Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 15
Capítulo 15




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O sol já estava alto no céu quando Leonardo voltou para casa, mas ainda havia algumas pessoas que insistiam em permanecer em seu jardim. Pode notar que, durante a noite algo saíra do controle, talvez pelo uso abusivo de drogas e bebidas. Algumas pessoas estavam deitadas pela grama ou próximo à piscina, provavelmente inconscientes, e outro grupinho isolado, no qual se encontrava Pedro, estava na sala de jogos conversando sobre qualquer coisa enquanto fumavam.

O cheiro que exalava indicava que não ocorrera uma festa qualquer ali, mas uma orgia banhada à álcool, cigarros e maconha. Leonardo olhou pela janela, sem ser notado, as meninas estavam nuas e insinuantes, ao passo que os rapazes mal aguentavam se manter sentados, mesmo estando eufóricos. Havia algum pó sobre a bancada do bar, muitas garrafas de destilados e latas de cerveja espalhadas, sujeiras espalhadas por todos os lados e pessoas vazias num final de festa.

— Léo, chega mais brother por onde esteve? — Pedro havia avistado Leonardo que tentara esconder e quis correr dali quando ouviu o amigo o chamar.

— Eh... estou cansando Pedro, acho que irei para o meu quarto. E vocês precisam ir embora, vou precisar arrumar essa bagunça toda.

— O que está havendo Leo, por onde andou a noite toda?

— No meu quarto. — Leonardo olhou a expressão de descrença do amigo, imaginando que viria mais perguntas. — Com uma garota... — mentiu.

— Você perdeu toda festa, isso aqui estava uma loucura!

— Preciso subir, estou cansado. Mande essas garotas se vestirem, isso é ridículo — A voz de Leonardo saiu um pouco mais grave do que pretendera. Ele teve vontade de agarrar Pedro e o colocar para fora de sua casa, junto com todos aqueles que ainda estavam lá, junto com toda aquelas drogas espalhadas na bancada.

Pedro saiu tropeçando nas garrafas que estavam no chão, rindo. Não estava em condições de discutir com o amigo, preferiu deixar pra lá. Mas não conseguia entender o que acontecera com Leonardo, definitivamente ele estava diferente.

Ao passar pelo quarto de Samantha, Leonardo teve a intensão de bater, mas o que iria dizer? Provavelmente ela devia ter visto toda aquela cena lá embaixo quando chegou, deve estar imaginando que ele fizera parte de tudo aquilo, o que, em certo ponto era verdade. O fato de ter passado a noite fora, não tirava sua culpa por aquela festa ter ocorrido. Mas, desde quando se importa com o que Samantha pensa? Ela sequer atendeu o telefone nas vezes que tentou ligar para ela, enquanto caminhava na praia, à noite. Talvez estivesse ocupada de mais com sua amiga, ou, simplesmente, não o quisera atender. A opinião dela agora seria irrelevante.

Irritado por ter pensando em Samantha, principalmente no fato de que ela não quis falar com ele, Leonardo foi para seu quarto. Não dormira a noite toda e estava cansado, então tomou um banho, fechou as cortinas e deitou-se. Seus cochilos, intercalados com um despertar repentino, estavam povoados de sonhos e imagens que ele não conseguia distinguir e, depois de lutar por mais de três horas, levantou-se e resolveu verificar se havia alguém em casa.

Enquanto descia as escadas Leonardo constatou que, se sua mãe entrasse em casa naquele momento, ela entraria em pânico. Não havia nada no lugar, nem mesmo os cristais e pratarias que ela tanto estimava. Teria que justificar as taças quebradas e a falta de vinhos na adega particular do pai. Pensar nisso lhe deu calafrios.

O jardim não estava melhor que o interior de sua casa. Tudo se encontrava fora do lugar, havia plantas quebradas, copos, garrafas e latas espalhados por todo lado. Leonardo não sabia como, nem por onde, começar a arrumar aquela bagunça. Ele estaria em uma grande encrenca quando seus pais chegassem, isso tinha certeza.

A primeira coisa que Leonardo pensou foi em ligar para seu tio Rafael, afinal seus pais o haviam deixado como responsável por Leonardo, durante a festa. Talvez ele pudesse ajudar a resolver toda essa bagunça.

— Tio, eu preciso de ajuda! — Assim que Rafael atendeu Leonardo já foi dizendo, um pouco mais desesperado que pretendia.

— Leonardo, hoje eu não estou bem. Podemos nos falar amanhã?

— Claro que não! Você não imagina como está minha casa. Meus pais vão nos matar. — Rafael suspirou. Realmente não estava disposto a lidar com um adolescente mimado, incapaz de cuidar da própria vida e, muito menos, levar culpa por alguma coisa que tenha ocorrido naquela festa.

— Escute aqui, Leonardo, já passou da hora de você ser homem. Quando vai deixar de ser uma criança mimada, um infantil irresponsável que se acha dono da verdade? Vê se cresça e arque com as consequências do que quer que tenha acontecido por aí. Não fui eu que dei essa maldita festa, na verdade fui embora bem antes do que você pensa e, se tivesse aí para controlar seus amigos não precisaria da minha ajuda. Me deixe em paz!

Rafael desligou o telefone e o jogou longe enquanto cobria seu rosto com as mãos. Desde quando saiu da festa não conseguia pensar no olhar frio, vazio e calculista que Samantha havia lhe lançado.

Já estava anoitecendo. Leonardo começara a juntar o que quer que fosse pelo jardim. Teria muito trabalho até terminar, mas decidiu ouvir o tio, apesar dos gritos, e se responsabilizar por algo, pela primeira vez na vida. Iria limpar toda a casa e, no dia seguinte, chamaria alguém para efetuar alguns reparos. É claro que precisaria restaurar todo o jardim, esvaziar a piscina e limpá-la, e repor cada uma das coisas quebradas.

Leonardo subiu direto para a biblioteca, mas ela estava vazia. Ele sentia falta de Samantha, embora não admitisse isso para si mesmo. Mais uma vez, pensou em bater à porta de seu quarto, mas teve receio. Talvez ela não quisesse falar com ele.

Depois de tomar um banho, Leonardo preparou um lanche e resolveu entrar um pouco na internet. Surpreendeu-se ao ver que seu nome, sua casa, suas coisas apareciam por todos os lados no Facebook. Fotos e mais fotos indicava do que ele não havia participado e isso só lhe confirmava que a melhor coisa fora sair dali. Observava seus amigos, e os amigos dos seus amigos, à distância e sentiu que não pertencia a eles.

Uma das fotos postadas por Karem chamou sua atenção. A fotografia mostrava vários garotos em volta de uma menina cuja as pernas, muito brancas, era só o que aparecia. Havia também um rastro de sangue que escorria nas pernas da garota, destacado pelo contraste com a pele clara. As roupas de todos os garotos estavam em seus tornozelos, indicando que estavam nus, mas a foto mostrava apenas pernas.

— Karem... — Leonardo a chamou pelo bate papo.

— Oi Leozinho! Você fugiu de mim ontem a noite não é?

— Quem é a menina da foto?

— Qual foto?

Leonardo mandou o link da própria timeline para Karem indicando a foto que o surpreendera.

— Eu não sei não, Leo, é uma baranga qualquer.

— Esses garotos a machucaram. — Ao constatar isso, Leonardo pode sentir uma ânsia de vômito.

— Claro que não! Era um jogo, ela aceitou jogar. Mas me diga, onde o senhor se meteu ontem?

— Isso não é da sua conta. Preciso ir. Já são três da manhã.

Leonardo fechou o computador e deitou-se. Mesmo cansado, não conseguira dormir. A imagem daquela fotografia preenchera todos os seus pensamentos. Precisava saber o que acontecera em sua casa, até que ponto todas aquelas pessoas chegaram.


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