A Estrada escrita por Lucas P Martins


Capítulo 1
"Tenho uma história pra contar" - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

E então pessoal, como vão? Essa é minha nova história. Novo gênero, novos personagens. Dramas novos. Gosto disso... Coisas novas...

Esse capítulo marca o início da primeira fase da história. Apresentações dos nossos personagens principais e suas desventuras e o primeiro desenrolar da história.

Divirtam-se!



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Música:O Bem, O Mal e o Indiferente - Capital Inicial

Lucas narrando

Eu olhava para meus irmãos, depois para os meus "outros irmãos". Descia e subia. Meu TDAH* não me permitia me concentrar em algo. Não me permitia manter meu foco. Seja lá o que o pastor estivesse falando, não tinha menor importância. Era mentira. Não era vivido. Não dava mais pra acreditar...

Não sei absolutamente nada do que vocês estão pensando. O que posso saber? O que me importa é que estão aqui, E eu vou lhes contar minha história.

Prazer, Lucas. Lucas Albuquerque. 18 anos de idade.

Sou como qualquer um de vocês. Dois braços, duas pernas, uma cabeça... Doenças, alergias... Nasci, cresci e vivi como qualquer um de vocês e pronto. Essas são nossas únicas semelhanças, a partir de agora, o que vocês vão ouvir é completamente diferente.

Ah, ai está outra semelhança. Nossas diferenças.

***

Vou contar um pouco de minha história...

Pra começar, fui expulso do maternal por saber ler antes do que todos e assim, sempre me destaquei. Sempre fui muito inteligente. Cresci me destacando entre os demais. Sempre sendo um dos melhores da classe. Sempre. Nunca desejei ser o destaque. Quase ninguém ouvia falar sobre minhas notas. Sempre passei despercebido, porém, sempre busquei a excelência em tudo o que eu fazia. Mesmo que ninguém notasse...

Mas realmente ninguém notava.

Meus pais sempre foram muito amorosos comigo. Luiza e Marconi sempre foram ótimos pais, mesmo morando em um bairro de classe média de Fortaleza, mas, por mais que não tivessem percebido sempre estavam longe. Exceto quando meus irmãos menores, Ana e Miguel. 11 e 9 anos, respectivamente, necessitavam de cuidados. Mas, eu sempre passei despercebido. Já cozinhava, ia sozinho aos lugares, arrumava minhas coisas; Sempre passei confiança. Parecia tudo bem...

Até que chegou o Ensino Médio.

Agora, me permitam fazer uma pergunta...

Você já sentiu medo?

Você já sentiu que não era bem vindo em algum lugar? Que era diferente demais, ou não se encaixava em algum lugar?

Se, todas as respostas foram sim, então parabéns. Você é um excluído.

Como sempre o destaque. Só que desprezado.

Ter espinhas no mundo de hoje, parece ser atestado de exclusão. Por mais que me esforçasse para ser um cara legal (e eu sou) sempre fui esquecido, colocado pra escanteio.

E do nada, eles começaram. Os apelidos. As perseguições.

De toda a forma, "Maracujá", "Espinhento", "Ilha"... Todos os nomes idiotas que você pode colocar para alguém como eu. Tímido, Retraído.

E se você pensava que isso era ruim, espere até ver o pior.

Novamente outra pergunta: Você sabe o que é um abuso sexual?

Você sabe o que é ser tratado como um brinquedo? Tratado da forma que fui tratado... Consegue lidar com isso? E o pior... CONSEGUE SE CALAR? MANTER-SE QUIETO? ESCONDER?

Isso foi há dois anos...

***

Música: Too Bad - Nickelback

Era um dia chuvoso. O céu era cinza. O chão de terra batida recheado de pedras que formavam um calçamento estava todo enlameado. As casas se enfileiravam e se misturavam com árvores, todas despejando água. Esforçava-me para não molhar os sapatos, nem os livros. Era aula de História.

Até chegar a porta havia sido um caminho difícil. O Colégio ficava do lado esquerdo da rua. Ladrilhado todo em azul com faixas amarelas embaixo do nome. Era particular. Colégio Newton Rosa. Nunca foi um bom colégio. Diretores negligentes, ora estavam aqui, ora na França. Alunos encapetados. Funcionários sofredores; Até que ouço uma voz doce.

– Você, menino. Vem aqui! - Uma das alunas se dirigiu a mim.

– Oi. Você me conhece? - Perguntei, simpático.

Ela chegou bem próxima ao meu ouvido, suspirou, me levou a um dos banheiros. Ergueu um pouco minha blusa. Aproximou-se da minha calça. Disse ao meu ouvido:

– Se eu conheço você? Sim. Conheço. Sempre observei você. Precisando de um carinho. Precisando de mim. Eu vou aliviar todas as suas vontades... Tire minha virgindade agora! - Disse ela, maliciosa.

Eu não iria ficar ali pra descobrir o que ela estava pra fazer.

Fechei o punho. Acertei no nariz. Fugi.

Assustado, fugi mesmo da escola. Pra longe, bem longe...

Pior de tudo; Voltar pra casa mesmo sabendo que você não será ouvido. Passar pelos seus pais, sem que eles sequer perguntassem o que estava acontecendo. Sempre estavam mais atentos nos meus irmãos. Eram dois anjos. Sem duvida, mereciam ser tratados daquela forma, mas, por que tinha que ser em detrimento de mim? Por que tinham que me esquecer? Será que notariam, em algum momento, que eu estaria sofrendo?

Não sei ao certo o que fizeram... Não sei ao certo o que eu fiz.

Mas, aquilo não era justo...

Não podia ser justo.

***

Descobri que era Adriana seu nome. Minha abusadora tinha 19 anos (na época eu tinha 14), estava no primeiro ano do ensino médio, era líder da classe. Deveria ser mais responsável. Deveria! Mas por que não foi?!

Descobri também que teria que fugir. Seus "namoradinhos", ou seja, loucos por um corpo perfeito (e ela tinha um, diga-se de passagem) perceberam o nariz quebrado por mim. Mas ninguém fez nada. Ninguém ali faria alguma coisa. Isso iria passar despercebido como todos os outros casos de brigas e desavenças que passavam por eles.

E foi assim que passei minha vida. Fugindo. Fugindo de tudo. Fugindo de todos. Nem mais uma palavra com mais ninguém O meu corpo, violado. O meu coração, cheio de ódio.

O resto daqueles dias naquele colégio foram um inferno. Até que finalmente, a incompetência de meus superiores fizeram com que aquele maldito colégio pedisse falência.

Hoje ele está abandonado.

Hoje eu estou abandonado.

E assim o tempo passou...

(Continua)


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado...

Grande abraço.

TDAH*: O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD. - Saiba mais sobre o assunto em: http://www.tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html#sthash.n0V64Kch.dpuf