Malditos Cromossomos escrita por Felipe Arruda


Capítulo 15
A parte da história onde tudo se encaixa


Notas iniciais do capítulo

Onde eu pelo menos acho que se encaixa, ahahahahahaha :D



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Demétrio estava observando de longe aquela família, aparentemente perfeita, sorrindo para a foto. Ele cobria a cabeça com o capuz e a máscara de ovelha estava pendurada no pescoço. Horas antes, ele quase havia sido atropelado por um carro enquanto tentava se localizar e chegar até aquele local.

— Estamos reunidos nessa tarde – começou a dizer um homem baixo e roliço, com sinais de calvície e um nariz exuberantemente grande. – Para celebrarmos a inauguração do novo shopping da cidade.

Demétrio não conseguia tirar os olhos de seu clone e a vontade de feri-lo ia aumentado a cada segundo que se passava. Ele até tentava se sentir culpado por conta daqueles pensamentos, mas não conseguia. Alguém havia tirado Caio de sua vida e agora ele iria tirar alguém da vida de George Dylan Cooper.

Um clone por outro – pensou Demétrio.

Mais e mais pessoas chegavam para a inauguração do shopping Classe A que estava prestes a abrir as portas. As pessoas que chegavam eram na maioria mulheres usando roupas caras e exibindo penteados bem feitos. O prefeito continuou a falar e tudo no que Demétrio conseguia pensar era que com aquele monte de gente em volta, ia ficar difícil de chegar perto de seu alvo.

Demétrio notou o momento em que o clone chamou George ao lado e disse algo baixinho em seu ouvido, fazendo com que a mulher elegante do lado de George lançasse um olhar de reprovação para o garoto. George fez um sinal positivo com a cabeça e voltou a sorrir para as pessoas entediadas com o discurso daquele homem baixo e roliço. Quando o clone começou a sair de fininho para dentro da loja, Demétrio achou que o destino estava conspirando a favor.

Ele apurou o passo e foi até a lateral do prédio onde havia uma enorme porta de vidro que servia como uma segunda entrada para o shopping. Um homem usando um terno preto bloqueou a passagem quando Demétrio tentou passar por ele.

— Desculpe – disse o homem – mas só posso deixar entrar depois da inauguração oficial...

Demétrio encarou o homem.

— Eu sou filho do dono – disse ele pausadamente – é melhor me deixar entrar ou mando você para a casa antes mesmo da inauguração oficial acontecer.

O segurança encarou Demétrio por dois segundos até que pareceu finalmente o reconhecer.

— Sim – disse ele dando passagem. – Desculpe senhor Bruno, realmente. Eu não o havia reconhecido com o capuz...

Demétrio ignorou o homem e andou por uma galeria de lojas até chegar a uma fonte que jorrava água para o alto de forma sincronizada. Ele seguiu pelo piso de mosaico em busca de seu clone, mas não conseguia o encontrar em lugar algum. Ele então subiu as escadas rolantes que levavam para o segundo andar, que era exatamente idêntico ao de baixo. O lugar era imenso, possuía um cinema, uma praça de alimentação e outras inúmeras lojas.

O garoto seguiu por um corredor onde ficavam os banheiros masculinos e femininos, um de frente ao outro. No final daquele corredor havia uma enorme janela de vidro com vista para o exterior do prédio. Demétrio encarou o estacionamento externo da janela e soltou um suspiro de derrota já que não havia ninguém ali. Ele estava prestes a retornar a caçada quando ouviu uma voz por de trás de suas costas.

— Olá... tudo bem?

Demétrio colocou a máscara com o rosto de uma ovelha e se virou para encarar a voz quase sem acreditar que se tratava do garoto que ele caçava.

— Merda – disse o clone num tom de voz baixo e dando um passo para trás. – Merdamerdamerdamer...

Num movimento rápido, Demétrio deu um soco em seu sósia e o jogou com força contra a parede do corredor. O clone bateu a cabeça com força e caiu no chão gemendo e com falta de ar. Demétrio subiu em cima dele e prendeu os braços do garoto com seus joelhos, em seguida tirou uma adaga do bolso do casaco e aproximou lentamente a lâmina no pescoço do garoto imobilizado.

— Pare! – Gritou ele. – Pare! Por favor, pare!

Demétrio pressionou a lamina lentamente no pescoço daquele garoto tolo que continuava gritando e tentando se livrar dele inutilmente. Num momento, Demétrio estava prestes a afundar a lamina naquele pescoço e no outro, foi como se ele tivesse visto Caio parado ao seu lado com um olhar de reprovação em seu rosto.

— Você prometeu protegê-los – disse Caio – você prometeu salvar nossos irmãos... – E então num piscar de olhos Caio sumiu e Demétrio voltou a se concentrar no que estava fazendo.

— Eu não sou o Bruno! – Gritou o garoto por fim com a voz falhando. – Eu não sou o Bruno...

Demétrio refletiu sobre aquilo vagamente. Aquele não era o Bruno o que significava que ele era outro clone. Ele realmente havia prometido para Caio que salvaria seus irmãos e machucar aquele garoto não fazia mais sentido. Ele só queria vingança, vingar a morte de Caio e por alguma razão acabou atribuiu a culpa ao Dylan Cooper, mesmo sem saber o envolvimento real dele com aquela história.

Depois de um suspiro longo, Demétrio largou a adaga no chão e tirou o capuz, em seguida tirou a máscara e encarou o clone ainda no chão.

— Não pode ser! – Gritou o garoto que não era Bruno.

— Você precisa correr antes que... – Num gesto rápido, o clone puxou a adaga do chão e cravou próxima a costela esquerda de Demétrio que sentiu o metal perfurar sua pele e soltou todo o ar rapidamente pela boca. Ele se desequilibrou e caiu no chão.

Um segurança apareceu na entrada do corredor e vozes alteradas não pareciam fazer sentido aos ouvidos de Demétrio. Num gesto rápido, sem mesmo entender como ele conseguiu fazer aquilo, Demétrio tirou a adaga da costela e ignorou o sangue que escorria para o chão.

Ele sabia que deveria proteger seus irmãos, mas aquele garoto que possuía seus mesmos malditos cromossomos havia lhe esfaqueado e ele não ia deixar barato. Demétrio segurou a adaga pela lâmina sem se importar com a dor do corte e bateu na cabeça de seu clone com o cabo. O garoto colidiu contra a parede outra vez e caiu no chão desnorteado.

Demétrio encarou o rosto de pânico do segurança e calculou que ele não conseguiria passar, ou até mesmo lutar contra aquele homem nas condições que se encontrava. Então ele encarou a janela, segurou o ar nos pulmões e com impulso se jogou contra ela.

O mundo girava muito e a visão de Demétrio demorou em focalizar. Havia caco de vidro perfurando parte de seu corpo e sua costela doía ainda mais. Com muita dificuldade, Demétrio se levantou e foi se arrastando até ao estacionamento onde foi ajudado por uma garota baixa e loira que se assustou quando o viu naquela situação.

— Meu Deus! – Disse ela o ajudando a andar. – O que aconteceu com você?

— Eles vão me matar... – Disse Demétrio.

A garota levou Demétrio para um carro prata de quatro portas e o ajudou a sentar no banco do carona. Ele viu o momento em que ela deu a volta pela frente do carro e entrou, sentando-se muito aflita ao lado dele.

— Eu vou te levar para um pronto socorro... – ela já havia ligado o carro e o colocado em movimento.

— Não! – disse Demétrio segurando o ferimento na costela com a mão. – Eu só vou precisar de um kit de primeiro socorros...

A garota olhou para ele assustada.

— Eu não posso – disse ela. – Você precisa de um médico!

Demétrio gemeu.

— Como é seu nome? – Perguntou ele com dificuldade. O carro cheirava a um perfume doce que ele não soube reconhecer o que era, mas que era muito bom.

— Helena – disse a garota aturdida, desviando o olhar hora para a estrada, hora para Demétrio.

O clone tombou a cabeça para o lado e encarou Helena. Seu corpo doía e ele tentou falar sem querer assustá-la.

— Você sabe o que é o Projeto DNA? – Perguntou ele. Ela fez que não com a cabeça. – Eu sou um clone. – Helena olhou para ele assustada. – O filho do George é outro e existem mais por ai...

— Você está delirando... – disse ela encarando a estrada.

— Eu posso provar – disse ele. – Me de um kit de primeiros socorros e me leve a um lugar seguro que eu posso te provar.

♦♦♦

— Clones? – Perguntou Helena assustada. – Isso não pode ser verdade! – ela estava sentada na cama do quarto onde Demétrio estava hospedado com a agenda do pai de Caio nas mãos.

Demétrio havia feito os pontos em sua costela sem a ajuda de ninguém, o corte não havia sido tão profundo o que ajudou um pouco, mas ainda doía quando ele andava ou respirava. Depois de um banho rápido, ele sentou numa poltrona velha perto da janela sem camisa. O curativo em sua costela já não sangrava mais e seu cabelo platinado estava molhado e despenteado.

— Como você fez isso? – Perguntou Helena apontando para o curativo na costela dele. O quarto era pequeno e cheirava a fumaça de cigarro.

Demétrio soltou um suspiro.

— Eu cresci num orfanato – disse ele. – Eu fui abandonado que era recém-nascido... não foi uma vida fácil...  quando completei 16 anos decidi que fugir era a minha melhor opção.

Helena estava sentada na posição do índio e havia deixado a agenda de lado.

— Curitiba pode ser um lugar perigoso – continuou ele. – Eu morava na rua e conheci um grupo de jovens infratores que viviam num prédio abandonado... a gente roubava para sobreviver. Ou essa era, pelo menos, a desculpa que eu dava para mim mesmo.

A garota pareceu desconfortável. Ela usava uma calça jeans justa e uma blusa com uma estampa abstrata. Seu tênis estava ao lado do pé da cama.

— Uma vez nós roubamos um carro de um médico, mas a polícia conseguiu vir atrás de nós... – Demétrio parecia distante. – houve troca de tiros e o cara que dirigia o carro foi atingido... eu não lembro direito, mas quando abri os olhos estava com a perna e o rosto sangrando muito e o carro estava de ponta cabeça...

Demétrio tocou a cicatriz ao lado do rosto.

— Havia uma maleta no carro cheia de coisas médicas – ele continuou. – então eu peguei a maleta e me arrastei até ao esgoto perto de onde eu havia sofrido o acidente, foi quando outros dois moradores de rua me encontraram...

Helena parecia aflita.

— Um deles me ajudou a fazer os pontos na perna – disse Demétrio. – Ele disse que era como costurar dois pedaços de pano... eu achei que fosse perder minha perna naquela noite – ele soltou uma risada nostálgica.

— O que aconteceu com os outros? – Perguntou Helena. – Os que estavam no carro com você?

— Um morreu e o outro foi pego pela polícia – disse Demétrio. – Eu tinha medo que eles fossem me pegar também, mas Curitiba é um lugar grande e eu tentei ficar longe de encrenca por um tempo.

Helena estava pensativa.

— Como você veio parar aqui? – Perguntou ela.

— Um dia eu roubei uma bolsa de uma mulher – disse ele. – Dentro dela havia uma passagem para Cascavel, então eu tomei um banho num banheiro público e peguei algumas roupas numa agência social. Entrei no ônibus com a passagem roubada e fui parar em Cascavel, onde conheci Caio.

— O outro clone – disse Helena. Ela pareceu refletir um pouco. Demétrio notou que seus olhos estavam distantes, quando seus olhares voltaram a se encontrar, ela perguntou. – Porque você queria matar o Bruno Dylan Cooper?

Demétrio explicou o sentimento de vingança que o havia tomado, mas que também havia mudado de ideia e que queria alertar seus irmãos sobre o assassino. Os gêmeos estavam longe e Caio morto. Não fazia mais sentido afastar os outros. Ela já havia ficado sozinho por muito tempo.

— Você conhece o Bruno? – Perguntou Demétrio.

Helena fez que não com a cabeça.

— Minha mãe comentou que o filho do Dylan Cooper havia sido matriculado no colégio onde ela é diretora – disse a garota. – Eu estava justamente indo à inauguração do shopping para vê-lo.

Demétrio teve uma ideia.

— Você disse que sua mãe é diretora do colégio onde ele vai estudar? – Ela fez que sim com a cabeça. – Você precisa descobrir se ele sabe dos clones, se esse George está envolvido de outra forma nessa história... – ele fez uma pausa. – Quando eu o ataquei ele disse que não era o Bruno.

Helena pareceu espantada.

— O que? – Perguntou ela. – Como assim?

Demétrio deu de ombros.

— Se não era ele – disse Demétrio – significa que é outro de nós e se tem três de nós aqui é muito mais fácil de sermos encontrados pelo assassino do Caio.

Helena estava pensativa.

— Mas como eu posso ajudar nisso tudo? – Disse ela claramente perturbada. – Como eu vou chegar nesse garoto se a gente nem se conhece?

— Você disse que ele vai estudar no colégio da sua mãe – disse Demétrio. – Não deve ser difícil para você entrar lá...

Helena ficou pensativa.

— Eu já me formei... – disse ela. – Mas minha mãe vai estar num congresso nos próximos dias. Eu posso me passar por uma aluna, mas não vou conseguir por muito tempo... Todos os funcionários daquele lugar me conhecem.

Demétrio se levantou de onde estava e sentou ao lado de Helena segurando uma de suas mãos.

— Por favor – disse ele. – Essa pode ser a única chance de eu descobrir onde o verdadeiro Bruno está e alertá-los de que suas vidas correm perigo.

Helena pareceu pensativa.

— Tudo bem – disse ela se dando por derrotada. – Eu vou te ajudar. Não sei por que e não sei direito como, mas eu vou te ajudar.

Demétrio sorriu e sentiu algo que há muito tempo não sentia. Esperança.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Não se esqueça de comentar! Beijão :DDDD



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