Forget me. escrita por Marril


Capítulo 9
Capítulo 9: Chill out? How can I chill out?


Notas iniciais do capítulo

Hi!! ^^
Prontas para mais um capítulo? Ao que parece todas concordámos em postar o capítulo na integra, portanto aqui o tem! Desfrutem da leitura enquanto eu aguardo pelas vossas reações xD



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Encosto-me ao muro, que existe perto do portão, à espera do ruivo falso. Olho para o meu relógio e penso que só vou esperar cerca de meia hora e no máximo uma hora, nos últimos anos tornei-me cada vez mais impaciente e esperar já não é uma das minhas qualidades, pelo contrário, tornou-se um dos meus defeitos. Olhando para o passado nem sei como fui capaz de esperar tanto tempo por alguém, na volta isso até nem me beneficiou…

Vejo o ruivo a aproximar-se, porém este não vem da escola, mas sim do lado de fora da mesma… Isto só pode significar uma coisa: ele baldou-se desde da primeira aula. Sinceramente isso não me surpreende, pelo contrário, até é algo que já estava à espera. Afasto estes pensamentos quando ele faz-me num sinal discreto para me aproximar. Encolho os ombros antes de começar a caminhar na sua direção, assim que me encontro a cerca de um metro de distância ele vira-se de costas e começa a caminha. Confusa, paro de andar e prendo o meu olhar na sua cabeleira escarlate, de modo quase imperceptível denoto um ligeiro movimento da sua cabeça como se dissesse para eu segui-lo. Ainda desconfiada, retomo os meus passos diminuindo, porém, a minha velocidade.

Estamos a poucos metros da escola quando ele vira à esquerda numa rua muito estreita e um pouco escura. Paro abruptamente, se ele pensa que eu vou segui-lo até ali está muito enganado!

–Castiel! Mas que raios estás a fazer? – Digo bem alto.

Espero por uma resposta, mas esta não chega, em vez disso oiço o barulho de um motor a ser ligado. Assustada, olho para a frente e para atrás, porém não avisto a origem do som. Uns segundos depois vejo, para minha grande surpresa, uma mota a sair da pequena rua (a mesma onde momentos antes Castiel entrou). Sinto o meu queixo a descair ao mesmo tempo que avisto o ruivo em cima do veículo.

–T-Tu tens uma mota? – Questiono ainda de boca aberta, completamente sem reação.

–Mais ou menos, levei emprestada de um amigo! Agora anda daí que não podemos ser vistos. – E com isto puxa-me por um braço e obriga-me a sentar, meio desajeitadamente, atrás dele. Coloco-me na posição mais razoável que consigo encontrar e preparo-me para começar a viagem.

Castiel olha uma vez para trás antes de arrancar e ao ver-me bem agarrada ao meu skate à espera de que ele começasse a viagem solta uma pequena gargalhada que me fez corar ligeiramente. Ele agarra nos meus braços e envolve-os na sua cintura, involuntariamente uno as minhas mãos em frente do seu abdómen fechando assim o “círculo”. Contudo uma parte de mim chama-me à atenção ao que está a acontecer e eu não consigo evitar perguntar:

–Que estás a fazer? E porque é que nós não podemos ser vistos?

–A tentar colocar-nos em minha casa sem ferimentos. Porque ainda não tenho carta! – Responde-me retirando os pés do chão e preparando-se para avançar.

–Mas tu está doido? E se formos apanhados!

–Não somos, descansa. Não costuma haver bófias por aqui, a não ser que alguém os chame. Agora agarra-te bem porque se caíres não paro para te apanhar.

–Parvo! – Exclamo, mas acho que ele não ouviu já que o barulho da mota abafa quaisquer outros ruídos.

Aperto um pouco mais o abraço, pois apesar da sensação agradável do vento a passar pelos meus cabelos eu realmente não quero cair, portanto mais vale jogar pelo seguro e agarrar-me bem ao rapaz. No entanto arrependo-me logo de seguida tê-lo feito, já que ao sentir o seu corpo cada vez mais junto ao meu, o seu calor a ser partilhado com a frieza do meu corpo, aquecendo-me… Tudo isto junto provoca-me uma sensação que desconheço totalmente… É como se tivesse algo a mexer-se dentro do meu estômago, o meu coração pulsa mais rapidamente e os meus pensamentos parecem apenas focar-se na pessoa que está à minha frente… Estarei eu, por acaso, doente? Afasto-me um pouco do ruivo deixando um pequeno espaço entre os nossos corpos, não quero que ele note o bater do meu coração, ainda pensa que estou apaixonada por ele, o que é completamente impossível!

Tento concentrar-me em outra coisa qualquer, mas por mais que eu tente não consigo focar-me em mais nada. As sensações mantêm-se durante todo o caminho e o único momento de distração que tenho é quando passamos pela minha rua, não consigo evitar olhar para a minha própria casa. Por fora parece uma casa normal, como todas as outras, todavia por mais que eu me esforce definitivamente não consigo colocá-la na categoria de “normal”.

Sinto a velocidade da mota a diminuir até parar completamente, abro os olhos (que entretanto fechei depois de passar pela minha casa) e olho em meu redor. Não reconheço a rua e muito menos a casa, Castiel pede para eu sair e após eu fazê-lo imita-me saindo também de cima da moto. Ele conduze-a através do portão da casa e encosta-a a um muro, perto de uma casota de cão vazia, onde consigo ler o nome “Dragon” inscrito numa placa que se encontra pregada acima da “entrada”.

–Ei! A entrada é deste lado! – Diz-me Castiel dirigindo-se para a porta de casa e fazendo-me perceber que até agora permaneci estática à frente do portão.

–Eu tenho nome, sabes? – Respondo ainda distraída.

–Sei, mas eu não sou obrigado a usá-lo.

–Como queiras. – Afirmo revirando os olhos.

O ruivo abre a porta e faz sinal para eu avançar, entro dentro de sua casa sendo logo seguida por ele. Antes que pudesse observar fosse o que fosse oiço um som metálico atrás de mim. Por favor que não seja o que eu estou a pensar, desejo interiormente repetitivamente. Viro-me para ele mesmo a tempo de vê-lo a retirar a chave da fechadura e colocá-la no bolso da calça. Merda, eu estou tão fodida. Tento ignorar o que acabo de presenciar e viro-me novamente. Encontro-me com uma grande sala de estar onde reina o total caos, roupas espalhadas, restos de comida pré-feita esquecidos na mesa e até no chão, alguns livros amontoados (ou não) desajeitadamente, objetos não identificáveis caídos aqui e ali, enfim, uma completa desordem que nem consigo caraterizar.

Nem quis olhar para mais nada com medo de desmaiar ou, ainda pior, ativar o meu lado “limpo e organizado”. Tento concentrar-me em algo mais ou menos limpo, mas antes que pudesse encontrar esse algo oiço uma espécie de passos provenientes da minha direita, viro a minha cabeça nessa direção mesmo a tempo de avistar um grande cão negro. Este caminha até mim e para mesmo à minha frente como se estivesse a questionar-me: “Quem és tu?”, por fim ladra uma vez e aproxima-se mais como se pedisse festinhas, concedo o seu pedido agachando-me até ficar perto da sua altura e mais próxima dele, o seu pelo roça as minhas pernas nuas fazendo-me cócegas, mas eu não me importo.

–Ah é verdade, eu tenho um cão e é melhor teres cuidado que ele pode… ­ – Escuto o rapaz a dizer, mas de repente a seu discurso cessa. Viro apenas a minha cabeça afagando ainda a de Dragon (acho que é este o nome dele, pelo menos é o que está escrito na casota lá fora) e com um sorriso presunçoso digo:

–Ele pode o quê?

–Quem és tu e o que fizeste ao meu cão? – Pergunta-me numa mistura de indignação e surpresa.

–Chalrrye Day, muito prazer. Acabei de trocar o teu querido cão por um androide altamente treinado, nem vais notar a diferença. – Afirmo com um sorriso irónico.

–Muito engraçadinha. – Responde dirigindo-se ao sofá e, afastando algumas coisas para o chão, atira-se para cima dele relaxando.

–Que estás a fazer? – Indago levantando uma sobrancelha. -Não me ias entregar o meu livro?

–Eu só estou a relaxar um bocado… Ah pois é, podes procurar, ‘tás à vontade. – Ele faz um gesto com a mão como se estivesse a ordenar-me e eu apenas levanto uma sobrancelha.

–Desculpa? Só podes ‘tar a gozar comigo?! Eu vim buscar o meu livro, não procurá-lo.

–Olha, tens duas opções: Ou procuras sozinha a porcaria do teu livro ou bazas daqui para fora! Agora escolhe o que quiseres. – Sugere levantando primeiro um dedo e depois outro.

–Procurar? Como é que queres que procure seja o que for nesta pocilga? Nem dá para andar por aqui sem pisar alguma coisa nojenta!

–Olha vê lá como é que falas! Respeitinho que é bonito. Eu realmente não quero saber como é que vais procurar o teu livro, mas relaxa ele não tem pernas para andar…

–Relaxar? Como queres que eu relaxe? – Respiro profundamente para me acalmar, este rapaz só me deixa com os nervos em franja! -Podes, pelo menos, dar-me uma pista de onde deves ter deixado o raio do livro? – Continuo um pouco mais calma.

–Ahm… Provavelmente aqui na sala ou no meu quarto… Não sei, procura pá!

Fuck you. – Insulto-o entredentes começando a caminhar em direção ao monte de livros que vi há pouco.

It’s better if I fuck you. – As palavras atingem-me como um choque elétrico e eu tropeço em algo caindo com um estrondo no chão.

–Tu o quê? – Pergunto ainda no chão encarando a sua cara divertida. Sinto as minhas bochechas a arder, mas tento disfarçar.

–Onde é que foi toda a tua coragem? – Replica com um sorriso sarcástico. Ignoro-o e levanto-me novamente até chegar ao molho de livros, sento-me no chão de costas para o ruivo de modo a que ele não visse a minha cara ainda corada e inicio a minha busca.

Escuto alguns sons secos atrás de mim, que desprezo, concentrando-me ainda na montanha de livros à minha frente, já desfiz metade e até agora nada de livro de música, apenas livros escolares, algumas revistas pornográficas que fingi não ter visto, outras não tão indecentes, um ou outro livro de música, mas nenhum que fosse o meu. Tiro mais um livro, este é de música e apesar de já ter chegado à conclusão de que não é o que procuro não consigo resistir a abri-lo, esfolho-o lentamente reconhecendo algumas partituras, encontro uma desconhecida que me chama a atenção e enquanto a analiso abstraio-me completamente do meu redor.

–Buu! – Oiço alguém a sussurrar-me ao ouvido como um leve sopro. Berro assustada deixando fugir o livro por entre os dedos e caindo em cima dos vários livros espalhados por mim.

–Eu sei que tens algum problema mental, mas daí até tentares matar-me de susto! – Acuso-o ainda a recuperar, remexo um pouco o cabelo para me acalmar, mas em vez disso acabo apenas por despenteá-lo.

–Para ter esta visão até compensa. – Comenta.

Franzo as sobrancelhas em desconfiança e olho para mim mesma. A minha respiração continua acelerada, estou descalça pois decidi retirar os ténis devido ao calor (afinal ele disse para eu me pôr à vontade), uma das mangas da minha t-shirt descaí para o lado por esta ser um tamanho acima e está um pouco amarrotada graças ao trabalho com os livros, por fim tenho o cabelo despenteado por conta própria. Então sim, concordo, é impossível não pensar em porcaria. Levanto-me recompondo o meu cabelo e a minha roupa, calçando-me rapidamente, mas também desajeitadamente. Encaro-o já com uma ideia do que fazer, aproximo-me dele lentamente e com um sinal peço-lhe para me estender a sua orelha, eu concede o meu pedido desconfiado, mas com um pequeno sorriso nos lábios.

–Porquê? Gostaste, foi? – Murmuro ao seu ouvido. Sinto o seu corpo a enrijecer por uns segundos, mas ele logo relaxa ao sussurrar-me também ao ouvido:

–Até que não era mau, mas podias ter mais atributos.

–Uma pena, né? – Afasto-me com uma expressão desiludida completamente falsa, enquanto denoto um discreto (quase imperceptível) aceno por parte dele. -Uma pena que nunca vá acontecer! Nem nos teus melhores sonhos. – Completo observando desta vez uma expressão de espanto na sua cara.

–Não sejas convencida. Sabes que eu podia pôr-te na minha cama facilmente. – Contrapõe com um ar convencido.

–Já te disse para não me confundires com as putas que andas a comer! – Quase cuspo a minhas palavras de tão irritada que estou.

–Ei! Tem lá calma, não te exaltes, eu só ‘tava a meter-me contigo! – Responde-me também já com uma leve irritação e impaciência fazendo-me compreender que estava a exagerar.

–Hmm… Desculpa lá… É que eu não gosto que me confundam com uma oferecida enquanto eu não o sou…

–Isso já te aconteceu? Desculpa, não sabia que te magoava. – Afirmou desta vez sério, sem qualquer ironia ou gozo. Bem, afinal ele até não é um cabrão insensível.

–Não tem problema, eu já ‘tou habituada. Só tenho de aprender a não fazer uma tempestade num copo de água.

–Queres conversar sobre isso? – Olho para ele completamente surpresa.

–Quem és tu e o que fizeste ao idiota que conheci ontem?

–Castiel West, muito prazer. Acabei de substituí-lo numa missão de aturar a baixinha irritante. – Levanto uma sobrancelha ao ouvir a sua resposta, semelhante àquela que eu lhe tinha dado há pouco. -O quê? Ao contrário do que possas pensar eu não sou nenhum cabrão insensível. – Sorrio com as suas palavras.

–Era mesmo nisso que eu estava a pensar. – Ele fica uns segundos a pensar e quando dá por mim já estou a caminho do sofá. Porque não falar com Castiel? Ele não me conhece de lado nenhum e não me parece ser do tipo de pessoa que espalha tudo o que sabe pela escola, então qual o problema? Convencida de que não tem mal nenhum desabafar com o ruivo encaminho-me e sento-me no sofá, esperando que ele faça o mesmo. Após estarmos acomodados uma onda de receio instala-se em mim.

–Tens a certeza? Provavelmente vais apanhar uma seca com a minha história.

–Ao menos deve ser mais interessante do que as aulas que temos. – Sorrimos ao mesmo tempo como se concordássemos.

–Okay, mas não reclames no fim! – Ele acena e eu começo a minha narrativa.

Foi há cerca de um ano e poucos meses. Umas semanas depois de um concurso de música, em que eu ganhei, um rapaz pediu-me em namoro, aceitei sem saber as suas reais intenções. Que parva que fui! Saímos por uma semana, chegámos até a ir a um ou dois encontros, mas nada de especial aconteceu. No dia em que ele decidiu acabar comigo chamou-me ao terraço da escola como se nada fosse. Assim que cheguei ele encostou-me a uma parede e disse-me:

–Disseram-me que tu eras fácil, mas até agora não aconteceu nada entre nós. Não precisas de ter vergonha, eu sei que és uma puta à noite.

–O quê? Não, deves estar enganado eu não…

–Cala-te! Não quero saber. Acabou tudo entre nós, só me fizeste perder tempo. Mas agora vais compensar-me.

E com um sorriso perverso beijou-me forçosamente roubando-me o meu primeiro beijo, mas não ficou por aí, ele queria mais. Começou por colocar as mãos dentro da minha t-shirt, subindo rapidamente. Para minha sorte consegui pará-lo dando-lhe um pontapé nas virilhas e fugindo dali o mais depressa que conseguia. A partir desse dia só me sentia suja, quase impura… Descobri que o facto de ele achar-me fácil e dizer que eu era uma puta foi devido a uns rumores que começaram a espalhar-se depois do concurso de música, mas eu não quis saber, entrei na vida da noite na tentativa de apagar aquelas palavras, só não compreendia que estava prestes a tornar-me no que tentava escapar. Trocava beijos com desconhecidos e só quando um deles me quis levar à força para a cama é que percebi realmente o que estava a fazer.

Abandonei essa vida noturna e transformei-me numa rapariga séria. Quando passei para o 10º ano escolhi uma secundária onde sabia que ninguém da minha escola antiga iria estar. Queria recomeçar de novo. Conheci pessoas que me ajudaram a esquecer tudo, mesmo não tendo consciência disso… E ah ainda lhe dei uma bela lição e também a mais algumas pessoas, de resto consegui viver uma vida de estudante “normal”.

–A sério? Como? – Pergunta-me curioso, mas tentando disfarçar como se fosse apenas uma pergunta casual.

–Fui ter com ele e com a namorada nova, fiz uma grande cena, dizendo-lhe que me tinha engravidado por ele não ter querido usar proteção, que agora seria mãe solteira pois ele não queria assumir o bebé e que ainda por cima ele já estava com outra na esperança de fazer o mesmo e conseguir novamente escapar. Depois dei-lhe uma chapada e fui-me embora, à espera que a namorada terminasse o serviço.

–Epá, agora até tenho medo de me meter contigo!

–Se não fizeres nada contra a minha vontade podes estar descansado.

–E quem disse que eu não quero fazer nada contra a tua vontade? – Sugere com um sorriso irritante.

–Tu nem te atrevas! Olha que eu ponho o teu nome na minha lista negra (que não existe, mas ninguém precisa de saber), antes de ti só tens o Nat… – Calo-me rapidamente, colocando a mão direita à frente da boca, antes que dissesse mais alguma coisa que não devo.

–Nat? – Pergunta-me afastando a mão da minha boca.

–Nada. – Desvio a cara de modo a que os nossos olhos não se encontrem.

Ele aperta um pouco a minha mão e ao tomar consciência disso sinto o meu coração a acelerar novamente. Tento ignorar a minha reação, mas torna-se ainda mais difícil respirar quando Castiel, com a sua mão livre, vira a minha cabeça obrigando-me a encará-lo mesmo de frente. Quase que me perco nos seus olhos cinzentos, porém consigo escapar ao ouvir a sua voz:

–Como queiras. – Diz com uma tom rude, senão de completo desprezo. Sinto um pequeno aperto no coração e um leve sufoco na minha garganta, contudo ainda consigo dizer-lhe:

–Desculpa… Eu não queria… Opá, está bem, que se lixe! Nathaniel, eu ia dizer Nathaniel! Eu odeio-o e não digo mais nada! Satisfeito?

–Tem lá calma, não precisas de atirar-te para cima de mim.

–Eu não estava… – Tento interrompê-lo, mas ele cala-me pousando a sua mão sobre a minha boca. Protesto, mas isso não faz diferença.

–Deixa-me acabar! – Exige obrigando-me a parar quieta. -Parabéns! Eu também o odeio! – Arregalo os olhos surpresa. Tento dizer algo, mas a sua mão ainda me impede, afasto-a com um gesto brusco agarrando o seu pulso com a minha mão direita e afastando-a da minha boca.

–A sério? Tu também? Porquê? – Disparo as minhas perguntas ainda espantada, inconsciente de que ainda mantenho a minha mão em volta do seu pulso.

–Tal como tu tens as tuas razões para não me contar eu tenho as minhas.

–Ahh okay, compreendo. Podemos mudar de assunto?! – Pergunto antes que o ambiente ficasse constrangedor.

–Okay… Que marcas são estas? – Pergunta-me levantando um dos seus braços e consequentemente a minha mão direita, que ainda está “presa” ao seu pulso, e por agora estar a ser erguida deixa bem evidente a marca que “ganhei” ontem, já que minha pulseira descai do seu lugar original.

–Ahm… Acidente de percurso? – Afirmo, porém o meu tom de voz trai-me dando às minhas palavras uma entoação de pergunta duvidosa.

Ele enruga as sobrancelhas enquanto eu sorrio supostamente inofensiva. Evito o contacto direto entre os nossos olhos, isto leva a que, por uns breves segundos, deixe de prestar atenção ao rapaz. Má escolha, não observo os seus movimentos e a última coisa que consigo ver é apenas a sua sombra projetada sobre mim. O meu corpo tomba para trás e cai com um baque seco no sofá, no entanto devido ao nosso peso consigo ouvir o chiar das molas do sofá.

Os meus olhos esbugalham-se ainda mais quando me apercebo o que está a acontecer. As suas mãos, cada uma a prender um dos meus pulsos, pousadas uma de cada lado da minha cabeça, as suas duas pernas entre as minhas, parte do seu peso a exercer pressão sobre o meu, a sua face ligeiramente próxima da minha, numa distância em que consigo sentir as pontas dos seus cabelos a roçarem nas minhas bochechas e a sua respiração quase a misturar-se com a minha. Enfim, os nossos corpos numa posição embaraçosa, no sentido perverso. Sinto o meu corpo todo a aquecer quando encontro os meus olhos com os seus, engulo em seco como se tivesse a garganta seca, neste momento nem sei se devo prender a respiração com medo dela acabar por ficar ofegante.

–Para! – Oiço-o sussurrar mais próximo de mim.

–Mas eu estou parada. – Explico-lhe sem perceber o sentido das suas palavras.

–Não é isso. Para de mentir! Tudo bem que já te magoaram no passado, mas isso é razão para seres uma farsa? Como é que consegues viver esta mentira? Todos esses mistérios e segredos à tua volta só me irritam… mas ao mesmo tempo deixam-me curioso, com vontade de descobrir quem e o que tu verdadeiramente és! Eu nem sei se posso acreditar sequer no que dizes, não sei que parte de ti é verdadeira! Será que ainda existe alguma coisa verdadeira em ti? Ao menos deixa-me ver algo em que possas orgulhar-te e dizer que é real… um sorriso… qualquer coisa… – Ele começa a baixar o seu tom de voz até chegar a um murmúrio.

A minha primeira reação é de choque, especialmente por nunca na minha vida estar à espera de algo assim vindo por parte de Castiel. Ele… a tentar-me chamar à realidade?! Isto parece tão irreal… Fecho os olhos com força, aquelas palavras atingiram-me como flechas, simples palavras que conseguiram tocar-me com uma força tremenda. Eu já confiei várias coisas ao ruivo, então porque não continuar? Terminar com este sufoco, desabafar tudo o que tenho entranhado e talvez assim tirar um peso de cima de mim. Suspiro cansada, por mais que quisesse contar tudo a Castiel, atualmente não consigo fazê-lo, preciso de um pequeno momento de reflexão antes de me livrar de tudo. Encaro o ruivo falso e com um fraco sorriso contesto:

–Eu… Podemos falar amanhã? Por favor! Eu hoje já não me sinto capaz, desculpa-me. Mas eu prometo que amanhã sem falta eu mostro-te o meu verdadeiro eu. – Olho-o de forma suplicante. Ele devolve-me um olhar neutro, todavia ao fim de alguns minutos afasta-se de mim, sentando-se no sofá.

–Tudo bem. Mas que garantias tenho?

–Esta. – E com o resto da coragem que ainda tenho aproximo-me de Castiel e beijo-o suavemente, ele tenta intensificar o beijo, mas eu afasto-me. O rapaz sustenta uma cara de protesto, mas esta é logo substituída por um sorriso.

–Como é que pensas sair? Caso não saibas eu tranquei a porta e eu sou o único aqui que tenho as chaves.

–Eu sei… E acho que isto serve. – Digo mostrando-lhe as chaves que consegui roubar-lhe durante o beijo. A sua cara transforma-se numa de espanto e antes que ele pudesse fazer mais alguma coisa eu corro até à porta. Abro-a facilmente já que não existem muitas chaves no seu porta-chaves em forma de guitarra e gritando um “Até amanhã” saio porta fora sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Próximo (e último) Capítulo - Capítulo 10: The end is a beginning.

@Marril .