As nuvens se aproximavam rapidamente, formando um cinza cada vez mais evidente no céu ainda azulado. Mas isso não parecia ser uma preocupação para as crianças que brincavam naquele parquinho a céu aberto, muito menos para a garotinha loira e animada que estava alegremente se balançando.

Quase um ano se passara depois de ganhar a coroa no seu aniversário. Rin sempre gostou de princesas. Não que quisesse ser uma, no entanto. Princesas tinham que usar longos vestidos, e serem educadas e quietas. E mesmo que as admirasse, ela apenas não era assim.

Tinha ganhado toda uma fantasia de princesa, mas usava só a coroa. Porque a verdade era que Rin se sentia bem mais um rei, um herói dos contos de fada, do que uma princesa que quietamente assistia as estações passarem.

...Tudo bem que a coroa era delicada demais para ser a de um rei, mas ora, era o que tinha.

Depois de pular do balanço em movimento, chegando em pé no chão, saiu andando por aí. Não tinha visto no dia nenhum de seus amigos. Alguns segundos divagando sobre a saudade que sentia por eles foram suficiente par chegar num canto completamente isolado do parquinho, e achar uma menininha sentada num canto, sem brincar com ninguém, aliás, com a cabeça entre os joelhos.

Seu cabelo curto e castanho era extremamente liso, e cortado nos ombros de maneira reta. Usava um casaco longo e preto de capuz, que era bem maior do que ela. As folhas caídas em suas costas indicavam o tempo que estava ali.

– Oi! – falou, em seu tom alto de sempre.

– Eh!– a garota levou um susto, levantando rapidamente a cabeça e se protegendo de algo imaginário com os braços. – ...hein...?

– Desculpa, eu não queria te assustar! Por que está tão sozinha? – tombou a cabeça para o lado, fazendo uma típica pose de “criança curiosa”. Sem essa intenção, no entanto.

– Ah... – ela parecia realmente desconfortável. Rin se perguntou se ela sequer estava ali para brincar, como todos os outros. – E-eu... tava dormindo.

– Você vem pro parquinho pra dormir? – ela sorriu – Você é engraçada, gostei! Qual é seu nome?

A menina colocou o capuz rapidamente, fazendo só um pouco de luz de seus olhos castanhos brilhar na sombra.

– G-galaco.

– Nome diferente! – ela gritou de repente, fazendo a outra se encolher. – Eu sou a Rin.

Galaco ficou calada por vários minutos, olhando para o chão, seu rosto suado provavelmente por causa do sol, que apesar de intenso, não era suficiente para fazê-la tirar o capuz.

–Buh, fale comigo! – disse a loirinha inflando sua bochecha esquerda, pondo à mostra suas sardas claras. – Eu estou tãaao entendiada...!, que eu sinto que vou morrer...

No entanto, os grandes olhos castanhos pareciam fixados por algo, e ela não prestou atenção em nenhuma daquelas palavras. Mais especificamente, Galaco encarava a coroa que Rin levava no topo da cabeça. Uma coroa com uma pedra rosa, que apesar de ser uma simples joia de plástico, colocou um sorriso no rosto ainda escondido.

– Isso aí é... realmente legal. – ela disse de repente, com uma voz suave e afastada como se em transe. – Lindo...

– Do que está falando, Gacchi? – Rin perguntou, dando-se a liberdade de chamar a menina de cabelos castanhos pelo apelido que havia decidido desde o início.

– Essa coroa. – simplesmente afirmou isso, sem nem prestar atenção ao apelido. – Eu sempre quis ser uma princesa.

Pela primeira vez, Rin ficou sem resposta frente a alguém. As palavras só fugiram de sua boca. Foi quando a outra percebeu o que tinha dito, e ficou vermelha, se desculpando intensamente, parecendo à beira das lágrimas.

A franja loira cobriu os olhos azuis, e suas mãos magras e pálidas subiram para a coroa. Rin tirou-a da própria cabeça e colocou nos cabelos castanhos escuros, tirando o capuz preto e fazendo a outra ficar sem qualquer reação possível. Talvez por seu gesto, talvez pelo sorriso caloroso que tinha dado.

– Princesas são quietas e graciosas. Assim como você. – as palavras da loira, pela primeira vez, eram calmas, e não esperavam resposta. – Você merece a coroa mais que eu. Porque eu... eu vou ser um rei! Assim, eu vou te proteger.

Desde que viu a menina isolada e triste, quando deveria estar brincando com as crianças do parquinho, Rin percebeu que ela poderia ter algum problema. E ela não parecia confiar nas pessoas tão fácil quanto o resto das crianças. Queria ser sua amiga.

Os olhos de Galaco encheram-se de lágrimas. Mas era de felicidade. Se levantou rapidamente e buscou por galhos e flores. Rin a seguiu, pensando que ela tinha se assustado. No entanto, em quase meia-hora, a morena havia feito uma coroa de flores, torta e desajeitada, mas que nos olhos da outra eram uma perfeita coroa para um rei. Sendo assim, ajoelhou-se e permitiu à sua “princesa” de colocar seu mais novo objeto de poder e abraçá-la.

– Obrigada, Gacchi. – falou com o mesmo sorriso de antes. – Vou lhe proteger assim como prometido.

Como as duas estavam em pé, agora Galaco era a mais alta. O anoitecer parecia já estar caindo, e ao olhar para o céu, a morena levou um susto.

– Eu preciso ir. – falou correndo, até que parou de repente. – Posso te ver aqui de novo amanhã? – estava ofegante, mas gritou isso de qualquer forma.

Rin sorriu e assentiu.

–Até amanhã Gacchi!