Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 19
Let it go... ou não!


Notas iniciais do capítulo

Antes de me matarem, deixem-me explicar!!
Eu sei, eu sei que prometi postar sábado passado, mas, minhas jujubas do core, minha vida tava uma loukura!! Muita coisa pra estudar e meu pc ainda deu uma de doido e quebrou!!
Então só tive tempo pra postar hj!!
Mas prometo q esse cap compensa



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Don't let them in, don't let them see
Be the good girl you always had to be
Conceal, don't feel, don't let them know

Lembranças...

Porque não podemos simplesmente jogá-las fora quando não queremos mais usá-las? Porque elas sempre voltam para mostrar que fizemos coisas terríveis no passado? “Recordar é viver”. Com certeza a pessoa que criou essa frase não sabia a droga que é recordar! E minhas lembranças estouravam feito pipoca em minha cabeça desde que acordei naquela manhã, desde aquele sonho completamente maluco. E o pior era saber que ele era mais real do que parecia!

Fechei os olhos pela milionésima vez tentando, inutilmente, deletar todas as minhas memórias. E a água fria que percorria meu corpo não funcionava em nada como antídoto, pelo contrário, cada gota trazia consigo uma lembrança que eu lutei para esquecer. Abri os olhos lentamente e fechei o chuveiro, sentindo uma última vez a água escorrer por meu corpo até o chão.

Porque? Porque os pingos não levaram consigo essas memórias estúpidas? Porque elas continuavam me martirizando depois de tanto tempo? Um vento suave entrou pela pequena janela do banheiro, fazendo-me arrepiar. Peguei a toalha fora do box, enrolando-me rapidamente. As gotas que permaneceram em meu corpo secaram lentamente enquanto eu vestia a roupa. Parei segundos antes de pôr a blusa, olhando-a detalhadamente. O Pégaso negro estampado no centro junto com as iniciais do acampamento destacavam-se facilmente no laranja da blusa. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. O que para muitos representava o uniforme padrão de um acampamento, para mim representava o símbolo de uma família. Uma grande família na qual eu era parte agora!

Vesti a blusa e me dirigi para o pequeno espelho quadrado que ficava sobre a pia branca, a alguns centímetros do box.

– Oh, droga!

Meu reflexo surgiu no espelho. Ainda era eu, porém uma tonelada de maquiagem tomava meu rosto por completo. Meus detalhes ainda estavam lá, mas com uma camada gigantesca de beleza cobrindo-os. Minha pele estava completamente limpa, sem cravos ou espinhas como era de costume uma adolescente como eu ter. Meus cílios mais curvados do que nunca e um leve batom bronze cobria meus lábios. Bufando, molhei meus rosto e esfreguei nele o pequeno sabonete que havia na pia. Nada mudou. Esfreguei com mais força. Nem o batom saiu do lugar. Repeti umas três vezes, mas eu continuava com a cara da Barbie. Bufei de novo.

– Muito obrigado Afrodite! Vejo que sua maquiagem é realmente de ótima qualidade! Não sai nem se uma bomba atômica cair na minha cara!

Ok, muitas garotas me chamariam de louca ou até mal-agradecida naquele momento. Quem não gostaria de ter uma pele perfeita pelo menos por um dia? Acho que as patricinhas do meu antigo colégio morreriam por isso! Mas eu não. Ficar com a cara totalmente artificial não fazia meu estilo. Os pequenos defeitos é o que nos torna nós mesmos, o que nos difere dos outros. Olhei para meu reflexo e suspirei. Ao menos meu cabelo continuava normal. Quer dizer, ele não secara e ficara perfeito magicamente, mas estava bem maior do que de costume. E, pelo que Lucinda disse, ele continuaria assim. Me conformando internamente, peguei a escova que tinha achado em uma das gavetas do criado mudo e desembaracei-o rapidamente, mesmo que ele estivesse completamente desembaraçado e perfeito. Velhos hábitos não mudam. Sorri abertamente enquanto a escova azul passeava facilmente pelos cachos. “Escovas azuis.”, pensei, “Acho que virou obrigatório no acampamento!” .

– Ora, quem não iria querer essa ‘arma poderosa’!

Prendi os cachos em um rabo de cavalo alto e ajeitei o cordão em meu pescoço. Fechei os olhos sentindo o metal frio com meu sobrenome gelar minha mão enquanto a brisa suave que saía pela janela fazia o mesmo em meu corpo e os pensamentos voltaram a borbulhar em minha mente. Especificamente, trechos da reunião com Quíron. Suas palavras soavam em minha mente enquanto eu sentia o medo tomar conta de mim. Medo do que eu podia fazer. Medo do que poderiam fazer comigo.

Se descobrissem...

Olhei para frente, com os braços apoiados fortemente na pia, o coração apertado e a mente vagando pelo passado. E ela parou exatamente no dia em que o segredo de minha família passou a ser meu segredo também...

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

“Eu tinha apenas 8 anos quando descobri. O sol brilhava intensamente no céu clareando tudo ao meu redor. Minha mãe havia saído e eu estava com minha avó no quintal aproveitando aquele dia ensolarado. Ela era uma senhora com seus 68 anos, porém seu espírito tornava-a bem mais jovem. Tinha cabelos castanhos, porém seus fios grisalhos cobriam a maior parte. Seus olhos eram de cor mel e tinha um sorriso que contagiava a todos, ninguém nunca a via triste. Minha avó adorava contar histórias fantásticas criadas por ela e eu adorava ouvi-las, acho até que foi por isso que me apaixonei por livros, e em todas as suas histórias eu era a personagem principal. Passávamos tardes inteirinhas apenas fantasiando um outro mundo sem sair daquele maravilhoso quintal de grama verde e ar campestre. E naquele dia, eu estava ouvindo atentamente sua história sobre piratas e baús de tesouro quando, de repente, ela parou e olhou para a mesa de piquenique, mais precisamente para o livro que estava sobre ela, e falou carinhosamente:

– Querida, você poderia pegar aquele livro e trazê-lo para cá?

–Claro, vovó!

Corri até a mesa e peguei o livro. Ele tinha uma capa dura e nela estava escrito O Mágico de OZ. Entreguei o livro a minha avó e sentei ao seu lado, esperando ouvir a nova história.

–Vamos vovó, comece logo o livro, quero muito ouvir essa história!

– Não, meu amor, hoje quem vai ler é você! – E antes de me entregar o livro com seu típico sorriso ela advertiu: - Leia em voz alta, certo querida!

Ela abriu o livro em certa página e me entregou. Peguei-o e li em voz alta a parte que descrevia o cachorrinho de Doroti. Ao terminar olhei para minha avó com uma expressão confusa, ela apenas sorriu e apontou para um canto do quintal cheio de plantas. As plantas começaram a se mexer e de lá surgiu um pequeno cachorro, com as mesmas características daquele que havia acabado de descrever, e veio correndo em nossa direção. Assustada, falei:

– MEU DEUS, é o cachorro da Doroti! Como eu fiz isso? Não pode ser real! Estou ficando maluca!

–Calma minha querida, esse é um dom que você tem! Que nós temos! Mas ninguém pode saber sobre ele!

–Mas e a mamãe? Nunca vi esse dom nela... – Olhei confusa para vovó - E porque ninguém pode saber?

– Não, meu amor, sua mãe não possui esse dom e nem pode saber que nós possuímos, entendeu? Seria muito perigoso para ela e para nós! Muito perigoso para qualquer um que saiba. Você ainda é muito pequena para entender, mas, por enquanto, saiba apenas isto: não leia em voz alta perto de ninguém, NINGUÉM pode saber sobre esse dom, ouviu bem? Esse será nosso segredo!

– Certo, prometo! Será nosso segredo!

Sorri para minha avó que retribuiu o sorriso e me abraçou forte, dizendo ao meu ouvido, com uma voz um tanto aflita:

– Não deixarei que nada de ruim aconteça a vocês! Esse dom não será uma maldição!

Separamo-nos e passamos o resto da tarde a ler juntas. E a cada trecho que líamos, uma parte do livro ganhava vida literalmente. Borboletas saíram diretamente do livro, conseguíamos sentir o cheiro das flores e, para isso, bastava apenas ler sobre elas. Aquele dia foi bastante divertido, mas uma dúvida ainda me atormentava. Não entendia como um dom maravilhoso daquele poderia ser considerado uma maldição. Mas as lágrimas que escorriam pela face de minha avó enquanto líamos o livro mostrou-me que aquele assunto era mais confuso do que parecia. Mas eu tinha apenas oito anos, uma criança, e naquele momento o que precisava saber sobre meu novo ‘poder’ é que ele era fantástico!”

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Porém eu acabei descobrindo, algum tempo depois, porque minha avó comparou-o com uma maldição. Não foi a melhor forma de ter descoberto, pra falar a verdade foi a forma mais traumática e ... acho que pulei um pouco a história, isso fica pra mais tarde. Bem, onde parei? Ah, sim....

Língua Encantada. Um nome grande para definir um problema maior ainda. E pior, ele era como as lembranças: Não podia ser jogado fora ou mesmo ser esquecido! Suspirei, relembrando todas as vezes que consegui segurar o ímpeto de ler em voz alta. Não era fácil de se controlar e as dores de cabeça que viviam comigo eram a prova disso. Mas era necessário, pois da última vez em que perdi o controle foi fatal.

E nesse momento a conversa com Quíron invadiu minha mente mais uma vez. A história dos Línguas Encantada realmente completava o louco quebra cabeça que era minha vida. Não, pensando bem ele era apenas mais uma peça. Porém ainda faltava a peça principal, pois na única vez em que perdi o controle em não li em voz alta, mas isso não impediu que a mágica destruísse a minha vida e a da pessoa que eu mais amava. Meus olhos começaram a arder, mas eu já estava cansada de chorar por algo que eu nunca poderia mudar. Forcei um pequeno sorriso, debochando de mim mesma.

– Agora é só cantar Let it Go pro dia ficar completo. Com certeza essa é a música da minha vida, mas só a primeira parte...

Olhei uma última vez para o espelho decidida a fazer o que eu sempre fiz de melhor: Esquecer! Quíron estava completamente enganado. Isso não era um dom, mas sim uma maldição!

Toc, toc...

– Duda? – Ouço Travis me chamar enquanto batia na porta. Corro e abro-a rapidamente, dando um pequeno sorriso. Ele me olhava confuso e preocupado. – Você está bem? Porque demorou tanto?

– Sim, sim. Estou bem! – “Mais ou menos bem”, pensei comigo mesma. Fechei a porta do banheiro atrás de mim enquanto seguia com ele para fora do chalé. – É que... bem...foi meio difícil achar as coisas para o banho! – Ok, não era toda a verdade, mas eu me enrolei mesmo para achar a toalha. – As gavetas mágicas não estavam do meu lado. Foram inimigas implacáveis!

– É, os novatos e as gavetas mágicas não se dão muito bem no começo. Mas logo você se acostuma. – Travis riu e me guiou por entre os chalés.

Ao longe um lugar amplo e iluminado destacava-se na escuridão. Era como um refeitório, mas sem paredes e bem mais animado. Apenas uma tenda enorme protegia os bancos e mesas de madeira. Distanciada a alguns metros, uma fogueira queimava arduamente. Ela mudava de cor a medida que os semideuses se aproximavam e jogavam algo nela. Azul, rosa, vermelha. Era como se as chamas tivessem vida. Alguns semideuses se aglomeravam ao redor. Ora conversando, ora cantando, ora contando histórias. Era possível ouvir as vozes de longe. Estava hipnotizada até Travis chamar minha atenção.

– Você deveria ganhar um prêmio por ser uma das únicas novatas a não surtar ao descobrir que é uma semideusa. Isso é raro! Espero que a reunião com Quíron não tenha sido tão traumatizante quanto a minha foi! Descobrir que centauros e cavalos alados existem de verdade me deixou meio surtado por um tempo.

– Ehhh...bem... eu fiquei de boa! Já conhecia vocês bem antes, em meus livros. Então foi mais um sonho se realizando. – Mesmo sendo uma brincadeira do filho de Hermes e que o ‘traumatizante’ dele tenha sido totalmente diferente do meu ‘traumatizante’, ainda tentei descobrir se ler mentes era um dos poderes dos filhos de Hermes. Dei um sorriso fraco, mudando de assunto – Eu tô morrendo de fome. Vamos logo porque acho que já estou atrasada!

– E muito! – falou Travis, sorrindo e me puxando levemente pelo braço em direção ao refeitório animado.

Pensei uma última vez em meu segredo. Reforcei em meu pensamento o motivo de não revela-lo a ninguém. Era perigoso demais. Não só para mim, mas para todos ao meu redor. Minha avó estava certa, era o melhor a ser feito. Enquanto eu pudesse controlá-lo e escondê-lo, nada de pior poderia acontecer a ninguém.

Mas algo que descobri é que o pior sempre acontece...


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Notas finais do capítulo

Well, well... o q acharam?? Gostaram da revelação?? Odiaram?? Deixem sua opinião!!
Se tiverem ideias para a fic podem falar no coment



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