Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 41
Thank you for loving me


Notas iniciais do capítulo

Hello babys, I'm back!
Aproveitem o cap!
Kisses



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You pick me up when I fall down

You ring the bell before they count me out

If I was drowning you would part the sea

And risk your own life to rescue me

 

Thank you for loving me – Bon Jovi

— Annie, o que você descobriu?

As respirações eram altas, sobressaindo-se ao som dos poucos carros e conversas descontraídas ao redor. Depois de nos acomodarmos em uma das mesas ao ar livre do restaurante Santa Lucia e fazermos nossos pedidos todos os olhares se voltaram para Annie e Percy fez a fatídica pergunta. Todos pareciam ansiosos, os olhos voltados para a filha de Atena com expectativa vívida, mas não o meu. Sim, a ansiedade me consumia, provavelmente mais do que a qualquer outro ali, mas ouvir o que Annie contaria parecia ser a prova real do que me esperava dali para frente. Depois de saber onde a missão começaria de verdade não teria mais volta, era apenas cumprir meu destino mesmo que ele me levasse a um caminho sem volta. Então ouvir era suficiente, não queria olhar para Annie e acabar percebendo olhares de relance de pena ou medo voltados para mim. Já era suficiente o medo que sentia por mim mesma. Apenas voltei os olhos para a rua de pedra que parecia ter sido preservada no tempo, da época em que a modernidade era apenas um sonho distante. Na verdade todo o restaurante parecia um lugar preservado no tempo. Ele ficava um pouco distante do centro da cidade o que o tornava um lugar meio isolado, mas com os poucos clientes que eram fieis a ele. Um dos motivos que fez Nico nos levar ali, era um lugar calmo e silencioso com apenas algumas pessoas espalhadas pelas mesas enfeitadas de flores ao ar livre. Ninguém se importou com um hipotético grupo de jovens viajantes de férias e os garçons apenas lançavam sorrisos brilhantes por ver a clientela aumentar, ou seja, completamente fora de suspeitas. Meus olhos estavam na estrada no momento que um carro passou, uma mulher sorridente ao volante com uma garotinha ao seu lado que falava animadamente. Senti meu peito apertar, memórias de viagens de carro com minha mãe, do típico chocolate crocante que não faltava em seu porta-luvas, da música de viagens que criamos quando nosso ford enguiçou na fronteira entre estados e nos planos que ela fazia sobre conhecermos a Europa no meu aniversário de dezoito anos. Pensar nisso me fez rir e chorar ao mesmo tempo e tirei os olhos da estrada, Não, aquele não era o momento para isso. Forcei um sorriso quando o garçom deixou meu milk shake de morango na mesa e distribuiu o resto dos pedidos. Annie ainda organizava algo no notebook antes de começar a detalhar sua descoberta e eu apenas esperei sua voz soar enquanto olhava para meu vestido florido.

Na verdade, não meu. Logo após nossa pequena reunião no corredor do hotel, as meninas se dirigiram para um dos quartos e os meninos para o outro. O banho na enorme banheira da suíte com todos os sais e óleos que encontrei pareceu reanimar meu corpo destruído e eu senti que estava pronta para enfrentar o que viesse. É, a água faz isso comigo! Estava pronta para vestir meu típico short jeans e uma camiseta simples para encontrar o resto do grupo no hall de entrada do hotel quando Piper me barrou resmungando sobre o quanto minha roupa era simples e brega principalmente para andar nas ruas luxuosas de Roma e que nunca, jamé, deixaria que amiga sua passasse tamanha vergonha, não quando ela estava ali para impedir. Em um piscar de olhos vi um vestido florido e alegre ser lançado em minha direção e Piper me empurrou para o banheiro. O vestido caiu perfeitamente, o rodado no fim dando um ar leve e descontraído. Pela primeira vez me senti uma simples garota vestindo-se apenas para se sentir bonita, não alguém vestida para enfrentar monstros a qualquer momento, e gostei da sensação. Abracei Piper e agradeci, no fundo não apenas pela roupa emprestada, mas por involuntariamente ela ter me feito sentir como alguém normal ao menos por um tempo, alguém que rodopia na frente do espelho com um sorriso e que aproveita a visão de Roma como uma simples turista ao lado de seu grupo de amigos, alguém que sente as bochechas rosadas ao perceber que o garoto de seu sonhos a observa de cima a baixo e sorri com aprovação como eu estava me sentindo naquele momento, sentada na cadeira fria com os dedos mexendo no vestido macio que batia no meio das coxas. Mesmo com os olhos no vestido percebi Nico me encarar da mesma forma que vinha me encarando desde o caminho do hotel até o restaurante. Não com pena ou medo por mim. Seus olhos me analisavam com malícia e podia jurar que vi algo mais em seu sorriso descarado. Aquilo era....?

— Ok, acho que já tenho tudo o que preciso. Aliás esse lugar está de parabéns, tem um wifi maravilhoso. Nem o Olimpo é assim tão bom, a conexão cai sempre e... - Tirei minha cabeça de devaneios tolos quando a voz animada de Annie acabou com o silêncio do grupo. Percy ergueu a sobrancelha para a namorada e Annie apenas revirou os olhos com um sorriso e pigarreou passando a falar sobre o que todos realmente esperavam. - Certo, enquanto todos dormiam no avião eu resolvi começar algumas pesquisas sobre nossa missão na Itália...

— Típico... - Percy murmurou com um sorriso e Annie cerrou os olhos na direção do namorado que apenas ergueu as mãos em rendição e a deixou prosseguir. Segurei a risada e olhei de relance para Annie que virava o notebook na direção do grupo.

— De acordo com o primeiro trecho da profecia “Entre os três caminhos de Roma a Casa de Hades se aceitará”.- Na tela surgiu diversas imagens de estradas que se encontravam e todos observaram atentamente Annie uniu as mãos sobre a mesa e encarou cada um. - Então a primeira coisa que fiz foi procurar três estradas que se encontravam, mas nenhuma era tão específica ou importante, algo atípico para as profecias que sempre nos levam a lugares históricos ou mais enigmáticos.

— Ao menos uma vez poderia ser simples assim... - Nico resmungou recostado na cadeira de ferro e dando uma mordida no seu x-burguer.

— Na verdade não seria tão simples, há exatamente vinte encontros de três estradas em toda Roma, passaríamos dias para descobrir qual hipoteticamente seria o lugar certo se fôssemos procurar de um a um. - Annie torceu os lábios e deu de ombros, mas logo sorriu fazendo as imagens de estradas mudarem para um poema meio desbotado e conservado na tela. - Até que lembrei de um antigo poema em latim que li quando descobrimos a existência dos semideuses romanos. O poema falava da história de dois jovens apaixonados que se encontravam escondidos na encruzilhada de três estradas já que seu amor era proibido....

— Isso não está mais para Romeu e Julieta? - Leo perguntou dando uma garfada em seu bolo de chocolate.

— Tem suas semelhanças. Porém nessa história eles eram de povos diferentes e a guerra entre esses povos vinha de longa data. Quando descobriram que os jovens se encontravam escondidos cada um dos povos levou seu exército para a mesma encruzilhada e lá travaram a batalha final. Nenhum deles saiu realmente vencedor já que a maior parte das pessoas morreram incluindo os jovens apaixonados que foram encontrados abraçados no meio do encontro das estradas com sangue escorrendo dos graves ferimentos.

— E nesse mesmo lugar foi inaugurada uma fonte belíssima e de grande proporção para simbolizar o fim trágico de uma história de amor causado por uma guerra sem sentido. Uma forma de lembrar que nada de realmente bom sai de uma guerra. - Jason completou a história e todos o encararam com surpresa o que fez o loiro sorrir. - Essa é uma das músicas mais conhecidas entre o povo de Nova Roma. Jogar uma moeda na fonte e fazer um pedido sincero é um dos maiores sonhos de todo semideus romano!

— Na verdade, de todas as pessoas! - Annie afirmou e mudou a imagem no notebook novamente, agora mostrando uma belíssima fonte com imagens esculpidas em barroco e água cristalina refletindo o sol da manhã. Era fantástica e eu já a vira em diversas fotos e filmes, mas seu nome havia me escapado até ouvir Annie pronunciá-lo com as mãos erguidas para a tela – Fontana de Trevi, um dos pontos turísticos e históricos mais aclamados de toda Roma!

— Mas é claro! Tre vie, três caminhos. A fonte que foi construída na interseção das três principais estradas do Império Romano. - Nico se recostou na mesa passando as mãos apressadas pelo cabelo já bagunçado. - Como não lembrei disso?

— Me senti exatamente assim, Nico! - Annie sorriu empaticamente e logo voltou o olhar para o resto do grupo com um sorriso vitorioso de quem desvenda um bom mistério. - Então acho que está bastante claro, é lá que devemos começar nossa busca.

Annie fechou o notebook enquanto todos confirmavam. Então era isso, a fonte era o ponto de partida da missão. Da minha missão. Respirei fundo e pousei as mãos sobre a mesa. Estava na hora de encarar o destino de frente, não havia mais tempo para medo. Ergui os olhos e observei cada rosto ao meu redor cuidadosamente, amigos que nunca esperei ter e que iam além de uma família. Sorri corajosa ao perceber que a resposta para a pergunta que vinha me fazendo a tempos era um grande sim. Sim, eu estava disposta a lutar e até mesmo morrer por eles. Ter essa certeza me deixou mais leve, não importava o que viesse pela frente eu lutaria com unhas e dentes para que todos voltassem para casa são e salvos. Eles mereciam isso! Circundei o copo de milk shake sentindo minhas mãos gelarem e suguei , o sabor de morango tão doce quanto minha mais nova coragem. Ergui os olhos quando Piper ergueu uma mão com o rosto retorcido em dúvida o que fez todos a encararem.

— Tudo bem, uma parte da profecia foi desvendada. Mas o que significa A Casa de Hades se aceitará?

Quem sabe não é um templo dedicado à Hades, ou no caso, Plutão ainda preservado aqui em Roma. - Leo sugeriu com um dar de ombros e olhou para Annie buscando alguma concordância. - Poderia haver uma ligação entre o templo e a fonte...

— Também pensei nisso Leo, mas acho pouco provável. - Annie pousou os dedos finos sob o queixo e focou os olhos em algum ponto da mesa, concentrada. - A profecia foi clara ao dizer casa de Hades, então acredito que tenha ligação com a parte grega e não romana do deus. Além disso ela atribui uma ação pensada à casa, se aceitará, o que prova que o que devemos procurar não é algo inanimado.

O silêncio se instalou enquanto todos pensavam consigo mesmos. Mas eu sabia a resposta e acho que desde o momento que ouvi a profecia com mais cuidado eu tinha certeza dela.

— A Casa de Hades é apenas uma metáfora. - Minha voz saiu rouca por ter ficado tanto tempo em silêncio, mas todos conseguiram me ouvir e me encararam com ansiedade. Pigarrei e prossegui.- Como eu havia dito no acampamento, acredito que a profecia faz um paralelo com os títulos dos livros que contam a história de vocês. No livro A Casa de Hades, Percy e Annabeth estão atravessando o Tártaro seguindo para as Portas da Morte, a única saída do lugar.

— Nem me lembre disso... - Percy estremeceu ao meu lado e Annie pegou sua mão com um sorriso cansado e logo me olhou com curiosidade.

— Mas Duda o que isso tem a ver com a nossa missão atual?

— Bem, o livro tem foco em todos os semideuses da missão, mas para mim esse livro introduziu melhor um de vocês, mostrando um novo lado, mais sincero. E posso dizer até mesmo uma espécie de aceitação. - Foquei o olhar em Nico que me observava com confusão e eu suspirei. - Na busca pelo cetro de Diocleciano e tudo mais....

Nico arregalou os olhos como se tivesse levado um tapa e seus olhos se voltaram para Jason que o encarou e confirmou com a cabeça, percebendo que minha linha de raciocínio fazia sentido. O que o Cupido forçou Nico a fazer foi uma das partes que mais me chocou no livro. É claro, nunca esperaria por aquilo e pensar o quanto ele sofreu em silêncio partiu meu coração mesmo que naquela época ele não passasse de um personagem de história. Mas quando li o verso da missão ficou claro sobre o que a metáfora falava. Essa missão nos testaria de várias formas diferentes, isto era fato, e provavelmente se aceitar seria o teste da casa de Hades mais uma vez.

— Concluindo, a casa de Hades é apenas uma metáfora para Nico di Angelo. - Soltei tudo em uma respiração com meus olhos ainda em Nico que apenas afirmou e baixou os olhos pensativo.

— Isso faz sentido já que, de certa forma, Hades faz parte de Nico. - Annie coçou o queixo confirmando. - Então acho que desvendamos nossa missão aqui.

— Não sejamos tão ingênuos. Com certeza não vai ser apenas eu chegar lá, jogar uma moeda e dizer “eu me aceito” e em um passe de mágico a missão estará concluída. - Nico falou aborrecido por ter toda a atenção voltada para si. Com certeza ele também pensava no encontro com Cupido e acho que não estava pronto para algo como aquilo novamente, ainda mais agora com todos os semideuses observando incluindo Percy. Ele empurrou seu prato vazio para o centro da mesa e cruzou os braços.

— É claro que não. - Annie respondeu com o cenho franzido. - Precisamos investigar primeiro, apenas lá saberemos o que fazer em seguida e como seguiremos para o próximo verso da profecia.

— E devemos ir de preferência na madrugada. - Jason falou ao terminar seu suco. - A fonte é um grande ponto turístico onde as pessoas vão em todas as horas do dia, incluindo de noite. Acredito que de madrugada é o momento mais propício para investigarmos sem levantar suspeitas ou deixar algum mortal em perigo. Poderíamos ir nessa madrugada e....

— Não acho que seja possível. Felizmente, ou no nosso caso infelizmente, hoje à noite é comemorado o aniversário da criação da fonte, uma festa que dura a noite inteira. - Nico falou arrumando os cabelos para trás com um simples sorriso como se lembrasse de algo bom. - A madrugada de dança e comida a vontade e de pessoas que vem de toda parte da Itália,ou seja, sem chance para começarmos a missão.

— Na verdade, não. - Annie falou com um sorriso genioso e animado. - Com certeza algo mais estará escondido na fonte, algum pista para a missão. Então podemos ao menos desvendar a pista usando a festa como uma distração. Assim, com a pista descoberta, iríamos na madrugada seguinte para concluir a missão de fato!

— É uma ótima ideia Annie! - Piper respondeu batendo palmas animada e com os olhos brilhantes. - Até porque ir a uma festa em Roma não seria nada mal. Acho que poderíamos aproveitar bem uma pequena pausa para dançar ou fazer o que quer que as pessoas normais façam em festas.

Ela abraçou o braço de Jason com ar sonhador e o namorado a beijou com ternura e confirmou. Não podia negar, também estava ansiosa para ir a uma festa em Roma, mesmo que o foco principal fosse a missão. Me faria bem sentir o ar de felicidade dos mortais ao redor, ouvir as músicas e ver por quem eu estava lutando. Manter o mundo em seu eixo ainda era a missão vital de nós semideuses e eu me sentia orgulhosa por fazer parte disso. E acho que uma dança com um estranho educado e bonitão qualquer não me faria mal nenhum para esquecer os problemas por alguns minutos. Todos pareciam animados, até mesmo Nico que permanecia com ar sonhador recostado em sua cadeira.

— Então temos um plano! - Annie sorriu colocando o notebook sob o braço. - Mas lembrem-se, precisamos nos disfarçar, nos confundir na multidão. Ou seja nada de roupas de luta, jeans e camisetas. Qualquer arma prendam sob o vestido ou blazer. Hipoteticamente somos um grupo de amigos de férias em Roma, precisamos agir como tal.

Pagamos a conta e seguimos pela rua de pedra. Árvores espalhadas pela margem da estrada deixavam o ar com aroma de rosas e o céu era pontilhado por tons laranja enquanto a escuridão da noite já se incidia no horizonte. Me deixei seduzir pela beleza da cidade enquanto caminhávamos mais alguns quarteirões até Nico parar na esquina de uma rua que cruzava a nossa. Na placa azul na esquina lia-se Via del Corso e a rua era bastante iluminada com pessoas entrando e saindo de lojas que reluziam luxo e riqueza. Nico apontou pra sua direita e vi a rua se estender por mais alguns quilômetros, lojas se estendendo até onde era possível ver.

— Sejam bem vindos a uma das principais ruas de comércio em Roma. As lojas femininas ficam nessa direção e as masculinas ficam à esquerda. - Nico explicou e pôs as mãos nos bolsos da calça. - Mas é bom nos apressarmos já que as lojas fecham mais cedo por conta da festa de Trevie. Nos encontramos no hall de entrada do hotel às nove da noite.

Todos concordaram e se despediram, meninos seguindo para as lojas de terno e nós, garotas, quase corremos para as lojas de vestido. Para uma mulher, escolher um vestido apressadamente é quase uma missão impossível! Corremos para a primeira loja que vimos, já pegando alguns vestidos de nosso agrado e ocupando as cabines dos provadores. Graças aos deuses eu ainda possuía algumas economias que guardei da época que trabalhei em uma lanchonete perto da escola quando minha vida de semideusa ainda não existia, mas como não era tanto escolhi um simples vestido tomara que cai amarelo que terminava no joelho com um laço de seda preso à cintura. Fui a primeira a sair da cabine já com o vestido em mãos e sentei em uma das poltronas macias espalhadas pelo lugar. Logo vi Annie sair do provador com um vestido verde água nos braços e um sorriso luminoso. Caiu na poltrona ao lado da minha com um suspirou feliz.

— Tenho que admitir, compras são sempre revigorantes. - Ela me encarou com o sorriso preso nos lábios. - Fazem me sentir uma garota um pouco mais normal no meio de toda a loucura da vida de semideusa.

— Entendo perfeitamente. - Retribui o sorriso e apontei para o vestido bem dobrado em seu braço. - E acho que Percy vai amar sua escolha!

Annie corou e balançou a cabeça como se afirmasse que pensou exatamente nele ao escolher o vestido. Alguns minutos se passaram até Piper aparecer de um dos provadores com quatro vestidos em mão e uma carranca no rosto.

— Não fui feita para escolher roupa apressada. Sou filha de Afrodite, pelo amor dos deuses, roupa é algo sério pra mim. - Ela ergueu as mãos com vestidos em nossa direção. - Tudo bem, todos ficaram perfeitos, mas qual vocês acham mais bonito?

— O rosa! - Eu e Annie falamos em unissom e Piper deu um gritinho satisfeito.

— Eu também! - Ela entregou os outros vestidos a uma das vendedoras que passava e nos puxou em direção ao caixa, logo passando pela seção de sapatos e escolhendo um salto que combinava com seu vestido. - Tudo bem, temos três minutos para escolher um sapato...

— Piper, não é necessário, nós precisamos...

— Não me diga que você está pensando em ir com seu all star? - Piper me cortou com um revirar de olhos e pegou um salto preto e outro marfim entregando-os para mim e Annie respectivamente. - Vamos, se vou comprar roupas para minhas amigas então tenho que fazer o trabalho completo!

— Espera, o que? - Annie perguntou calçando o salto marfim que ficou perfeito em seu pé. - Não Piper, não posso deixar.

— Pode e vai! Meu cartão tem que ser usado para algum coisa já que o acampamento não aceita débito! - Ela ergueu um cartão platinado e piscou com um sorriso. - E você senhorita Duda pode se preparar porque amanhã lhe daremos um banho de loja! Não admito que seu guarda-roupa tenha apenas jeans e camiseta!

Antes que eu pudesse protestar Piper pegou nossos saltos, que incrivelmente ficaram perfeitos em nós, e finalmente nos puxou para o caixa pagando todas as compras com seu cartão brilhante. Saímos da loja e caminhamos pela rua já silenciosa, a maior parte das lojas com as portas baixas coberta pela escuridão. Logo encontramos um táxi e em pouco tempo estávamos novamente no hotel. A movimentação parecia ainda mais intensa à noite, pessoas trajadas elegantemente seguiam para seus carros, provavelmente em direção à famosa fonte e a festa que unia toda a Itália. Subimos as escadas e nos trancamos no quarto, faltavam apenas três horas para o horário marcado com os garotos e Piper não perdeu tempo em se trancar no banheiro.

— Ah não! Piper você tem dez minutos! - Annie gritou para a porta do banheiro fechada enquanto eu me jogava na cama rindo abertamente. - Nem mais nem menos!

Piper gritou em confirmação e Annie me encarou com um olhar cúmplice.

— Ela não vai ficar só dez minutos.... - Falamos em unisom e deitamos na cama.

Trinta minutos depois Piper saiu do banheiro já vestida e com os saltos, um olhar de desculpas voltado para nós. Annie revirou os olhos e me empurrou para o banheiro jogando uma toalha em seguida. Como prometido, em dez minutos saí do banheiro enrolada na toalha felpuda com os cabelos úmidos.

— Viu, a Duda consegue seguir o tempo estipulado! - Ouvi Annabeth resmungar e logo se trancou no banheiro.

Piper apenas revirou os olhos e riu consigo mesma. Ela já estava completamente pronta, mas ainda retocava o batom em frente ao espelho. Seu maquiagem era suave e o vestido combinava perfeitamente com os saltos. Os cabelos estavam presos no alto da cabeça com uma parte caindo pelas costas suavemente. Ela era a imagem perfeita de uma filha de Afrodite.

— Você está linda Piper!

— E você também vai ficar depois que eu terminar a sua transformação! - Ela se virou em minha direção com um sorriso largo e apontou para a cama às minhas costas. - Então é melhor começar a se arrumar rapidinho.

Sobre a cama estava meu vestido amarelo, bem simples se comparado ao de Piper ou Annie, e próximo a ele as sandálias pretas com detalhes prateados. Eu estava ansiosa, nunca saíra para uma festa dessa proporção. Festas de aniversário era o máximo que eu frequentava! Mas ali estava eu, me preparando para uma festa de verdade onde pessoas importantes de toda Itália estariam presente, muita música e dança. Mesmo que esse não devesse ser o foco principal da noite, eu não conseguia parar de pensar o quanto tudo aquilo parecia um verdadeiro conto de fadas. Baile, perigo, investigação, garoto misterioso que não é tão misterioso assim. Deixei um sorriso despontar por meus lábios enquanto pegava o vestido da cama, mas antes que pudesse vesti-lo alguém bateu à porta do quarto.

— Você pediu serviço de quarto? - Perguntei à Piper enquanto ela negava com a cabeça e abria a porta.

— Eduarda Swan? - O rapaz do lado de fora perguntou. Piper confirmou e pegou o pacote que ele lhe entregara.

Piper fechou a porta com o pé e logo me entregou o pacote.

— Oh meus deuses você recebeu um presente! Vamos, abre, abre, abre!

O pacote era prateado com um laço azul marinho ao redor e desenhos de ondas em alto relevo se destacavam na tampa da caixa. Coloquei-o sobre a cama e abri o laço, a tampa era de veludo e dentro da caixa um pano de seda escondia algo. Retirei o pano e levantei o presente em si. Pouco a pouco vi se desenrolar a minha frente o vestido mais lindo que eu já vira! A parte de cima era em renda com partes transparentes que terminavam em uma saia longa e esvoaçante com um abertura lateral que ia até metade da coxa. Parecia um vestido feito para uma estrela de cinema, fora da caixa era ainda mais perfeito e eu só conseguia olhá-lo com completa admiração enquanto Piper me encarava com um sorriso.

— Tem... tem certeza que isso é para mim? - Questionei colocando o vestido a frente do corpo e me olhando no espelho em um das paredes do quarto. - Acho que foi um engano, só pode ter sido um engano!

— Bem, o rapaz falou seu nome... - Piper deu de ombros e olhou dentro da caixa que estava o vestido tirando de lá um pequeno papel. Seu sorriso apenas aumentou ao lê-lo. - E acho que isto acaba com todas as dúvidas.

Ela me entregou o papel e as palavras ali contidas fizeram meu coração saltar no peito. Para Swan. Eram apenas duas palavras, mas que significavam muito principalmente por me darem uma grande pista sobre o mandante do vestido. Ainda encarava o papel embasbacada quando Annie saiu do banheiro penteando os cabelos e já vestida. Ela olhou para o vestido em minhas mãos e seus olhos se arregalaram.

— Oh deuses, de onde veio essa obra prima?

— Nico mandou para Duda como um verdadeiro admirador secreto. - Piper falou simplesmente e me olhou com seu sorriso maroto.

— Espera, como você sabe que foi ele? - Perguntei surpresa e Piper apenas revirou os olhos.

— Ah, por favor, está na cara! Ele é a única pessoa que te chama de Swan! Aposto que você também já tinha desvendado esse “mistério”.

Afirmei com as bochechas rubras de vergonha e Piper riu abertamente, logo me fazendo vestir o vestido. O tecido caiu em meu corpo como uma carícia delicada e se prendeu a cada curva perfeitamente. Calcei os saltos enquanto Piper ajeitava meus cabelos. Logo minha maquiagem estava pronta e ao me olhar no espelho quase não reconheci a garota que via. Eu nunca me sentira tão linda, mal conseguia parar de sorrir para meu reflexo. O vestido era elegante e sexy, meu cabelos estava presos de lado deixando os cachos livres que emolduravam meu rosto com a maquiagem suave e perfeita. Rodopiei uma vez e encarei as garotas. Annie estava pronta, cabelos presos em um coque baixo com fios caindo levemente pelo rosto enquanto a maquiagem delineava seus olhos cinza e seu rosto delicado, e sorriu para mim com os olhos brilhando.

— Você está linda Duda! - Ela pegou minhas mãos e me puxou para perto colocando minha pulseira com o tridente ao redor de meu pulso. Sorri agradecida e Annie piscou. - Mas acho que Percy vai ter um ataque do coração ao ver esse vestido.

— Então que ele culpe o di Angelo! - Dei de ombros e rimos abertamente. Encarei Piper que me olhava com curiosidade. - O que houve, Piper?

— Estou apenas curiosa. Eu saber o número que vocês calçam não é algo tão surpreendente, isso meio que vem como um dom para os filhos de Afrodite. Mas como Nico sabe seu tamanho perfeitamente?

Agora as duas me olhavam com um sorriso malicioso e eu só queria encontrar um buraco para me jogar dentro.

— Eu...eu não faço ideia. - Respondi com o rosto queimando e as garotas riram alto.

— Oh, eu tenho algumas ideias.... - Piper murmurou ainda gargalhando e eu revirei os olhos empurrando as duas para fora do quarto e seguindo atrás. Antes que saíssemos Piper entregou uma adaga a cada uma de nós além de um coldre para prender a adaga na coxa. Eu tinha minha pulseira, mas ela disse que era sempre bom ter uma adaga sempre em mãos e eu não reclamei, estava me sentindo a própria Viúva Negra com uma arma letal presa à coxa, sonho de toda garota nerd!

Logo chegamos ao hall onde todos os garotos já esperavam. Piper abraçou Jason que a elogiou com admiração. Percy segurou Annie com delicadeza e deixou um beijo casto em seus lábios e logo beijou minha testa olhando para meu vestido com reprovação. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa saí de perto deixando que Annie o distraísse e logo meus olhos foram puxados para o moreno de olhos negros que me encarava com surpresa e admiração. Nico estava no meio do hall, as luzes refletiam em seu cabelo negro e brilhante, bagunçado e sexy como sempre. Ele vestia uma camisa social com um blazer e um paletó por cima, elegante e despojado. Senti minhas pernas bambearem quando um sorriso despontou em seus lábios, um sorriso somente meu. Sem perceber, estava caminhando em sua direção, induzida por ele, Mas estanquei no lugar quando Venília surgiu do nada e parou na frente de Nico. Seu corpo curvilíneo estava coberto por um vestido vermelho e ela parecia pronta para seduzir. Cerrei os punhos e senti um mão quente circundar meu pulso. Ergui os olhos, Leo sorria para mim.

— Você está linda, Duda! - Ele beijou minha bochecha e piscou. Voltou os olhos para Nico e sorriu para mim com cumplicidade - Agora que tal salvarmos o di Angelo?

— O quê?

Logo ele me puxou na direção de Nico novamente. Em poucos passos me vi frente a frente com Venília, que me olhou de cima a baixo com os lábios finos em desgosto. Um silêncio se instalou até Leo pigarrear e erguer um braço para Venília como um verdadeiro cavalheiro.

— Senhorita Caelinus, me daria a honra de acompanhá-la até seu carro?

Venília olhou para o braço estendido de Leo e depois para Nico. Ela queria ficar grudada no di Angelo, mas a educação e elegância não a deixaram recusar um pedido de um cavalheiro e logo ela cruzou seu braço como de Leo e o seguiu para fora do hotel com olhares de relance para trás. Depois que os viu cruzando as portas do hotel Nico suspirou em alívio e eu segurei a risada.

— Acho que Leo roubou sua acompanhante! - falei e Nico voltou a me encarar com intensidade.

— Me lembre de agradecê-lo por isso! - Rimos abertamente e logo Nico voltou a me observar com devoção, podia jurar que seus olhos negros brilhavam. - Está pronta?

Afirmei e Nico se postou ao meu lado estendendo o braço com uma leve mesura. Senti seu perfume, amadeirado e forte, uma tentação à minha sanidade, e apenas encaixei meu braço ao seu sentindo a textura macia de seu paletó que combinava perfeitamente com meu vestido. Encarei Nico de relance enquanto seguíamos para fora do hotel.

— Aliás obrigada pelo vestido. - Falei e apertei o braço contra o dele quando um vento frio passou por meus ombros e Nico me observou com atenção, seus olhos negros vasculhando meu rosto como era de costume. - Você realmente sabe escolher....

— Tenho que discordar. - Ele falou com pesar. Chegamos ao táxi que nos levaria ao evento. Leo, Piper e Jason seguiram no táxi a frente do nosso junto com Venília enquanto Percy. Annie, eu e Nico iríamos no táxi já estacionado em frente ao hotel. Percy abriu a porta para Annie que agradeceu com um sorriso e entrou enquanto do outro lado Nico abriu a porta para mim que ainda o encarava com confusão por sua declaração. Ele apenas suspirou quando sentei no banco traseiro e se abaixou para sussurrar em meu ouvido. - Não era minha intenção comprar algo que mantivesse meus olhos fixos em você de forma tão hipnótica. Mas é exatamente isso que está acontecendo....

E se afastou com seu sorriso malicioso me deixando perplexa e com o coração acelerado olhando para a porta fechada do carro enquanto ele seguia para o banco da frente ao lado do motorista. Como ele podia dizer algo assim, me deixar assim, e simplesmente sair? Me recostei no banco com um suspiro, tentando não levar as palavras de Nico para um lado sério e pessoal e acabar me magoando no fim. Percy e Annie conversavam animadamente, mas passei a viagem inteira apenas olhando discretamente para Nico que observava a cidade e lançava olhares de relance para mim. Mesmo que de minha boca não saísse nem um pio, por dentro eu me sentia gritar. Sim, eu estava ferrada, mas eu não podia mais negar a mim mesma: eu estava perdidamente apaixonada pelo di Angelo. Até os pequenos gestos dele faziam meu peito disparar e borboletas voarem em meu estômago e ao mesmo tempo eu me sentia quebrar por saber que nunca daria certo. Nico não queria se prender, ele mesmo já dissera isso, mas eu não queria ser apenas mais uma de ninguém. Então eu apenas decidi que contaria tudo a Nico. Não naquele momento, só de imaginar as palavras saindo da minha boca e Nico tendo alguma reação completamente contrária a que eu esperava já fazia meu sangue gelar. Mas eu não sabia como se desenrolaria a missão, a estrofe final parecia se repetir sempre e sempre em minha mente, e eu não queria ter o arrependimento de nunca ter falado a Nico como me sentia antes de algo acontecer. Então ele saberia tudo, no meu momento de coragem insana ou, quem sabe, quando não houvesse mais tempo para adiar.

— Chegamos! - Nico informou e eu espantei os pensamentos mórbidos de minha mente para apreciar a vista da praça decorada e da fonte que surgia do meio dela, brilhante e deslumbrante.

Saímos do táxi e encontramos Piper, Jason e Leo a nossa espera em frente ao arco que marcava a entrada para a festa em si. Um palco magnífico estava posto à frente da fonte onde algumas bandas tocavam jazz, blues e outras músicas marcantes para o povo italiano. Mesas brancas com toalhas douradas se espalhavam pelo lugar lotado com pessoas de todos os tipos, das mais simples até os mais sofisticados com seus ternos caros e vestidos brilhantes. Todos dançavam e conversavam, mas a maioria admirava a fonte como uma verdadeira aniversariante. A maior parte dos casais sentavam à beira da fonte e jogavam moedas logo antes de se beijarem com paixão. Uma das lendas sobre a fonte era que se as moças bebessem da água da fonte e logo quebrassem o copo elas garantiriam que seu amado nunca se esquecesse delas e era exatamente isso que muitas das garotas na fonte estavam fazendo, limpando os cacos de vidro logo em seguida com um sorriso satisfeito no rosto.

— Então elas realmente acreditam na lenda? - Perguntei em um sussurro para mim mesma parando sob o arco de flores e ramos dourados intricados com luzes que completavam a decoração.

— As vezes as lendas são reais. Nós somos exemplos vivos disso! - Nico parou ao meu lado silenciosamente e quase caí de uma susto quando ele respondeu minha pergunta retórica. Seu sorriso não poderia ter se alargado mais. - Então, também vai tentar a sorte? Acho que consigo arranjar um copo para você...

Empurrei-o de lado e revirei os olhos. Logo nosso grupo caminhou para a festa como perfeitas damas e cavalheiros. Senti a mão de Nico pousar na base de minha coluna, exatamente na parte aberta do meu vestido, fazendo minha pele arrepiar com seu contato. Ele me conduziu pelo meio do salão e senti vários olhares dirigidos à mim, alguns esnobes de garotas e outros desejosos de garotos. Nico ignorou à todos, sua mão circundando minha cintura de forma possessiva, e continuou a me levar para a fonte onde nosso grupo parou e se reuniu.

— Tudo bem, vamos nos dividir. Piper, Jason e Leo. - Annabeth apontou para o trio com seu modo líder vindo á tona. - Você investigam a parte leste da fonte. Duda e Nico ficam com a parte oeste e eu e Percy vamos para o centro. Procurem qualquer coisa que possa ser um sinal para nossa missão. A maioria já está acostumado com esses sinais então será fácil descobri-lo se ele estiver realmente aqui. Boa sorte!

E ela se dirigiu com Percy para a parte central. Leo, Jason e Piper foram para a parte leste enquanto eu e Nico seguimos para o oeste onde a maioria dos casais se amontoavam.

— Porque tantos casais desse lado?

— Porque é aqui onde fica a Fontanina Degli Innamoratti, ou Fonte dos Apaixonados. - Ele apontou para um pequeno pedaço de pedra que lembrava uma pia onde dois pequenos furos na pedra da fonte deixavam água cair e enchiam a pia. Muitos casais se reuniam no lugar bebendo a água da fonte juntos e sorrindo bobamente. - É apenas mais uma lenda sobre a fonte, o casal de namorados que beber junto na fonte terá fidelidade eterna entre eles.

— E eu que pensei que a cidade do amor fosse Paris... - Dei de ombros vendo a fila formada por casais e sentei na beirada da fonte.

A água cristalina refletia as luzes brilhantes da festa. Roxo, azul, verde. Um arco-íris artificial. Olhei para o fundo da fonte, mas nenhuma pista que mostrasse algo para a missão. Nico também passou a procurar ao redor e eu olhei para as pessoas mais próximas, todas muito entretidas com conversas e beijos. Me abaixei para procurar na pedra onde sentava, mas ainda assim nenhuma pista. Rodamos todo o lado que nos fui incumbido, incluindo a tal fonte dos apaixonados. Eu e Nico entramos na enorme fila apenas para poder olhar o máximo que pudéssemos da pequena fonte e quando os casais as nossas costas começaram a reclamar da demora saímos de lá rapidinho. Depois de minutos de procura e sem nenhuma pista sentamos lado a lado na beira da fonte olhando para a festa que parecia ainda mais animada.

— Encontrou algo? - Nico perguntou passando as mãos pelos cabelos bagunçados pelo vento.

— Não. - Respondi frustrada e encarei Nico com esperança. - E você?

— Nada. - Ele respondeu com um dar de ombros resignado. - Espero que os outros tenham tido mais sorte.

— Com certeza! - Bufei chateada e dobrei uma perna sobre a outra, esticando o corpo para trás e fechando os olhos levemente. Meus ombros ainda estavam tensos pelo cansaço e, mesmo amando a festa, eu sabia que meu corpo pedia uma boa cama. Apenas respirei fundo sentindo o ar frio contra minha pele e tentando não encolher.

— O que é isto aqui? - Nico questionou e eu abri os olhos com a sobrancelha erguida vendo seus olhos seguirem para minha coxa. Quase corei até ver que ele observava a protuberância na lateral na forma exata do coldre da adaga.

— Ah, é apenas a adaga que Piper me fez usar sob o vestido. - Levantei um pouco mais o vestido e a ponta da adaga apareceu na fenda lateral o que fez Nico engolir em seco e sorrir levemente.- Precaução sempre!

— Você deve estar se sentindo a própria Viúva Negra... - Ele falou com seu sorriso travesso e eu arregalei os olhos com a coincidência.

— Exatamente! - Afirmei apontando os dedos em riste na direção dele que apenas ergueu a cabeça e riu ainda mais.

Arrumei o vestido escondendo a arma e apenas brinquei com a mão na água enquanto observava a festa. A música era confortável e animada, as conversas enchiam o lugar enquanto crianças corriam por todo lado com a felicidade plena estampada nos sorrisos inocentes. Era por aquilo que eu lutava, para manter a inocência e a paz dos mortais que não conheciam o mundo perigoso que vivia ao lado. Eles mereciam ter aquela felicidade e era minha missão mantê-la.

— Observar as pessoas, os mortais, me faz lembrar pelo que nós lutamos. - Falei simplesmente e ouvi Nico suspirar ao meu lado e acenar em concordância. - Acho que é isso que me dá coragem para enfrentar essa missão suicida, saber que não é apenas por mim, é algo bem maior do que eu.

— Acho que é isso que dá coragem para todos nós. - Nico respondeu e me olhou intensamente, seus olhos negros parecendo azuis escuros pelas luzes da festa. - Mas todos nós sairemos são e salvos da missão, eu prometo!

— Você sabe que não pode prometer algo assim, não depende de você ou de mim ou de qualquer outro... - falei baixando a cabeça e sentindo o peso voltar ao meu peito. Tratei de logo espantar esses pensamento, ao menos naquele noite eu não pensaria nas preocupações de semideusa, apenas curtiria a festa como alguém normal. - De qualquer forma, não quero falar sobre isso. Na verdade eu fiquei bem curiosa para saber se você já veio para alguma dessas festas aqui, pareceu saber muito a respeito quando conversamos no Santa Lucia.

— Já frequentei algumas.... - Ele respondeu vagamente e ergueu os olhos para festa, mas seus pensamentos pareceram voar para longe.

— Ok, Terra chamando Nico! - Estalei os dedos na frente do rosto dele que piscou e se virou para mim. - Porque você se desliga do mundo quando fala da festa? E não venha negar porque vi essa mesma expressão vaga no restaurante. Vamos, me conte!

Nico suspirou sabendo que havia perdido a batalha e apenas pegou minha mão como se fosse hábito. Seus dedos brincaram distraidamente com os meus enquanto ele começava a falar.

— Há muito tempo atrás, quando eu ainda morava aqui, minha mãe nos trazia, eu e Bianca, para a fonte todos os sábados. Nós brincávamos sem nenhuma preocupação enquanto ela sentava a beira da fonte e olhava para a cidade com um sorriso tranquilo. - Ele encarou o céu estrelado com um sorriso nostálgico e eu pude imaginar sua mãe na mesma posição há muito tempo atrás, sem tantos problemas e preocupações. - Ela amava admirar o mundo a sua volta e a vista da fonte era uma de suas preferidas. Logo antes de irmos embora ela tinha uma tradição. Nos dava uma moeda nova e dourada e dizia que se jogássemos na fonte e fizéssemos o pedido mais sincero de nosso coração, acreditando realmente nele, ele se tornaria realidade.

Ele abaixou os olhos e me encarou com um sorriso envergonhado. Naqueles olhos eu pude ver um Nico menor e mais inocente jogando sua moeda na fonte e acreditando realmente que seu desejo se realizaria e eu sabia que aquele garotinho ainda estava ali em algum lugar mesmo que Nico lutasse para escondê-lo. Ele revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Sei que é algo idiota e...

— Não é nada idiota ter fé. - Falei decidida e sorri. - Minha mãe também acreditava naquilo que parecia impossível para os outros. Ela tinha sonhos tão altos... - Voltei a encarar a festa. Os casais dançando, as crianças brincando. Minha mãe teria adorado tudo ali. - Ela dizia que faríamos uma viagem por toda a Europa no meu aniversário de dezoito anos e uma das paradas principais, agora eu lembro, era nessa fonte. Ela dizia que jogaríamos na fonte as moedas que tivéssemos de maior valor no bolso, garantindo assim que um dia retornaríamos à Roma. E ela acreditava em todas as lendas, em toda a mágica. Mas nada disso foi suficiente...

Solucei sem conseguir mais prender as lágrimas. Pensar nela, pensar no que eu fiz a ela, era demais. As lágrimas embaçaram meus olhos e meu ouvido passou a zunir, eu sentia apenas a dor. Logo braços aconchegantes me circundaram e Nico me puxou para perto. Tudo parecia em câmera lenta e ele repousou a cabeça sobre a mim sussurrando palavras calmas em meu ouvido. Cravei minhas unhas em seu paletó e me permiti desabar.

— Eu sito tanta falta dela! - Murmurei, a voz abafada pelo peito de Nico. Ele apenas alisava minhas costas com movimentos suaves. - Tudo o que eu queria era poder voltar no tempo e mudar tudo...

— Eu sei. Eu entendo. - Ele respondeu e continuou a me abraçar até eu me acalmar. Meus soluços cessaram aos poucos, a respiração calma de Nico contra meu rosto fazendo meu peito desacelerar. Ele ergueu meu rosto e fixou os olhos nos meus. Seu rosto era a pura empatia e ele limpou os resquícios de lágrimas em minhas bochechas. - Essa é uma dor que nunca passa. Mas podemos ao menos realizar o sonho dela.

Ele se afastou um pouco com um sorriso carinhoso e tirou do paletó duas moedas. Sorri em admiração e percebi que aqueles simples gestos era o que me faziame apaixonar cada vez mais pelo garoto a minha frente. Enxuguei, ainda fungando, os resquícios de lágrimas na bochecha e aceitei a moeda. Nos viramos de costas para a fonte, mas antes que Nico contasse até três eu tive uma ideia.

— Nico que tal você tentar a sua teoria do restaurante? - Questionei mordendo o lábio inferior. Nico me encarou confuso. - Sobre jogar uma moeda e pensar ou falar que se aceita.... não custa nada tentar!

Nico revirou os olhos, mas concordou. Jogamos nossas moedas ao mesmo tempo e ouvi o barulho do encontro delas com a água. Olhamos para a fonte logo em seguida, mas nenhum sinal dos deuses apareceu.

— Nada funciona! - Nico esbravejou e passou as mãos pelo rosto irritado. Ele olhou para a grande estátua no centro da fonte e logo me encarou. - Quem sabe você não deva tentar algo. O deus representado no centro da fonte é Netuno, o outro lado do seu pai. Quem sabe se você não controlar a água ou algo assim...

— Não, eu não acho que a casa de Hades tenha algo a ver comigo. - Pousei a mão sobre o queixo e encarei a fonte pensativa até algo estalar em minha mente. - Mas você poderia!

— O que, controlar a água? - Nico perguntou ironicamente e eu bufei.

— Não, idiota. Você poderia tentar usar seu poder com as sombras. Quem sabe ele não revele algo oculto?

Nico abriu a boca pronto para retrucar, mas parou ao perceber que aquela era uma boa ideia. Ele olhou ao redor, a maior parte dos casais havia se dispersado para a pista de dança, poucas pessoas ainda estavam perto de nós na fonte, então se levantou e ficou a frente da fonte. Parei ao seu lado enquanto ele fechava os olhos e tocava a beira da fonte onde estávamos sentados segundos antes. Logo uma sombra negra se enroscou por seus dedos e passou a se esgueirar pela fonte. A sombra aumentou pouco a pouco e eu olhei ao redor preocupada, mas ninguém parecia sequer notar que estávamos ali. Nico continuava concentrado enquanto a escuridão crescia pela fonte como uma erva daninha. Um vento forte começou a soprar quando as sombras chegaram à água e se arrastaram por ela como óleo negro. Algumas pessoas olharam assustadas para o céu sem saber de onde aquele vento surgira e eu mexi freneticamente os dedos esperando que Nico completasse logo o trabalho. As sombras continuaram a se estender até chegar às estátuas do outro lado e subirem por elas. O vento ficava mais forte a cada minuto, tanto que meu vestido esvoaçava loucamente em minhas pernas assim como meu cabelos. Cerrei os olhos quando senti areia misturada ao vento bater em meu rosto no exato momento quando todas as sombras se encontraram no topo da cabeça da estátua de Netuno. Nessa hora o vento cessou de repente e do meio das sombras surgiu um símbolo reluzente e negro, um elmo. O símbolo da casa de Hades.

— O sinal!- Falei embasbacada enquanto Nico também encarava o símbolo que surgira com satisfação e cansaço. Nico tirou as mãos da fonte e no mesmo momento o sinal sumiu e as sombras se dissiparam na noite. Tudo voltou ao normal e Nico se ergueu ainda respirando com dificuldade, mas sorrindo com o feito. - Você conseguiu, di Angelo!

E, sem pensar em meus atos, pulei sobre Nico prendendo as mãos ao redor de seu pescoço. Ouvi sua risada sonora soar em meu ouvido e ele me apertou contra si. Estava tão feliz por termos encontrado o sinal que apenas minutos depois percebi o que havia feito. Me soltei de Nico lentamente e com as bochechas vermelhas enquanto ele apenas ria abertamente já recuperado do esforço de usar tanto de seu poder. Quando nos separamos de vez ouvi passos rápidos vindo em nossa direção e me afastei de Nico enrolando um cacho entre os dedos.

— O que foi aquilo? - A voz de Percy soou assustada e ele olhou de mim para Nico com as sobrancelhas erguidas. O resto do grupo surgiu atrás dele com a mesma pergunta nas expressões confusas. - Na fonte?

— Então vocês viram? - Nico questionou com um sorriso vitorioso e apontou para onde antes brilhava o símbolo de Hades.

— Como não ver? - Jason respondeu e sorriu pousando a mão sobre o ombro de Nico como forma de parabenizá-lo.

O grupo estava reunido mais uma vez, porém agora tínhamos uma certeza. Era ali, naquela fonte, onde a missão realmente começaria e eu não poderia estar mais ansiosa. Meu desejo era começar tudo naquele exato momento, mas não era possível, não com aquela festa acontecendo. É claro que os mortais não veriam exatamente o que fazíamos, mas eles veriam algo modificado pela névoa e ainda assim poderia ser uma problema. Então apenas observamos a festa sentindo a esperança renovada.

— Tudo bem, já sabemos onde devemos começar e quando. - Piper quebrou o silêncio, ajeitando o vestido e olhando para o salão de dança com animação. - Então que tal apenas aproveitarmos a festa, sermos “mortais por uma noite”?

E antes de qualquer resposta a morena puxou Jason para a pista de dança. O loiro a seguiu com seu típico sorriso e eles logo começaram a dançar. Percy estendeu a mão para Annie com um sorriso galante e também a levou para a pista de dança. Eles pareciam livres e leves rodopiando pela pista, vivendo uma noite mágica sem a magia que complicava tudo. Ouvi Nico pigarrear ao meu lado e voltei os olhos em sua direção. Ele parecia querer falar algo, mas sua boca abria e fechava sem deixar nenhuma palavra sair. Quando ele finalmente decidiu falar alguém o interrompeu, alguém alto e elegante, com curvas por todo o corpo e uma vestido vermelho provocativo.

— Essa filha de Gaia, não... - Murmurei frustrada quando Venília se pôs entre eu e Nico se insinuando para o filho de Hades como se eu nem ao menos existisse.

— Não estava pretendo me chamar para uma dança, Angelo? - A morena falou com seu sotaque irritante e me olhou de relance, me ignorando em seguida e mantendo os olhos ferozes sobre Nico.

— Eu...eu... Onde está Leo? - Ele mudou de assuntou procurando o filho de Hefesto com os olhos desesperadamente como se ele fosse sua única salvação. - Achei que ele havia se intitulado seu acompanhante esta noite.

— Por um tempo, sim, até ele ver a mesa de doces e salgados. - Ela apontou desgostosa para além da pista de dança onde uma mesa enorme cheia de todos os tipos de comida se estendia pelo calçamento. Logo vi os cabelos castanhos e rebeldes de Leo enquanto ele devorava um croissant. Sorri enquanto Nico revirou os olhos irritado e voltou a encarar Venília que se aproximou dele com malícia. - Então, que tal uma dança como nos velhos tempos?

Ouvir aquilo fez meu sangue ferver e eu cerrei os punhos. Vi os olhos de Nico pousarem sobre mim, uma pergunta clara na expressão. Mas porque ele queria minha permissão para dançar com Venília? Eu já havia dito que a vida era dele e não queria pensar mais sobre isso. Dei um aceno rápido e virei os olhos para a fonte. Logo ouvi a voz de Venília diminuir aos poucos e me permitir voltar os olhos para eles enquanto a mulher puxava Nico para a pista de dança. Ele me lançou um último olhar, mas logo se perdeu entre a multidão dançante.

Me recostei na fonte e observei as pessoas dançando. Em certos momentos via Nico por entre os rostos, seu olhos se voltavam para mim e suplicavam ajuda enquanto Venília parecia ser a condutora do casal. Eu ri abertamente percebendo que não tinha como ficar com raiva já que Nico parecia querer estar em qualquer outro lugar que não fosse os braços da italiana. Eles continuaram a rodopiar pelo são e eu apenas me permiti relaxar por um tempo, eu precisava daquilo. O vento era frio e eu olhei as estrelas que cintilavam no céu escurecido. Voltei os olhos para pista, mas algo bloqueou minha visão. Na verdade, alguém. Ergui os olhos pelo paletó azul petróleo bem alinhado até chegar ao rosto anguloso do homem a minha frente. A barba por fazer contornava a boca que sorria com dentes brancos enquanto os olhos da cor de âmbar me fitavam com admiração. Os cabelos do rapaz eram marrons como a areia da praia e estavam bem arrumados, mesmo que alguns fios rebeldes caíssem sobre os olhos dele. Ergui uma sobrancelha quando o rapaz coçou a nuca envergonhado e levei discretamente a mão para a adaga escondida sob o vestido.

— Quem é você? - Perguntei desconfiada.

— Oh, me desculpe. Que falta de educação a minha. - Ele respondeu com um sorriso ainda mais largo que fez covinhas aparecerem nas bochechas. Ele estendeu a mão e eu coloquei a minha sobre a sua com certo receio. Logo seus lábios pousaram no dorso da minha mão, quentes e molhados. Ele ergueu os olhos novamente. - Me chamo Paolo e gostaria de saber se aceita dançar comigo.

— Porque? - Cerrei os olhos para o rapaz tentando perceber se aquele não era algum monstro disfarçado ou um dos capangas do Mestre. O homem apenas expressou surpresa e sorriu ainda mais, se é que isso era possível.

— Eu vi a senhorita sozinha e acho um crime deixar uma dama como você desacompanhada. - Ele respondeu galante e eu revirei os olhos logo ouvindo sua risada melódica. - Ah, vamos lá. Tudo bem, vou te explicar. Meu pai está bem ali e praticamente me empurrou pra pista de dança, me mandando achar alguém pra dançar. Acho que ele tem medo que eu seja meio antissocial, ou gay ou algo assim.

— E você é? - Perguntei rindo quando os olhos de Paolo se arregalaram. Retrai minha mão da adaga aos poucos enquanto ele tentava se explicar.

— Não, não sou antissocial. E também não sou gay! Não que eu tenha preconceito com isso, mas... - Ele suspirou e me encarou com um dar de ombros. - Só acho que não faço muito o tipo das garotas.

— Se for pela aparência, você não tem com o que se preocupar! - Respondi e o encarei de cima abaixou com uma piscadela. Paolo ficou vermelho como um tomate.

— Não, não é isso. Mas sou meio calado e focado demais nos estudos. Isso atrapalha uma pouco minha relação com o sexo oposto. - Ele me olhou com olhos pidões. - Só queria que essa noite as coisas fossem diferentes....

Paolo me olhava com suplica e eu revirei os olhos sem conter o sorriso.

— Ok, tudo bem, vamos dançar!

Ele sorriu com covinhas novamente e me puxou delicadamente para a pista. A música era rápida e deixei que Paolo me conduzisse. Eu sempre amei dançar e isto ficou bem claro enquanto eu seguia os passos de Paolo como uma profissional. Ele me olhou admirado quando prendi uma perna em sua cintura e estiquei a outra, como uma verdadeira dançarina de tango.

— Então você também dança?

— Um dos meus muitos hoobs. - Dei de ombros modesta e Paolo riu voltando a me conduzir com habilidade.

Enquanto dançávamos Paolo começou a me contar sobre sua vida. Ele era americano, mas se mudara para Itália para morar com o pai e fazer sua faculdade de arquitetura. Descobrimos a cor favorita um do outro, as comidas favoritas e acabei por também contar um pouco sobre mim, excluindo tudo o que me ligava a ser uma semideusa. Depois de um bom tempo decidimos apenas dançar a música lenta que se iniciara. Ele circundou minha cintura e eu pousei o queixo em seu ombro. Me senti tão normal com aquele simples gesto que sorri e suspirei até sentir Paolo tremer sobre meus braços. Afastei os rosto de seu ombros e encarei seu rosto. Seus olhos estavam fechados e sua boca em uma linha rígida.

— Está com frio? - Questionei com um sorriso zombeteiro.

— Eu...eu... - Ele abriu os olhos e vi sua pupila dilatada. O âmbar de sua íris mais vívido do que nunca. - Estou um pouco. Que tal sairmos daqui?

— O que? - Confusa tentei dar uma passo para trás, mas Paolo firmou seus braços que estavam ao meu redor e me prendeu contra si, sem me deixar saída.

— Poderíamos ir à algum lugar privado, silencioso quem sabe? - Ele me puxou para perto e vi seus lábios se erguerem em um sorriso malicioso. Sua mãos afundavam em minha costa com força e eu sabia que ficaria uma marca ali.

— Não, Paolo, eu... - Afastei minha cabeça o máximo possível enquanto ele aproximava os lábios de mim prestes a selar um beijo.....

— Será que eu poderia interromper? - Um voz rouca e com uma fúria controlada soou ao meu lado e voltei os olhos para o garoto de cabelos negros e olhos flamejantes parado a minha direita.

— Nico! - Minha voz soou mais como alívio do que surpresa, mas o filho de Hades apenas segurava meu braço enquanto seus olhos continuavam fixos em Paolo.

— Acho que já teve sua vez, não é? - Ele vociferou e Paolo soltou os braços de mim e se afastou com relutância. Fez uma leve mesura me entregando para Nico, mas pude ver seus olhos irados e a boca contorcida enquanto ele se afastava e sumia pela multidão.

Eu ainda estava em choque. O que havia acabado de acontecer? O que deu em Paolo? Balancei a cabeça e senti uma mão de Nico circundar minha cintura com delicadeza enquanto a outra tomava minha mão na sua. Ele me puxou para perto calmamente e eu me deixei ir. Seus olhos negros focaram nos meus, brilhantes e belos, e eu apenas afastei de minha mente o acontecido de minutos atrás.

— Você abandonou sua companheira de dança? - Questionei com um sorriso enquanto sentia o ardor em minhas costas causado pelo aperto de Paolo diminuir com os movimentos calmos da mão de Nico.

— Com certeza! - Ele respondeu e revirou os olhos o que me fez rir ainda mais. - Ela resolveu falar como algumas pessoas da alta sociedade e eu aproveitei para escapar.

— Que coisa feia! - Cerrei os olhos e fingi um briga o que fez Nico sorrir. - Se tirar os olhos dela por muito tempo vai acabar perdendo-a para outro rapaz!

— E você acha que isso me preocupa? - Ele perguntou surpreso como se eu não fizesse ideia do que ele realmente pensava. - Meus olhos não estiveram realmente nela em nenhum momento da dança. Eu simplesmente não conseguia tirar os olhos de outro lugar....

Suas orbes negras me esquadrinharam como um complemento a sua afirmação e eu senti minhas bochechas avermelharem. Nico sorriu e me conduziu pelo salão com destreza. Surpresa segui seus passos e ele me rodopiou, prendeu minha perna em sua cintura e me apertou contra si. Sua mão deslizou pela extensão de minha perna, seus olhos não deixaram os meus por nenhum segundo. Meus pelos arrepiaram quando a respiração de Nico bateu em meu pescoço, mas quando sua mão apertou a base de minha coluna, o exato lugar onde Paolo afundou seus dedos com violência, não consegui conter um gemido de dor e Nico se afastou de mim com os olhos arregalados de preocupação.

— O que foi? - Ele tirou as mãos de mim e parou a dança instantaneamente. - Eu te machuquei?

— Não, não foi você. É que...

Olhei para Nico sem conseguir terminar a frase. O filho de Hades franziu a testa e antes que eu protestasse ele me virou de costas para si e senti seus dedos passarem delicadamente pelo lugar dolorido em minha coluna.

— Swan, quem...quem fez isso com você? - Nico tentava controlar a raiva na voz, mas parecia impossível. Sentia sua respiração em meu pescoço, alta e forte. - Não me diga que ele....

— Nico, não... - Me voltei de frente para o moreno que estava com os punhos cerrados e os olhos vasculhando o salão como um fúria enlouquecida. Suspirei e pousei as mãos sobre os ombros tensos do garoto a minha frente. - Sim, foi Paolo. Nós estávamos dançando normalmente até que ele decidiu que queria algo mais e acabou me apertando demais, mas...

— Aquele... aquele...! - Nico parecia tomado pela fúria e comecei a ver as sombras se juntando ao corpo dele como uma segunda pele.

— Não. Nico você precisa se acalmar. Não aconteceu nada, você chegou a tempo como sempre. - Sorri e virei o rosto de Nico para mim. Suspirei aliviada ao ver as sombras se dissiparem no ar enquanto Nico me encarava ainda com fúria, mas pude ver certa angústia em seus olhos.

— É claro que aconteceu! Ele te machucou! - Ele respirou fundo e pouso as mãos novamente em minhas costas agora com um cuidado redobrado. - Se eu não tivesse chegado naquele momento...

— Eu teria dado um jeito de escapar dele. Tudo bem, ele me pegou desprevenida, mas bastava um bom chute nos países baixos e eu estaria livre. - Pisquei e sorri, mas Nico não parecia estar para brincadeiras naquele momento. - E de qualquer forma você estava lá Nico, como prometeu que sempre estaria. Agora eu só quero esquecer isso e ficar aqui dançando com você. Será que podemos? Eu amo essa música....

Encarei Nico como uma súplica e ele respirou fundo e colou seu corpo ao meu. Seus braços me abraçaram com delicadeza e eu me derreti com a cabeça colada em seu peito e os braços ao redor de seus ombros enquanto a nova música começava a tocar. Lenta e romântica.

— Thank you for loving me , Bon Jovi. - Nico sussurrou em meu ouvido e eu o senti relaxar contra meu corpo. - É realmente uma ótima música.

E nós dançamos todas as músicas que se seguiram. Nico não me largou por nenhum segundo e eu aproveitei o momento, me sentindo realmente feliz pela primeira vez em muitos dias. Faltavam apenas poucas horas para o sol nascer quando o grupo resolveu voltar para o hotel. Todos pareciam exaustos e eu mal me aguentava em pé. O frio se tornou cada vez mais intenso e quando eu tremi dos pés à cabeça pela quinta vez seguida Nico tirou seu paletó e o prendeu firmemente em meus ombros. Senti o aroma amadeirado me envolver e sorri me aproximando de Nico e seguindo o grupo para um dos táxis que estavam a nossa espera. Meus olhos se fechavam involuntariamente e tudo parecia uma mistura entre realidade e sonho. Entrei em um dos táxis e apenas percebi Nico sentando ao meu lado. Deitei a cabeça em seu ombro como se aquilo fosse algo comum, acho que o sono realmente estava mexendo com meus neurônios. No entanto Nico passou o braço ao meu redor e passou a brincar com um de meus cachos soltos.

Ergui os olhos sonolentos e Nico logo me encarou de volta. Ele parecia um príncipe com os cabelos bagunçados e um sorriso no rosto, nunca senti tanta vontade de beijá-lo quanto naquele momento. Mas minha cabeça estava nas nuvens e de meus lábios saiu apenas uma pergunta.

— Como você sabia o tamanho do meu vestido? - Murmurei baixo e vi o sorriso de Nico ficar ainda mais resplandescente.

Meus olhos se fecharam aos poucos ainda com a imagem dos olhos de Nico nos meus, e, antes de adormecer, ouvi apenas sua voz melodiosa sussurrar em meu ouvido como uma canção de ninar.

— Segredo, il mio cigno, segredo....

Foi um sono tranquilo até que senti braços circundarem minhas costas e pernas e me erguerem do banco. Senti que alguém me carregava, mas meu cansaço era maior e apenas me deixei ser levada. Vozes soavam a minhas costas e apenas entendi algo como “Eu consigo, eu a levo.” Algum tempo depois senti meu corpo de encontro a algo macio e meu rosto afundou em um travesseiro e eu relaxei completamente com um sorriso pacífico nos lábios.

 

O sol nasceu rápido demais. Forcei meus olhos a se abrirem apesar de arderem como nunca antes. O quarto iluminado com o sol do fim da manhã me fez cerrar os olhos novamente, não estava preparada para tanta luz....

— Espera! Fim da manhã?

Me senti na cama em um pulo. O relógio sofisticado no criado-mudo mostrava que faltava quinze minutos para o meio dia. Olhei ao redor do quarto e não vi nenhum das garotas ali. Como sempre, eu estava atrasada! Gemi frustrada e forcei meus pés para fora da cama confortável. O chão estava frio e o espelho a minha frente revelou que eu ainda vestia as mesma roupas do dia anterior, inclusive o paletó de Nico que permanecia em meus ombros. Sorri com as lembranças boas da noite anterior e rodopiei pelo quarto soltando gritinhos de prazer como uma garotinha. Então lembrei que provavelmente todo mundo estava me esperando para decidir o próximo passo da missão e corri para o banho pegando a primeira muda de roupa que encontrei na mochila. Em alguns minutos estava pronta e saí do banheiro ainda secando as pontas dos cabelos. Corri para a penteadeira de mogno em um dos cantos do quarto em busca de uma escova e encontrei um papel rosa preso sob um frasco de perfume. Um bilhete.

Querida Duda

Provavelmente você só verá este bilhete no começo da tarde já que realmente deu um show de dança na noite passada. Está de parabéns! Eu e Annie decidimos não acordá-la já que você parecia estar no sétimo sono e sussurrava palavras desconexas, além de falar o nome de Nico umas dez vezes (prometo que esse será nosso segredo :x). Bem, não se preocupe, você não está atrasada, não dessa vez. Eu, Jason, Annie, Percy e Leo decidimos sair em um tour pela cidade e voltaremos apenas por volta das três da tarde, então esteja pronta até lá! Thalia mandou uma mensagem de Íris para Percy e logo quando chegarmos vamos encontrá-la na entrada da floresta de Teutoburgo. Ela parecia ter algo muito importante a contar.

Então, cherry, avise ao Nico sobre o encontro, se encontrá-lo. O que eu acho que vai já que tem algo para devolvê-lo,ou não (Não sei mesmo como vocês dois funcionam!).

Aproveite o sono de beleza. Nós vemos em breve.

P.S: Não pense que me esqueci de nossas compras! Você não me escapa senhorita Swan!

Bisous, Piper”

Sorrindo, coloquei o bilhete sob o perfume novamente e olhei para o relógio. Ainda faltavam duas horas para as três da tarde. Penteei os cabelos e olhei para a cama, o paletó de Nico emaranhando sobre os lençóis. Peguei-o delicadamente e senti o aroma amadeirado ainda fixo no pano escuro.

— Ahh, preciso saber que perfume é esse, di Angelo! - Sussurrei com os olhos fechados em deleite.

Abracei a peça contra mim e encarei o espelho. Eu estava tentada a permanecer com o paletó para sempre, mas o que isso diria de mim? Vesti o paletó e o abotoei, ele caiu como um vestido em mim. Rindo, imaginei o que Nico diria e, depois de sentir o aroma de Nico impregnado em minha pele, resolvi que era hora de devolver o paletó, mesmo contra minha própria vontade. Ainda descalça, saí do quarto na ponta dos pés, mas não havia ninguém no corredor, e parei na porta a frente do meu quarto. Provavelmente Nico nem estaria mais no quarto, era típico dele acordar cedo e perseguir garotas indefesas. Revirei os olhos com minha própria piada e decidi que, se Nico não estivesse, deixaria o paletó sobre a cama e sairia de fininho, fim de história. Girei o trinco e a porta se abriu facilmente.

Mas, como sempre, eu tinha um péssimo timing.

E, quando a porta se abriu completamente, eu suspirei longamente com um único pensamento:

Ah, não! De novo, não!”

 

P.O.V Nico

A luz forte do sol da manhã brilhou contra minhas pálpebras fechadas, mas pela primeira vez em anos ter de enfrentar um novo dia não me deixou irritado. Na verdade eu me sentia cansando e ,ao mesmo tempo, revigorado. Sorri com os olhos fechados, a noite anterior passando como uma filme por minha cabeça. Estar com ela trazia o melhor de mim e negar aquilo, aquela altura do campeonato,era tolice. No começo eu estava no controle, escondia meus sentimentos como havia feito durante anos. Mas depois do falso namoro com Leo, depois do idiota do Arthur, depois do tal Paolo... eu simplesmente não conseguia mais me afastar. Na verdade, deitado naquela cama e repassando na mente todos os traços perfeitos dela, eu não queria me afastar. Eu queria me aproximar, estar tão perto que meus olhos vissem apenas a imensidão verde e meus lábios sentissem a macieis dos dela. Suspirei frustrado, os lábios secos, e revirei na cama. O pior de tudo era não saber o que ela realmente sentia! Por suas reações envergonhadas e até mesmo raivosas em relação a outras mulheres próximas à mim eu diria que ela correspondia a meus sentimentos. Porque não ir no quarto a frente e fazer todas as perguntas que estavam me matando pessoalmente? Não, nem eu era tão impulsivo. E relembrar a conversa no táxi da noite anterior me fez perceber que o pior não era um amor platônico....

— Como você sabia o tamanho do meu vestido? - Ela perguntou sonolenta e eu não consegui conter o sorriso, algo que vinha sendo difícil de conter desde a primeira vez que vi aquele rosto.

— Segredo, il mio cigno, segredo.... - Sussurrei em seu ouvido e a vi arrepiar antes de cair em um sono profundo com a cabeça repousada em meu ombro.

Seus cabelos cheirava a cravo e canela e faziam cócegas em meus pescoço, mas apenas a mantive perto e instintivamente segurei sua mão que repousava sobre minha perna. Alguns dias antes eu ainda me questionava sobre o que estava acontecendo comigo, porque aquela garota havia me mudado tanto? Mas, sentindo a pele macia dela contra meus dedos e sua respiração calma contra meu pescoço, eu percebi que não me importava mais com minha mudança, apenas agradecia por ela. E foi ainda admirando a garota recostada contra mim que ouvi a pergunta soar do outro lado do carro.

— Quando vai contar a ela?

Ergui os olhos para ver as orbes cinzas e curiosas de Annie me encarando de volta. Ela sorria com o braço recostado na porta do carro, mas Percy, sentado ao lado do motorista na frente do carro, não parecia ter o mesmo humor ao encarar o banco de trás de relance.

— Contar o quê? - Questionei realmente confuso.

— Que está perdidamente apaixonado por ela! - Annie respondeu como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Quase engasguei com minha própria saliva o que fez a filha de Poseidon se remexer ao meu lado e apertar minha mão, mas graças aos deuses sem acordar. Voltei a encarar Annie agora com uma expressão de pavor, olhos arregalados e boca escancarada. Acho que essa não era uma expressão tão comum para mim pois Annie quase não segurou a risada e antes que eu pudesse fazer qualquer palavra sair por minha boca ela ergueu a mão com o sorriso ainda mais largo.

— Nico, me poupe de suas negações. - Ela revirou os olhos e apontou de mim para Swan com a sobrancelha erguida. - Acha que ninguém percebe a forma como olha para ela ou o ódio no olhar que lança para qualquer garoto que se aproxima dela? Isso não é comum para você assim como se apaixonar também não é!

— Eu... não... - As palavras que saíram eram tão desconexas que apenas fez Annie rir ainda mais como um confirmação do que dissera. Olhei para Swan com o rosto tão próximo ao meu e suspirei. - Não é isso, ela é a primeira amiga que tenho de verdade, melhor amiga, como você e Percy....

— Como eu e Percy? - Annie perguntou sem conseguir segurar a risada e Percy encarou o banco de trás diretamente com a sobrancelha arqueada. - Você está apenas piorando sua situação, Nico.

— Não, não foi isso que quis dizer! - Bufei e encarei Annie decidido. - Só quis dizer que a amizade que tenho com a Swan é forte como a amizade que vocês tem. O fato de confiarmos um no outro, de lutarmos melhor juntos. Então acho que é comum amigos assim sentirem ciúmes de vez em quando, não?

— Ah, cara, você tá caidinho por ela! - Percy falou me encarando como se desse o diagnóstico final a um paciente. Seu olhar era exasperado e super protetor. - E ela é minha irmã! Lá se vão minhas esperanças que o amor dela por você fosse platônico....

— Espera... o que? - Quase berrei assustado, mas contive a voz quando Swan resmungou ao meu lado. Era um milagre ela ainda não ter acordado. Encarei Percy com curiosidade e no fundo até mesmo esperança. - Ela gosta de mim dessa forma?

— E você ainda diz que eu sou a pessoa mais lerda que existe, sabidinha? - Percy revirou os olhos e Annie riu bagunçando seu cabelo. Percy se virou no banco da frente e passou a me encarar com seriedade, o sorriso fácil sumindo e dando lugar a um expressão consternada. - Só... não machuque-a, di Angelo.

— Eu nunca faria isso! - Respondi com os dentes rangendo e quase puxei a filha de Poseidon para mais perto. Com ele poderia achar que eu seria capaz de machucá-la?

— Não falo de uma forma física ou, até mesmo, intencional. - O filho de Poseidon suspirou e olhou para a irmã com carinho depois voltou os olhos sérios para mim. - Nesses anos que se passaram após a Grande Guerra já vi você saindo com mais garotas do que posso contar em todos os dedos e, pelos diversos rumores que rondaram o acampamento, posso dizer que com nenhuma delas acabou muito bem. Não sei o que houve com você depois da Grande Guerra, mas algo te mudou. Sim, você passou a ser mais comunicativo e presente, mas ainda fechado de uma certa forma e sua relação com as garotas passou a ser algo compulsivo, como se procurasse nelas algo que ainda não tinha encontrado...

— Você não sabe nada sobre mim, Perseu... - Murmurei raivoso, mesmo que no fundo soubesse que ele tinha certa razão. Na época eu já sabia que o que achava sentir por Percy era apenas uma admiração fanática e, depois que caí na real, percebi que a lacuna que eu tentava preencher desesperadamente era aquela deixada por minha mãe e Bianca. Abaixei os olhos, envergonhado. Pensando bem, eu realmente usava todas aquelas garotas em uma tentativa falha de preencher a tal lacuna. Quando passei a não buscar mais isso? Meus olhos baixos seguiram para o rosto da garota em meu ombro e aquilo me encheu de uma paz incomum. - Eu não sou mais assim.

— Não agora. Não depois da missão de resgate para o Brasil. Você mudou drasticamente mais uma vez depois que resgatou minha irmã. Todos percebemos isso. - Percy suspirou derrotado o que me fez erguer os olhos novamente. - Ela é forte, mas já passou por tanta coisa, mesmo antes de entrar na vida de semideusa. Eu sei o quanto ela confia em você. O que eu peço, Nico, é que tenha cuidado com ela, com os sentimentos dela. Melhor deixá-la com esse amor platônico do que dá-la esperanças que acabem por decepcioná-la ainda mais, não acha?

 

O que eu achava? O que eu achava? Revirei novamente pelo edredom macio e prendi a cabeça sob o travesseiro. Revivi a conversa com Percy durante todo o trajetória do táxi até o quarto de Swan, revivi suas palavras cautelosas e dolorosas enquanto repousava-a na cama e até mesmo quando tentei tirar meu paletó do corpo dela e ela se abraçou a ele voltando a dormir calmamente. Cada gesto, cada movimento parecia fazer inflar meu peito, parecia preencher ainda mais a fatídica lacuna. Mas e se Percy estivesse certo? Não era algo tão impossível assim, eu tinha de admitir mesmo que parecesse arrancar um pedaço de mim. Não quando ela já vira Drew de calcinha e sutiã no meu chalé ou ao ver Venília se insinuando para mim como nos velhos tempos. Esbravejei baixo contra o colchão prendendo o lençol em meu punho fechado. Provavelmente eu já a magoara em todas essas vezes sem nem ao menos perceber isso. Se algum dia ela realmente já gostara de mim de uma forma além de amizade, eu já havia estragado tudo. Ou se não, provavelmente estragaria. Era melhor mantê-la por perto mesmo que apenas por amizade do que acabar afastando-a completamente. Ela precisava de um amigo e eu queria ser esse amigo....

— Mas porque é tão difícil te tirar da minha cabeça? - Grunhi para os lençóis até ouvir uma voz suava e cheia de sotaque soar próxima ao meu ouvido. Próxima demais!

— Porque é impossível me esquecer, mio angelo!

Pulei na cama, surpreso e ofegante, enquanto a mulher ao meu lado sorria sedutoramente e se aproximava de mim cada vez mais.

— Ve-Veni? - Mumurei sem conseguir conter meus olhos que percorreram o corpo dela em seu avanço. Ela estava apenas com um hobe de seda vermelho e por baixo uma camisola transparente que mostrava mais do que eu deveria ver. Desviei os olhos me arrastando pela cama. - O que está fazendo aqui?

— Seus amigos saíram cedo hoje então resolvi fazer uma visitinha. - Ela sussurrou melosa e com um sorriso voraz enquanto engatinhava pela cama e em um pulo se postava sobre mim. - Quem sabe reviver antigos jogos?

— Eu não acho uma boa ideia... - Respondi já me desvencilhando dela, porém a italiana prendeu suas unhas em meus pulsos e mordeu meu pescoço. Reagi com um suspiro de surpresa o que a fez sorrir ainda mais.

— Não tente negar, Angelo! Eu ouvi sua declaração, sei que não consegue me tirar da cabeça! - Ela sussurrou em meu ouvido e prendeu as pernas ao redor de meu tronco, as mãos finas ainda contornando meu pulsos. - Apenas pare de tentar e curta o momento,?

Neguei veemente com a cabeça e pousei as mãos em seus ombros prestes a tirá-la de cima de mim. Eu não podia fazer isso, não podia usar uma garota novamente só para tentar esquecer a Swan.

Mas não fui rápido o suficiente.

No momento que pousei as mãos em Veni e ela se inclinou em minha direção a porta do quarto se abriu abruptamente e no vão os cachos castanhos e revoltos contornavam a expressão de completa surpresa no rosto da garota. Da minha garota. E a única coisa que pensei depois de me xingar mentalmente foi: “Ah, não! De novo, não!”

 

P.O.V Duda

Na verdade ver Nico com outra garota em seu quarto não me surpreendeu tanto quanto eu esperava. Mas isso não quer dizer que meu sangue não gelou e não senti o coração desabar quando vi a italiana bonitona sobre Nico na cama bagunçada. Meu olhar alternava entre Nico e a mulher enquanto ele mantinha as mãos nos ombros dela, paralisado e com os olhos em completo pânico. Eu quase podia ver as engrenagens trabalhando em velocidade máxima na sua cabeça pensando em algo plausível para dizer naquele momento. Seria cômico se não fosse trágico! Abri e fechei a boca alguns vezes, mas nada parecia ser o certo a falar e passei a caminhar de costas, saindo do quarto a passos lentos. Quem sabe se eu saísse rápido o bastante aquilo não passaria de uma miragem na minha cabeça? Mas antes que eu sumisse do quarto o grito do filho de Hades me fez parar no lugar.

— Amor, não é nada disso que você está pensando! - Nico empurrou a mulher de lado e pulou da cama vindo em minha direção com um olhar aflito. Ele usava apenas a calça do dia anterior e seus cabelos estavam bagunçados como nunca, o alívio em seus músculos quando ele se afastou da italiana e parou ao meu lado era perceptível. - Eu juro que não aconteceu nada, ela apareceu aqui enquanto eu dormia e pulou em cima de mim e....

— Amor? - Venília perguntou abismada amarrando o robe para esconder a camisola transparente e colocando as mãos nos quadris em seguida. Mas tudo isso pareceu estar na minha visão panorâmica, pois o foco dos meus olhos perplexos mantinham-se no filho de Hades que estava a minha frente, seus torso nú e seus olhos negros que pareciam implorar.

“Amor?” sussurrei com as sobrancelhas erguidas e o coração disparado. Nico apenas olhou de Venília para mim e tomou minha mãos nas suas arregalando os olhos ainda mais.

— Por favor, acredite em mim! Por favor...me ajude... - Ele sussurrou a última parte apenas para mim e eu engoli em seco. Fingir ser mais do que amiga de Nico era brincar com o limite de minha sanidade, mas eu adoraria dar uma lição na megera italiana. Olhei para os olhos manhosos de Nico e logo depois para o seu paletó vestindo meu corpo e tive a ideia mais louca possível. Apertei as mãos de Nico nas minhas e relaxei a expressão de surpresa, fazendo um sorriso superior e despreocupado se desenhar em meus lábios. Se ia entrar no jogo, então seria a melhor jogadora!

— Eu com certeza vou me arrepender disso depois... - murmurei entredentes rapidamente e suspirei, me preparando para o papel de namorada de mentirinha novamente. Acho que poderia arranjar um bom emprego com isso! Tomei o rosto de Nico em minhas mãos, o que o surpreendeu, e pisquei de lado. - Sim, amor, eu acredito em você. Sei que não aconteceu nada!

— E como pode ter tanta certeza? - Venília perguntou com ar esnobe e os braços finos cruzados. Apenas seus olhos mostravam a fúria que sentia por dentro. Sotei o rosto de Nico e mantive meus dedos entrelaçados nos dele deixando que apenas meus olhos fuzilassem a italiana.

— Porque eu dormi com ele e saí daqui a pouquíssimo tempo. - Falei simplesmente com um dar de ombros, tentando soar o mais despreocupada possível, o que foi bem difícil com meu coração quase saindo do peito e o olhar abismado de Nico sobre mim. Mas acho que funcionou bem já que o queixo de Venília pareceu chegar ao chão.

—Isso... isso não é possível! - A italiana falou em uma voz fina e irada, os punhos cerrados e o olhar oscilando entre mim e Nico. - Angelo diga que é mentira!

— Ele não pode, já que é a pura verdade. Você não vê que estou usando o paletó dele? - Falei com um sorriso superior fazendo um floreio com as mãos que mostrava o paletó de Nico como um vestido em mim. Nem ao menos meu short era possível ver já que o paletó abotoado passava do meio de minhas coxas e eu sorri mais ainda. - o paletó dele.

— Mas o que...? - Nico sussurrou e pude ver sua respiração se acelerar e seus olhos vasculharem meu corpo como um predador, suas pupilas dilataram tanto que engoli em seco. Mas antes que respondesse Venília vociferou mais alto.

— De qualquer forma isso não significa nada! Foi apenas uma noite. Nico e eu temos uma história, muitas e muitas noites compartilhadas. - Ela deu um passo em minha direção, os dentes brancos rangendo com a emoção da palavras e os dedos em rifle contra mim. Senti Nico apertar minha mão contra a sua enquanto a estrangeira louca continuava seu discurso furioso. - Ele está apenas usando você. Logo vai se cansar e voltar para uma mulher de verdade quando perceber que uma coisinha como você...

Mas antes que ela terminasse seu ataque Nico tomou minha frente e segurou o pulso de Venília. Foi como uma muralha se postando entre mim e a italiana, via apenas seu tronco subir e descer com a respiração rápida e furiosa.

— Eu nunca, nunca, a usaria! E não admito que fale assim dela. - Ele falava de uma forma tão séria e furiosa que esperei ver as sombras se avolumando ao seu redor, mas percebi aliviada que mesmo com toda a fúria ele estava controlado. Sua voz prosseguiu, fria e direta - Venília gostaria de manter nossa amizade, apenas amizade, mas se continuar tratando-a dessa forma nem isso poderemos manter!

Um silêncio se instalou no quarto. Venília parecia surpresa com a reação protetora de Nico e para acabar de vez com toda dúvida que ela ainda tivesse sobre nosso “relacionamento”, me aproximei das costas de Nico e passei as mãos por baixo de seus braços, subindo-as lentamente pelo tórax e me apertando contra ele como uma verdadeira namorada faria. Não posso dizer que não estava me aproveitando da situação....

— Vamos di Angelo, acho que ela já percebeu que entre nós é algo sério, não como as brincadeiras que você tinha com ela. - Sorri venenosa por cima do braço de Nico em direção a italiana que parecia soltar fumaça pelas narinas. Forcei Nico a ficar frente a frente comigo e ignorei Venília de propósito, prendi minhas mãos ao redor do pescoço dele, me colando ao seu corpo, e aproximei meu rosto do seu com minha melhor expressão de sedução. - Agora que tal continuarmos de onde paramos?

Pude ouvir o bufar da italiana, mas prendi os olhos no garoto a minha frente que parecia hipnotizado, me encarando com os lábios entreabertos e as mãos ao redor da minha cintura com possessão. Os olhos de Nico pareciam famintos e iam dos meus olhos para minha boca sem parar. Senti um calafrio delicioso subir por minha espinha e apenas me deixei levar me aproximando ainda mais de Nico com um sorriso nos lábios. Ele abaixava a cabeça lentamente e pude sentir meus olhos se fechando, antecipando o momento que eu mal sabia que tanto ansiava.

Milímetros separavam meus lábios dos dele até a italiana sair do quarto em disparada e bater a porta atrás de si. No momento do baque Nico piscou freneticamente e afastou o rosto do meu. Suas bochechas coraram e ele subiu as mãos para meus ombros. Enquanto Nico parecia envergonhado eu me sentia frustrada e baixei os olhos para que isso não acabasse transparecendo neles. Ouvi Nico pigarrear e ergui a cabeça novamente a tempo de vê-lo bagunçar ainda mais os cabelos e me encarar com um sorriso de desculpas. Sentei na cama com as pernas esticadas e encarei Nico com as sobrancelhas erguidas tentando fazer meu coração acalmar no peito.

— Da próxima vez que meus dotes como namorada de mentirinha forem requisitados, me manda um roteiro!

— Anotado. - Ele alargou o sorriso e caiu na cama ao meu lado com um suspiro cansado. Observei discretamente seu peito subir e descer e me repreendi mentalmente por não controlar meus olhos traiçoeiros. Passei a encarar o teto, uma visão segura no momento.

— Se bem que foi um ótimo improviso! - Cutuquei Nico de lado e pigarrei, imitando sua voz da melhor maneira possível. - “Amor, não é nada disso que você está pensando!”. Foi brilhante!

— Eu ... - Ele começou com a testa franzida em concentração, mas desistiu da frase e me encarou com o sorriso debochado em seguida. - Eu acho que foi milhões de vezes melhor do que seu teatrinho com o Valdez.

— Mas você acreditou direitinho no nosso beijo apaixonado, não foi? - Provoquei e Nico ficou sério, os olhos queimando em mim.

— É, você é uma atriz excelente! - Ele debochou e não contive a risada. Deitei na cama ao seu lado enquanto Nico me acompanhava rindo abertamente. Logo ele suspirou ainda sorrindo. - E obrigada por invadir meu quarto na hora mais uma vez. Você foi meu cavaleiro de armadura reluzente dessa vez.

— Não há de quê, bela dama. - Falei com ar esnobe e Nico riu. Olhei em seus olhos negros com diversão e apontei o dedo para seu peito. - Mas acho melhor você dá um jeito nessa italiana, ela não parece entender muito bem que você já saiu dessa!

— E você acha que não sei? Não vejo a hora de terminarmos a missão por aqui. - Ele bufou e cruzou os braços sobre o peito. Logo seus olhos se voltaram para mim com curiosidade. - Mas, então, o que trouxe sua ilustre invasão ao meu quarto nas primeiras horas da manhã?

— Primeiro, já passa de meio dia. - Apontei para o relógio no criado mudo do quarto e Nico arregalou os olhos ao ver a hora avançada. - Segundo eu não invadi, a porta tava encostada e eu entrei, mas como já discutimos isso antes vou deixar o assunto morrer. E terceiro tenho dois assuntos a trata contigo.

Sentei na cama e Nico me acompanhou com a sobrancelha erguida. Suas pernas se enroscavam nas minhas e a proximidade de seu corpo parecia embaçar meus pensamentos, mas passei a enumerar meus objetivos nos dedos, tentando me concentrar em algo que não fosse o abdômen do garoto a minha frente.

— Primeiro assunto: Piper me deixou um bilhete avisando que as três da tarde eles estarão no hall de entrada esperando por nós para encontrarmos com Thalia. Pelo jeito ela tem informações importantes a compartilhar.

Nico acenou determinado e eu me levantei parando em frente a ele. Olhei para o paletó em meu corpo já com certa saudade. Seria duro deixá-lo, já até havia me acostumado com sua maciez e principalmente seu aroma. Nico me encarou confuso e eu apenas suspirei.

— E segundo assunto.... - Desabotoei o paletó aos poucos até ver a expressão surpresa de Nico olhando para mim como se eu fosse louca, porém com a respiração acelerada como se ansiasse por algo. Ergui a sobrancelha até me lembrar das minhas próprias palavras ditas a Venília no calor do momento e me senti enrubescer. - Oh, não. Não, Nico, eu estou muito bem vestida por baixo do seu paletó.

Terminei de desabotoar rapidamente e mostrei minhas roupas por baixo do paletó. Nico suspirou e sorriu envergonhado coçando a nuca freneticamente. Retirei o paletó do corpo sem conter a risada com a expressão vermelha do filho de Hades sentado a minha frente.

— Não acredito que realmente pensou que eu estava nua sob o paletó!

— Não seria uma surpresa tão ruim... - Ele falou e se ergueu como um predador. O vermelho no rosto dando lugar a olhos famintos e com foco total em mim.

Mas eu estava cansada de deixar me coração apenas disparar e não fazer nada. Dois podiam jogar aquele jogo e eu estava me sentindo bastante corajosa depois daquele teatrinho. Então sorri de lado e dei um passo na direção do moreno que se assustou com minha reação. Aproveitei seu descuido e o empurrei na cama. Ele caiu sentado sem tirar os olhos de mim e eu me aproximei ainda mais até nosso rostos estarem a centímetro de distância. Quando sua respiração se misturou a minha e seus olhos negros se perderam nos meus eu sorri da forma mais sedutora que consegui e sussurrei em seu rosto.

— Não, não seria mesmo...

E me afastei de repente caminhando rapidamente até a porta enquanto Nico parecia ainda se recuperar do meu ataque de coragem repentina.

— Te vejo as três! - Gritei já saindo pela porta em direção ao meu quarto.

— Swan! - Ele vociferou ao longe e me tranquei no quarto rindo abertamente.

 

O relógio marcava uma e meia da tarde quando sai do quarto em direção a sala de jantar do hotel. O tempo esfriara de repente então passei de fininho no quarto dos garotos. Nico tomava banho, o que agradeci mentalmente, e segui para a bolsa de Percy pegando um de seus vários moletons....azuis. Revirei os olhos e vesti um deles rapidamente sentindo o frio em meus braços substituído pelo calor delicioso do pano macio. Logo saí do quarto e desci as escadas vendo o hall de entrada vazio a não ser pelo recepcionista que lia um livro despreocupadamente. Segui para a sala de jantar e me servi do banquete sobre a longa e refinada mesa, mais uma cortesia que Nico conseguiu no pacote de viagem grátis. Depois de estar satisfeita passei a explorar o hotel. Era maior do que eu imaginava com sua área de lazer ao fundo, piscina, bar, uma biblioteca gigantesca, salão de festas e diversos quartos ainda mais luxuosos do que os nossos. Mas algo me chamou atenção quando passei por uma das portas fechadas. Não havia nada escrito e ao empurrar percebi que ela levava a uma escadaria interna, provavelmente uma saída de emergência. A escada levava para cima e acabei por segui por ela. Depois de voltas e voltas cheguei a mais uma porta e empurrei. Quando ela abriu vi o céu e o topo dos prédios se estendendo até onde a vista poderia ir. O nome do hotel estava a minha frente e percebi que havia chegado ao topo do hotel. A minha frente o espaço era amplo e no chão estava marcado apenas um círculo em amarelo, provavelmente para o pouso de algum helicóptero. O lugar era silencioso e caminhei por ali parando quase na borda, sentindo o vento frio bagunçar meus cabelos e a cidade abaixo se desenrolar a minha frente. Estar ali me deu tempo para pensar e, depois de meses de treino, descobri que lutar clareava meus pensamentos tanto quanto correr. A pulseira escorregava por meu pulso e encarei o tridente brilhante. Tirei-o de seu lugar e vi minha fiel espada surgir em minhas mãos, afiada e brilhante. Fechei a porta que me levara ali e passei a relembrar os golpes que aprendi. A cada golpe um pensamento aflorava. Revivi toda a minha vida durante aquele treino improvável. Um corte na diagonal, o corpo de minha avó sobre o chão da cozinha. Giro com investida, o acidente de carro. Defesa em arco, veneno de monstro em meu corpo. Ataque com salto, possessões e crocodilo gigante. Mortal de costas com ataque, profecia e missão. Mestre, mestre, mestre! O que ele queria? Quem ele era? Porque eu era tão importante? Quais seus planos? Parei por um minuto, respirando com dificuldade e sentindo o suor escorrer por minha testa. Sentei no chão de concreto e encarei o céu azul, no fundo eu apenas repetia para mim mesma: “Se as coisas ficarem ruins, não envolva nenhum deles. É sua missão e se algo tiver que acontecer que seja com você!” Eu teria coragem suficiente? Bem, eu precisava ter e fazer o rosto de todos eles passarem como um filme em minha cabeça me ajudava a focar nisso. E ao contemplar o céu e pensar no meu plano suicida acabei vendo uma revoada de pássaros passando. Cerrei os olhos focando no bando e prendi o ar na garganta logo em seguida.

— Pássaros... gigantes?


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Notas finais do capítulo

#NudaVive
O título do cap é a música do Bon Jovi que me inspirou para esse cap até q no clipe aparece a linda fonte de Trevi ♥
Então, qual o veredito? Quero muuuitos coments jujubas ♥
Cap que vem será a parte final da missão em Roma e já saberemos a próxima parada dos nosso grupo! Então, aguardem!
Espero que tenham amado!
Kisses and bye ♥



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