Malditos Cromossomos escrita por Felipe Arruda


Capítulo 7
Linha tênue




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Samuel havia acabado de pisar no primeiro degrau da escadaria da casa onde estava morando quando o celular amarelo tocou em seu balso. Ele sabia que só podia ser Bruno tentando uma comunicação rápida. Enquanto subia as escadas, Samuel certificou-se que ninguém o ouvia ao celular quando atendesse.

— Pode falar. – Disse Samuel indo até a porta do quarto onde estava dormindo e entrando sorrateiro no cômodo. Ele jogou a mochila em cima da cama e tratou de tirar aquele sapato dos pés. Estava calor e o blazer fazia Samuel suar muito. – Encontrou alguma coisa? – Perguntou ele.

— Pode apostar que sim. – Disse Bruno do outro lado da linha.

Samuel se jogou na cama.

— Quer um convite pra começar a falar? – Perguntou Samuel extremamente mal-humorado.

Bruno bufou do outro lado da linha.

— Silvana sabe sobre a nossa troca – disse Bruno. – Não me pergunte como, mas ela soube que eu não era você assim que colocou os olhos em mim.

Samuel não pareceu muito surpreso.

— Ela sabe que eu nunca teria um corte de cabelo como o seu por livre e espontânea vontade – disse ele olhando para a parede.

— Anyway – disse Bruno. – Ela me contou algo. – Dentro dos três minutos que se passaram Bruno contou o que Silvana havia lhe dito no primeiro encontro dos dois. 

Depois que Bruno informou o fato de que Samuel não era filho de Amélia, todos os alicerces sentimentais do garoto se romperam. Ele simplesmente não conseguia imaginar um mundo onde Amélia não fosse sua mãe.

— Minha vida é uma mentira. – Disse Samuel ainda sem acreditar naquilo tudo. – Eu nem sei quem sou...

Bruno pareceu entender aquilo.

— Não é só isso – disse Bruno. – Eu descobri uma agenda com alguns registros sobre um projeto chamado DNA onde seu nome é citado várias vezes. – Samuel ficou em silêncio. Bruno continuou com a conversa. – Dentro da agenda tinha algumas fotografias da Amélia quando ela era mais jovem e um exame médico que comprova que Amélia não pode ter filhos. Essa agenda parece um diário, com vários relatos sobre uma aldeia, ou coisa parecida.

— Uma aldeia? – Perguntou Samuel confuso.

— Sim – respondeu Bruno. – Uma aldeia chamada Filadélfia.

Samuel não tinha ideia do que aquilo podia significar. Amélia havia acabado de passar de mãe adorável do subúrbio que levava uma vida pacata para alguém completamente desconhecida.

— Você falou algo sobre um projeto... – Disse Samuel tentando entender um pouco as coisas. – Projeto DNA. O que é isso?

Bruno leu um trecho do que estava escrito numa das folhas.

— Projeto Genoma, ou DNA, é o nome de um trabalho conjunto realizado por diversos países visando desvendar o código genético de um organismo através do seu mapeamento. – Um destes projetos considerado como marco é o Projeto Genoma Humano que já está tendo um impacto na pesquisa de diversas áreas das ciências humanas, como potencial de lançar diversos desenvolvimentos científicos e comerciais.

Samuel olhou para a tela do computador ligada e decidiu pedir ajuda da internet para tentar entender o que tudo aquilo significava. Ele jogou algumas palavras chaves na barra de busca e encontrou um site com uma explicação sobre DNA.

A montagem do genoma é feito através da união de um grande número de sequências de DNA que são juntadas para criar uma representação do cromossomo original do DNA em estudo. Em um projeto de sequenciamento shotgun, todo o DNA do ser vivo analisado é inicialmente particionado em milhões de pequenos pedaços.

Estes pedaços são então "lidos" por máquinas de sequenciamento automático, capazes de ler até 1000 nucleotídeos ou bases de uma só vez. Um algoritmo de montagem de genoma é então utilizado para reunir todas as partes e colocá-las na ordem original, detectando todos os locais onde existem coincidências entre pedaços distintos de DNA.

As partes coincidentes podem ser fundidas, unindo dois pedaços de DNA. O processo é repetido até montar a sequência completa. O sequenciamento é um processo computacional difícil, pois vários genomas possuem um grande número de sequências idênticas, às vezes com milhares de nucleotídeos, algumas ocorrendo em milhares de locais diferentes.

— O que tudo isso significa? – Perguntou Bruno.

— É um código. – Disse Samuel. – Isso é um código para estudos de DNA. – As coisas pareciam ter menos sentido a cada segundo. – Se tem meu nome no meio só pode significar que tem algo de errado com meu DNA.

Bruno riu.

— Malditos Cromossomos – disse ele.

Alguém bateu duas vezes na porta. Samuel desligou o celular rapidamente e tentou ignorar todas aquelas novidades em relação a seus cromossomos.

— Pode entrar! – Gritou ele para quem quer que fosse.

Rosa, a empregada que indicou o quarto dele no primeiro dia da troca colocou a cabeça para dentro do quarto e perguntou um pouco relutante.

— O senhor vem almoçar? – Ela parecia um pouco intimidada ao perguntar aquilo.

Samuel sorriu.

— Já estou indo. – Rosa fechou a porta e deixou o garoto sozinho no quarto pensando no porque dos empregados terem tanta relutância em relação a Bruno. Na certa ele não era um garoto fácil, o que o preocupava já que o plano deles podia ir por água abaixo caso alguém, que não fosse Silvana, descobrisse sobre eles. Porém, o que mais lhe intrigava era o fato de Amélia não ser sua verdadeira mãe, além, é claro, de ele ter o nome envolvido em algo chamado Projeto DNA. O que havia de errado com ele?

Antes de descer para a cozinha ele mandou uma mensagem para Bruno pelo celular amarelo.

A gente se fala mais tarde. Meus malditos cromossomos estão com fome.

♦♦♦

Era cerca de três horas da tarde quando Samuel encontrou Helena na sorveteria próxima ao centro da cidade. A sorveteria era um prédio de esquina pintado de azul com desenhos de sorvetes desenhados na parede. À tarde ensolarada fazia Samuel suar mais do que o normal e só ele sabia o quanto detestava aquele clima de Foz do Iguaçu.

Helena estava diferente fora do uniforme azul marinho do colégio. Ela estava com os cabelos soltos e usava uma blusa preta do Nirvana e um short jeans desfiado. Ela exibia um coturno preto nos pés e uma bolsinha pequena estava pendurada pela alça fina no ombro. Samuel se sentiu idiota com aquela bermuda bem passada e a camiseta polo branca de uma marca que ele não conhecia.

Mais uma vez ele teve aquela impressão de que Helena parecia bem mais velha do que ela aparentava ser. Sem o uniforme do colégio ele podia ver o quanto ela se esforçava para parecer um pouco mais infantil ou adolescente. Aquilo não fazia muita importância para ele. Samuel gostava daquele sorriso que ela estampava aquele que fazia qualquer pessoa sorrir automaticamente.

A sorveteria se chamava Água na Boca e era pequena por dentro. As paredes tinham cores diferentes umas das outras. Uma era rosa, a outra amarela, uma era azul claro e tinha outra num tom verde limão. Os freezers eram horizontais e ficavam dentro de suportes amarelos de madeira e fazia um enorme U que ocupava três paredes praticamente inteiras, fornecendo uma quantidade variada de sorvetes e frutas, além de outras guloseimas como chocolates e caldas. O piso era branco e o ar cheirava a chocolate quente. A senhora que cuidava do caixa era baixa e loura, tinha olhos azuis e um sotaque italiano quando falava.

Helena e Samuel sentaram um de frente para o outro numa mesa redonda e branca de um plástico bem resistente. A garota colocava a colher com pequenos pedaços do sorvete e os levava até boca sem perceber o quanto aquilo parecia sexy para Samuel.

As mesas ficavam do lado de fora da sorveteria, arrumadas pela calçada recém-lavada. A alguns paços de distância deles havia um casal de garotos se beijando, além deles, numa mesa um pouco mais a frente havia uma menina com o cabelo no estilo Miley Cyrus bebendo uma Coca-Cola zero.  As pessoas passavam pelas ruas rápidas, algumas a pé e outras em seus veículos, mas tudo o que Samuel conseguia fazer naquele momento era prestar atenção a cada detalhe do rosto de Helena.

— O que eu perdi ontem na aula? – Perguntou ele tentando se concentrar em algo que não fosse sua imaginação fértil em relação à garota a sua frente.

Helena sorriu.

— O professor de biologia – disse ela – pediu para que elaborássemos uma tese para entregar na próxima aula.

Samuel revirou os olhos automaticamente. Ele detestava teses.

— Sobre o que é? – Perguntou ele fingindo um interesse só para poder ouvir Helena falar mais. A voz dela era uma música calma e suave, daquelas que te da vontade de fechar os olhos e deitar em baixo de uma árvore grande sentindo apenas a brisa fresca no rosto.

Helena deu mais uma colherada em seu sorvete de napolitano enquanto tentava cortar ao meio, com a colher de plástico, um morango.

— Clones. – disse ela. – É uma tese onde você tem que se declarar a favor ou contra a clonagem.

Rapidamente algo passou pela cabeça de Samuel. No ano anterior, enquanto ele ainda estava no colegial, ele teve uma aula sobre clonagem.

 A ovelha Dolly havia sido o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a partir de uma célula adulta. Os cientistas tornaram pública a experiência somente em 22 de fevereiro de 1997, quando Dolly já estava com sete meses de vida. A ovelha foi criada por investigadores do Instituto Roslin, na Escócia, onde viveu toda a sua vida.

Os créditos pela clonagem foram dados a Ian Wilmut, mas este admitiu que Keith Campbell havia sido o maior responsável pela clonagem. O nome Dolly é uma referência ao nome da atriz Dolly Parton, pois Dolly foi clonada a partir das células da glândula mamária de uma ovelha adulta com cerca de seis anos, através de uma técnica conhecida como transferência somática de núcleo.

 Apesar das suas origens, Dolly teve uma vida comum de ovelha e deu à luz dois filhotes, sendo cuidadosamente observada em todas as fases. Em 1999 foi divulgado na revista Nature que Dolly poderia tender a desenvolver formas de envelhecimento precoce, uma vez que os seus telómeros eram mais curtos que os das ovelhas normais. Esta questão iniciou uma acesa disputa na comunidade científica sobre a influência da clonagem nos processos de envelhecimento que dura até hoje.

 Em 2002 foi anunciado que Dolly sofria de um tipo de doença pulmonar progressiva, o que foi interpretado por alguns setores como sinal de envelhecimento. Dolly foi abatida em Fevereiro de 2003 para evitar uma morte dolorosa por infecção pulmonar incurável. O seu corpo empalhado está exposto no Royal Museum, em Edimburgo, Escócia.

O celular de Helena tocou em cima da mesa. No visor, Samuel viu, sem querer, mais num gesto automático do que por curiosidade, uma grande letra D aparecer na tela do aparelho. Helena apertou direto no botão que indicava cancelar e encerrou a ligação antes mesmo de atender o celular.

— Parece que ama letra do alfabeto está tentando uma comunicação rápida com você. – Disse Samuel comendo um pedaço do seu sorvete de menta com chocolate.

Helena soltou um risinho.

 – É Dan— disse ela com o olhar baixo, parecendo um pouco constrangida. – Um amigo que está passando por uma barra e fiquei de ajudá-lo com um assunto.

— Você não quer atender? Eu não me importo. – Disse Samuel. Ele olhou para a garota com o cabelo da Miley Cyrus que levantou de onde estava para cumprimentar uma menina que ia até ela. Ele voltou a encarar Helena com um sorriso nos lábios.

— Não tem problema. Eu ligo para ele mais tarde. – Disse ela que sorriu e colocou mais uma colherada de sorvete na boca.

Samuel sorriu em resposta.

— Você já fez a sua tese? – perguntou ele.

— Ainda não. – Helena parecia bastante aturdida com a mudança brusca de assunto

— Eu tenho uma biblioteca em casa. – Disse Samuel dando uma última colherada no sorvete. – Quer fazer comigo?

 

♦♦♦

O pub estava cheio de pessoas que falavam com copos nas mãos. O lugar cheirava a fumaça artificial e a cigarro. O ambiente era escuro e luzes coloridas piscavam sem parar.

O espaço era divido em três ambientes, do lado esquerdo estava o bar com uma bancada comprida e com quatro bartenders fazendo aquela dança engraçada com os braços para misturar as bebidas. Eles usavam camisetas de algodão preto e as partes de baixo de seus corpos estavam invisíveis. Na parede atrás deles havia prateleiras estreitas com garrafas de bebidas das mais improváveis possíveis. Algumas pessoas estavam sentadas nas banquetas de ferro com almofada redonda, elas bebiam e apontavam para o palco.

Dois degraus a baixo do bar estava um palco não muito grande com, o que deveria ser a banda, arrumando os instrumentos musicais. A frente do palco estava uma pista de dança não muito grande, onde algumas garotas já se encontravam balançando os quadris com uma música baixa que saia de uma caixa de som. Aos lados da pista de dança havia uma espécie de barra de proteção que separava o bar do palco e o palco do terceiro ambiente.

Do lado direito do ambiente se encontrava pequenas mesas quadradas com quatro cadeiras cada uma. Próximo às mesas havia sofás de couro sintético que faziam uma espécie de quadrado com abertura em volta de pequenas mesas quadradas. As paredes num tom roxo amora exibiam pôster de bandas famosas e quadros estilizados.

Bruno estava parado em frente à pista de dança olhando para Luan próximo ao palco falando com quem ele interpretou ser o amigo vocalista da banda.

Atrás de Bruno estava uma porta larga que levava para um corredor curto e largo que servia com entrada e saída para o pub. Ele se sentiu um pouco fora de contexto por um instante, principalmente usando aquele jeans rasgado e a camiseta dos The Beattles. Além do mais, havia tanta coisa acontecendo na vida dele naquele momento que ele cogitou negar o convite de Luan para aquela noite.

Na realidade, Bruno disse mesmo que não iria com Luan ao show naquela mesma tarde quando ambos voltaram a se encontrar no trabalho, mas Luan insistiu para que ele fosse e se divertisse um pouco que ele acabou cedendo. 

Você não vai encontrar mais respostas do que isso. Vá e divirta-se um pouco.— Aquelas haviam sido as palavras que ele disse a si mesmo para ir ao show.  Era um fato que ele não iria encontrar mais nenhuma resposta milagrosa ou que fizesse sentindo em relação a ele e seus irmãos gêmeos. Sem falar que Samuel queria destrocar com ele no final de semana que estava chegando, sendo assim Bruno ligou o dane-se e decidiu acompanhar Luan no show.

Luan subiu os quatros degraus que separava a pista de dança de onde Bruno estava parado e parou na frente do garoto dentro de um jeans folgado e numa camiseta apertada com a estampa de uma caveira enorme. Ele cheirava a Malbec e a menta. Seus olhos brilhavam e a barba por fazer havia sumido. Ele sorria.

— O show já vai começar – disse Luan sorridente. – Vem! – Ele fez sinal em direção às mesas onde os dois foram se sentar.

O show durou cerca de uma hora com a banda Motim! tocando músicas autorais e covers de bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e até Cazuza.

Os dois passaram o show inteiro nas mesas bebendo drinks como capeta e caipirinha, cantando em tons desafinados trechos de algumas músicas e rindo sobre tudo. Eles conversaram sobre assuntos variados como sonhos frustrados e amores. Tudo parecia tênue entre os dois. Bruno tinha aquela sensação de que ambos estavam flutuando numa segunda dimensão. Cada sorriso era doce. Cada olhar era transparente e cada toque rápido das mãos de um sobre a do outro durante a conversa era quente.

Faltava pouco para a meia noite quando o show terminou.

— A gente deveria ir – disse Luan quando tudo o que eles ouviam era uma versão remixada de Neon Lights tocando baixo pelas caixas de som do pub.

— Mas já? – Protestou Bruno. Ele deu um último gole no copo de capeta que havia pedido. Ele não era muito de tomar bebidas com álcool, por isso pediu algo mais fraco, como um capeta de morango com Champanhe.

Luan riu. Era uma risada baixa e gostosa que deixava seus dentes a mostra.

— É terça-feira Samuel. Ou melhor, já é quarta-feira. – Disse Luan. – As pessoas tem que levantar cedo amanhã para trabalhar.

Luan levantou e Bruno fez o mesmo.

— Você bebeu um pouco – disse Bruno olhando para a mesa e apontando para o copo onde Luan havia bebido duas ou três caipirinhas. – Tem certeza que você consegue dirigir?

Luan riu.

— Claro – disse ele. – Isso ai não tem efeito nenhum em mim. – Ele sorriu e aquele sorriso foi o suficiente para que Bruno se sentisse a pessoa mais segura do mundo.

Luan pagou a conta. Bruno até tentou fazer com que ambos dividissem os gastos, mas ele argumentou que aquilo era um convite que havia vindo dele e que por tanto ele pagaria.

Os dois estavam indo em direção à porta que levava para o corredor da saída quando Bruno olhou em direção ao palco e encontrou o amigo de Luan conversando com uma garota.

— Você não vai falar com o seu amigo? – Perguntou ele. – Sei lá, pelo menos parabenizá-lo pelo show...

Luan olhou para o vocalista da banda e riu.

— Eu não o conheço – disse Luan. Os dois estavam parados na porta impossibilitando a passagem das outras pessoas. Luan pegou no braço de Bruno e o puxou em direção a saída.

Bruno estava bastante confuso.

— O que? – Perguntou ele. – Como assim? A gente não veio aqui ver o show do seu amigo? E quando você foi lá falar com ele?

— Bem – disse Luan andando a passos curtos ao lado de Bruno, seus braços se tocavam de vez em quando. – Quando eu estava supostamente conversando com ele – Luan estava rindo – Eu estava na realidade perguntado o nome da banda porque nem isso eu sabia.

Quando os dois chegaram à rua um sopro de vento quente atingiu o rosto de Bruno fazendo com que tudo o que ele havia esquecido enquanto curtia a noite voltasse de uma única vez em sua mente.

Eu sou Bruno. Não sei quem são meus pais. Não se de onde vim e possivelmente tenho mais dois irmãos gêmeos sendo que um deles pode ser um psicopata maluco. – Pensou ele.

— Porque você mentiu? – Perguntou Bruno tentando colocar a mente no lugar enquanto os dois iam em direção ao gol vermelho do pai do Luan. – E o lance da garota que te deu um bolo?

— Não tinha garota alguma. – Disse Luan. Ele suspirou fundo. – Parece que ninguém está muito a fim de sair com o garoto que tem a fama de fazer vídeos caseiros de sexo. – Ele olhou para Bruno e disse num tom constrangido. – Eu só queria fazer você sair comigo essa noite, sabe? Eu sei que as coisas entre nós estão resolvidas e que o passado ficou no passado, mas sei lá... – Houve um momento em que nenhum dos dois disse nada até que Luan voltou a falar. – Eu não sabia como te convidar... foi isso... eu só queria passar um tempo com você fora da loja... como amigos, talvez... – Ele desativou o alarme do carro. – Você está bravo comigo? – Perguntou ele confuso.

— Não. – Disse Bruno sorrindo. Ele realmente não estava bravo, nem irritado e nem nada. Talvez um pouco surpreso em saber que Luan queria passar um tempo com ele, mas não bravo. Para Bruno era fácil porque ele não tinha “um passado” com Luan e ele também não queria pensar naquela confusão porque a sua noite havia sido tão divertida que ele adoraria que terminasse da mesma forma.

Luan retribuiu o sorriso por alguns segundos e eles entraram no carro.

No caminho até a loja Alfa, Bruno ligou o rádio e tocava uma balada romântica nacional remixada. Os dois conheciam bem aquela música e foram cantando juntos pelo trajeto inteiro até que o carro parou na frente da loja onde ambos trabalhavam.

Luan desligou o rádio e Bruno sentiu aquela sensação tênue se formando entre eles novamente. Instantaneamente seu coração começou a acelerar e suas mãos suaram. Ele não entendia direito o porquê de estar se sentindo daquele jeito. Acho que estou para pegar um resfriado— pensou.

— Eu me diverti muito. – Disse Luan com a voz calma e exalando sinceridade. Seus olhos brilhavam.

— Eu também... – Disse Bruno. Sua respiração também estava diferente, ofegante. Uma excitação momentânea tomou conta de todo o seu corpo e ele simplesmente inclinou seu corpo para frente e beijou Luan.

Os lábios macios... o gosto de limão... o cheiro de fumaça... a linha tênue...

Luan tirou o rosto e olhou incrédulo para Bruno sem conseguir dizer nada. Bruno encarou os olhos assustados de Luan e foi tomado por um imenso arrependimento.

— Ai. Meu. Deus. – Bruno colocou as mãos no rosto. – Desculpe... eu... desculpe. Não sei o que estava pensando... desculpe. – Quando ele tirou as mãos do rosto encontrou Luan olhando fixamente para o volante.

— Acho melhor você ir. – Disse ele.

Mais do que depressa, Bruno saiu do carro e andou em direção à loja. O carro deu uma arrancada e seguiu rua à frente virando na esquina próxima.

— Droga... – Murmurou Bruno começando a chorar de raiva. – No que eu estava pensando?

Em meio às lágrimas outra crise de tosse corrompeu de seus pulmões. Dessa vez mais forte e mais duradora do que a primeira vez no chuveiro. E em vez de algumas gotículas de sangue, agora ele cuspiu uma grande quantidade do líquido.

— Droga... – disse ele se recompondo.

A linha tênue partiu-se ao meio.


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Notas finais do capítulo

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