A Estrada escrita por Lucas P Martins


Capítulo 6
Ventos de luto, Ventos de mudança


Notas iniciais do capítulo

Mais uma segunda-feira e mais uma vez o tio está aqui. Hoje vai ser interessante, e nos próximos estou fechando a primeira parte da história. Estou muito feliz que estejam acompanhando e eu espero que estejam gostando.

Por enquanto é só... Boa leitura.



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Lucas narrando


Música: Broken Wings, Alter Bridge


É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!
A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração.
O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o dos tolos, na casa da alegria.

Eclesiastes 7:2-4


O Texto foi pregado pelo meu pastor, nem me lembro quando, mas fala que quando estamos em luto, refletimos sobre a vida, refletimos nossas ações, lembramos de que a vida é curta e que deve ser vivida. Sem arrodeias. Sem medo de arriscar. Mas, sempre lembrando, a qualquer momento ela pode passar. Pode ir embora. No caso de Jonas, não era diferente. Uma hora, estávamos dividindo nosso lanche, nossas experiências, nossos jogos... Na outra, eu estava carregando seu caixão... Quem poderia imaginar? A vida é curta. Disso eu tinha certeza.

***

O Cemitério me parece um lugar feito pra descansar mesmo, embora muitos não partilhem dessa opinião. Rostos tristes vagavam pelo local, alguns ainda mantinham o ar de tristeza, outros tentavam recordar os bons momentos, em uma tentativa de rememorar coisas boas, outros choravam copiosamente... Certos entes, não esquecemos jamais, no caso de Jonas, não seria fácil esquece-lo, mas, que ao menos fiquem as coisas boas. Talvez seja isso uma forma de que Jonas não seja esquecido. Dizem que a melhor maneira de homenagear um morto, é continuar se lembrando dele e de seus atos por essa terra e aprender com eles.

Na volta pra casa, meus pais já me esperavam na porta, meu pai me acenava para que eu entrasse no carro. Parecia cansado... Aliás, ele andava bastante cansado ultimamente, não fazia muitos esforços, isso me era muito estranho. Ele me parecia olhar mais bondosamente, como se estivesse cansado de jogar esse jogo de quem empurra quem com a barriga...

Algo estava errado naquela casa e eu não tardaria a descobrir.

Fazendo o caminho para o carro dos meus pais. Olhei a minha direita. Dois coveiros trabalhavam rápido e incansavelmente. Havia um corpo enrolado e que era aos poucos colocado no caixão, madeira simples, nada demais. Um corpo de mulher... Aquilo despertou minha curiosidade. Acenei para meu pai para que fosse embora. Não estava preocupado em ir com meus pais, ou ir para minha casa... Precisava espairecer um pouco.

Me aproximei. As duas pessoas que observavam, passaram a olhar fixamente para meu rosto. Estavam estranhando minha presença naquele singelo enterro... A mulher, debulhada em lágrimas se aproximou de mim... Lentamente... O marido a tomou pelos braços...

– Não se aproxime desse garoto. Luiza pode nos matar se você o fizer! - Pareceu relembrar

– Eu estou cansado desse jogo! Sempre estive! Minha filha jamais mereceu isso! - Trovejou ela. Com certeza a vida havia feito muito mal a ela também.

Ela veio em minha direção e me abraçou. Foi caindo e de joelhos, implorou por perdão. Implorou por algo que pensava que não iria ter.

– Sim, minha senhora. Você está perdoada, agora por que tudo isso? - Questionei.

– Por que não posso mais suportar, o jogo de sua madrasta, não posso mais suportar... - Ela disse.

De repente, o marido se ergueu, jogou a mulher para longe e antes que eu pudesse prever quaisquer ação daquele homem enfurecido ele me socou. Nunca tinha levado um soco tão forte, para falar a real, nunca fiz nada que fosse digno de tamanha agressão. Mas, entendi o lado daquele homem. Parecia proteger sua mulher. A minha presença o ameaçava. Isso era notável em seu olhar. Mas, o que eu trazia de ameaça a aquele senhor? E o que tinha minha mãe haver com aquilo? E por que aquela mulher disse “madrasta”? O que ele queria dizer?

Bem, como ninjas, antes que pudesse perguntar qualquer motivo aparente, eles sumiram de minha vista. Pareciam ter fugido. Fugindo de algo, ou pior, fugindo de mim. Como se algo em mim pudesse feri-los ou atacá-los de forma grave. Ressenti-me em ter estragado o momento daquela família. Pareciam-me pessoas sofridas.


Resolvo então observar a lápide. Lá estava escrito: Adriana Vieira. Um amor injustiçado...

Então finalmente me caiu a ficha. Acabei de estragar o enterro de minha abusadora.

Era uma monstruosa coincidência. No mesmo dia, no mesmo lugar estaria sendo enterrado a mulher que tanto mal me causou. E ninguém veio apoiá-la. Eu poderia ficar aqui dizendo que isso era uma hipocrisia monstra. Por mais que ela tivesse sido má e cruel, não merecia ser tratada como lixo. Ninguém merece. Ser enterrada de forma simples. Sem luxo, tudo bem. Agora ser enterrado sem amigos, sem apoio? Onde estão os “amigos” dela? Onde estão as pessoas que diziam que apoiariam ela até o fim? Hipócritas. Nem um restou. Bem, nenhum não. Eu estava lá.

Tomei uma atitude. Um florista passava pelo local. Procurei em um carrinho no qual ele vendia rosas, um buquê em específico que me chamou a atenção. Um buquê de rosas amarelas. Rosas que combinavam com a cor dos cabelos de Adriana.


Música: Down To My Last, Alter Bridge


Desci até a sua lápide. Ajoelhei-me. Olhei atentamente para a foto três por quatro minúscula que estampava seu túmulo. Passei meu polegar por ela, numa forma de acariciar seu rosto. Talvez, na minha cabeça, uma forma de acalentar seu sofrimento. Deixei as rosas por lá. Colocadas de frente ao túmulo.

Me pus de pé por alguns instantes. Suspirei. Fiz uma pequena oração e sai. Na lista de pêsames (que por sinal estava vazia) deixei meu recado:

“Adriana, não sei se foi por minha causa, ou o que eu fiz para que me fizesse tanto mal... Mas isso não importa. Eu te perdoo. O destino que você teve, ninguém merece. E eu realmente espero que, seja lá onde você estiver, que você saiba disso.

Não lhe desejo nenhum mal.

Ass: Lucas”

Quando me virei. Sabrina me observava. Contei-lhe tudo o que havia feito e o que havia acontecido e após ela insistir em querer enxugar meu rosto (Não que eu estivesse sangrando nem nada) ela me pergunta.

– Mas por que você fez isso afinal? Você não precisa disso, ela já te tirou o Jonas...

– Eu sei o que ela fez, Sá. Isso foi mal, isso me dói. Eu sei disso. Mas, prefiro devolver o mal com bem. É uma forma de viver em paz com os outros. Por mais que ela me tenha feito o que fez. Não posso deixar de... sei lá. Simplesmente perdoa-la. Desejo que ela possa descansar em paz. - Disse.

– Lucas, isso foi muito maduro. - Sabrina me elogiou. Apenas assenti com o rosto.


A Conversa, claro, não terminou no cemitério, saímos então. Fomos comer, conversar um pouco. Mesmo de luto, vestindo uma camisa social preta, ela estava linda e eu fiz questão de frisar isso, uma porção de vezes. Conversávamos e aos poucos ia ganhando o interesse de Sabrina, ela me olhava de um jeito diferente. Dava atenção as minhas palavras e eu, também fazia o mesmo.


Estabelecemos uma amizade, mas ela não durou muito tempo. O interesse acabou ficando explícito dos dois lados e então engatamos um namoro.


***

Seis meses depois...

A felicidade reinava. Cada dia com a Sá, aproveitava como se fosse o último, a respeitava e a amava de uma forma que não sabia explicar. A verdade é que, depois de muito tempo, e de muito escutar, resolvi tentar aplicar tudo o que eu passei sete anos aprendendo na igreja, e vi minha vida mudar drasticamente. Logo estava demonstrando um caráter que estava escondido há muito tempo. Ganhei o respeito e admiração de muitos no colégio, comecei a realmente mudar as coisas em minha vida. Reforma geral, tudo novo.


Porém, nada parecia mudar a situação em casa. Minha mãe continuava a agir de forma fria e muitas vezes má comigo. Eu ainda não sabia explicar aquilo e toda vez que tentava, me vinha a mente aquele lance do cemitério. Para falar a verdade, o enterro de Adriana é uma passagem que até hoje marca minha mente. É uma cena que só quando Sabrina está por perto eu consigo esquecer...

Vi também uma mudança no comportamento do meu pai. Quanto mais cansado ele estava, mais se aproximava de mim, mais se fazia presente. Era tudo o que eu queria. Meu pai parecia ter despertado pra minha vida de um transe que parecia que não fosse sair mais.

Ele estava mais velho...

Eu estava mais velho...

Fevereiro havia chegado e com ele meus 19 anos. Eu já trabalhava, ganhava meu dinheiro, estava feliz com Sabrina e tinha ganhado um apoio fortíssimo do meu pai...

Eu estava no caminho da felicidade, ou pelo menos, era o que aparentava ser.


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Notas finais do capítulo

Quem serão essas pessoas? Madrasta? Teria Luiza e Adriana alguma ligação entre elas? Fiquem por aqui. Logo logo, responderei-lhes todas as perguntas.

Fiquem ligados. Até segunda.

Grande abraço.

Dr. Lucas



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