— Em que posso ser útil, Leonardo?

Ele observava o quarto de Samantha. Como ela conseguiu transformar um quarto sem graça, como era, em algo tão aconchegante? A janela aberta permitia que entrasse uma brisa úmida que refrescava todo o local e havia flores, que ele logo pensou ter sido colhidas no jardim, sobre um criado, deixando um perfume suave no ar. Quando foi a última vez que ele visitou o próprio jardim? Ele caminhou em direção à uma poltrona, que estava próxima à janela e sentou-se, não ousaria sentar na cama da menina. Observou Samantha por alguns segundos.

— Meus pais vão viajar no início de janeiro. Todo ano eles vão e eu irei dar uma festa. Só que se meu pai cortar minha mesada como eu vou fazer? Claro que eu preciso de dinheiro para poder organizar tudo...

— Não vejo como eu posso ajudar. — Samantha respondeu quase imediatamente após ele se calar por um instante.

— Queria que você conversasse com ele, meu pai. Diga-lhe que eu te pedi que me ajudasse nas lições para que eu recuperasse as notas, sem precisar repetir de ano, e que ele não deveria cortar minha mesada, como prova de confiança.

— Mas eu não posso fazer isso, é uma decisão dele e eu estaria me intrometendo. Além do mais, presumo que isso seria uma mentira, certo?

Leonardo vacilou. Ele não estava pensando realmente em estudar, só queria um jeito de seu pai continuar lhe dando o dinheiro. No entanto, percebeu de súbito que se confessasse isso à Samantha ela não iria, de forma alguma, tentar ajuda-lo.

— Claro que não, Samantha. Também estou aqui para perguntar se poderia me ajudar com algumas matérias. Assim, à noite depois do jantar poderemos estudar um pouco e tirar minhas dúvidas. — Ele tentou parecer o mais sincero possível.

Samantha o olhou desconfiada, mas sabia que, apesar da irresponsabilidade do primo, repetir o ano escolar era algo que ele realmente não queria. Concordou em ajuda-lo e disse que tentaria encontrar uma forma de conversar com seu tio sem parecer que estava apenas atendendo um pedido.

Sem ter mais o que dizer um ao outro, Leonardo se despediu da prima e foi para seu quarto, Samantha fechou a porta atrás dele e só então se deu conta de como estava desarrumada, com um pijama justo e curto e recebera o primo em seu quarto. Sentiu seu rosto corar ao pensar o quanto foi imprudente. Enquanto do outro lado, Leonardo pensava que a prima ficava muito mais bonita desarrumada do que quando tentava se arrumar.

No dia seguinte, enquanto seguia de carona com o Sr. Carrara para o museu, Samantha conversou com ele sobre Leonardo. Decidiu contar-lhe quase toda a verdade, omitindo o fato da tal festa e da ansiedade do primo para receber a mesada, mas tocou levemente nesse assunto, como se o esforço dele merecesse ser recompensado. No jantar, Júlio anunciou que manteria a mesada do filho pois aprovou sua atitude de pedir ajuda à prima.

Samantha logo pode ver que Leonardo não estava muito interessado em recuperar suas notas, mas insistiu em ajuda-lo e marcou de se encontrarem após o jantar, na biblioteca. Como ele tinha uma “dívida de gratidão” com a prima, não pode recusar.

Começou então uma sequência de encontros na biblioteca, em que Samantha, sempre criativa e muito inteligente, induzia Leonardo a raciocinar e a encontrar as respostas, tanto para as lições da escola, quanto para alguns questionamentos pessoais. Passados alguns dias, Leonardo, sem perceber, gostava da conversa e dos estudos com a prima.