Cheguei à sala alguns minutos depois do professor.

– Com licença, senhor Gomez!

–Pode entrar senhorita Swan. Nunca imaginei que algum dia você chegaria atrasada para a minha aula!

Ele tinha razão. As aulas de História eram as minhas preferidas, ainda mais quando o assunto era Mitologia Grega.

– Bem alunos, como todos já estão presentes, vamos começar nossa aula de ho...

Ele não conseguiu terminar a frase, pois um barulho na porta fez com que todos olhassem para o canto da sala. Em pé, ao lado da porta, estava um garoto moreno, com um boné deixando escapar alguns de seus cabelos ondulados de cor mel, uma blusa de manga cobrindo um pouco a sua calça jeans que ficava sobre o seu all star preto. Não dava pra saber qual sua estatura, pois ele estava curvado e em cada uma de suas mãos havia uma muleta que o ajudavam a ficar de pé.

–Desculpe o atraso senhor Gomez!

–Certo. Turma, esse é o nosso novo aluno, deem boas vindas ao senhor Jeremy Gold.

Os olhos castanhos de Jeremy se encontraram com os meus quando ele se dirigia para a cadeira ao lado da minha, a única vazia na sala.

Finalmente o professor começou a aula e o assunto era Mitologia Grega, eu não poderia estar mais feliz. Mesmo tendo um pouco de dificuldade de ler o conteúdo que estava na lousa, e a isso eu culpo minha hiperatividade e dislexia, qualquer pergunta que ele fazia a resposta vinha de mim. Era algo automático. E a cada resposta Jeremy abria ainda mais o sorriso ao meu lado. Até que o professor fez uma pergunta em grego antigo e eu consegui entende-la e responde-la facilmente, surpreendendo não só a sala inteira como a mim mesma. Todos pararam por um instante e olharam para mim, o único que não estava nem um pouco surpreso era Jeremy que continuava com o mesmo sorriso confiante no rosto, como se dissesse: “Muito bem, esse era apenas um teste e você passou nele!”.

O sinal tocou e eu fui a primeira a sair daquela sala em disparada, ainda percebendo os olhares surpresos dos alunos sobre mim, tentando entender como foi que eu fiz aquilo. Desci as escadas e sentei em um pequeno degrau que havia em frente à piscina, tirando da mochila aquele que estava sendo o meu companheiro fiel a 3 dias: Era uma livro não muito grande, de mais ou menos 400 páginas e se chamava A Casa de Hades.

Terminei o último capítulo do livro e passei um bom tempo pensando em tudo o que lera e o que acontecera comigo hoje e vi uma grande relação entre os dois.

– Não Eduarda, isso é loucura, são apenas livros, não podem ser reais!

“E se forem reais? E se semideuses existirem? E se aquele garoto era o...

–Sonhando acordada?

Fui tirada dos meus pensamentos com essa pergunta. Olhei para onde vinha a voz e vi Jeremy em pé, ao meu lado.

– Às vezes é bom fugir da realidade!

– Concordo plenamente! Bem, sou Jeremy Gold, mas pode me chamar de Jerry, e você é...?

– Eduarda Swan, mas pode me chamar de Duda! – apertei sua mão que estava estendida para mim- Hã, eu percebi que você tem certo sotaque. Você não é daqui, é?

–Não! Posso dizer que meu inglês é bem mais fluente do que o meu português. – ele deu um pequeno sorriso – Mas porque você está aqui sozinha?

– Bem, posso dizer que não sou boa em fazer amizades. – falei, desanimada – desde que cheguei aqui, a um ano atrás, sou conhecida como a estranha do colégio. Poucos são aqueles que posso chamar de colegas e a maioria nem olha na minha cara. Meus amigos são os livros!

– Então eu posso dizer que todos são uns idiotas por não quererem ser seus amigos! – ele falou, tirando um pequeno sorriso de mim – Eu vi como você é inteligente e legal na sala hoje. Eles é que estão perdendo! – ele sorriu e isso fez com que voltasse a minha memória aquele momento na sala de aula – e por falar em livros, qual é esse que você está lendo?

– Estava, acabei agora! Ele é maravilhoso, uma história surreal, se chama A Casa de ....

Kaboooom. Um estrondo se espalhou pelo colégio criando um silêncio mortal. Olhei para Jerry assustada, porém ele tinha apenas uma expressão preocupada na face. Até que outro estrondo se sucedeu e fez com que todos os alunos se alarmassem e corressem. Ainda olhava para o pátio, vendo uma sombra enorme se formando entre as colunas, quando senti as mãos de Jerry segurarem o meu pulso e com a voz apavorada dizer:

–Temos que sair daqui. AGORA!