Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 29
Mudando de ares.... mais uma vez!


Notas iniciais do capítulo

Hey jujubas aki estou eu mais uma vez com cap novinho em folha e gigantescoooo!
Espero que amem!
Kisses



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Paralisada.

Era assim que estava desde que tinha visto o pequeno tridente sobre minha cabeça. As pessoas que antes se aglomeravam ao meu redor já estavam se dispersando enquanto eu continuava lá, parada, com a boca aberta e as mãos imóveis e caídas ao lado do corpo. Mas isso não me impediu de ouvir muito bem o que falavam ao meu lado.

— Acho que o choque foi grande demais! - Leo sussurrou, acreditando que não havia escutado, e balançou a mão na frente do meu rosto. Continue paralisada.

Acho que minha mente não tinha conseguido processar tudo: vencer um crocodilo gigante que parecia ter saído direto de Jurassic Park, quase morrer umas cinco vezes em menos de duas semanas e ainda descobrir ser filha de Poseidon, um dos Três Grandes. É, esse com certeza entrou em primeiro lugar na lista de “Dias jamais esquecidos!”. Fui tirada de meu torpor quando senti mãos pousarem nos meus braços delicadamente. Pra falar a verdade acho que saí da minha paralisia quando essas mesmas mãos delicadas me sacudiram forte e um grito soou em meus ouvidos:

— Terra chamando Duda! Alôôôôô! Dá pra voltar?

— Oi? O que? Hãn?

— Vai passar a tarde plantada aí feito um dois de paus ou vai logo pegar suas coisas e se mudar de vez pro nosso chalé? - Percy continuava com seu sorriso brilhante no rosto e piscou pra mim.

Concordei com um sorriso e ele pousou um dos braços sobre meus ombros enquanto abraçava Annabeth com o outro.

— Ok, não precisavam falar, sei que sobrei aqui! - Leo falou com mágoa fingida e cruzando os braços como uma criança. Revirei os olhos e me soltei de Percy.

— Leo você nunca sobra, muchacho! - E beijei sua bochecha quente e macia. Leo nunca pareceu tão envergonhado como naquele momento. Sorri com seu rosto totalmente vermelho e o abracei forte, bagunçando seu cabelo ao me soltar dele.

— De onde saiu essa liberdade toda? - Percy falou sério, puxando meu braço para que eu voltasse para perto dele. Com as sobrancelhas franzidas encarou Leo.

— Percy, como sempre, lento... - Leo fez piada, mas engoliu em seco quando viu o olhar sério de Percy. - Que liberdade? Não vi liberdade nenhuma. Mantenha sua hermana longe de mim. Me senti assediado!

— Me engana que eu gosto! - Falei em português o que fez Percy e Annie me olharem confusos e Leo sorrir ainda mais.

— Então a chica é latina mesmo! Devia falar mais assim... - Ele piscou deixando Percy e Annie ainda mais confusos e eu sorrindo com a piada interna até ele mudar de assunto – Bem, de qualquer forma, é melhor ir. Fugi do trabalho quase o dia inteiro, meus irmãos vão me matar! E por falar nisso, Duda não esquece de passar lá e faremos uma arma especial pra você. E dessa vez vá mesmo!

— Pode deixar! - Falei aos gritos enquanto ele corria para as Forjas.

— “Passa lá e faremos uma arma especial para você” - Percy fez uma voz fina, acho que tentando imitar Leo. Annie revirou os olhos enquanto ele colocava o braço sobre meus ombros novamente. - Vou ter uma conversinha com o senhor Valdez....

— Percy, não sou sua irmã nem a meia hora e você já tá com ciúmes? - Olhei para Annie que sussurrou em voz baixa para mim “Vai se acostumando...” enquanto Percy falava e falava sobre como isso não importava e como ele já sentia uma ligação comigo desde que cheguei ao acampamento e que não era ciúme, mas proteção com a sua irmãzinha mais nova.

— Ok, mas já tenho 16 anos. Não sou uma criança.

— E eu tenho 19. - Ele me olhou de uma forma superior e sarcastica – Continuo sendo o mais velho!

Bufei e cruzei os braços ouvindo Percy gargalhar. Ele tentou melhorar meu humor contando sua aventuras, as lutas, os perigos e isso até me animou, mesmo eu conhecendo todas de cor. Mas ouvi-las do próprio personagem é um luxo que poucos vivenciam. A cara de desapontamento dele por não ter nenhuma aventura nova para contar se desfez quando ele lembrou de uma missão logo após a derrota de Gaia, algo com um ogro, sorvete de chocolate e Annabeth com os cabelos em chamas.

— Você só tá rindo porque não foi você que passou uma semana com o cabelo cheirando a fumaça e com as pontas marrons de tão tostado! - Annie encarava Percy com as mãos na cintura enquanto ele ria descontroladamente.

— Ah Sabidinha, mas você sabe que adorei aquele novo estilo de cabelo! - E riu ainda mais com as mãos na barriga até Annie lançar uma bofetada em seu braços. - Ai, não precisava de toda essa violência.

— Vai continuar rindo? - Percy levantou as mãos em rendição e Annie sorriu satisfeita. E eu apenas de plateia observando a cena e tentando não rir tão alto. Quando percebi tínhamos chegado na área dos chalés. Os campistas lotavam o lugar com conversas e correria. Típico. Annie olhou em direção ao chalé de Atena e viu alguns de seus irmão a chamarem – Tenho que ir. Deve ser alguma pesquisa que precisam terminar, algo do tipo. Pedi para que me ajudassem com os Língua Encantadas. Ainda tenho muito pra estudar sobre eles e acho que os livros do chalé podem ser de grande ajuda. Se bem que já li quase todos... - Annie falou, pensativa, sem perceber o suor começar a escorrer por meu pescoço e o nervosismo tormar meu olhar, mas me recompus a tempo de vê-la me encarar animada. - Duda se precisar de qualquer coisa é só me procurar, até porque acho que o Cabeça de Alga não vai conseguir te ajudar tanto...

Encarei Percy que estava com sua típica expressão confusa na cara e voltei a encarar Annabeth, concordando. Percy era uma ótima pessoa além de um ótimo semideus, mas continuava sendo um cabeça de alga! Annie sorriu e me abraçou deixando um “até logo” e depois beijou Percy e combinou de se encontrarem mais tarde. Seguimos, Percy e eu, para o chalé de Hermes e, enquanto eu organizava minhas coisas na mochila, os Stolls surgiram como um furacão com duas garotas ao seu lado. Eles pareciam revoltados.

—Você ia embora? - Connor começou com cara de mágoa.

—E sem se despedir? - Travis completou cruzando os braços, zangado.

—Parem de drama! Eu só vou me mudar de chalé e não de país! - Revirei os olhos com um sorriso enquanto eles se aproximavam e me abraçavam, um de cada lado. Tão forte que mal pude respirar, mas correspondi da melhor forma que consegui. As duas garotas continuavam na porta, meio sem jeito. Encarei-as divertida, já imaginando quem elas eram.

— E vocês não vão me apresentar suas “amigas” não? - perguntei aos Stolls dando uma grande ênfase em “amigas”. Connor corou levementre enquanto Travis se aproximava da garota mais alta.

— Essa é a Katie, minha gatinha. - Disse Travis enroscando o braço na cintura da garota. - Katie, conheça minha irmãzinha por um dia, Eduarda!

A moça acenou levemente. Era esbelta com olhos brilhantes e um sorriso envergonhado. E quando ouvi seu nome pela segunda vez foi quando me recordei dela no livro. Ei, não me culpem por não conhecer todos os personagens secundários da história! São muitos e é tanta coisa pra lembrar! Cumprimentei-a e encarei a outra garota, esperando que Connor, já bem vermelho de vergonha, nos apresentasse.

— E essa é Megan! - Olhei-o com uma sobrancelha arqueada, esperando algo mais. Ele percebeu e revirou os olhos com um sorriso envergonhado. - E não, ela não é minha gatinha! Não que eu não queira, mas... Não foi isso que quis dizer!

Todos gargalhamos com o embaralhado de palavras do ruivo. Megan era mais baixa que Katie. Tinha cabelos negros e olhos verdes e calorosos, um rosto arredondado e as bochechas coradas naturalmente. Cumprimentei-a, lamentado por só termos dividido a beliche por um dia e voltei a organizar minha mochila enquanto eles continuavam a conversar sobre como havia sido fantástico eu ser reclamada e como todo mundo ficou aos meus pés literalmente. Depois de tudo pronto me despedi das garotas com um abraço rápido e dos garotos com um beijo estalado na bochecha de cada um. Eles continuavam dramáticos enquanto eu continuava a revirar os olhos e tentava mostrar que não era o fim do mundo. Depois de conseguir convencê-los de que me veriam todo dia do mesmo jeito, eu e Percy saímos em direção ao chalé de Poseidon. No caso, meu mais novo lar!

— Pelo jeito você arrasa corações aonde chega! - Percy falou divertido com uma pitada de ciúmes enquanto abria a porta do chalé. Olhei para ele com a sobrancelha erguida. - Os Stolls, Leo, até o di Angelo! A lista só aumenta! Acho que vou ter que te trancar no chalé!

— Nunca pensei que fosse tão amável! Acho que puxei isso do meu “irmãozinho”... - Sorri sarcástica enquanto era a vez de Percy revirar os olhos. Sabia muito bem do histórico dele com garotas apaixonadas! Mas todo o sarcarmos se foi ao percebe o “di Angelo” na frase. - Mas espera aí! O di Angelo? Nem pensar. Tirei ele já dessa lista imaginária. Ele já deixou bem claro que por mim só sente raiva. Quando chegarmos a ser pelo menos “amigos” pode ter certeza que será o dia que o mundo vai se acabar! Nós queremos distância um do outro e...

Minha voz sumiu quando meu olhos contemplaram o interior do chalé. Era simplesmente a “casa” mais linda que eu já vira na vida. E não, não é exagero, pode acreditar! Para mim, aquilo era o paraíso. Minha boca continuava aberta enquanto eu dava um giro completo no mesmo lugar, admirando cada pedacinho do chalé. As paredes azuis me transmitiam tanta calma quanto as ondas do mar, pequenas conchas decoravamos os cantos do chalé enquanto ondas que se moviam de verdade enchiam o teto do chalé. Os azulejos brancos no chão contrastavam com o azul marinho da única cama grande e confortavel do chalé. Um criado-mudo marron permanecia ao lado dela e um abajur em forma de peixe descansava em cima dele. O abajur-peixe, que percebi ser a Dori daquele famoso filme, refletia a luz que entrava da janela localizada a cima da cama.

As paredes eram decoradas por ondas que formavam belos cavalos no fim a não ser em uma parte onde uma porta branca que dava para o banheiro cortava um cavalo ao meio. E havia um guarda-roupa branco que ia do chão ao teto com duas portas de correr. E só. Um belo e gigante chalé com tão poucas coisas. Percy sorriu de minha expressão e fechou a minha boca que devia estar escancarada.

— É melhor babar enquanto dorme do que babar acordada, só uma dica...

— Oh meus deuses, o seu chalé é esplêndido!

— Nosso chalé. Agora ele também é seu! - Ele me encarou tão profundamente ao dizer “nosso chalé” que fez meu coração disparar eu eu ter vontade de chorar. Seu sorriso quase saía do rosto.

— Acho que nunca vou me acostumar a chama-lo de “nosso”. - Dei de ombros, segurando a emoção, quando ele me encarou confuso. Digamos que perdoar meu 'papai' não vai ser assim tão fácil, mas Percy não precisava saber disso então concertei: - Até porque não tenho uma cama gigantesca, nem um guarda-roupa super enorme, nem um criado-mudo ou um desses Dori-abajur legal que você tem.

Sorri de lado, debochando, e ele me encarou com uma raiva fingida. Até ver algo atrás e mim e um sorriso brilhante de vitória surgir em seu rosto. Me virei e mal pude acreditar no que vi. Onde antes estava uma parede vazia, agora havia uma cama tão gigante quanto a de Percy, um guarda-roupa marfim ao lado da cama, do outro lado um criado-mudo branco e até mesmo um abajur-peixe super fofo sobre o criado-mudo, mas em vez de Dori ganhei um Nemo! Encarei Percy assustada. Aquilo era mesmo real?

— Pode pular na cama. Ela não vai desaparecer embaixo de você! - Percy pareceu ler minha mente e eu corri e saltei em minha mais nova cama de casal. Era macia e gostosa. Podia ficar lá um dia inteirinho sem nem perceber. Quando abri os olhos e olhei pro teto azul percebi Percy sentado ao meu lado.

— Ah, já estou em um relacionamento sério com essa cama!

— Quíron caprichou com as camas mágicas. Ainda me pergunto como as lojas não percebem as camas sumindo do estoque. - Olhei-o assustada e ele riu abertamente. - Brincadeira! Mas acho que você não poderia ter um relacionamento sério com ela. Seria traição e isso é feio!

— Traição? - Sentei e o encarei interrogativa

— Sim, traição das grandes. Só não sei quem seria o traido. Os Stolls até tiro da lista. Mas entre Leo Valdez e Nico di Angelo ainda fica a dúvida. Irmã vocẽ tem que decidir logo pra eu analisar e ver se aceito!

Ele falou tudo rapidamente e se protegeu com os braços no rosto. E com certa razão já que, sem pensar duas vezes, peguei o primeiro travesseiro que vi e o atingi em cheio!Pena que não foi tão forte quanto imaginei em minha mente já que ele gargalhou em vez de chorar de dor. Cruzei os braços zangada.

— Será que dá pra voltar pra conversa da cama mega confortável e tudo mais?

— Depende... Esse tudo mais seria o Valdez? - Ele fez uma cara pensativa e eu o encarei perplexa.Ele não tinha um pingo de medo de morrer? Até que pareceu tomar sua decisão – Não, com certeza seria o di Angelo. Ainda não engoli o seu papo de “ nunca seremos sequer amigos, só quando o mundo acabar...”. Até sei onde isso vai dar!

— Vai dar um belo galo na sua cabecinha de alga se não calar a boca nesse minuto! - gritei e me joguei sobre ele tentando derruba-lo e, se desse sorte, asfixia-lo.Bem, não deu muito certo já que ele me colocou sobre o ombro, mesmo com meus protestos e chutes, e me rodou até caírmos tontos e cansados sobre minha cama. Minha cabeça rodava enquanto minha barriga doía de tanto rir.

— Certo, mas antes de você me matar tenho que te mostrar o banheiro. Quem sabe um banho relaxante depois de um assassinato? - Ele se levantou, ainda tentando respirar normalmente, e me ajudou a levantar e seguimos lado a lado para o banheiro.

Atrás da porta branca vi um banheiro comum com o aparelho, chuveiro e tudo que um banheiro deve ter. Bem, seria bastante comum se não fosse por duas coisas. Primeiro era enorme, tipo quase um segundo quarto dentro do chalé! E segundo havia uma fonte branca no centro do cômodo com água que jorrava da boca de um golfimho constantemente. Mas o estranho era uma luz que não vinha de janela ou lâmpada alguma, mas refletia na água criando um mini arco-íris. E me fez relembrar alguns trechos dos livros.

— Bem vinda ao banheiro! - Ele abriu os braços como quem mostra o lugar mais luxuoso que podia existir. - Ou melhor, bem vinda a sua forma mais rápida de mandar mensagens pra qualquer parte do mundo em qualquer hora e a qualquer momento. Sério, isso já salvou minha vida milhares de vezes – Ele se aproximou da fonte e se encostou no golfinho marfim cruzando os braços – Basta jogar uma dracma, dizer o nome e o lugar onde a pessoa está e voilá! Mensagem de Íris entregue.

— É, já tinha lido sobre o “Skype” dos semideuses, mas ve-lo pessoalmente é ainda mais fantástico. - Me aproximei da fonte me espelhando em sua água límpida, o arco-íris enfeitando meu rosto. - Pena que não será assim tão útil para mim já que não tenho ninguém para contatar do meu país. Mesmo assim obrigada Percy.

Acho que minhas feições entristeceram automaticamente, pois Percy me encarou solidário e logo mudou de assunto passando a falar de como surgira a “Doribajur” enquanto voltávamos ao quarto.

— Minha mãe comprou o guarda-roupa já que achava o criado-mudo pequeno demais mesmo eu lhe falando que ele era mágico ou até dizendo que se quisesse um guarda-roupa ele podia surgir no meu quarto a qualquer hora. - Percy estava desconcertado mexendo nos cabelos negros e eu segurava o riso. - E de brinde ganhou esse abajur que, ao ver, achou a “minha cara”, palavras dela. Para ela qualquer peixei ou animal do mar famoso é a minha cara! Isso é constrangedor...

— Mas quando o constrangimento de dominar... - Olhei-o sem conseguir seguraro riso e ele me olhou de lado já esperando o desfecho. - CONTINUE A NADAR. CONTINUE A NADAR.

Ele me empurrou de lado e eu caí em minha cama rindo histericamente. Já voltava ao normal quando minha mão pousou em algo fino, liso e frio.

Uma carta

Agarrei e sentei na cama rapidamente. Percy percebeu o que estava em minhas mãos e sentou em minha frente. A carta prendia-se entre meus dedos, o papel branco roçando minha pele. Suei frio ao imaginar de quem viera a correspondência. O suor de meus dedos pingou na carta, eu continuava encarando-a perplexa. Até ouvir a voz de Percy que soou distante diante do meu coração acelerado.

— Você não vai abrir?

Neguei. Mas porque eu não conseguia abrir? Era apenas uma carta. Uma droga de pedaço de papel. Eu com certeza passei por coisas piores do que ler uma folha! Mas o nome escrito em caligrafia perfeita bem na frente da carta me fez fraquejar. Eu não esperava por uma carta dele. Ela não estava em minha cama antes, logo ele só pode ter deixado-a quando eu e Percy entramos no banheiro. Mas ele deve ter mandado alguém deixa-la sobre minha cama. E se foi ele mesmo quem deixou porque não falar comigo pessoalmente? Medo de minha reação? Que nada, ele era um deus, não tinha medo de nada! Então porque...

Minha cabeça girava com o turbilhão de ideia e hipóteses de porque o papaizinho fugiu de mim como Annie foge de aranhas e acabei por entregar a cara a Percy, as mãos trêmulas e incertas.

— Por favor... - Encarei-o suplicante. Ele entendeu e concordou com um aceno de cabeça. Respirei fundo, me preparando mentalmente para ouvir as palavras daquela carta. Então Percy começou.

— “Filha, sei que ainda é cedo para chama-la assim e sei que ainda não deve aceitar tudo muito bem. Mas saiba que eu não lhe abandonei, nem por um segundo pense assim. Nunca deixei de pensar em ti, nem por um dia sequer. E assistir a tudo que você passou sem fazer nada foi a coisa mais difícil que já fiz! - Nesse momento Percy me encarou intrigado, mas estava tão perplexa que apenas pedi para que ele proseguisse. - Mas era necessário! Você não entende e deve me odiar mais que tudo e não tiro sua razão, porém o mundo de uma semideusa é mil vezes mais perigoso e cruel comparado a seus antigos parentes. Tentei protege-la, mantendo-a na América do Sul, já que o número de monstros lá é relativamente menor. Mas seu destino lhe achou e te trouxe para onde eu temia. Foi inevitável. E Reclamar você foi uma prova não só ao acampamento, mas a todo o mundo mágico que você é descendente do Mar. O medo que sinto por você é enorme e acho que nunca diminuirá, no entanto sei que terás bons amigos ao seu lado e seu irmão sempre lhe protegerá e lhe ajudará. Mas, filha, saiba duas coisas: Você é poderosa, ate mais do que todos imaginam, prove isso quando for necessário e não tenha medo para que não seja esse seu maior inimigo. E, segundo, nunca esqueça que te amo incondicionalmente. Assim como amava sua mãe. Com todo amor, Poseidon.”

Fim. Silêncio. O único som vinha do relógio na perede a minha frente que nem havia notado até haver tanto silêncio que o barulho de seu tic toc era quase ensurdecedor. Eu continuava perplexa, abssorta, o rosto molhado e as pernas cruzadas, encarando o relógio com o simbolo do acampamento. Sem fala e sem ar. Desviei o olhar para a carta e vi uma pequena parte dela se desdobrar.

— Ainda tem mais. “P.S. Aquela pulseira não apareceu em sua porta por acaso, use-a com sabedoria.” - Percy finalmente terminou e me olhou confuso. - Do que ele está falando?

— Do presente que recebi a alguns há alguns anos.... - Hesitei antes de pronunciar a frase. A fala ainda fraca e rouca. Me ergui, limpando o rosto, e peguei a pulseira em minha mochila. Ela parecia mais brilhante e pesada a cada passo que dava de volta a cama. - Nunca descobri quem a havia deixado para mim. Acho que o mistério acabou.

Pensando bem, tudo começou a se encaixar. Como não percebi antes, nem quando cheguei ao acampamento, o que aquela pulseira significava? Idiota, idiota idiota! Quase falei em voz alta enquanto colocava a bendita pulseira no braço. Encaixava perfeitamente e o tridente no centro pareceu reluzir ainda mais. Olhei para Percy e percebi seu humor, antes descontraido, mudar drasticamente para sério e preocupado.

— O que ele quis dizer com “Tudo pelo que você passou”? - Ele perguntou sem espaço para que fugisse da resposta e me ajeitei na cama engolindo em seco.

— Não é um assunto muito bonito e nem feliz. - Baixei a cabeça, relembrando – E está enterrado no passado. É melhor deixar como está e esquecer.

Ergui a cabeça, tentando sorrir e esperando ansiosamente para mudar de assunto, mas Percy continuava incorruptível e muito sério esperando por uma resposta de verdade. Suspirei derrotada, mas desabafar pelo menos sobre um dos segredos em minha vida poderia me fazer bem, tirar um dos pesos de minhas costas poderia me fazer respirar melhor.

— Ok. Depois que minha mãe morreu em um acidente de carro eu fui meio que obrigada a morar com meus tios. Mas digamos que nós não nos dávamos muito bem. Minha tia me tratava como uma empregada domeméstica, meus primos me odiavam tanto quanto eu os odiava e …

— E...? - Percy me estimulou a prosseguir segurando em minha mão carinhosamente. Encarei-o com um sorriso triste, mas lembrei que se havia alguém que me entenderia era Percy. Seu antigo padrasto não era melhor que meu tio. Ele sorriu me passando confiança. - Você pode confiar em mim. Sou seu irmão!

— E... meu tio bebia bastante e, como sabe, bebida em excesso leva a raiva que leva a bater em alguém. E esse alguém era eu. Na maioria das vezes por pequenas coisas como o troco perdido do pão ou as vezes por nada, apenas para descontar toda sua raiva em alguém. Era um inferno!

— O que? - A indignação surgiu no rosto de Percy e ele saltou da cama, andando de um lado a outro - Como ele pode fazer isso? Esse monstro deveria ser mandado pra vala mais funda do Tártaro! Como Poseidon deixou isso acontecer? Melhor, porque ele não reclamou você na época certa? Havia um trato, uma promessa que eles fizeram comigo! Todos os filhos deveriam chegar ao acampamento com a idade certa, nem mais nem menos e ….

— Hey, respira. Calma aí! - Me levantei e segurei em seu braço que tremia da fúria. Fiz com que ele olhasse em meus olhos. - Isso tudo está no passado. Eu já superei! E nosso “querido papai” explicou porque não interferiu em nada. Minha proteção e o que era melhor pra mim ou sei lá o que. - “Uma forma bem estranha de proteger alguém...”, pensei, mas apenas sorri calmamente para Percy. - E lembre que, se não fosse uma promessa quebrada, vocẽ não teria nem nascido. Eu estou bem e quero que você se acalme e fique bem também, entendeu?

— Poderes. Foi sobre isso que ele falou. - Algo pareceu estalar nos olhos de Percy e eu rolei os olhos, ele simplesmente ignorou tudo o que eu disse! - Disse que você era poderosa, mais até do que todos imaginavam. Sabe o que ele quis dizer?

— Não! -Acho que repondi alto e rápido demais para alguém que hipoteticamente não sabia de nada. Digamos que eu tinha uma chance de saber 98% sobre o que Poseidon queria dizer. Mas meu lado Língua Encantada não é algo que seria compartilhado com Percy, não nesse momento e talvez nunca. Então omiti essa 'pequena' parte. - Acho que deve ter alguma ligação com meus livros que sumiram. Conhecer a história de todos vocês sem nunca ter conhecido vocês realmente antes deve ter algo a ver com poder ou sei lá. Sinceramente, essa carta só me trouxe duas coisa: Dúvida e raiva. Não tava precisando de nada disso nesse dia que já foi “super calmo”.

Percy me lançou um sorriso de compreensão e me abraçou forte. Percy Jackson, meu irmão, estava me abraçando. Acho que toda essa frase era considerada apenas em sonho há alguns dias atrás. Mas agradeci mentalmente por não ser. Retribui o abraço, sentindo seu aroma salgado e gostoso me invadir e a paz que aquele simples gesto me transmitiu. Hoje penso que aquele dia todo valeu a pena só por ter recebido aquele abraço no final!

— Eu sei. Me desculpe. - Ele me soltou, mas com o olhar sem desviar do meu. - Devo estar sendo um pé no saco. Seu dia foi estressante, preocupante e todos os “antes” que existem. - Ele parou e me encarou atentamente. Me olhando dos pés a cabeça ele pareceu surpreso. - Você... continua com a mesma roupa? Sei que sequei boa parte, mas o tempo que passou no mar se molhando antes de saber que não precisava se molhar pode muito bem te deixar doente. A água cura muita coisa, mas não gripe!

— Opa... - Olhei para mim e vi que meu vestido ainda estava meio úmido e meus sapatos jogados em um canto qualquer pareciam enxarcados. - Achei que Leo tivesse secado a outra parte, mas...

— Hum, você se sentiu quentinha? - Percy provocou, mas ao perceber o que disse ficou zangado – Acho que essa conversa com o Valdez vai acontecer mais rápido do que eu esperava. E acho que não vai ser muito pacífica...

— Nem pense em fazer isso! E pode ir parando de me provocar. - Empurrei-o na cama enquanto ele sorria com as mãos sobre a cabeça. Peguei uma toalha de dentro do guarda roupa e fui ao banheiro. - É sério Percy, mantenha sua boca fechada!

Enquanto ligava o chuveiro e me despia ouvi Percy gritar da cama um “Vou pensar no seu caso” e começar um sermão de “um bom irmão faz...”. Revirei os olhos e me molhei com a água quetinha do chuveiro. Quem diria que um dia amaria água quente! Depois de enxuta e vestida com uma blusa e short secos, voltei ao quarto. Percy me esperava cochilando, como se eu tivesse demorado séculos! Acordei-o de forma 'delicada', dando um belo tapa em seu braço, o que o fez acordar em um pulo.

— O que? Onde? Quando? Cadê o monstro? - Ele coçou os olhos e me encarou fixamente. - Não precisava fazer isso.

— Mas é tão divertido! E hey.. - Peguei seu lençol e passei por seu queixo – Você baba enquanto dorme!

Ele puxou meu braço, tentando me botar sobre os ombros novamente, mas dessa vez consegui me livrar e seguimos para fora do chalé. A lua prateada brilhava lindamente e algumas tochas já estavam sendo acendidas para o jantar.

— Duda espero que tenha gostado do nosso chalé e do seu mais novo irmão.. - Ele apontou para si mesmo com orgulho.

— A primeria opção posso dizer que amei, já a segunda... - Fiz cara de pensativa e ele se preparou para me fazer cócegas. - Brincadeira! Sabe que te amo Percy!

— Eu te amo mais, pequena sereia! - E piscou para mim rapidamente já olhando para o chalé onde a maioria das pessoas saíam com livros e mapas. - Agora tenho que ir. Annie tá me esperando. E deve estar afundada em algum livro como sempre. Tenho que ir resgata-la!

— Hey, livros não são nada ruins senhor Jackson! Mas pode ir, prometo não ficar de 'vela' até porque acabei de lembrar que tenho algo para resolver urgente! - E esse ' algo' se referia a meu livro que esqueci totalmente no bosque. Mas sabia a quem poderia perguntar sobre ele. - Divirta-se maninho! Até mais.

— Você também, mas não se divirta tanto! - Percy fez sua melhor cara de irmão mais velho mandão enquanto me dava um beijo na testa. - Cuidado, principalmente com esse monte de semideus aos seus pés e...

— Tchau Percy! - apontei para o chalé de Atena de forma definitava e ele se foi rindo e falando “essas crianças crescem tão rápido...”.

Quando ele já estava longe me virei e segui para um certo chalé negro e sombrio. Ele ficava um pouco distante dos outros e quase se camuflava com o ambiente escuro. Na porta bati e gritei, chamando o nome do digníssimo dono, mas nem sinal dele. Suspirei e estava prestes a desistir e deixar pro dia seguinte quando decidei fazer uma última tentativa. Girei a maçaneta e ela se abriu com facilidade.

— Bem que mamãe dizia:” Porta fechada não é porta trancada!” - E empurrei, Mas aquela foi a pior, a mais estúpida ideia que já tive.

Até porque nunca imaginaria ver a cena que vi. E, naquele momento, só consegui pensar uma coisa:

Oh meu Zeus!”


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Notas finais do capítulo

Então o que será que Duda viu? Cap 27 dá a respostaaa kkkkkk
O q acharam? Deixem seus coments!
Mil bjux e até semana que vem!



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