Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Olá.
sei que estou em dívida com as pessoas que leem minha história. Mesmo que não justifique gostaria, ao menos, dar uma explicação:
Em fevereiro meu pai adoeceu e teve algumas complicações, meu tempo, já dividido entre trabalho e faculdade, ficou um pouco escasso pois ajudava minha mãe a cuidar dele.
recentemente ele faleceu e aí veio um longo período de "ressaca literária". Ainda é bem estranho.
Enfim, me desculpem por não estar postando, não sei quanto tempo a criatividade para continuar a história vai aflorar, mas... aos poucos vou escrevendo...

Abraços!



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Roger era um homem de meia idade, com seus sessenta anos e mais de quarenta de carreira como detetive. Estudou na mesma faculdade de Júlio, mas não quis deixar o ofício em prol do direito. Seus cabelos já grisalhos contrastavam com o sorriso meio moleque em seu rosto enquanto tomava um café com o antigo amigo de faculdade.

— Vi que andou se envolvendo em casos complicados, Júlio, não sei como aguenta lidar com essa gente.

— Às vezes nem eu mesmo sei, Roger. Mais de uma vez já quis largar isso e ir fazer algo menos pesaroso, mas alguém tem que fazer o trabalho não divertido da história não é.

Os amigos conversaram por algum tempo sobre trivialidades, colocaram a conversa em dia, falaram dos velhos tempos se esquecendo por alguns minutos os deveres.

— Lembra do meu irmão caçula, Roger?

— Como não lembraria. Aquele galã ficava com todas as garotas.

— Ele se meteu em alguma confusão e preciso saber o que é. Eu conheço meu irmão o suficiente para saber quando ele precisa sair de cena e ele tem agido de forma estranha. — Júlio contou tudo o que sabia para ajudar Roger a traçar uma linha que levasse a alguma resposta. E tudo que sabia envolvia Samantha e sua mudança repentina de estilo. Envolvia Leonardo e seu comportamento estranhamente maduro. Aconteceu alguma coisa enquanto ele e Martha estavam no exterior e já era hora de deixar de ignorar isso.

— Tudo anotado. Vou começar algumas observações. Mas antes gostaria da sua permissão para Ricardo, meu filho, também participar das investigações. Ele pegou a licença de detive há alguns dias e está trabalhando comigo.

— Claro Roger! Eu sei de sua competência e descrição. Não será diferente com seu filho.

***

Passaram-se duas semanas desde que Júlio contratou Roger, mas não haviam se falado mais depois disso.

Já era quase outono, Samantha observou. As árvores despiam suas folhas e a brisa do mar se tornava fria, embora no Rio de Janeiro ainda fizesse um calor de verão. Os dias cinzas eram mais belos e mais silenciosos, mesmo que só no mundo de Samantha.

Nas semanas que se passaram, Samantha e Laura ficaram amigas. Conversavam sobre várias coisas durante o dia, voltavam juntas da faculdade e o fato de Samantha ser prima de Leonardo, amigo do irmão de Laura cujo ela sempre gostou, ajudou na aproximação da garota, porém, sempre que o assunto era ele, Samantha ficava furiosa e queria esquecer essa "amizade" com Laura.

A parte convincente era que Luan estava bem mais próximo de Samantha se tornando, a cada dia, uma vítima mais fácil. Já havia esquematizado tudo em sua mente, repassando seu plano nos mínimos detalhes, agora só faltava criar uma oportunidade perfeita que garantiria sua saída ilesa da situação.

Os dias avançavam sem muita emoção. Embora Ricardo e Roger estarem bem próximos a Rafael, só descobriram que ele era usuário de heroína e sempre subia o morro atrás de drogas. Sabiam também que ele tinha um grupo de amigos que lhe admiravam por suas "qualidades" rebeldes e seguiam-no como a um líder. Um desses adolescentes havia falecido há pouco mais de dois meses, pelo que indica a investigação, por suicídio. Nada parecia justificar o fato de Rafael provocar uma overdose e fingir um coma.

A mando do pai, Ricardo mantia os olhos em Samantha e Leonardo, mas, como seguir adolescentes é bem chato, ele não se preocupava muito com eles. O máximo que havia ali era um romance entre primos, que ambos tentavam esconder na mesma intensidade que mantia isso às claras.

No final de abril Samantha fora convidada por Laura a passar o fim de semana em Petrópolis, na casa dos Villefort. O clima frio da serra era convidativo. A casa de Laura ficava afastada da estrada coberta de árvores. O caminho de pedras e grama dava a impressão de estarem entrando em um mundo paralelo, como Oz e a paisagem que circundava o pequeno beco que levava à casa principal era mesclada entre as grandes árvores que faziam um túnel com suas copas e pequenas flores que enfeitavam a extensão do caminho. Por ambos os lados as montanhas brindavam seus morros sinuosos e a mata ia se fechando enquanto subiam.

Samantha admirava cada minuto daquela paisagem subliminar deixando-se levar pelos encantamentos daquela beleza única. Nunca vira nada tão belo e que a fizesse querer ficar ali para sempre. O silêncio era quebrado apenas pelo som que vinha do rádio ou pela objeção de Luan à Laura, por tê-lo feito subir a serra e perder seu final de semana.

— Não vou ficar entocado aqui, ainda hoje vou descer para o Rio e domingo eu busco vocês.

— Você que sabe maninho. Devia sair um pouco daquela cidade, mas se prefere ir...

Samantha ouvia com atenção, embora seus olhos estivessem fixos na paisagem. Pensava rápido em algo que fizesse Luan permanecer por lá, mas não conseguia algo realmente bom para convencê-lo.

Samantha continuava encarando a paisagem, seus pensamentos doíam e não sabia o que fazer. Mesmo considerando seu plano inicial e tendo trago tudo o que era necessário para executa-lo, qualquer passo em falso poderia denunciá-la, e não havia considerado o fato de ter que convencer o garoto a ficar. Luan e Laura discutiam, mas ela não prestava atenção.

— Se Léo tivesse vindo né, você ficaria, Lu. Da próxima vez, Sam, traga seu primo gostoso.

Tanto Samantha, quanto Luan fuzilaram Laura com os olhos. Essa insistência dela em Leonardo deixava Samantha furiosa. A menina falava nele o tempo todo, fantasiava e contava, repetidas vezes, a pouca experiência que tiveram juntos. Samantha quis mandar com que ela calasse a boca, quando começou mais um desses discursos, ao invés disso, sorriu e apenas concordou. Estavam chegando e o tempo já havia se transformado em uma fina garoa.

Quando Luan estacionou o carro para que as meninas descessem e pegasse suas coisas, Samantha ficou extasiada com aquela paisagem. A casa era linda, como as que haviam nas partes mais frias da Alemanha, com o adicional de um lindo vale e montanhas para todo lado. Era tão verde e tão silencioso que Sam experimentou uma paz que há muito não sentia. Por um segundo esqueceu tudo o que havia se tornado para viver aquela calmaria.

Chovia forte agora. Samantha pegou as mochilas e ajudara Laura a levar para dentro. Guardou suas coisas no quarto que iria compartilhar com a amiga, sabendo que passaria o final de semana inteiro ouvindo-a falar de Leonardo e de coisas fúteis. Com sorte, conseguiria apreciar aquela paisagem, ler um livro a noite e ficar no recôndito dos seus pensamentos. Laura arrumava as roupas no armário enquanto tagarelava. Samantha pegou um pequeno frasco na mochila e saiu do quarto.

— Vou beber alguma coisa, quer?

— Não! Daqui a pouco eu desço também, não consigo deixar minhas roupas nessa bagunça.

Samantha foi até a cozinha e, alguns minutos depois, saiu com duas canecas de café tampadas, para não molhar na chuva. Entrou no carro, ao lado de Luan e lhe entregou uma das xícaras.

— Tome! Café melhora o humor em dias úmidos. — Bebeu da sua própria xícara e sorriu.

— Obrigada! Já está diminuindo, logo poderei descer.

— Você é insistente, Luan. O que tem no Rio, de tão especial?

— Você não entenderia. — Luan terminou o seu café rapidamente e entregou a caneca para Samantha, agradecendo-a mais uma vez.

— Você se lembra da última festa que Leonardo fez? Lembra de tudo que aconteceu lá.

— Jamais irei esquecer! — Luan a olhou perturbado. — Perdi todos os meus amigos de uma vez naquela noite. Perdi a amizade de Rafael, cujo sempre venerei. Todos me ameaçaram quando quis parar aquilo, quando liguei para Leonardo voltar porque as coisas saíram do controle. Não tive tempo de explicar e recuei por medo.

Samantha ouvia apavorada, sentia um formigamento em suas mãos e na têmpora que lhe dava a sensação que ia desmaiar. Porque aquela confissão, agora? Luan disse mais algumas coisas, mas ela não ouvia mais. Sentia medo.

— Jamais irei esquecer, Samantha, do brilho frio dos seus olhos enquanto Rafael a violentava. O mesmo brilho quando entrou no carro, agora a pouco.


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