Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 22
Capítulo 22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/518573/chapter/22

Com o início das aulas Samantha permanecia ocupada, tentando se concentrar matérias maçantes do primeiro período. Seus planos de se tornar uma médica na área da psiquiatria foram frustrados, não se sentia no direito de se tornar médica, porém resolveu iniciar o curso de medicina para não decepcionar seu tio.

Na faculdade havia jovens entusiasmados e, demasiadamente, felizes. Parecia uma farsa tanta empolgação e incomodava Samantha em seu íntimo. Ela não estava com disposição para novos amigos, não queria quebrar a redoma de solidão que criou para si destruindo suas barreiras pessoais contra as pessoas. Estava sempre sozinha, ou na biblioteca ou no pátio, com um livro à mão, mesmo quando não se concentrava na leitura, evitando assim que os outros se aproximassem.

Em casa o clima estava tenso. Samantha e Leonardo não se falavam desde que ela o expulsou do seu quarto. Percebia-se que tanto Júlio quanto Martha estavam cansados e preocupados. Já havia quase um mês que Rafael permanecia em coma no hospital, sem reagir às interferências médicas, mesmo não havendo causa aparente para que ele permanecesse assim.

Samantha chegava da faculdade e se trancava em seu quarto, ora chorando, ora alimentando seu vício de "perseguir" virtualmente seus opressores. Vê-los levando a vida normalmente a amargurava, sentia-se injustiçada observando que, embora abalados por Rafael e Felipe, a rotina deles ainda estava intacta, enquanto sua própria vida havia mudado completamente.

Os desenhos dos rostos de cada um dos agressores naquela noite estava espalhados sobre a cama de Samantha, de tanto retoca-los, dia após dia, estavam quase perfeitos. As imagens ficaram impregnadas nos olhos, na memória e nos sonhos de Samantha, como uma tatuagem que o tempo não apaga. Havia um "x" em batom vermelho no desenho de Felipe e um traço, indicando "metade" em Rafael. Os outros permaneciam intactos sobre a cama e Sam dedilhava traços no rosto de Leonardo, quando alguém bateu à sua porta.

O baque fez com que a garota saísse do transe, juntasse rapidamente todos aqueles papéis e fechasse o notebook que estava aberto em seu perfil fake do facebook.

— Sim?

— Samantha, meu pai pediu para, se possível, descer para o jantar as sete!

— Ok! Obrigada.

A voz de Leonardo era fria e direta e isso magoou Samantha. Mesmo ela própria não entendendo a razão. Sentia falta dos dias em que estudavam juntos na biblioteca, gostava do sorriso dele e de ouvir sua voz, ao mesmo tempo que o queria distante e o culpava por seu estupro.

Samantha tomou banho e desceu na hora marcada. O tio fazia questão de estar em casa na hora do jantar, mas havia algum tempo que esses encontros não ocorriam. Sam não pode deixar de reparar que Leonardo iria sair após o jantar, vestia uma calça jeans que lhe caía muito bem em contraste com uma blusa clara, de mangas compridas e gola "v". Seus cabelos estavam penteados e de seu corpo exalava um perfume amadeirado que ela adorava. Sentiu seu rosto corar quando percebeu que ele a olhava também e desviou os olhos rapidamente, imaginando onde ele iria naquela noite.

— Como está a faculdade, Sam? — Júlio interrompeu os pensamentos de Samantha, pegando-a de surpresa.

—Ah... está tudo bem, tio Júlio.

— No começo é sempre chato mesmo, mas não percebo que estás empolgada. Arrependeu- se da escolha?

— Não! Não é isso. — Samantha teria que mentir de alguma forma para desviar a atenção do tio. — eu pensei que já estudaria coisas específicas, como um cérebro, mas até agora só vimos revisões e biologia de colégio.

— Imaginei que fosse isso. — Júlio sorria ao falar, parecendo acreditar em Samantha. — Você precisa ter calma, logo as coisas ficarão interessantes.

— Claro, tio. — Samantha percebeu que Leonardo a observava. Ele sabia que não era apenas as matérias da faculdade que mudara Samantha. Ela já não era a mesma.

— E você, Leonardo? Como tem ido as aulas. Está estudando?

— Sim pai. Aliás, me matriculei ontem no inglês, as mensalidades serão descontadas do meu cartão de crédito.

— Ah sim, aumentarei seu depósito para quitar as aulas. Fico contente que resolveu fazer algo de útil.

— Não precisa aumentar nada. Se precisar eu lhe falo. Como está o tio Rafael? — Samantha se mexeu na cadeira, não desejava saber sobre Rafael, mas sabia que agora era inevitável.

— Está na mesma. Não houve melhoras nem reações aos exames e medicamentos. É como se ele não quisesse acordar. Talvez por vergonha, talvez por medo. A questão é que ele permanece em coma. E as investigações sobre aquele seu amigo?

— Felipe não era meu amigo. Um mero colega talvez. Ao que tudo indica ele suicidou-se. Porém não há um só indício de que tinha tal intenção. Estão tentando identificar a menina que estava com ele, antes de tudo ocorrer, mas não há muitas esperanças. Logo vão encerrar o caso.

As mãos de Samantha suavam e ela estava pálida. O pânico de que possa ser reconhecida dominava sua mente e refletia em seus olhos.

— Está tudo bem querida? — Martha se dirigia a Samantha, percebendo que ela empalidecera.

— Está sim tia, somente um mal estar repentino.

— Certo. Se precisar de algo nos avise. Você irá sair meu filho?

— Só encontrar uma garota, mãe. Não vou demorar. — Leonardo dirigia-se à mãe sorrindo enquanto Samantha não conseguia evitar a surpresa em seu rosto.

O jantar seguiu-se em silêncio até Júlio dispensar a todos. Leonardo saiu pouco depois e Samantha foi para seu quarto. Não sabia se era por causa de todas as notícias que recebera ou pelo fato de Leonardo ir "encontrar uma garota" mas ela se sentia realmente enjoada. Preparava-se para deitar quando sua tia bateu na porta.

—Sam? Incomodo?

— Não tia. Entre!

— Você está muito pálida querida, ainda sente-se mal? — Martha sentou-se na cama de Samantha, observando o quarto a sua volta.

— Um pouco.

— Eu não tenho muito jeito em ser mãe de meninas, Sam, mas sei das necessidades de uma mulher. Amanhã irei marcar com minha médica para você fazer uma consulta, ok?

— Não! — Samantha soou desesperada, como realmente se sentia. Uma consulta poderia expor sua situação e ela não queria isso. — Quero dizer, não é necessário, tia. Eu não preciso de um ginecologista, ainda sou virgem.

Samantha sabia que não havia relação nessa afirmação, mas precisava dar um jeito de justificar porque não queria ir ao médico.

— Não tem nada a ver, Samantha. Você fará apenas alguns exames preventivos que é necessário a toda mulher. Não se preocupe. Quando fui a primeira vez também morri de vergonha, mas verá que não tem problema algum. A doutora Fernanda é uma excelente profissional e fará com que se sinta à vontade.

Samantha percebeu que não daria para argumentar com a tia, era uma decisão tomada. Quando a Martha saiu do quarto, Sam abriu o e-mail procurando uma resposta de Amanda, porém a mesma não havia respondido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

desculpem a demora :(
As vezes não consigo escrever.

Abraços!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Imagens do Inconsciente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.