Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 4
Capítulo 04




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Durante o jantar Samantha percebeu que o Sr. e a Sra. Carrara tentariam de tudo para haver uma aproximação entre Leonardo e ela, mas ambos mostraram pouco interessados nessa amizade. Martha percebeu que havia algo tenso entre eles, mas não deu muita importância, pensou ser apenas as diferenças culturais de cada um e as dificuldades adolescentes de romper as barreiras sociais que existia.

Tentando desviar o assunto do cunho de “inserir Samantha na sociedade carioca”, a garota perguntou à tia se não havia nada que ela pudesse fazer durante o dia, para ocupar seu tempo. A educação da Alemanha era muito diferente da brasileira e, se fosse comparar, Samantha já deveria ir para a faculdade, portanto, não precisava frequentar o colégio. Leonardo ainda estava no segundo ano do ensino médio, ele não era muito afoito nos estudos e se dedicava apenas o suficiente para que seu pai não lhe cortasse a mesada nem lhe aplicasse um castigo, fora isso, passava seu tempo se divertindo com jogos digitais com os amigos ou na praia.

Samantha comentou animada sobre o livro que estava lendo, detalhou parte da história, mostrou seu ponto de vista e admirou a literatura brasileira. Seu tio, Júlio, ficou encantado e orgulhoso da menina, fazendo comentários do tipo “está vendo Leo, isso é um bom aproveitamento do tempo”, ou “ah, queria que Leonardo aproveitasse mais o acervo que temos em casa, acho que ele nunca pegou em um livro sequer”. Mesmo ficando constrangida, Samantha ficou feliz que seus tios já percebiam certa diferença entre eles e não exigiria tanto que fizessem programas juntos.

Júlio empolgou-se em um discurso sobre os museus da cidade, explicando a Samantha que em muitos haviam oficinas de arte e literatura que ela poderia participar, prometendo leva-la, no dia seguinte, a pelo menos dois deles e apresenta-la aos dirigentes como sua sobrinha. Sabia que sua influência seria um facilitador para que aceitassem a menina nos cursos, mesmo fora do período de inscrições. Ele também falou sobre Samantha ir para a faculdade no próximo ano e isso a deixou bastante interessada, mesmo depois de ouvir que não era nada como o colégio interno alemão, onde passou maior parte de sua vida, ela se sentiu atraída pela oportunidade de aprender coisas e conhecer outras pessoas.

Leonardo ficou todo o jantar calado, admirando, mesmo que inconscientemente, a inteligência da prima. Por mais exigentes que eram seus pais, eles sempre respeitariam a individualidade dele e jamais iriam obrigar que acompanhasse Samantha em museus e bibliotecas, pois ele não gostava dessas coisas. Ele olhou para a prima agradecido, mas não encontrou nenhuma expressão de reconhecimento da parte dela, em seu rosto só refletia a indiferença.

— Você deveria levar Samantha ao shopping, mamãe. É muito calor no Rio para que ela ande o tempo todo de uniforme, além disso, as pessoas daqui não estão acostumadas com isso.

Samantha percebeu, na voz de Leonardo e em seu rosto, o tom de ironia e, parecendo mais infantil que de costume, respondeu:

— Ah! Não se preocupe, tia, eu me sinto muito bem com minhas roupas e meu jeito, não preciso de roupas novas.

— Tudo bem, Samantha. Se precisar de algo pode me dizer que providenciamos.

Júlio e Martha pensaram que Leonardo só queria agradar a prima, mas, por mais gentil que fosse, Martha não se via levando a sobrinha para “um banho de loja”. Ela não saberia aconselhar nem ajudar a escolher e combinar as peças e, só de imaginar passando um dia inteiro num shopping, suas pernas doíam. Contudo, seu olhar para o marido fez com que ele entendesse que Leonardo tinha razão. Júlio disse que iria providenciar para Samantha um cartão de crédito para que, quando sentisse vontade de usar roupas ao estilo do Brasil, ela pudesse comprar sem se preocupar. Samantha sentiu-se constrangida, mas não soube como recusar e, por um momento, se divertiu ao ver a expressão de desgosto no rosto de Leonardo.

Já em seu quarto, Samantha se perguntou porque o primo a odiava tanto, já que ele nem a conhecia. Ela estava, intimamente, magoada com suas palavras de que não podiam nem tentar ser amigos, mas estava determinada a não demonstrar qualquer reação para ele. Também ficou indignada com o comentário que ele fizera sobre suas roupas, o que tem de errado com elas, além de serem, realmente, quente demais?

Ela abriu a janela para que a brisa refrescasse ainda mais o quarto, a diferença climática entre Brasil e Alemanha era realmente desconfortante. Observou a piscina quieta, que refletia o brilho do luar e teve o ímpeto de descer até lá, mas o medo e a vergonha de ser descoberta a impediu e se conteve apenas a observar o silencioso e aconchegante jardim.

***

Leonardo estava jogando com seus amigos e relatou à Pedro, seu melhor amigo, todo o diálogo do jantar, ora com tom de deboche, ora com tom de alívio.

— Pelo menos ela não vai ficar uma sombra atrás de você, como você temia Leo, assim é só você ignorar e fazer de conta que a esquisitona se quer exista.

— É verdade, ela se saiu bem com esse papinho de menina CDF¹ que frequenta museus, passa o tempo com livros nas mãos e vai para faculdade, meus pais não irão mais insistir nessa história. Fiquei com medo atoa.

— Mudando de assunto, precisamos promover aquela festa na piscina, na sua casa. Ainda está de pé né?

— Bom, meus pais não falaram mais na viagem, desde que Samantha chegou, amanhã vou sonda-los e, se eles realmente forem, está de pé sim.

— Tá bom, já estou chamando as gatinhas para enfeitar seu jardim, essa festa vai bombar...

Leonardo e Pedro passaram mais algum tempo conversando sobre a festa que queriam fazer e, Leonardo, nem lembrou mais da prima por algum tempo. Sentia-se aliviado e ao mesmo tempo confuso com relação a ela, mas preferiu não comentar mais sobre esse assunto.


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Notas finais do capítulo

Revisado em 03/08/14



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