Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 9
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Como o último capítulo ficou pequeniniho, caprichei neste!
Espero que alguém goste...



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Alguns dias se passaram enquanto todas as noites Leonardo e Samantha se encontravam na biblioteca da casa dos Carrara para estudarem juntos as matérias do ensino médio cujo Leonardo precisava recuperar. Se o garoto repetisse o ano escolar seu pai lhe daria um castigo comprometendo suas férias. Leonardo se empenhava como nunca e, pela primeira vez em sua vida, tinha realmente interesse em aprender sobre as coisas que estava lendo. Em seu íntimo crescia uma paixão secreta pelos livros e, agora, mesmo na ausência de Samantha, ele se dedicava mais aos estudos.

Quem não estava entendendo nada eram os amigos de Leonardo. Pedro e o resto da galera, com quem passara o ano todo matando aula para irem à praia ou para compartilhar um jogo digital. Há alguns dias Leonardo não comparecia mais às reuniões online dos jogos e permanecia na sala de aula durante o período da escola. Apesar das cobranças dos amigos, Leonardo lamentava em seu íntimo o tempo que perdeu sem aprender nada e tentava, com a ajuda da prima, correr atrás do prejuízo.

Leonardo era popular no colégio, apesar de sua fama de briguento e arrogante. Talvez mais por seu status social do que por qualquer outra coisa, estava sempre rodeado de pessoas que faziam tudo que lhes pediam, inclusive seus deveres de casa. Também era considerado um “bom partido” e, praticamente, todas as meninas da escola queriam namora-lo, no entanto ele não se comprometia com nenhuma delas, preferindo manter um relacionamento com todas. Mas de tudo, o que as pessoas do seu ciclo social mais gostava, eram as festas que ele organizava em sua casa, na ausência dos seus pais. A maioria das pessoas faziam de tudo para ser um convidado desses encontros em que podia acontecer de tudo.

No entanto, nas últimas semanas o comentário era unânime: Leonardo estava muito diferente e, com certeza, algo está acontecendo sem que ninguém saiba. Pedro era o mais abordado. Não se passava muito tempo entre um momento e outro sem que alguém o abordasse para lhe perguntar o que havia de errado com o amigo e, apesar da insistência, Leonardo só dizia que, se não recuperasse as notas, seus pais não lhe permitiria mais liberdade para fazer o que quisesse. Pedro, conhecendo o amigo, sabia que não era apenas isso, mas não via como descobrir o que realmente acontecia. Alguma coisa o dizia que essa mudança brusca tinha algo a ver com a prima baranga e misteriosa, que Leonardo decidira esconder de todo mundo, portanto estava decidido a desvendar esse mistério apesar de saber que, não importava o quanto tentasse abordar Leo sobre o assunto, ele sempre desviava.

***

Samantha continuava indo aos museus todos os dias, sem exceções. Apesar da chuva constante que alagava a cidade inteira, ela acordava sempre bem disposta e feliz por seu trabalho, cada vez mais empenhada em aprender e aperfeiçoar seus conhecimentos. Apesar da amizade com Luana crescer cada vez mais e elas estarem sempre conversando e trocando informações, Samantha ia mais ao Museu de Imagens do Inconsciente. As oficinas com os pacientes que frequentavam o museu faziam-na observar a perspectiva humana de uma forma diferente, sem perceber, estava absorta em um universo da consciência, rodeada de livros e artigos sobre psicologia e psiquiatria para tentar elaborar e entender os arquétipos pintados pelos alunos e os elementos da própria mente. Aplicava o conhecimento que obtinha em seu dia a dia e isso permitiu que passasse a conhecer melhor seus próprios pensamentos e anseios.

Apesar da orientação de seu tio em fazer testes vocacionais para tentar um vestibular, Samantha sabia exatamente que queria estudar algo ligado a ciência da mente, só não decidiu se iria fazer psicologia ou se iria partir direto para a psiquiatria. Quanto mais ela conversava e convivia com os médicos, educadores e artistas do museu, mais ela se identificava com essa área. Sentia-se feliz em poder ajudar e compartilhar sua pouca experiência com as pessoas de lá, na maioria das vezes, ficava só ouvindo e tomando algumas notas, outras, passava horas observando as pinturas e a arte criada pelos alunos. Era realmente magnífico. E o mais importante é que ela se sentia “em casa”. As pessoas de lá estavam tão preocupadas com a causa em si que não perdiam tempo reparando em suas roupas e penteados, ou na falta de maquiagem e atributos. Embora tenha cedido à compra de alguns vestidos novos, mais frescos, Samantha ainda permanecia com um ar de “menina colegial” com os cabelos sempre trançados e modelitos formais que escondiam muito de si.

Durante o jantar, Samantha disse aos tios que pretendia prestar vestibular ou para psicologia ou para psiquiatria. Júlio quase que não se conteve de tanta alegria e incentivou a menina de todas as formas possíveis, parabenizando-a por sua escolha. Revelou que sempre fora seu sonho seguir carreira nas ciências médicas que lidavam com o psique, mas por determinação do seu pai, formou-se em direito para cuidar dos negócios e agora via a possibilidade de ver seu sonho realizado através da sobrinha. Samantha sentiu-se lisonjeada com tanta perspectiva sobre ela e também agradecida pelo carinho do tio. Nunca sentira que alguém se orgulhara de suas escolhas dessa forma. Sabia da responsabilidade de não decepcionar os tios, mas sobretudo sentia-se muito feliz por ser notada.

Naquela mesma noite, Martha e Júlio anunciaram que iriam viajar durante o mês de janeiro, em férias. Todos os anos os dois viajavam sozinhos para estreitar seus laços, depois de quase vinte e cinco anos de casados e, como disse Martha, renovar suas forças para aguentarem-se por mais um ano. Os tios temeram que Samantha sentiria sua ausência e incumbiram a Leonardo de ajuda-la caso precisasse de alguma coisa nesse período e, para surpresa de ambos, e mesmo de Samantha, Leo concordou de imediato.

Essa seria a última noite de estudos que Leonardo e Samantha fariam juntos, antes dele ter de fazer as provas, mas ele estava muito confiante e realmente havia aprendido e entendido toda a matéria. Enquanto subiam para a biblioteca, Leonardo aproveitou para agradecer a prima por ter-lhe ajudado tanto.

— Não precisa me agradece Leonardo, foi muito bom e produtivo passar esses momentos com você.

— Me chame de Leo, Samantha.

— Tudo bem. Então você me chama de Sam.

Ambos subiram os últimos degraus aos risos e não estudaram essa noite, passaram o tempo conversando sobre a festa de Leonardo, a infância de Samantha na Alemanha e outras coisas até perceberem que passara várias horas absortos entre conversas e risos...


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