Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 14
Capítulo 14




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Enquanto Rafael deslizava as mãos por seu corpo, falando obscenidades, Samantha pensava nos pais, na vida que tivera na Alemanha, nas coisas que aconteceram que fizeram com que ficassem pobres, nos extremos em que sua mãe chegou para ser uma “dama” da sociedade alemã. Pensou nos erros que seu pai cometera, várias vezes, e nos valores que dispunha para silenciar os fatos. Seus olhos estavam fechados, ardiam, mas, agora, ela não chorava mais. Ouvia as risadas e as palavras mascaradas de desejo que os garotos diziam, ouvia os xingamentos das meninas por ela ter “roubado a cena”. Rafael insistia em tocá-la como em um ritual de algum animal antes de comer sua presa.

Inconscientemente Samantha abriu os olhos. Observou um a um dos rostos que estavam ali. Não conhecia ninguém, mas, a cada um que olhava, poderia descrever com perfeição, memorizava os traços, as cores dos cabelos, as expressões. Todos eles contemplavam sua humilhação e não quiseram por um basta em tudo aquilo. A cada rosto, sentia-se mais suja, menos humana. Será que merecia tudo aquilo? Era por seus pais? Os pensamentos rugiam na mente e a consumia ferozmente.

Rafael tirou o sutiã de Samantha e ficou um longo tempo admirando seus seios. Nunca vira nada tão perfeito, pensou, como aquela menina era linda! Por um momento sentiu remorso do que estava prestes a fazer, mas, o que os amigos iam pensar? Todos estavam lá, com seus órgãos na mão esperando que ele permita que tirassem uma casquinha nela. Tinha certeza, todos a queriam. Poderia fazer ela gostar disso, mas as lágrimas em seus olhos demonstravam que ela não era esse tipo de garota, pelo menos não com todos olhando e à força. Levantou seus próprios olhos e encontrou Samantha o olhando, firme, inexpressiva. Quase como se ela não estivesse ali. No lugar das lágrimas havia um brilho de gelo em seu rosto. Ele já não estava achando aquilo tão divertido.

— Qual é Rafa! Não é para namorar a garota. Nós também queremos brincar.

— O que deu em você hein! Libera essa gostosa pra gente.

As vozes estavam cada vez mais perto. Não havia nada que ele pudesse fazer para evitar. Afastou qualquer pensamento de sua mente, despiu Samantha completamente e a penetrou. Ouviu o gemido de dor abafado que ela soltou entre os dentes, seu próprio corpo deixara de obedecer seus pensamentos se movimentando freneticamente dentro dela. Não podia negar que estava gostando de possuí-la.

Quando sentiu seu gozo, Rafael olhou Samantha nos olhos, ela permanecia com a mesma expressão de antes. Vestiu suas roupas, olhou para os colegas e saiu dali sem dizer quaisquer palavras.

Cada garoto, com os paus duros, brigava na frente de Samantha querendo tocá-la. Alguns arriscaram a penetra-la de várias formas. As cordas em suas mãos e em sua boca apertava. Sentia a dor e a humilhação em cada voz que ouvia, a cada um que se aproximava. Queria chorar, mas não havia mais lágrimas. Por várias vezes sentiu que iria desmaiar, seu corpo estava ferido, a dor, principalmente em sua vagina era intensa, mas não se renderia. Olhava um a um dos que a forçava. Lembrava das suas vozes, dos seus cheiros. Eram cerca de nove garotos e oito garotas que estavam presentes. Todos a humilharam, todos a viram implorar para que a deixasse em paz e todos a tocaram, brincaram e feriram seu corpo e sua alma.

Samantha não viu quando Karem se aproximou e afastou todos os garotos. Tocou o corpo de Samantha, deu-lhe um beijo por cima da mordaça e sorriu.

—Já chega! Espero que tenha se divertido, mas isso está ficando perigoso. — Alguns garotos protestaram, mas após Karem explicar que Leonardo estava voltando e não ia gostar de ver aquilo, eles se vestiram e dispersaram, comentando sobre Samantha e sobre tudo o que acabara de ocorrer. Nenhum deles acreditaram quando ela disse que era a prima de Leonardo, e não sentiam nenhum remorso.

— Vista-se, menina! — Karem ordenou. — E, nenhuma palavra com ninguém sobre isso. Acho que não é preciso dizer o que somos capazes.

Samantha apenas a olhou. Seus olhos estavam inexpressivos, ela sentia vertigens, mas não ia se entregar. Quando Karem soltou as cordas de suas mãos e de sua boca, Samantha sentiu a dor do alívio. Seus pulsos estavam com hematomas por ela ter friccionado as cordas para tentar se soltar. Vestiu-se e ao tentar andar seus joelhos vacilaram e ela caiu. A dor por todo seu corpo era extrema e ela sentiu a humilhação mais uma vez correndo em suas veias.

Karem mandou que Samantha se apressasse e saísse dali. Em seu rosto lampejava um rastro de diversão ao vê-la de joelhos no chão. Sua voz soava deboche:

—Vamos sua vadia, pare com esse drama. Aposto que tenha gostado de tudo que aconteceu. Teve todos os garotos só pra você. Você teve o Rafael só pra você! Nunca em sua existência chamaria a atenção dele. Devia me agradecer, isso sim.

Samantha não acreditava no que ouvia, ou quase nem entendia as coisas que Karem falava. Ela podia ouvir a música e o cheiro doce de álcool no ar, sentia o cheiro da grama do jardim sob seu rosto, no chão. Concentrava suas forças para se levantar em meio suas dores e Karem continuava falando:

–- Sabe, eu também já estive aí, no chão, depois de todos eles me foderem. Eu tinha quinze anos. — Samantha a olhou nos olhos, não sentiu pena. O que quer que tenha acontecido com Karem não dava o direito dela ter feito mal a ela. Karem também a olhava nos olhos. Seus olhos continham um misto de desespero e diversão, mas naquele momento Samantha só pôde culpa-la por tudo o que acabara de acontecer.

Samantha não soube como conseguiu chegar até seu quarto. A cada degrau que subiu, lembrava, era como se estivesse sendo atropelada. Estava sob o chuveiro, deixando a água quente cair sobre seu corpo. Ardia. Já perdera a noção de quanto tempo estava ali, tentando fazer com que aquela noite desaparecesse pelo ralo junto com a água. Mas não funcionava. Cada segundo ficava mais evidente que fora estuprada dentro de sua casa, por pessoas que eram amigas de seu primo e que, provavelmente, iria encontrar um ou outro por aí. Voltaria para Alemanha. Este foi o primeiro pensamento que lhe ocorreu agora.

Samantha ficou sob o chuveiro por mais algum tempo. Sentindo-se humilhada e buscando em sua mente algo que justificasse o que lhe aconteceu. Sentia seu corpo desfalecendo sob a água quente, várias vezes pensou que iria desmaiar, mas queria permanecer ali até se sentir limpa e não ter mais vergonha. Não podia acreditar que aquelas pessoas tratavam isso como brincadeira. Com vários pensamentos girando em sua mente, Samantha decidiu sair do banheiro, não quis olhar-se no espelho, vestiu-se logo com um pijama de inverno. Sentia dores ao tocar quaisquer partes de seu corpo. Seus pulsos estavam inchados, os hematomas eram evidentes agora que havia limpado o sangue, e sua pele clara adquirira uma tonalidade azulada. Em seu rosto também, havia coloração da pele e leve inchaço onde estivera a mordaça, mas Samantha sentia as maiores dores em sua virilha. Apenas por respirar já lhe trazia incomodo intenso, além das lembranças de cada instante que lhe causou aquelas dores.

Samantha ainda ouvia resquícios do barulho da festa lá embaixo. Sentiu ânsia de vômito quando lembrou de cada um dos rostos presentes enquanto ela era violentada. Deitada em sua cama, pôs se a chorar compulsivamente e sozinha, sentindo a vergonha exalando por seus poros, sentia o medo tomando conta de seus pensamentos e a humilhação presente em seu corpo. Vez por outra queimava um ódio que avassalava quaisquer de seus pensamentos, ódio por cada uma das pessoas que estavam naquela maldita festa, ódio por seus pais que foram irresponsáveis ao ponto de ter que manda-la ao Brasil, ódio por seus tios que viajaram e a deixara sozinha naquele lugar horrível, por sua amiga, Luana, que não pôde se encontrar com ela e por Leonardo... onde é que ele estava que não a salvou daqueles monstros? Samantha estava perdida e não tinha amigos a quem recorrer. Fechou os olhos encolhendo-se mais na cama, as lágrimas salgavam seus lábios ardidos e ficou ali até amanhecer, vendo os flashes de cada rosto com seus olhos fechados, sem dormir.


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