Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Agradeço de coração a Jenniiee, que sempre tem comentado e opinando sobre a história.
Grande abraço mocinha...



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Leonardo estava em seu quarto, lendo um livro qualquer, quando Samantha chegou. Eram quase onze horas da noite. Novamente ela chegou em casa encharcada da chuva, mas, dessa vez, ao invés de ir para a área da piscina, foi direto para o quarto, ignorando as pegadas que a denunciava por toda casa.

Havia algo errado acontecendo com Samantha, por algumas vezes Leonardo pensou em comunicar a seus pais, já que eles pareciam não notar, porém sempre ficava sem saber o que dizer e adiava a informação. Tinha certeza que aquela garota assustada, vestida como uma colegial da Alemanha e tranças no cabelo dera lugar à uma mulher ousada, com determinação e que, com certeza, estava aprontando alguma coisa. Apesar da beleza de Samantha mexer com sua cabeça, ele preferia a Samantha ingênua e inocente de antes.

Leonardo ficou mais alguns minutos tentando se concentrar em seu livro até que a ansiedade o fez procurar por Samantha em seu quarto. Não tinha certeza se desejava vê-la, já que, depois do incidente na piscina não falou com ela, mas precisava saber o que acontecia. De uma hora para outra, todas as coisas pareciam fora de lugar. Foi até a cozinha, preparou um pequeno lanche com salgadinhos e leite quente e bateu na porta do quarto da garota.

— Sam? Posso entrar? — Não obtivera uma resposta imediata, por isso insistiu mais um pouco.

— Entre! — Leonardo percebeu a voz de Samantha embargada, vazia e desconexa. Como se estivesse sofrendo. — Não acenda a luz, por favor. O abajur está ligado.

— Ok! — Leonardo colocou a bandeja com o lanche na mesa de cabeceira e se aproximou de Samantha, que sentou-se na cama logo que Leonardo entrou. — Eu trouxe um lanche. Ficou muito tempo fora de casa, lembrou-se de comer algo?

— Está me vigiando agora, Leonardo? Por acaso devo-lhe prestar contas do que faço da minha vida e para onde vou?

— Calma Sam! Só fiz um comentário. Não quero impor-lhe nada, apenas conversar um pouco. Tenho notado que você está distante e — Leonardo hesitou por alguns segundos — um pouco agressiva. Quase não lhe reconheço.

— Não há nada comigo. E você também está bastante diferente do Leonardo que conheci quando cheguei aqui, parece-me que quer bancar o bom menino ultimamente.

— Se estou diferente em algo, devo a você. Mas se preferir, posso voltar a ser o mesmo de antes, sem me preocupar e preferir que você se mantenha distante, desde que não traga mais preocupação aos meus pais neste momento difícil. Só estou tentando ajudar, você parece desconectada da realidade, não lê mais, não frequenta mais os lugares que gostava de ir. Não dá satisfação, nem comparece para o jantar. Eu sei bem que você preferia estar na sua casa, com seus pais, não pediu para vir para cá e essa ingratidão não faz muito sua cara. Eu só quero tentar ajudar.

— Quem se importa, Leonardo? Hein?!? Você não se importa, ninguém se importa. Eu só quero viver a minha vida e não estou disposta a compartilhar isso com você.

— Sam, esta não é você. Seja o que for que esteja acontecendo, você precisa manter-se firme, não deixar que nada abale sua personalidade e seus princípios. Você está se arriscando, chegando todos os dias de madrugada, molhada, com desconhecidos. Inerte à preocupação e percepção das pessoas. Me deixe te ajudar, por favor. Me fale o que está acontecendo.

— Agora já chega! Se quer me ajudar em algo, saia do meu caminho. Você se lembra quando pediu para que eu saísse do seu? Agora é minha vez, Leonardo, não quero você perto de mim. Não quero sua pena nem sua compaixão. Volte para seus amigos e suas festas que é o lugar que lhe pertence.

— Tudo bem! Eu desisto. — Leonardo saiu e bateu a porta dando de cara com sua mãe no corredor.

— O que está havendo, Leonardo, porque estava no quarto de Samantha e porque estavam gritando? — Marta indagou de forma indulgente e firme

— Pergunte a ela... — Leonardo entrou no seus quarto, batendo novamente a porta e se jogando em sua cama.

— Não me dê as costas, Leonardo Carrara, eu ainda sou sua mãe. Vai me explicar exatamente o que está acontecendo, agora. Não aguento mais problemas. Seu pai está cansando, preocupado e tentando descansar. Você vai me dizer porque está discutindo com sua prima, o que foi que fez a ela?

— Pare de lembrar o tempo todo que Samantha é minha prima mãe. Ela parece mais uma estranha dentro de casa. Será que só eu que percebo que esta menina não está bem? Está acontecendo alguma coisa e ela não fala. Só fui tentar conversar um pouco com ela e ela me expulsou do quarto, só isso...

— Ah! Meu filho, não é bem assim que as coisas funcionam. — Marta sentou-se ao lado de Leonardo na cama e afagou-lhe os cabelos. — Primeiro Samantha é sua prima sim, quase sua irmã, já que cuidamos dela como nossa filha. Segundo, quando ela chegou, tendo de lidar com várias mudanças e adaptações, você foi o primeiro a ignorá-la, não tentou ser amigo nem ajudar, como espera que ela lhe trate de bom grado agora? Ela se virou, sozinha, em um país diferente, com culturas diferentes, longe dos pais e dos amigos dela, e sem seu apoio. Respeitou sua decisão quando quis se manter afastado. Agora, não seja um covarde e a julgue por não querer sua amizade.

— Mãe, você não entende.

— Já chega desse assunto. Não quero você perturbando Samantha. Provavelmente ela arrumou um namoradinho, é normal nessa idade de vocês ficarem apaixonados, fechados, agressivos. Deixe-a. — Martha se levantou, dando o assunto por encerrado. — Seu pai vai voltar para o hospital, portanto, deixe-o descansar.

Leonardo sentia seu peito ardendo e uma sensação de euforia brandindo com um medo incomum. “Será mesmo que toda essa mudança de Samantha é por causa de um namorado?” Pensar nisso lhe incomodava imensamente, como se esse “namorado” que sua mãe acabara de criar invadisse sua casa e roubasse algo que lhe pertencia.

O garoto atravessou o corredor e entrou no quarto de Samantha sem bater, juntando-se a ela, tampou-lhe a boca com a mão, impedindo-a de gritar.

— Sam, não grite, por favor! Não grite. — Leonardo soltou a boca de Samantha lentamente, observando o mínimo sinal de grito para lhe impedir novamente. Nesse momento percebeu que a menina tinha lágrimas nos olhos. — Me desculpe entrar aqui assim. O que foi? Porque está chorando? Sam?

— Já passou por sua mente que eu não quero conversar com você, Leonardo? Talvez, só talvez, eu queira privacidade em meu quarto e, principalmente, em minha vida? Ou você se acha tão o centro das atenções assim, que todo mundo tem que ficar lhe bajulando, o tempo todo? — Samantha falava baixo, mas com uma imparcialidade e frieza na voz que deixava Leonardo sem reações. — Eu não quero sua ajuda. Não quero ninguém se metendo em minha vida. Entenda isso de uma vez por todas e não me pergunte mais sobre isso.

— Tudo bem, Samantha. Minha mãe deve estar certa. Arrumou outro namorado e por isso age desse jeito.

— É pode ser... O que está havendo? Ouvi sua mãe falando sobre tio Júlio ir para o hospital. Ele está doente?

— É meu tio, Rafael, está em coma após uma overdose de heroína. Mas isso não lhe interessa, não é? Até mais. Agirei como queres.

Samantha fechou os olhos e outra lágrima escorreu de seus olhos. Estava se transformando em um monstro que colocara em risco a vida de duas pessoas nas últimas vinte e quatro horas. Pensou que pudesse estar exagerando, já que seus planos não era mais rabiscos escusos no papel. Ela causara a overdose de Rafael, sabia disso, e agora a única família que lhe acolheu sofria. Mas eles tinham um ao outro, sabia que mesmo isso passaria. Talvez seu tio ficasse abalado por causa do irmão caçula, mas é só. De repente, o gosto da vingança pareceu-lhe mais doce que jamais sentira. Com seus sentimentos alternando entre a culpa e a satisfação, Samantha escreveu um e-mail a Amanda, confessando-lhe toda a história que lhe acontecera nos últimos dois meses. Podia confiar na amiga, não queria perder a única pessoa que sabia se importar com ela. Sabia que precisava dar um tempo para que ela assimilasse toda história, construísse sua opinião, para depois ouvir sermões de apoio e repreensão, mas a euforia do momento a garantia que seria uma alternativa, dividir todo esse fardo com alguém.


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