A Estrada escrita por Lucas P Martins


Capítulo 23
Expiatório


Notas iniciais do capítulo

CLOSER TO THE EEEEEEEEEEDGE, CLOSER TO THE EEEEEEDGE... (8'...

Finjam que era o Leto cantando e vamos em frente



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/519354/chapter/23

Luanna narrando

Aconteceu alguma coisa com a Mariana. Não é possível que ela não atenda o telefone. Isso me deixa aflita, ela pra era ter ficado aqui. Geralmente é ela quem cuida de mim. E Lúcia? Sempre some e sempre aparece com mais dinheiro. Sempre me preocupo e nunca tenho tempo para cuidar dela. Será que ela tem tido tempo pra cuidar de mim?

Não há telefone que seja atendido nessa hora. Ninguém me ouve.

Logo, a Mãe da Mari aparece aqui e tentamos de alguma forma descobrir o que está acontecendo.

Sempre achei que a mãe de Mariana fosse uma pessoa super protetora, mas nunca ao ponto de descobrir um GPS que rastreasse o celular da filha. Os eventos do bullying com certeza devem tê-la deixado histérica. Eu também ficaria, se não estivesse tão fraca pra conseguir cuidar de mim mesma.

“Está emitindo dois sinais. Dois endereços horrivelmente distantes um do outro. O que será que isso quer dizer? ”. - Penso

Anoto os dois endereços. Espero os familiares se juntarem e chamarem uma polícia boa, mas que sem ajuda, não consegue nada. Seria difícil acha-la. Disso eu tinha total certeza

Sempre tomo os remédios. Disciplina contra essa doença que aos poucos vai tirando a minha vida é importante. Mesmo achando que isso talvez não vá exigir demais de minha fraqueza. Ou de minhas forças, ou de seja lá o que me põe para a frente todos esses dias. Eles estão no fim. O que podem querer dizer que minha vida também pode estar no fim. Não tenho como comprar novos sozinha e esse dinheiro tem ajudado tanto...

Largo por um instante o vestido. Visto calça, tênis e uma blusa com capuz que na Lúcia fica gigantesca, mas em mim, serve bem e me dá um pouco de flexibilidade. Os tons cinza podem me esconder.

Saio sem que ninguém veja. Ando uns metros até achar um taxi que me leva exatamente a um lugar que parecia normal, se não fosse por uma porta com alguém que dormia quando possivelmente deveria vigiar.

Portas abertas, vigia dormindo, corredor escuro e uma prancheta. O que controlam tanto que não querem que eu veja?

Subo as escadas.

Visto o capuz.

Alguém parecia vigiar a segunda porta, mas é chamado. O que me dá uma chance pra poder continuar a adentrar sem ser vista.

Mais uns metros e percebo a furada em que eu me meti.

Isso é um prostíbulo. Dinheiro, salas de onde se ouvem todos os gemidos daquele prazer falso e momentâneo que só o dinheiro pode comprar. Nas mesas, vários parentes de fisionomia parecida e alguns diferentes que nunca vi.

Onde isso pode dar?

***

Lucas narrando

Entre uma porta e outra. Entro na certa.

Estou maior. Mais musculoso, mais enérgico do que eu era há muito tempo atrás. Mas, ainda estou o mesmo bobo de quando eu a conheci, de quando a amei pela primeira vez, de quando pude sentir a sua pele macia pela primeira e por todas as outras vez. Armado até os dentes. Com medo, medo de perde-la outra vez. Medo de que essa cama a receba outra vez...

Abro a porta. As armas de grosso calibre são substituídas por rosas. As mesmas rosas sortidas que representavam a infinidade de sentimentos que ela me despertava. Me despertava pra vida. Para viver outra vez, e quem sabe compensar todo o sangue outrora derramado para que o sorriso dela possa virar outra vez.

E eu sequer sabia, mas ela era tão louca por mim, tão louca que simplesmente compreendeu.

Contei tudo. Não rodeei, nem fingir ter remorso pelas pessoas que matei só para que ela pudesse viver outra vez. Deixei claro que logo teria que matar mais e só então contei tudo o que havia descoberto e que continuava descobrindo. Já que sempre que falava mais do meu pai para minha mãe, seus olhos brilhavam nitidamente. Nem ela e nem eu, nascemos nesse mundo. Não éramos do mundo da máfia, mas o mundo nos tornou nisso que somos. Duas pessoas imponentes, fortes e que saberão defender tudo aquilo que acreditam.

Viveram uma paixão tão forte quanto a que vivo agora. Tão forte que ele preferiu entregar o império dos Marchelleti a Maurizio que agiu como um verdadeiro consegilieri e treinou minha mãe para que se adapte a esse mundo, exatamente como ela fez comigo. Ele acabou com a própria vida para que minha mãe pudesse viver a dela. Mas sempre com uma dose da vida dele.

Talvez eu não tivesse crescido no mundo da máfia. Mas, com certeza tenho isso nas minhas veias. E logo, Sabrina tomou minhas dores e me mostrou que eu não deveria me preocupar. Ela sabia que eu estava fazendo aquilo pra que ela seja protegida.

Um telefonema nos interrompe. Não era um telefonema qualquer. Era um telefonema da linha secreta, que só quem é da família pode atender.

Linha de consigineri.

– Olá, maledeto. Não diga meu nome. Você sabe quem sou eu, agora... você conhece essa voz?

– Lucas? Lucas? Me ajuda... a sua mãe essa louca? – É Mariana, com a oportunidade que eu gostaria para aplicar o golpe final. Era a hora de finalmente nos colocarmos frente a frente. Eu iria acabar com isso. Sem deixar nenhuma ressalva.

Sento em uma mesa perto da maca. Nisso perco uma meia hora, até o ponto em que finalmente termino de escrever e entrego a minha mãe.

– Entregue isso ao duplicador. Só iremos ao Brasil assim que ele terminar. Andiamo. Chegou a hora. O último sangue vai ser derramado. Vamos voltar a Fortaleza.

Beijo a testa de minha esposa.

– Eu te amo. E vou te amar pra sempre.

Eu sabia e sabia bem que “poderia” ser a última vez. Estava preparado.

***

Luanna narrando

Passo após passo.

Mais adentro.

O Cheiro de pecado é mais e mais forte.

Sento para tentar ver o espetáculo atrás de qualquer pista que me leve a tentar salvar a Mari de sabe se lá Deus o que. E acabo respondendo as dúvidas de aquilo que até o momento salvava a minha vida.

Era uma parte da minha vida.

Era Lúcia.

Era o sacrifício dela e eu sabia que estava colocando-a em perigo só pelo fato de estar presente. Podia confrontá-la em casa, não tinha problema. Mas eu entendo o porquê de ela fazer isso. Pois vinha dela o dinheiro que está salvando a minha vida...

Não, Luanna. Ninguém vai ter tempo.

O silêncio do baque pela descoberta finalmente foi quebrado.

– Matem o intruso!

– Lúcia, corre!

Quebro uma garrafa de whisky para me livrar do primeiro guarda. Nos dirigimos a escada. A corrida agora é contra o tempo. O tempo agora é preciso pra sabermos a diferença entre a vida e a morte.

Tiros, tiros, tiros.

Lúcia se agarra em mim, isso não diminui a nossa velocidade.

Mais tiros...

Até que tomo um tranco e ouço o que eu não queria ouvir.

Um gemido de dor de Lúcia. Ela foi finalmente alvejada. Eu sabia que isso poderia ser culpa minha.

Tento salvá-la. Tento de tudo. Não é suficiente.... Estou pra perder minha irmã. Meu céu. Aquilo que literalmente me mantem viva.

– Lu. Eu sei que você tava mal...

– Não se esforce. Lúcia... – Dedos no rosto. Talvez seja melhor assim. Ela vai descansar, Luanna e logo vocês podem se encontrar.

– Você me perdoa? – Então digo aos prantos.

Apenas um sorriso.

Lúcia se foi.

Salvou a minha vida e a levou embora ao mesmo tempo.

***

Dois dias depois

Silêncio no cemitério.

Só passos se ouvem. E apenas uma pessoa chora a dor do único morto a ser enterrado aquele dia: Uma pessoa já também sem vida.

Era Luanna. Ajoelhada em frente ao tumulo da sua irmã, Lúcia.

Quando o barulho de passos se acentua, Luanna se vira e pode ver alguém que já não via faz um ano.

– Quanta coisa mudou, Lucas. – Ela diz.

– Tenho olhos e ouvidos em todo lugar. Eu acabaria encontrando você pra conversar. Preciso muito de sua ajuda. É sério.

– Em que eu posso te ser útil.... Meu amigo mafioso? – Ela suspira. Enxuga as lágrimas. Parece se recompor e aceitar que pode estar sozinha logo no momento mais importante da sua vida. Levanta-se. Vai demonstrando o quão fraca estava ficando a cada minuto.

– Como soube? Pelas regras...

– Eu deveria morrer? Lucas, não sei se te falaram mas eu tenho AIDS e agora as duas únicas pessoas que cuidavam de mim estão sumidas...

– A Mari não sumiu. Foi sequestrada – Lucas interrompe.

– Por quem?

– Você realmente tem tempo? É uma conversa um pouco longa.

– Quer mesmo salvar a Mari? Eu posso te ajudar. Não quero recompensas.

Dividiram momentos. Sangue, tiros e tudo o que os relaciona e os que um dia os colocou nessa situação e o que mudou em suas estradas desde que o último encontro aconteceu e por fim, dividiu-se o plano que pode salvar Mari.

– Radical não acha? – Luanna pergunta – Definitivamente você se tornou o seu pai, segundo o que você me contou. Tudo mudou entre nós...

– Mas não mudou o sentimento que você pode fazer a diferença! Me ajude a resgatar a Mari. É o único jeito de liberta-la, salvar minha mulher e isso inclui salvar você.

– Das pessoas ou da AIDS?

– Se possível, Luanna. Te salvar dos dois. Eu sempre achei que você poderia fazer a diferença no mundo e acabou por fazer. Sou eu que acabei aderindo a violência pra acabar tendo que salvar a minha esposa...

– Lucas, não se culpe. Qual é a opção que você tinha? Ia por em risco a vida da Sabrina e a sua ficando fora do confronto? Nós dois sabemos que iriam atrás de você assim como vão atrás de mim. Se eu estivesse bem, já teria fugido, mas a Mari corre perigo e se você diz que pode resgatá-la, eu vou te apoiar. Toma, aqui está o último endereço do GPS da Mari.

– Muito obriga...

– Eu que agradeço. Você tá me dando mais uma chance. Você prometeu que iria me ajudar e cumpriu. Vou avisar...

– Não. Não avise a ninguém. As operações do meu grupo precisam se manter secretas. Pelo menos até o meu plano se cumprir de forma fiel ao que foi planejado.

– Entendo. Então, se possível... Eu vou com você.

Duas estradas. Unidas uma última vez, por uma última vida.

Um último derramamento de sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

FALTAM 2!

Keep walking and I see you next time!

Grande abraço,

Dr. Lucas



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Estrada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.