Forget me. escrita por Marril


Capítulo 1
Capítulo 1: I’m different now!


Notas iniciais do capítulo

Só um pequeno aviso: Como já é "habitual" vou deixar nas notas finais o título do próximo capítulo...

PS: É possível que eu poste o segundo capítulo amanhã ou depois ^^



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Nós costumávamos ir todos os dias juntos para casa, mas não pensem errado, nós não eramos namorados, apenas amigos de infância que se davam bem. Eu já estava habituada à sua presença, não me imaginava a caminhar de volta a casa, depois de um dia secante na escola, sozinha.

Mas nem tudo é como queremos que seja e um dia ele não apareceu ao nosso ponto de encontro, ainda esperei algum tempo, acho que chegou a passar uma hora, mas isso não fez diferença, ele simplesmente não chegou. Ainda pensei em ligar-lhe, até cheguei a pegar no telemóvel, no entanto não fui capaz de carregar no botão verde. Depois de não sei quanto tempo de espera desisti e fui para casa. O caminho foi solitário, sem a alegria do seu discreto sorriso para me animar ou as suas histórias e conhecimentos para me fazer sorrir. Ah como eu sentia a sua falta, não sabia como era possível uma simples pessoa fazer outra sentir-se tão só, talvez vazia.

No dia seguinte, lá veio ele a pedir-me desculpas prometendo compensar-me noutro dia o tempo que eu tinha perdido à sua espera. Aceitei, é claro, não conseguia ficar zangada com ele, pelo menos foi o que eu pensei. Nesse dia ele estava distante (mais do que o costume), quase podia dizer que me estava a evitar, se eu não o conhecesse tão bem provavelmente teria pensado nisso. No final do dia disse-me que não podia acompanhar-me novamente, logo no dia mais importante! No dia em que eu queria dizer-lhe algo relevante e que já lhe estava a esconder há algum tempo, ele vai-se embora sem se justificar devidamente!

Como não estava com vontade nenhuma de ir para casa decidi passar pelo parque, iria sentar-me à sombra de uma árvore e ouvir música, nada melhor do que isso para passar tempo, numa tarde de Outono, sozinha. No entanto o destino parece gostar de me pregar peças, pois tive a oportunidade de assistir a um acontecimento inédito! Lá estava ele, mesmo à minha frente, abraçado a uma rapariga que eu não conhecia, ele parecia feliz em vê-la e ela também. Não sei como fui capaz de continuar a observá-los, a maior parte da vida pessoal dele não me dizia respeito, mas os meus olhos não se desprendiam das suas figuras. Desejava não tê-lo feito, pois acabei por vê-lo a beijá-la não sei como foi pois a distância não ajudava, mas sabia que ele o tinha feito já que, logo de seguida, vi-o sorrir com o seu melhor sorriso, aquele que ele raramente utilizava, apenas quando se tratavam de pessoas especiais. Isso só significava uma coisa óbvia: Ela era especial, provavelmente era a sua namorada, afinal que mais poderia ser?

Magoava, mas não sabia porquê, possivelmente por não me ter contado, por me ter escondido, por não ter confiado em mim. Sim, doía, o meu coração doía. Eu já estava a chorar, também só reparei nisso quando vi a manga da minha camisola molhada e a minha visão começou a ficar mais turva, mas porquê? Porque é que eu estava a chorar? Eu não entendia, não tinha razões para estar magoada, a minha parte racional fazia-me ver isso, mas o meu coração provocava as minhas lágrimas e chorava com elas. Afinal, as lágrimas nem sempre rolam só pelos olhos, o nosso coração também chora, só que silenciosamente.

Corri em direção a casa, quando lá cheguei não estava ninguém, menos mal. Assim não tinha dar justificações pelas minhas lágrimas. Desviei-me dos caixotes entulhados na divisão e subi para o meu quarto. Atirei a mochila para um canto e sentei-me na secretária, retirei da gaveta um folha e uma caneta começando a escrever o que não seria capaz de dizer-lhe frente a frente, acho que era mais ou menos assim:

Querido Kentin,

Lamento que tenhas de saber as notícias por via desta carta, mas não tive outra escolha. Queria ter-te contado sobre a minha mudança antes, contudo no dia em que decidi fazê-lo tu não pudeste vir comigo para casa, deixando-me assim sem possibilidade de falar contigo pessoalmente.

Então, já deves imaginar o que queria dizer-te, sim, eu vou mudar-me. Não me perguntes para onde porque eu também não sei, os meus pais é que estão a tratar da viagem então eu não sei muitos pormenores. Apenas sei que vou ficar fora alguns anos, a nossa casa não vai ser vendida pois os meus pais estão a pensar voltar, no entanto não te posso garantir quase nada.

Durante o tempo que eu estiver fora não sei o que vai acontecer, não consigo dizer-te nada em concreto e não posso assegurar-te que vamos manter contacto. Espero que quando recebas esta carta eu já esteja no avião e assim que não tenhamos de nos despedir, sabes que eu odeio despedidas então é melhor assim. Caso isso não aconteça por favor não me sigas até ao aeroporto, seria mais doloroso para os dois. Tens todo o direito de ficar zangado comigo, eu tenho noção disso. Quando eu voltar podes ser frio comigo ou até tratar-me mal, não há problema, eu compreendo.

Adeus…

Beijos Chye.

Coloquei a carta num envelope e selei-a, juntamente com aquela carta estavam todas as memórias que eu tinha daquela cidade, estas ficariam seladas e esquecidas dentro daquele envelope, eu queria recomeçar de novo, do início. Só esperava que, tal como eu, Kentin esquecesse que eu tinha existido e que não era nada mais do que uma simples recordação.

Entreguei a carta à mãe do rapaz e pedi-lhe que só a entregasse amanhã à tarde, a mudança seria já no dia seguinte de manhã, eu esperava solenemente que tudo corresse como planeado e que eu não tivesse de despedir-me de ninguém, se bem que eu também não tenho amigos nenhuns portanto não terei ninguém a despedir-se de mim. De uma maneira ou de outra, ninguém, para além da direção da escola, sabe que me vou embora. Não tive direito a festa de despedida nem recordações, mas não há problema, pois eu não posso ter nada que me recorde esta cidade, então é melhor assim. Qualquer outro objeto que me faça recordar esta cidade também deixarei cá, bem arrumado e guardado, mas cá.

Pela primeira vez acho que alguma coisa foi como eu esperava, não estava ninguém no aeroporto para se despedir de mim quando parti, fiquei contente, mas comecei a chorar, novamente não sabia porquê. Simplesmente chorei até adormecer completamente no avião.

***

Três anos. Três anos se passaram desde que me fui embora, os meus pais quiseram voltar um ano depois, mas eu não quis. Insisti até não conseguir mais, consegui terminar o primeiro ano do secundário no estrangeiro, mas assim que passei do 10º ano eles obrigaram-me a voltar, eu já não podia viver sozinha, tinha de estar ao pé deles, no entanto eu nunca entendi bem essa desculpa. Uma outra fundamentação era o facto de eu precisar de um melhor ensino no 11º ano para assim conseguir bons resultados nos exames, só que como eu ainda não me decidi o que quero seguir no meu futuro é um pouco complicado.

Estou neste momento num avião, até já consigo ver a cidade que tanto quis esquecer, o melhor é que consegui, pelo menos a maior parte. Quem me visse agora não me iria reconhecer, o meu cabelo está mais curto, rebelde e adornado com madeixas azuis e roxas escuras, contradizendo assim com meu antigo cabelo comprido, bem penteado e livre de tinta, já não uso óculos o que faz os meus olhos sobressaírem-se, o meu estilo também mudou há algum tempo, já não sou a menina bem comportada de antes, a vida ensinou-me a palavra “revolta” e a ingenuidade é uma coisa que já não existe em mim.

Só espero que ninguém se lembre de mim, iria facilitar muito a minha vida. Não ter de relembrar o passado, falar sobre ele… Durante estes anos também não mantive contacto com ninguém, acho que é como se eu tivesse morrido. Assim que desço do avião corro, quero voltar a casa o mais depressa possível sem me encontrar com alguém, mas mais uma vez, e para variar, isso não acontece. Pelo caminho choco com um rapaz, quando o encaro para insultá-lo arregalo os olhos, cabelos castanhos, olhos verdes penetrantes… Não, é impossível, não pode ser. Ou será que pode? Não, certamente deve ser uma coincidência, qual é a probabilidade de ser logo ele?

-K-Kentin? – Deixo escapar. O rapaz surpreende-se, claro, ele não me tinha reconhecido. Preparo-me para continuar o meu caminho ignorando este infeliz encontro, mas fui parada por uma mão a segurar-me o braço. Olho para trás e ele encara-me seriamente.

-Chye, porque te foste embora? – Arregalo novamente os olhos, não é possível, não, ele não pode ter-me reconhecido, eu não quero ser lembrada.

Eu não quero estar aqui. Desejava poder desaparecer aqui e agora, ou talvez ser esquecida, no entanto isso não é possível… Mas porquê?


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo - Capítulo 2: What can you do in a gym?

Bye bye :3

@Marril .