encharcada se chocou contra meu rosto. Sua respiração compassada contra meu ouvido era um calmante tão eficiente quanto as ondas do mar e, depois de um tempo perdida naquele abraço, me perguntei como consegui viver tanto tempo sem ele.  

— Não, você não está morta. – Nico sussurrou, sua voz grave e melodiosa causando arrepios deliciosos em meu pescoço. Seu hálito, como sempre, inebriando meus sentidos. -  Graças aos deuses, você está viva.

Nico se afastou um pouco para me encarar fixamente nos olhos e sorrir abertamente. Suas mãos pousaram gentilmente em meus ombros, mas foi suficiente para fazer um espasmo de dor percorrer meu braço esquerdo e eu me encolher com um gemido. Nico tirou as mãos de mim com preocupação, deixando um frio onde seu calor estava.

— A ambrosia curou os ferimentos superficiais e, com a ajuda da água, boa parte das fraturas internas. – Nico explicou olhando para meu braço com pesar, seu cabelo molhado grudado na bochecha fazendo gostas escorrerem por ela como lágrimas. – O braço deslocado é mais complicado, ainda deve demorar uma hora para se curar completamente.

— A cura acelera para uns cinco minutos se você colocar o braço no lugar. – Expliquei simplesmente, esticando o braço com cuidado na direção do filho de Hades. 

O garoto arregalou os olhos, os lábios entreabertos em perplexidade. 

— Você sabe que isso vai doer feito inferno, certo? – Ele questionou duvidoso e eu assenti convicta, lembrava perfeitamente da dor. Nico passou as mãos nervosamente pelos cabelos. – Não sabe nem se isso vai realmente acelerar alguma coisa!

— Eu sei que vai. – Respondi com o braço direito na cintura. – Não tem porque eu sentir dor por mais uma hora se posso senti-la por cinco minutos. Vamos, Nico. Ponha meu braço no lugar!

Incerto, o filho de Hades tomou meu braço entre suas mãos com delicadeza e me encarou como se perguntasse se eu queria mesmo isso. Assenti à pergunta silenciosa e ele suspirou, posicionando uma mão em meu ombro e a outra no braço. 

— Tudo bem. No três. – Nico falou com os olhos fixos nos meus e eu concordei, mordendo o lábio inferior com força. – Um.

O barulho oco de osso contra osso soou acima das ondas e não consegui conter o grito de dor que escapou de minha boca. Todo o meu corpo latejou em resposta ao movimento brusco e ergui os olhos ardendo em fúria para Nico que me encarava com um olhar inocente.

— O que aconteceu com o dois e três?

— Dois. Três. – Ele respondeu com um dar de ombros e eu bufei, já sentindo o formigamento ser substituído por uma dor amena e menos incômoda.

Em poucos minutos a ambrosia fez sua mágica e meu braço ficou novinho em folha. Movimentei-o livremente enquanto Nico observava a cena estupefato.

— Como você sabia?

— Intuição, talvez? É claro que com o braço no lugar tudo ia ser mais rápido. – Respondi apressada e Nico ergueu uma sobrancelha, os braços fortes e molhados cruzados sobre o peito fazendo minha atenção perder o foco por alguns segundos. Ergui os olhos para um lugar mais seguro, mas nenhuma parte de Nico di Angelo era realmente segura para meus olhos então apenas suspirei. – Tudo bem, foi o Arthur que me ensinou.

— Arthur? O desconhecido misterioso que muito provavelmente trabalha com o inimigo. – Nico vociferou, a expressão perplexa se transformando em fúria. Podia jurar que a água em sua pele estava evaporando com o calor de seu ódio. – Você confiou em algo que ele disse?

— Claro que não. – Respondi prontamente e Nico pareceu relaxar um pouco. – Confiei em algo que ele provou ser verdade quando colocou meu braço no lugar durante nossa caminhada na floresta.

— O quê? – Nico exclamou, os olhos quase saindo das orbes. Bufei, imaginando o sermão que ele já formulava em sua mente.

— Ele não trabalha para o Mestre, isso ficou bem claro, Nico. Aliás, ele salvou minha vida! – Cruzei os braços, a expressão tão séria quanto a do filho de Hades. – Portanto já pode parar com esse ciúme idiota.

— Ciúmes? – Nico questionou, surpresa tomando suas feições.

O que eu tinha acabado de dizer?

Mantive a expressão neutra, apesar de sentir minhas bochechas avermelhando cada vez mais. Como pude insinuar que Nico sentia ciúmes de mim, como não controlei minha boca grande? O silêncio foi sepulcral, interrompido apenas pelas ondas que quebravam na areia. Meu coração batia acelerado, os olhos de Nico ainda sobre mim. Respirei fundo e tomei as rédeas da situação, se ele achava que ia me intimidar com seu olhar penetrante estava muito enganado.

— Exatamente! Não há nenhum outro motivo plausível para você odiar tanto o garoto. 

— Há diversos motivos para eu odiar tanto ele. Primeiro, ele não contou tudo sobre o tal sequestro e a fuga milagrosa. – Nico rebateu e firmou os pés quando uma onda mais forte quase o derrubou. – Segundo, ele conhece sobre nossos processos de cura mais do que nós mesmos, sem ser um semideus ou qualquer coisa parecida. Logo, não é ciúmes, é uma plena e profunda desconfiança devido suas poucas ou nenhumas explicações plausíveis.

— Bem, eu confio nele. – Respondi com audácia e dei de ombros lembrando dos olhos profundos e do sorriso maroto de Arthur. – Sempre gostei de garotos misteriosos, são meu tipo.

— Aquele cara claramente não é seu tipo. – Nico vociferou, os punhos cerrados e vermelhos.

— Então, senhor expert, qual é o meu tipo?

— Alguém que você conheça a mais de um dia, pra começar. – Ele respondeu com um revirar de olhos, destruindo meus sonhos de ser uma princesa da Disney que conhecem os caras em um dia e se casam no outro. O filho de Hades respirou fundo e continuou, a voz macia e calma como se cada palavra pesasse toneladas. – Alguém que seja completamente sincero pois você odeia mentira, que seja corajoso e companheiro pois você adora se meter em confusão, que saiba quando deve te fazer rir ou quando deve apenas ficar ao seu lado enquanto você chora, que perceba quando você está com raiva ou preocupada apenas pelo seu olhar, que cuide de você e te proteja com a própria vida pois você é a vida dele agora, que te ame acima de qualquer coisa e que viver sem você seja como perder uma parte dele mesmo. Esse é o seu tipo de cara perfeito.

O filho de Hades respirou fundo como se prendesse a respiração durante todo o monólogo. Senti meu coração saltar no peito e minhas pernas bambearem, as lágrimas salgadas desciam por meu rosto descontroladamente. Será que ele não percebia? Crispei os lábios e encarei Nico profundamente.

— Eu já encontrei esse cara, mas ele simplesmente não percebe isso! Como pode ser tão cego? Na verdade, acho que eu não sou o tipo de garota perfeita para ele. – Murmurei e ri amargamente. – Sabe, nos beijamos há alguns dias. Aquilo foi tudo para mim, quando fecho os olhos revivo a cena involuntariamente, mas a expressão dele deixou claro o quanto não significou nada. Provavelmente ele se arrependeu no mesmo instante. 

Nico arregalou os olhos quando tudo se encaixou e seu olhar era de dor e desespero em minha direção. A indecisão parecia brilhar em seu rosto. Suas mãos percorriam o cabelo freneticamente e ele mudou o peso de uma perna para a outra como se pensasse cuidadosamente no que dizer em seguida.

E não poderia ter sido pior.

— O seu cara perfeito não sou eu! Não pode ser eu.

— Então, por favor, convença meu coração estúpido! – Gritei, meu controle indo pro espaço depois de suas palavras. – Porque eu já tentei, mas não deu muito certo.

— Você não entende...

— Não, você não entende! – Interrompi-o e me aproximei, meu dedo em riste contra seu peito enquanto sentia meu corpo tremer em fúria. – Eu não pedi para me aproximar de você, para me tornar sua amiga, para que você fosse protetor comigo, que lançasse esses sorrisos irresistíveis e esse olhar penetrante, que me conquistasse mesmo sem perceber. Eu claramente não pedi para me apaixonar por você. Mas aconteceu e estou tentando lidar com todos esses sentimentos da melhor forma possível desde que descobri. E eu estava conseguindo razoavelmente bem até aquele maldito beijo. Como esquecer você depois daquilo?

Suspirei sem tirar os olhos do filho de Hades que sustentava meu olhar com a respiração acelerada. Ele estava sem fala, um grande feito de minha parte. Eu me sentia leve, como se finalmente pudesse respirar. Declarar tudo, apesar de por impulso, fez meu peito relaxar, mas a fúria ainda me consumia, ainda mais por Nico continuar calado como se não tivesse ouvido nenhuma palavra.

— Olha, se for o melhor para você, esqueça tudo o que disse. Eu só não aguentava mais esconder, principalmente por não saber se estaria viva no fim da missão para poder falar tudo isso. – Suspirei e baixei os olhos, me afastando de Nico e começando a caminhar em direção à areia da praia. – Eu sou uma romântica irreparável como você já sabe, ainda acredito no amor verdadeiro. Você tem suas garotas, não quer se apegar a ninguém, não se apaixona por ninguém e eu respeito isso. Não fomos feitos para ficarmos juntos.

As ondas quebravam em minhas pernas, as gotas salgadas do mar se misturando às minhas lágrimas enquanto meus pés afundavam na areia molhada. As ondas ficaram para trás e eu ergui os olhos tentando me localizar e falhando miseravelmente por não conhecer nada da Grécia. Limpei as bochechas, apesar de não conseguir interromper as lágrimas, e me xinguei mentalmente por ser tão idiota. Como pude achar que no fundo Nico correspondia aos meus sentimentos? Como pude ser tão....?

Meus pés travaram, senti a areia fina se concretizar ao redor de meus pés. Assustada, encarei o chão e vi a terra serpentado pelas minhas pernas e se fixando como algemas ao redor delas. De repente senti meu corpo se voltar para o mar novamente e vi Nico com as mãos erguidas e os olhos decididos fixos em mim. Ele caminhava pela a água como um verdadeiro guerreiro e eu revirei os olhos, tentando me soltar do poder do filho de Hades. Não consegui me mover um centímetro sequer. Ergui as mãos e fiz uma onda quebrar fortemente contra Nico, mas o garoto firmou os pés e continuou em minha direção. Outra onda atacou-o mais forte e, apesar de bambear um pouco, nada conseguiu pará-lo. Logo ele estava fora do mar, a água de seu corpo encharcando a areia seca que ainda se prendia aos meus pés. Apesar disso o calor de seu corpo me embriagou quando centímetros separavam meu peito do seu. Ou seria o calor do meu corpo? A proximidade de Nico fazia meus pensamentos revirarem e minha respiração acelerar, e podia jurar que ele não estava muito melhor já que seu peito subia e descia descontroladamente. Tentando controlar meus batimentos, ergui os olhos para poder encarar o filho de Hades cara a cara, seu rosto voltado para mim com ansiedade, devoção.

E desejo.

— Se queria me dar um fora, não precisava de.....

E eu fui calada da melhor e mais surpreendente forma que eu poderia imaginar. Os lábios de Nico desceram sobre os meus com desejo e poder, os centímetros entre nós sumindo em um piscar de olhos quando seu peito se chocou contra mim fazendo-me gemer seu nome. O filho de Hades suspirou, mas não interrompeu o beijo como se meus lábios fossem a única coisa que o mantivesse vivo. Suas mãos fortes circundaram minha cintura com possessão e não havia nenhuma parte nossa que não estivesse em total contato. Nossas línguas travavam uma batalha deliciosa, os lábios macios e carnudos dele pressionando os meus como se nunca fosse o suficiente, sempre ansiando por mais de mim. Naquele beijo eu senti tudo que as palavras de Nico não conseguiam dizer. O desejo, o cuidado, a necessidade, a paixão. Eu sentia que morreria feliz se aquele beijo fosse meu último momento no mundo. O ar se fez necessário e Nico afastou seus lábios apenas para desce-los lentamente pelo meu pescoço, intercalando-os com leves mordidas que me faziam arrepiar. Nomes eram sussurrados e gemidos trocados, meu corpo estava extasiado e eu não conseguia conter o sorriso quando Nico finalmente respirou fundo e se afastou de mim o suficiente para encarar meus olhos. Suas mãos não soltaram minha cintura e eu via o esforço que ele fazia para controlar seus lábios longe dos meus.

— Você fala demais, Swan.

— Essa foi uma forma interessante de me calar, di Angelo.

— Você precisava ouvir meu lado da história e essa foi uma forma deliciosa de chamar sua atenção. – Ele brincou me puxando para perto e sorrindo de forma marota. – Eu me apaixonei por você desde do dia que eu te vi enfrentando o manticore na sua antiga escola. Nunca tinha visto alguém que nem sabia ser uma semideusa lutar com tanta paixão e garra.

“E depois disso você apenas me surpreendeu mais e mais. Sua coragem e força para ajudar todos, sua mania de sempre bater de frente comigo como ninguém jamais teve a audácia. Você não imagina o orgulho que senti por cada conquista sua e a dor por todas as vezes que te vi machucada, entre a vida e a morte. Daria tudo para estar no seu lugar porque te ver naquela situação era como o inferno na terra pra mim. A medida que o tempo passava eu mentia para mim mesmo sobre o que sentia, eu simplesmente não queria sentir aquilo por mais ninguém depois do que houve com minha mãe e Bianca, não aguentaria perder mais ninguém. Mas quando vi você beijando o Valdez não consegui mais enganar a mim mesmo e só queria amenizar a dor que dilacerava meu peito. Foi estupidez da minha parte tentar fazer isso usando aquela garota, mas quando o assunto é você meus pensamentos nunca funcionam corretamente. Eu tentei, por Hades, eu tentei tanto te esquecer para voltar a ter controle sobre mim mesmo, mas todas as vezes que eu te via, ou ouvia seu riso maravilhoso ou mesmo pensava sobre você meu coração voltava a acelerar. 

Então eu entendi que te esquecer era impossível e impensável, mas ficar com você era tão complicado quanto. Até aqui eu já te fiz sofrer tanto com todas as minhas atitudes impulsivas! Eu nunca me perdoaria se te magoasse mais ou se algo pior acontecesse com você por minha causa. Pessoas que se aproximam demais de mim acabam sofrendo sempre. Minha mãe, Bianca...”

— Nico, isso não é... – Mas os dedos dele sobre meus lábios me calaram mais uma vez e ele apenas encostou a testa na minha e suspirou.

— Eu sei, depois da missão na Itália eu entendi isso. – Ele me deu um selinho rápido e seus olhos profundos me hipnotizaram novamente. – Não posso me isolar, mostrar indiferença quando na verdade os sentimentos inundam meu peito. Eu preciso sentir e me apaixonar por você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, não quero esconder esse sentimento nunca mais. Me perdoe por tê-la feito pensar que aquele beijo não significou nada, quando ele foi tudo pra mim. Eu tive medo de minha impulsividade ter arruinado todas as minhas chances com você de vez, mas eu não me arrependo do beijo. Na verdade, por mim eles se repetirão pro resto de nossas vidas. Deveria ter dito isso quando você entrou no meu quarto e sussurrou tudo aquilo para mim. Perdoe-me por ser tão medroso, por demorar tanto a admitir algo que todos já sabiam. – Ele respirou fundo e ergueu meu queixo para que eu visse apenas seu rosto e focasse em cada palavra que ele diria em seguida. – Swan, eu estou perdidamente apaixonado por você.  

   Arregalei os olhos e expirei profundamente, lágrimas salgadas molhando meus lábios enquanto eu sentia um sorriso surgir e meu rosto. Meu coração batia a mil por hora e meus joelhos bambos teriam falhado se Nico não segurasse meu corpo contra o seu firmemente. Ergui as mãos para o pescoço de Nico e acariciei os cabelos de sua nuca enquanto aproximava meus lábios dos seus e sussurrava com devoção.

— Antes tarde do que nunca, di Angelo.

Foi o suficiente. Nico rosnou e acabou com a distância entre nós, seus lábios devorando os meus com autoridade. Entreguei-me ao beijo, pensando que se aquilo fosse um sonho eu não queria acordar nunca mais. Senti meu corpo ser erguido pelas mãos fortes de Nico que se prenderam em minhas coxas e circundei as pernas ao redor do tronco dele. Nico gemeu meu nome o que fez meu corpo arder de desejo. Ele me segurou com uma mão facilmente enquanto a outra passeava pelas minhas costas, explorando e acariciando. Gemi seu nome enquanto puxava os cabelos de sua nuca da forma que eu sempre sonhei em fazer, ele riu e mordeu meu lábio inferior carinhosamente. Cada toque, cada beijo, cada sussurro fazia meu corpo arder mais e mais, eu jurava que poderia ser incinerada a qualquer segundo.

Até que um latido alto e estridente nos interrompeu. Separei os lábios de Nico, ainda tentando controlar minha respiração, e encarei Totó no chão ao nosso lado que abanava o rabo e nos encarava com a cabeça inclinada em confusão. Voltei os olhos para o garoto que ainda me segurava nos braços, Nico sustentava meu olhar com paixão e um sorriso bobo brincava em seus lábios vermelhos e molhados. 

— Totó sempre com seu timing perfeito. – Ri e Nico me acompanhou enquanto me descia lentamente de seus braços, suas mãos acariciando meu corpo no caminho. Firmei os pés quando a senti a areia fofa, apesar de ainda não confiar muito em minhas pernas estando Nico tão perto. Encarei o cãozinho com um sorriso enquanto tentava colocar os pensamentos no lugar e acalmar meus batimentos. – Não sei se ele gostou muito do que viu.

— Como não? – Nico questionou com seu sorriso zombeteiro enquanto pegava Totó no colo e limpava a areia de sua cabeça pequenina. – Ele é basicamente nosso filho, com certeza era quem mais torcia para isso dar certo.

— E como você caracteriza isso? – Ergui a sobrancelha dando ênfase na palavra enquanto apontava de mim para ele. 

— No momento, de nada.

Arregalei os olhos com um suspiro, pronta para gritar com ele mais uma vez, até ver Nico colocando Totó no chão e tirando algo do bolso. Ele se aproximou de mim, tomando minha mão entre as suas e se ajoelhou. Prendi a respiração no momento que seus olhos profundos encararam os meus e um sorriso genuíno e belo pontilhou seus lábios enquanto ele depositava algo em minhas mãos. Algo macio e delicado. Baixei os olhos e vi uma concha verde-água com espirais coloridas em toda a sua extensão. Já sentia meu coração falhar quando ouvi a voz de Nico.

— Não é um anel como você deveria estar esperando, mas é algo tão delicado e belo quanto você. Lembra-me o mar e seus olhos verdes encantadores que não saem de minha mente em nenhum segundo. Achei que esse seria o presente perfeito para perguntar se.... – Ele pausou e respirou fundo como se as palavras estivessem presas em sua garganta. Nunca tinha visto Nico ficar sem palavras, mas era a coisa mais encantadora do mundo. Por fim ele expirou e me olhou com determinação, entrelaçando seus dedos nos meus enquanto suas palavras soavam calmas e apaixonadas. – Swan, você aceita namorar comigo?

Um silêncio se instalou entre nós, o vento forte soava na praia deserta enquanto eu digeria as palavras de Nico e tentava controlar as lágrimas que teimavam em descer. Apesar de eu sentir como se o tempo estivesse em câmera lenta, tudo não passou de um segundo. Lancei-me contra Nico, meus braços agarrando seu pescoço com possessão enquanto minha voz eufórica gritava aos quatro ventos:

— Sim! É claro, que eu aceito!

Ele riu abertamente quando enchi seu rosto de beijos e segurou minha cintura nos erguendo sem dificuldade. Seus olhos analisaram meu rosto com devoção e ele me beijou dessa vez com calma e paciência, querendo prolongar cada segundo o máximo possível como se selasse nosso compromisso. A cada beijo eu me perguntava como vivera tanto tempo sem os lábios de Nico contra os meus. Com um último beijo estalado, ele se afastou, sua respiração se misturando com a minha pela proximidade.

— Meus deuses, como eu passei tanto tempo sem te beijar? – Nico sussurrou. Sorri envergonhada e Nico beijou meu pescoço. – Nunca mais vou cometer esse erro!

— Acho que era uma vez nossas regras de amizade.... – Brinquei e ouvi a risada sonora de Nico contra minha pele.

— Com certeza, não conseguiria ficar longe de você nem se quisesse! – Ele falou e eu apreciei cada palavra. – Agora temos que criar regras de namoro. Beijos a cada cinco segundos, nunca estar a mais de um centímetro de distância um do outro, sem sessões de quase mortes diariamente, beijos a cada cinco segundo... 

— Tudo bem, Sr. Lábios Descontrolados, mas acho que já está na hora de voltarmos. – Afastei os lábios de Nico de meu pescoço com dificuldade enquanto ele reclamava frustrado. – Temos que encontrar os outros e ver se Annie conseguiu concluir seu teste para seguirmos adiante. Ainda temos uma missão para terminar!

— Você tinha que se lembrar disso? – Nico reclamou com um muxoxo e eu acenei inocentemente. Ele suspirou e pegou Totó com um braço enquanto segurava minha mão, me guiando para a sombra de uma grande rocha próxima a nós. – Trocar uma boa sessão de beijos com minha garota para voltar a uma missão, eu devo estar ficando louco ou velho.

— Ter mais juízo, é uma boa regra de namoro. – Brinquei no momento que chegamos ao local exato. Senti um arrepio correr pela minha espinha e mordi os lábios, ansiosa. – Tem certeza que viagem nas sombras é o mais rápido?

— Acho que até você tem certeza disso. – Nico revirou os olhos, mas senti seus dedos apertarem minha mão com mais firmeza. – Não há nada para temer, eu vou estar do seu lado, sempre e para sempre. Nunca vou te soltar, pode confiar em mim.

— Eu confio em você, só não confio naquelas milhares de almas que ficam gemendo e chorando. Aquele frio mortal que gela até os ossos... – Fechei os olhos e tremi, pensando no local que estava prestes a atravessar. – Não sei se vale apena passar por tudo isso só pra chegar mais rápido.

— Aposto cem dracmas que algum dia você ainda vai implorar para que eu use a viagem nas sombras!

— Só por cima do meu cadáver! – Murmurei enquanto Nico fazia uma abertura negra surgir por sobre a sombra e eu sentia o frio amedrontador que vinha dela e me envolvia fazendo calafrios percorrerem meu corpo.

— Veremos cisne, veremos.

Então ele me prendeu contra seu peito, o braço firme em minha cintura, e saltou para o sinistro mundo das sombras.

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P.O.V. Annabeth

Parecia que eu descia aquela escadaria há séculos quando, finalmente, meus pés não sentiram mais os degraus escorregadios e as paredes gosmentas sumiram do meu toque. Apesar da escuridão eu sentia que a escadaria estreita se abriu em um salão amplo. Caminhei cautelosamente para frente esperando ouvir algum barulho que me ajudasse a identificar aonde estava, mas nada aconteceu. Então uma pequena luz surgiu a alguns metros e foi suficiente para conseguir ver a imensidão do local. A luz aumentou cada vez mais e, em pouco tempo, o local estava completamente iluminado. Cerrei os olhos quando a intensidade da luz aumentou repentinamente e os abri novamente podendo ver que o brilho intenso vinha de uma porta dourada do outro lado do salão. Pisquei freneticamente tentando ajustar a visão a nova luminosidade e comecei a caminhar em direção à porta até ouvir uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar.

— Sabidinha?

Voltei a cabeça para a direita e vi Percy me encarando com confusão. Em pouco tempo ouvi sons de gemidos e murmúrios ao meu redor. Girei a cabeça e vi todos os meus amigos postados em um semicírculo ao meu lado.

— Como você vieram parar aqui?

— Não faço a mínima ideia. – Nico resmungou mexendo a cabeça para colocar os pensamentos no lugar. – Estávamos lá fora até poucos segundos atrás. 

Todos concordaram e quando eu estava prestes a caminhar em direção à Percy o chão começou a tremer. O terremoto aumentou e me ajoelhei tentando firmar minhas mãos em alguma parte do chão. Para piorar tudo o chão começou a rachar, mas não de uma forma aleatória como era de se esperar. As rachaduras cresceram precisamente, seguindo da porta dourada até onde cada um de nós estávamos. A rachadura circundou meu corpo em um círculo perfeito e logo voltou em direção à porta, percebi que o mesmo aconteceu com cada um de meus amigos. Quando a rachadura finalmente finalizou seu percurso na porta dourada o tremor se intensificou e o chão começou a se despedaçar. Pedaços de terra começaram a se desfazer ao meu redor, mas o caminho formado pela rachadura sobre meus pés manteve-se fixo. O círculo onde eu estava pousada tinha uns cinco passos de diâmetro e dele saía um caminho estreito em direção a grande porta dourada, brilhando a uns bons oito metros de distância. O terremoto parou abruptamente e percebi que todos os outros também estavam dispostos em pequenos círculos de terra com caminhos que levavam à porta. 

— Mas que diabos...?

Antes que Leo pudesse finalizar sua revolta, algo se materializou em frente à porta. Começou lentamente, as várias pernas peludas e longas encrustadas no corpo robusto e negro. Logo a criatura estava completamente formada e eu senti um arrepio percorrer minha espinha quando a aranha gigante mexeu suas presas e se voltou para mim. Apesar da distância eu sentia que ela poderia me atacar a qualquer momento e meu coração palpitava só de imaginar aquela coisa com suas pernas e corpo peludo sobre mim. Senti os olhos de Percy recaírem sobre mim com apreensão, mas não desviei os olhos da aranha que se moveu de um lado para o outro em frente a porta, sem avançar em nossa direção nenhum centímetro o que me deixou bem mais aliviada.

Até sua voz soar em minha cabeça, arranhada e gutural.

— Bem-vindos ao meu grande enigma, semideuses. – Cerrei os olhos com o som abrupto e percebi que meus amigos fizeram o mesmo. Todos ouvíamos suas palavras arrastadas. – A regra é única e simples, acertem meu enigma e atravessem em segurança, ou errem e morram.

Cerrei os dentes e olhei para baixo esperando ver um vazio infinito sobre minha pequena plataforma, mas qual não foi minha surpresa ao ver uma enorme teia sobre todos nós com milhares de aranhas caminhando e se enroscando, um mar tenebroso de criaturas peçonhentas. Um passo para o lado e era o fim. Apesar do silêncio eu tremi ao imaginar aquelas patas peludas e as presas afiadas em meu corpo, respirei fundo e cerrei os olhos. Ergui a cabeça, tentando ignorar meu maior medo bem embaixo de meus pés, e vi os olhos de Percy sobre mim, apreensivo e ansioso para estar ao meu lado. Seu medo pela minha vida e não pela sua. Minha pernas ainda bambeavam, mas um sorriso surgiu em meu rosto. Como sempre Percy priorizando a segurança dos outros ao invés da sua. Antes que eu pudesse tentar tranquiliza-lo a voz da aranha penetrou minha mente mais uma vez.

— Prestem bem atenção, apenas três chances terão. – Ela declamou, suas presas abrindo e fechando ansiosas e seus milhares de olhos focados em mim. – Estou onde todos estão e não existo sem eles; faço a força do fraco, mas o solitário nunca me terá. Quem sou eu? 

Minha cabeça já funcionava a mil. Sempre fui boa com enigmas, mas aquele parecia ter tantas soluções que eu sentia minha cabeça rodar.

— O solitário nunca me terá.... – Pensei em voz alta, mordendo o lábio inferior e arregalei os olhos quando encontrei a resposta que buscava. – É isso, é a amizade!

O chão tremeu violentamente o que fez as aranhas abaixo de nossas plataformas se agitarem. Me segurei no pedaço de rocha precário sobre mim e vi que todos os meus amigos faziam o mesmo, aquilo pegou todos nós desprevenidos.

— Resposta errada. – A voz da aranha soou satisfeita, suas presas como um sorriso macabro. – Apenas mais duas chances.

Aquilo foi como um murro em meu estômago, como pude errar? Minha inteligência era o que me definia. Estava tão absorta em pensamentos que não ouvi meus amigos chamarem e continuei procurando uma solução. Eu tinha que encontrar a resposta.

— Se a resposta não é amizade, só pode ser amor. – Respondi e olhei para Percy com um sorriso, mas ele negou com o rosto repleto de tristeza e apreensão. – É aquilo que dá força a todos nós.

— Resposta errada! Acho que a inteligência das crias de Atena é superestimada. – A aranha respondeu mais uma vez enquanto o chão tremia ainda mais forte. Me equilibrei, o rosto contorcido pelo ódio e o coração pelo medo. A aranha bateu as presas. – Apenas mais uma chance. É melhor pensar bem senhorita Chase ou minhas filhas terão um jantar inesquecível.

Minhas mãos suavam, eu me sentia impotente como nunca me sentira antes. Não queria arriscar nenhum palpite, meus amigos não sofreriam por minha causa. Abaixei a cabeça e suspirei, desta vez ouvindo nitidamente a voz de Percy clamando meu nome.

— Annie, Sabidinha, nós podemos te ajudar. – Seus olhos verdes brilhavam e seu sorriso me aqueceu por dentro. – Nós conseguimos resolver isso. Juntos.

— Isso! – Nico respondeu me encarando com determinação. – Ela está onde todos estão.

— E não existe sem eles. – Duda continuou com seu sorriso grande e seus olhos tão brilhantes quanto os de Percy.

— Faz a força do fraco. – Piper continuou me olhando com carinho, me encorajando.

— Mas o solitário nunca a terá. – Jason completou com sua voz grave e um sorriso singelo.

— Quem é, Annie? – Leo questionou brincalhão, com a sobrancelha erguida e seu típico sorriso maroto. – Quem é ela?

— É isso. Juntos! – Gritei alegre, quase batendo em minha testa por a resposta ser tão óbvia. Encarei a aranha com determinação. – A resposta é união! É a união que faz a força.

As presas da aranha se agitaram enquanto eu esperava pela confirmação do que eu já sabia. Suas pernas peludas batiam freneticamente no chão, mas nada de sua voz em minha mente.

— Estou certa e você sabe, por isso se recusa a responder. – Vociferei e encarei meus amigos. – Vamos, temos de atravessar juntos.

— Mas os tremores tornaram os caminhos muito frágeis. – Duda respondeu encarando o caminho estreito a sua frente que tinha pedaços faltando assim como o de todos nós.

— Isso é apenas uma ilusão, Duda. Se caminharmos juntos vamos chegar do outro lado são e salvos. Mas não podemos parar por nada!

Todos acenaram em concordância e, evitando olhar para baixo, começamos a percorrer cada um o seu estreito caminho. Quando meus pés saíram da plataforma ouvi a voz da aranha se elevar causando um terremoto ainda mais forte que os anteriores. O teto caía entre rochas e poeira, enquanto o chão parecia ondular sobre mim.

— Não... parem! – gritei, desviando de uma rocha por milímetros.

Aceleramos o passo e saltamos no último segundo para a grande rocha onde a aranha gigante estava. Olhei para trás a tempo de ver os caminhos se desfazerem no abismo abaixo junto com as pequenas plataformas em que estávamos segundos atrás. Criei coragem e olhei para baixo, as milhares aranhas haviam sumido e tudo não passava de escuridão. Me ergui em um salto pronta para enfrentar a aranha gigante, mas quando olhei para frente ela havia desaparecido assim como todos os meus amigos. Pisquei olhando ao redor, mas estava completamente sozinha até o portal a minha frente começar a se mover, abrindo-se em uma pequena fresta. A luz intensa que passou por ela me fez cerrar os olhos e quando os abri novamente a grande porta estava fechada novamente e a frente dela uma mulher alta e elegante estava disposta pacientemente. 

— Mãe?

Atena sorriu e eu me levantei encarando a mulher com curiosidade. 

— Olá Annabeth. 

— Onde estão meus amigos? – Questionei com os braços cruzados, os olhos crispados. – E a aranha gigante?

— Era tudo uma ilusão e quando você passou em seu teste, eles sumiram. – Atena explicou com as mãos cruzadas a frente do corpo. Seus olhos sempre autoritários e duros pareciam mais leves e felizes, o que me deixou intrigada. – Parabéns, filha. Principalmente por perceber que apenas com a inteligência não é possível resolver todos os problemas, as vezes temos de ser humildes e aceitar a ajuda dos amigos. A união de vocês será indispensável para o sucesso na missão, não se esqueça disso.

— Não deixar meu ego se sobressair e confiar nos meus amigos. – Respondi com um aceno envergonhado. – Entendido.

— Muito bem, então vamos a recompensa.

Atena estendeu a mão direita, a palma para cima como se esperasse que algo caísse do teto. Aos poucos um brilho dourado circundou sua mão e sumiu de repente deixando em seu lugar um livro. Atena me entregou o exemplar, era de tamanho razoável e as letras da capa se destacavam em dourado.

— A Marca de Atena. – Murmurei o título sentindo a maciez do objeto. Ergui os olhos e sorri. – Obrigada, mãe.

— Você já enfrentou diversas provações Annabeth, mas essa pode ser a mais difícil. – Atena alertou com um aceno simples e a expressão séria. Sua mão longa pousou em meu queixo com carinho e seus olhos focaram os meus com determinação. – Sei que você é capaz, mas não subestime seu inimigo. Desejo a ti toda a sorte e te dou minhas bênçãos.

Logo uma luz dourada circundou meu corpo e senti um arrepio bom percorrer minha espinha, como se algo repleto de luz me preenchesse. A sensação boa sumiu rápido e abri os olhos a tempo de ver Atena abrir a grande porta, indicando que eu a atravessasse. Caminhei a passos largos, o livro bem preso entre os dedos, e atravessei o portal sem olhar para trás. Quando a luz do portal diminuiu me vi novamente no salão enorme o Pathernon, às costas de meus amigos. Eles encaravam o lugar por onde entrei apreensivos e ansiosos, aguardando qualquer movimentação. Duda e Nico tinham voltado e ergui a sobrancelha curiosa quando Nico passou o braço pela cintura da garota de forma natural e beijou sua cabeça, sussurrando algo em seu ouvido que a fez sorri tristemente e se aconchegar no peito dele. 

— Não acredito que vocês finalmente estão juntos! – Falei um pouco alto demais o que fez todos se virarem em minha direção, assustados.

Percy foi o primeiro a se recuperar do susto e correr em minha direção, me abraçando apertado e girando comigo nos braços. Ri abertamente, me segurando em seus ombros largos.

— Sabidinha, você está bem! – Ele falou entre risos de alívio, os lábios presos em meus cabelos. – Graças aos deuses.

— Graças a vocês na verdade. – Respondi sentindo o chão sob meus pés novamente.

Meus amigos me encararam confusos e falei sobre tudo que aconteceu: as aranhas, o enigma, o conselho de Atena.

— E no fim ela me deu esse livro. – Ergui o exemplar o que fez Duda sair dos braços de Nico e correr em minha direção com os olhos brilhando.

— A Marca de Atena! – Ela pegou o livro com devoção enquanto todos se aproximavam. – Ele vem logo antes de A Casa de Hades, sempre foi um dos meus preferidos!

— Difícil é saber qual livro não é o seu preferido, Swan. – Nico brincou com um sorriso fácil e Duda retribuiu com as bochechas coradas. Olhei de um para o outro e gargalhei.

— Vocês não conseguem nem esconder! – Cruzei os braços fazendo todos também encararem Nico e Duda com curiosidade também. – Parabéns ao novo casal!

— AI. MEUS. DEUSES! – Piper gritou histérica e pulou em Duda, prendendo-a em um abraço de urso. – Como você não fala nada? Você sabe que estou torcendo por vocês desde que te conheci! 

— Espera, o que? – Percy exclamou esganiçado, o olhar se revezando da irmã para mim enquanto eu tentava segurar o riso. – De onde você tirou essa ideia?

— É Annie, de onde você tirou essa ideia? – Duda repetiu a pergunta com um sorriso amarelo e a voz em um sussurro envergonhado.

— Não ouse desafiar minha inteligência! – Brinquei com uma voz imperiosa e o dedo em riste para os dois. – Basta ter olhos para ver como vocês estão agindo. Cheios de sorrisos e sussurros, Nico beijando sua testa, vocês não conseguem nem ficar longe um do outro. Literalmente!

Apontei para eles com as sobrancelhas erguidas. Nico estava as costas de Duda, o braço preso na cintura dela e o corpo dela inclinado contra o dele como que por magnetismo. Eles olharam para suas posições e se afastaram rapidamente, as bochechas vermelhas de vergonha enquanto todos riam. Todos menos Percy que incorporou uma carranca emburrada e cruzou os braços, fuzilando Nico fortemente. Eu sabia que era tudo encenação, Percy torcia para que sua irmã escolhesse Nico no lugar de algum outro garoto desconhecido, mas Duda engoliu em seco com a expressão do irmão e Nico apenas revirou os olhos.

— Duda é uma moça de família e pra namorar precisa da aprovação do chefe da família. – Percy cruzou os braços e encarou Nico seriamente. – Como nosso pai não é um exemplo de presença, eu desempenho esse árduo papel. Ou seja, ela não namora até eu aprovar.

— Perseu, isso é sério? – Nico questionou estupefato. Percy apenas acenou convicto e irredutível o que fez o filho de Hades revirar os olhos e se aproximar de Percy. Ele colocou as mãos nas costas e pigarreou, pronto para um discurso. – Sir Perseu Jackson, filho de Poseidon, supremo Cabeça de Algas, tenho bastante apreço por sua adorada irmã e interesse genuíno em cortejá-la. Rogo-lhe permissão para desempenhar esse profundo desejo e tem minha fidelidade como promessa.

— Permissão concedida, nobre cavalheiro. – Percy respondeu e logo sorriu abertamente, puxando Nico para um abraço apertado o que fez o garoto arregalar os olhos. – Cara, eu sempre soube que seria você! Mas se magoá-la, você tá morto.

— Se eu a magoar pode deixar que eu mesmo me lanço na vala mais profunda do Tártaro. – Nico respondeu com um sorriso genuíno e apaixonado, os olhos presos em Duda como se nada mais importasse no mundo. 

Eu não via aquele sorriso nele desde que chegou no acampamento, anos atrás, quando era apenas um garotinho feliz e inocente. Duda segurou a mão dele e o puxou para perto em um abraço carinhoso que aqueceu meu coração. Nico merecia a felicidade depois de tudo pelo que passou na vida e Duda era a personificação da alegria, eles se completavam como Percy me completava. 

— Nico di Angelo perdidamente apaixonado e recitando frases clichês de filmes românticos, nunca pensei que veria isso em vida. – Leo brincou apertando a mão do filho de Hades e beijando a testa de Duda. – Bem, vai deixar diversas fãs do acampamento desoladas. 

— Isso é verdade. – Nico concordou fazendo um muxoxo e Duda fechou a cara e socou seu peito. Nico gargalhou e apertou a garota contra si. – Cisne, eu só tenho olhos para você.

— É bom mesmo! – A garota retrucou e corou ao ver tantos olhares sobre si. – Mas no momento temos coisas mais importantes para discutir do que minha vida amorosa!

Ela ergueu o livro para chamar a atenção de todos e logo folheou as páginas com um sorriso nostálgico. Na última página ela parou e passou a mão na parte de dentro da capa traseira tirando dali um pedaço de pergaminho.

— É idêntico ao pergaminho que havia no livro que Nico ganhou, a mesma textura e a mesma letra. – Duda crispou os olhos focando nas letras negras que enfeitavam o pergaminho. Aquele parecia mais um pedaço de um grande quebra-cabeça. – Espera, neste dá pra ler algo. A maioria das palavras está cortada, mas uma está bem legível: Sangue.

Peguei o pergaminho e olhei para as letras, mas nenhuma fazia sentido para mim. Estava em uma língua estranha.

— Não é inglês, nem português e nem mesmo grego. – Encarei a filha de Poseidon com as sobrancelhas franzidas. – Como você conseguiu ler algo?

— Não sei explicar, mas acreditem. Tem escrito ‘sangue’ aí. – Ela afirmou com uma expressão sombria.

— Não pode ser coisa boa. – Leo comentou encarando o papel por cima do ombro de Jason.

— Com certeza não. – Suspirei e guardei o papel na mochila junto com o outro pedaço. – E algo me diz que só vamos descobrir a mensagem completa no fim da missão.

Todos acenaram determinados e Duda voltou os olhos para o livro, uma expressão cansada surgindo em seu rosto.

— Todos prontos para mais uma viagem? – Ela questionou com uma empolgação fingida e mostrou as poucas letras douradas gravadas no fim do livro, letras estas idênticas as do livro anterior.

— Se disser que não, vai mudar alguma coisa? – Percy resmungou, provavelmente lembrando da vertigem pós-viagem com os poderes de Língua Encantada.

Duda sorriu, mas negou. Logo todos estavam juntos, Nico com Totó aconchegado em seus braços, e Duda voltou os olhos para as palavras delicadas começando a leitura, sua voz como uma música calma e hipnotizante.

 Na água grande ao sul do mundo os heróis encontraram a próxima etapa da sua missão!

De início nada aconteceu até a estrutura começar a tremer. Em poucos segundos o terremoto se tornou insuportável e o chão aos nossos pés começou a rachar. 

— Mas que diabos....

Em um piscar de olhos fomos sugados pelo buraco que surgiu no solo e caímos velozmente. Não contive o grito que saiu de minha garganta e o som das vozes desesperadas de meus amigos pareceu ecoar pelo túnel escuro e sem fim. Minutos pareceram horas, mas o buraco chegou a fim de repente e atingi o chão com força. 

— Custava a viagem ser um pouco mais delicada? – Jason murmurou com as mãos sobre a cabeça e o corpo jogado no chão.

— Chega! Próxima vez eu vou de avião. – Nico gritou e colocou a mão sobre a boca, prestes a vomitar.

— Ah, por favor, vocês são homens ou ratos? – Duda revirou os olhos e sorriu, novamente sem nenhuma sequela da louca viagem, enquanto acariciava as costas de Nico e o garoto se curvava sobre o corpo tentando respirar novamente. Leo levantou a mão de onde estava ajoelhado e Duda negou com um aceno. – Leo, nem tente responder.

— Onde viemos parar dessa vez? – Questionei, massageando as têmporas e cerrando os olhos devido ao sol forte. Senti um sabor salgado na boca e aos poucos pude ver o mar se estender a alguns metros de nosso grupo. Algumas barracas de praia pontilhavam a areia, mas uma grande rocha nos escondia das pessoas que curtiam a praia despreocupadas.

Duda caminhou pela areia fofa e olhou a redor soltando um grito de excitação quando seus olhos focaram em uma placa enorme e brilhante.

— Parque azul? – Percy leu as primeiras palavras que estavam em inglês com uma sobrancelha erguida. – Não consigo ler o resto. Está em espanhol?

— Não maninho, é português! Está escrito BLUE PARK – FOZ DO IGUAÇU. SEJAM BEM VINDOS! – Duda leu com empolgação e se virou para nós com um grande sorriso. – Estamos no Brasil!


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim de mais um cap! O que acharam?
Deixem um coment e façam uma jujubinha feliz!
Au revoir!



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