Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 12
Capítulo 12




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Depois das comemorações do natal a rotina de Samantha aliviou drasticamente. O museu não estava funcionando em horário integral e os funcionários revezavam apenas para receber os visitantes externos, assim, Samantha tinha muito mais tempo livre. Dedicava muito desse tempo à leitura e, apesar de ter substituído os romances por uma literatura mais específica, ainda os amava e passava horas no frescor da biblioteca.

Um dia ou outro ia passear com Luana, ora ao cinema, ora aos teatros e, bem à tardinha, quando não havia mais sol, na orla da praia. Apesar de adorar o mar, Samantha possui a pele clara e, mesmo com protetor, ficava vermelha só de pensar em sol. Gostava de caminhar na areia, achava tudo lindo, um ambiente gostoso e diferente, mas não se sentia parte dele. Muitas vezes Luana tentava encorajá-la a entrar na água, comprar um biquíni e ir se divertir na praia, mas Sam nunca aceitava e mudava de assunto, corando.

Os dias passavam calmos, todas as noites Samantha conversava com Amanda pela internet e contava-lhe tudo. Amanda estava em Paris com seus pais e só voltaria depois do ano novo quando seguiria para Inglaterra para estudar turismo em Cambridge. Ela estava empolgada com a nova vida, fazia planos, pensava que, agora que Samantha viva com os tios, talvez eles permitissem que elas se visitassem uma vez ou outra e isso as deixavam animadas.

Samantha não via a hora de começar o ano para ir para a faculdade. Seu tio já havia alertado que mal teria tempo para mais nada, inclusive suas idas ao museu deveria diminuir porque medicina era um curso muito difícil e exigia muita responsabilidade, mas Sam achava que era um “mal” necessário, que depois teria muito mais conhecimento e vivência para ajudar ainda mais as pessoas e que valia a pena. Mesmo assim, já tinha organizado sua agenda para, nem que seja aos sábados, poder ir ao museu, não queria se afastar completamente de lá.

Como Leonardo não tinha mais nenhum compromisso com a escola, passava o dia quase todo em seu quarto, com seus jogos. Samantha até sentiu falta dele, mas não o procurou, pensou ser muito atrevimento. Ela sabia que ele estava com seus amigos, se divertindo e seria pedir demais para que ele a fizesse companhia uma noite ou outra, depois do jantar.

Poucos dias depois do ano novo, o senhor e a senhora Carrara anunciaram que iriam sair de férias. Passariam trinta dias completos fora do país e, Leonardo a Samantha ficariam em casa, aos cuidados de Lourdes. Fizeram muitas recomendações e, como sabia que sempre ocorria, permitiu que Leo fizesse uma única reunião com seus amigos em casa.

— Nada de bebidas alcoólicas, Leonardo, e se me desobedecer dessa vez vai ver só uma coisa. — Júlio começou a dizer.

— Tudo bem, pai, o senhor que manda.

— Não pense que só porque estou do outro lado do continente que não fico sabendo das coisas, não banque o engraçadinho comigo.

— Tá bom, pai, eu já sei... eu já sei...

— Combine com Lourdes o dia da festa, darei folga para ela e pedirei que ligue para seu tio, Rafael, para que ele possa tomar conta de vocês. A coitada da Lourdes não é obrigada a cuidar de um bando de adolescentes.

— Tio Rafael? — Leonardo se empolgou. Sabia que, se o tio aparecesse, a presença dele nem seria notada, a não ser, é claro, pelas meninas que iriam ficar em cima dele.

— Sim. Também convide a Samantha. Ela não irá ficar lá em cima enquanto você dê uma festa. Além do mais, é uma ótima oportunidade dela conhecer seus amigos também.

Samantha e Leonardo coraram e se olharam. Apesar de terem quebrado as barreiras entre eles, Leo ainda a achava esquisita e não queria a apresentar a seus amigos e ela não se sentia confortável em ir em uma festa com pessoas desconhecidas. Mas eles não disseram nada, podiam resolver isso sozinhos.

— Sim pai! Ela pode vir se quiser...

Samantha não pretendia participar da festa, mas preferiu não dizer nada na frente de seus tios para não preocupa-los.

***

— Samantha, eu irei marcar com meus amigos a data certa, mas você pode participar se quiser...

— Não banque o bonzinho Léo, nós dois sabemos que não me quer nesta festa. Mas não se preocupe, não irei atrapalhar. Me avise quando for para eu ficar fora do caminho.

— Tudo bem, provavelmente será no feriado, quarta feira. Já tem alguns dias que meus pais viajaram, acho que não corre o risco deles voltarem de surpresa.

Leonardo terminou a última frase quase do portão de casa, quando saia para encontrar com Pedro e o resto de sua turma. Ele estava se sentindo feliz por Samantha não querer ir a festa. Mesmo depois de oito meses morando no Rio ela ainda insistia em se vestir de forma estranha, apesar de — ainda bem — pensou, pelo menos os uniformes de uma colegial interna da Alemanha ela abandonou, e ainda fazia questão de se mostrar uma garota nerd. Definitivamente não a queria por perto.

Leonardo ainda pensava em Samantha quando avistou Pedro atracado com uma loura qualquer na praia. Aproximou-se dos dois e começaram a falar dos preparativos da festa enquanto, vez por outra, a garota solicitava atenção, e os beijos, de Pedro.

— Faz tempo que não te vejo com uma garota, mudou de lado é? — Pedro disse rindo enquanto Lisa, sua acompanhante, continuava beijando-o.

— Ah! Não enche mané. Prefiro ficar sozinho do que... — Ele parou de falar a tempo, geralmente Pedro ficava com qualquer uma que desse mole pra ele, só para aumentar sua lista de “conquistas”.

— E como vai a prima baranga? Ela vai à festa?

— Não a chame assim Pedro! — Leonardo se levantou — dê uma olhada com “quem” você anda para depois chamar os outros de baranga.

Nesse momento Lisa olhou para Léo e ele se preparou para uma discussão, mas a garota apenas riu e voltou a agarrar Pedro.

— Calma aí, onde você vai?

— Quando estiver desocupado e sozinho — Léo deu ênfase à palavra sozinho — você me encontre no Starbucks, temos uma festa para planejar.

— Starbucks? — Pedro parecia atônito — desde quando você frequenta o Starbucks Leonardo?

— Não enche Pedro! Já te disse. Ligue para a Carla e para a Alice. Vou pedir ajuda à Letícia também, as festas dela são sempre ótimas. Me encontre lá, somente com essas pessoas, em uma hora.

— Ok! Já entendi!


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