"Acidentes são inesperados e indesejados, mas fazem parte da vida."

POV Marlene McKinnon

Eram oito horas da manhã do dia 26 de dezembro quando sai do meu carro e enfrentei o vento frio, puxei a jaqueta de couro para mais perto do corpo e deixei meu cabelo chicotear nas minhas costas até entrar no hospital. Estava usando uma roupa mais punk que o normal: jaqueta de couro, calça de couro, suéter preto, sapato vermelho e um gorro preto com tacinhas.

Caminhei até um ponto vermelho sem nem pensar no que fazia, afinal, seria difícil confundir seu cabelo fogo mesmo em um incêndio, principalmente porque sou uma das pessoas que mais conhece aquele cabelo.

–Como ela está?- perguntei me sentando ao seu lado direito, esse era meu posto.

Mariele respirava calmamente ao ombro de Lily, esta por sua vez parecia preocupada.

–Bem, quero dizer, na medida do possível- completou em tom de conspiração- Eu acho que ela gosta dele.

–Você acha?- ri- Óbvio que sim! Mas ela é como você , não vai admitir que sim.

–Ei!- Lily reclamou da comparação- Eu admito que gosto do Jay.

–Claro, por isso ficamos dois anos brigados enquanto você dizia que “Odiava” James Potter, né?- Ri e ela assentiu, depois de um tempo suspirou -Mas e você, o que houve?

Vi um misto de emoção, felicidade, tristeza, pesar, tudo passando rapidamente em seu olhar enquanto ela tentava ver o que dizia.

–Nada- disse calmamente. Levantei a sobrancelha e ela sustentou meu olhar. Ah vadia, tentando jogar o jogo que criamos juntas contra mim? Sério Lily?

–Nem comece, fale logo. Você ta mentindo e nem tente negar, desembuche- ordenei.

–Eu não quero falar sobre isso- falou.

–Legal, eu não perguntei se você queria. Eu mandei você falar- sorri.

–Você é um saco Lene- Lily murmurou- E você não manda em mim.

–Não sou Dorcas, que sabe que algo está errado e respeita seu silencio, mas mostra que está lá para você. Muito menos sou Alice, que percebe também, mas deixa que você fale com Marlene. Sou Lene, sua melhor amiga Lene, a primeira pessoa que você beijou eu fui a primeira a saber, quando você sofria de distúrbios alimentares, eu soube. Então o que quer que seja, você pode me contar e você vai me contar, porque senão, para quem mais você vai se abrir? E por favor- completei rapidamente- Não diga que para James, porque se você trocar sua melhor amiga pelo seu namorado eu juro que lhe dou um tiro!

–Nunca- ela jurou.

–Acho bom mesmo viu! Desembucha- empurrei a perna dela.

–Tive minha primeira vez com o James depois que o namorado da minha irmã me agarrou e de manhã discuti com Petúnia porque ela viu o beijo, e estou culpada, confusa, feliz e muito o mais- falou rápido.

–Opa opa opa- levantei as mãos- Por partes. VOCÊ E JAY-POOH FIZERAM?

–ISSO LENE, BOTA NA RÁDIO!- Lily falou entre dentes.

Olhei ao redor e percebi que todo mundo olhava para nós duas.

–Que foi?- me levantei- Vão cuidar da vida de vocês- me sentei.

–Meu Deus!- Lily murmurou com as mãos no rosto- Me lembre de nunca mais falar da minha intimidade para você em um hospital.

–Besteira, como se esse povo fofoqueiro fosse todo virgem- tirei onda- Mas e ai?

–E ai que ele foi ao meu quarto de noite, subiu pela janela, me deu um presente de natal divoso e roloU- ela tentou esconder um sorriso, mas não deu certo.

–Uuuui- mexi com ela- Potter pegador.

–Sabemos que ele é- ela riu pelo nariz- E antes disso o namorado da Túney me beijou e hoje de manhã eu e Petúnia brigamos por causa disso, e ela me disse umas coisas que...

–O que quer dizer?

–Ela é muito ressentida comigo sabe?- Lily começou a falar quando Marie se levantou do ombro dela.

–E ai?- perguntei.

–Meu povo- ela riu e depois começou a chorar.

–Hey- fui para o lado dela- Calma.

–É a gravidez... Meus hormônios estão à flor da pele- ela riu entre uma fungada- E Nathan?

–Nada ainda- Lily respondeu a abraçando por um lado.

–Sabe, é tão engraçado como a nossa amizade foi construída- falei segurando sua mão.

–Se lembra a primeira vez que nos vimos?- Lily perguntou e Marie riu.

“–Não se preocupe, eu aproveitei. Tudo isso é recalque, porque ele não lhe dá bola?- a loirinha perguntou. Um “uuuiiii” coletivo foi ouvido.

–Não loirinha recalque não é mesmo. Eu gosto de ajudar os necessitados, se você quer ficar com as sobras que eu deixei, faça bom proveito do Potter, não necessito mais dos serviços dele- “uuuiii” foi dito novamente antes de tia Minnie botar moral e começar a dar aula.

Quando a loirinha passou por mim ela deu uma piscadela e se sentou na minha frente, do lado do Potter. Eu respondi com um sorriso de lado. “A Lene olhou para mim e sussurrou: “ela é muito sem noção”, no que eu concordei com a cabeça.”

–Eu e Lene odiamos você desde o primeiro momento- Lily comentou alisando o cabelo dela.

–Eu também odiei você a primeira vista- Marie respondeu- Mal cheguei e uma mimadinha veio com piadas para cima de mim, eu acho que não- ela estalou os dedos e nos fez rir.

–A Lilica te odiava por você estar com o Potter- recordei.

“- e você, Potter, porque não vai atrás da Loirinha?

–Isso é ciúmes Lil’s?- pergunta o Potter- a Marie está na mesa da Cornival, e eu não estou a fim de me sentar lá. Além do mais, eu vejo ela depois, vamos para os jardins de tarde.

–Me poupe dos detalhes, Potter. Eu vou me sentar em outro lugar, o ar daqui ficou poluído demais para mim- diz Lily se levantando.”

–Eu não soube dessa parte da história- Marie gargalhou.

–Tudo bem!- Lily levantou as mãos- às vezes eu até tava com ciúmes.

–Às vezes?- perguntei e ela estirou a língua.

–Mas vocês começaram a ter a relação construída, bom, mudada, quando descobriram que eram irmãs- falei.

–Não, quando descobrimos a coisa piorou muito- Lily corrigiu.

“–Eu vim dizer que vou recuperar o tempo perdido com o meu pai, e que eu vou ser a nova filha favorita dele.

–Isso nunca vai acontecer. Você pode até tentar mas o meu brilho sempre irá lhe ofuscar, ‘sis’.

–Eu realmente não sei o que o James vê em você! Você é só uma mimada qualquer que se pode achar em qualquer lugar- a louca surta do nada.

–Eu sou mimada? Eu é que não sei o que o James vê em uma prostituta afinal ele pode achar meninas nas esquinas muito melhores que você- respondo.

–Prostituta é a sua mãe!- ela grita.

–A minha mãe é prostituta? A mãe de quem é que ficou com um homem casado, hein?- grito de volta.”

–Eu nem sei quando ficamos realmente amigas- Marie olha para Lily.

–Foi um processo construído passinho por passinho.

–Eu e Marie ficamos amigas depois do meu quase estupro- Falei sem pensar. Merda, não tinha dito as meninas nada disso.

–Como é?- Lily me encara.

–Quando fui para a enfermaria eu tinha sido atacada, mas preferi manter as coisas em sigilo- expliquei.

–De quem? De mim?- Lily perguntou magoada.

–Não estava preparada Lily- argumentei.

–Meninas calma- Marie pediu, Lily ficou em silencio mas percebi que a conversa não tinha terminado ainda.

–Nem parece que a Marie um dia foi espiã de um dos comensais de Voldemort- Lily falou rindo, depois de minutos de silencio.

–Como é?-Alice perguntou brotando de sabe-se lá da onde.

***********

POV Sirius Black

–Sirius- James falou quando já estávamos há uns 15 minutos no transito londrino- Temos que conversar.

Fingi-me de surdo e encostei a cabeça na janela.

–Sirius, sei que você está ouvindo- James me cutucou com uma mão.

–Não quero conversar James- respondi.

Como se já não bastasse ele ter me arrastado de casa a força ainda queria vir com um assunto nada haver.

–Almofadinhas, cara, você fez o que seu coração sugeriu, não posso te culpar por isso.

–Eu ia matá-la Pontas. Se tivesse com munição eu seria um assassino, teria me tornado um Black de verdade- comentei amargurado.

–Mas não estava!

–Mas se estivesse...

–Que se dane isso! Se estivesse iríamos lidar os dois com a situação!- ele berrou estressado- Você acha mesmo que iria lhe abandonar por isso? Claro que estranhei sua escolha em puxar o gatilho, mas não vou lhe julgar! Quantas burradas não colecionamos juntos?

–Mas isso é em outro nível James...

–E daí? Vamos arcar com as escolhas feitas, o que nos resta?

–Me resta você, e os Marotos- comentei e sorri- Sou grato por isso.

*********

Brincava com a chave do carro na mão, rodando-a no dedo. Estava apoiado na porta do passageiro da Ferrari de James. Meu amigo Pontas tinha ido ligar para o resto dos bofes dele. Afinal, tínhamos combinado aqui e eles estavam 20 minutos atrasados, o coitado do veadinho teve um ataque ao notar que eles não chegaram na hora.

Vi uma mulher de pernas longas se aproximar na calçada, e como vocês me conhecem, eu não iria deixar essa passar.

– AI- gritei e ela olhou na minha direção assustada –Um dia quero virar astronauta.

–Por quê?- perguntou divertida.

–Para viajar no céu da tua boca- ri sedutor.

Ela se aproximou rindo. Parando a minha frente colocou o cabelo atrás da orelha.

–Quantos anos você tem?- ela perguntou.

–Quer saber se sou maior de idade?- perguntei.

–Quero saber isso para não ser acusada de pedofilia se quiser sair com você- ela respondeu.

–Não será- garanti.

–ótimo- ela abriu a bolsa e escreveu o número, me passando- Me ligue e vamos marcar de tomar uma cerveja, Senhor Cantadas Ruins que Funcionam- me deu um beijo na bochecha e saiu.

–Não é que ele não perde a manha?- James perguntou vindo parar a meu lado.

Ri e guardei o número no bolso.

–É veado, uns nascem com esse mel todo e outros não, fazer o que?- dei de ombros.

O clima estava louco hoje. Deu um vento e meu cabelo se jogou nos meus olhos, balancei a cabeça impacientemente para trás, na tentativa de ter a visão restaurada.

–Onde está o resto?- perguntei.

–A caminho- James suspirou.

Ficamos um momento em silencio, quando olhei para o lado, depois de um momento, percebi que ele tinha um sorriso bobo nos lábios.

–Que sorrisinho sem motivo é esse?- apontei para a boca dele quando ele me olhou interrogativo.

James tossiu.

–Agora nem tente menti, se entregou- ri- Vai veadinho, de segredos para cima de mim?

–Eu e a Lily, sabe...

–Nem termina- bati uma palma sem acreditar, desencostei do carro- Você e minha foguinho se consumaram?

–Eu meio que to dizendo isso Cachorro- James riu.

Em um ímpeto de raiva, ou seja lá o que, eu pulei em cima de James, segurando a gola de sua camisa. Pressionei contra o capô do carro e falei:

–Se você pensa que vai usar a Pimentinha como faz com as outras está enganad0- grunhi- Você é meu melhor amigo e meu irmão, mas não pense nem por um minuto que vou permitir que você machuque ela, porque ela é minha irmãzinha. E eu a amo.

James riu.

–Estou avisado- disse e eu o soltei- Mas não estou planejando dar um pé na bunda dela. Quero tudo com ela Sirius, quero noivar, casar, ter filhos, ver os cabelos brancos tomando o lugar dos ruivos. Eu a amo Sirius, como nunca pensei que fosse possível.

Suspirei.

–Perfeito. Perdi Remus, Frank e agora você para aquela Powerful’s. Ai cara! Os marotos tão perdendo a pratica!

–Um dia você vai entender Sirius- Remus falou se aproximando.

–Rogando praga Aluado?- perguntei fazendo cruz com os dedos.

–Longe de mim, só disse a verdade- Remus comentou como quem não quer nada.

–Vamos logo que as meninas já chegaram- Frank disse entrando.

–Como se nós fossemos os atrasados!- James fala.

POV Narrador.

As meninas tinham tentado de tudo para fazer Ali ver a razão, mas ela estava fora de si. Elas contaram toda a história, mas Alice não parecia ouvir.

–A pior doença que um ser humano pode ter, é a falsidade- Alice fala com raiva, dirigindo-se a Marie- E vocês duas de segredinhos! Não sei o que é pior!

–Não falamos mesmo- Lene diz se levantando, ficando cara a cara com Alice- Sabe por que? Sabíamos como você reagiria, e que surpresa... Você agiu igualzinho ao imaginado!

–Ela é uma piranha! Se aliou ao timinho!- Alice berra.

–Eu lhe defendi- Dorcas comenta baixo, chamando a atenção- Eu fiquei ao seu lado sempre. E você mentia na minha cara? É por isso que você está aqui, não é? Se sente responsável pelo que ocorreu com Nathan, porque sabe que no fundo você fez parte disso.

–Se ele morrer a culpa será sua- Alice rugiu.

Marie já estava soluçando de tanto que chorava ao ouvir as acusações.

–Já chega vocês duas- Lily ordena.

–Chegou a defensora alheia- Alice riu.

–Sou mesmo! Porque se você se esqueceu, eu fiquei do seu lado contra Lene quando você transou com Sirius, Eu lhe defendi. E eu farei isso sempre que ver que alguém se arrependeu, e está sendo injustiçado.

–Injustiçado? Essa menina deu informações para Voldemort! Deixou que você se relacionasse com Joshua, um comensal!- Alice argumenta gesticulando com as mãos.

–Hein?- Black pergunta entrando na conversa.

Nenhum dos Marotos entendia o que estava acontecendo. Ouviram apenas o que Alice disse no fim.

–Fale para eles Marie, diz que você é uma espiã de araque! Duas caras!- Alice grita.

–Os senhores terão que se retirar, estão provocando muito tumulto. Aqui é um hospital, e não um bordel- a recepcionista pediu.

–Vem Ali- Frank a puxou para fora.

No fim Dorcas e Remus também foram.

–Alguém pode me explicar?- Sirius gesticulou um circulo, para abranger o ocorrido.

Lily e Lene explicam o ocorrido em minutos, mas os meninos não dão um ataque.

–Cada um tem um segredo- James diz- Não vou culpá-la, você quis assim.

–Obrigada James- ela sorriu tristonha.

************

POV Dorcas

Não acreditava que ela tinha feito aquilo! Depois de tudo, eu pensei que ela era uma de nós!

–Dorcas-Remus me puxa para um banco no jardim do hospital.

–Como ela ousa?

–Dorcas- Remus chama- Você me odeia?

–Quê? Claro que não!- Respondo.

–Eu menti para você- ele fala.

–Como...

–Eu não falei que era doente, e quando eu falei você ficou do meu lado. Você viu que o que fiz foi por pensar ser o melhor. Então por que ficar de mal da Mariele?

–Ela foi falsa. E ela era uma espiã, você apenas estava doente!

–Se você não poder perdoa-la, então você ainda é ressentida comigo- ele diz.

–Remus...

–É a mesma coisa- ela me dá um beijo na bochecha- A mesma.

E assim ele se retira.

************

POV Alice

Joguei-me em baixo dos cobertores.

–Filha? Já voltou?- minha mãe pergunta entrando no quarto.

–Pelo visto sim- sou grossa- Desculpa.

–O que aconteceu?- ela senta-se ao meu lado.

–Já sentiu tanta raiva de alguém que quis explodir o mundo?

–Não chegou a tanto- ela garantiu, e sorriu- Mas será que ninguém se sentiu assim em relação a você também?

Pensei em Lene, ela já me odiou, mas no fim me perdoou.

–Estou cansada mãe, e mais tarde ainda tenho fisioteparia, posso tirar um cochilo?

–Claro, só não espere que fugindo seus problemas se resolvam.

************

POV Marie

Na primeira oportunidade que tive disse que iria ao banheiro, mas não fui. Andei até a janela do corredor do banheiro, e olhei para o estacionamento.

Minha vida estava uma merda. Nathan tinha sido ferido por minha causa, as meninas me odiavam... Não sabia quanto tempo mais aguentaria.

–Marie?- Remus pergunta saindo do banheiro masculino.

Limpo as lágrimas rapidamente e me viro, sorrindo, para ele.

–Oi- falo.

Ele me abraça. Estranho isso. Nunca fui muito próxima de Remus, ele era um amor de pessoa, mas sempre fui mais próxima de James, e até Sirius. Nunca fiquei a sós com ele, ou mesmo falei diretamente a ele.

–Não se preocupa- ele me solta- Eu estou do seu lado. A culpa vai lhe consumir, mas você ainda tem amigos. E Dorcas vai ver como você se arrepende, ela é maravilhosa.

–Obrigada- falo de coração.

–Mariele?- o médico chama no fim do corredor- Nathan está sedado, mas pode receber uma visita rápida.

Olho para Remus, e ele confirma com a cabeça. Vou atrás do médico.

**

Nathan estava dormindo feito um anjo na cama.

Entro e sento- me na poltrona ao seu lado, seguro sua mão.

–Me perdoa- peço- Não só por ter sido parte dos que lhe machucaram, mas também por ter lhe tratado mal e te afastado de mim. Sempre pensei que eu nunca fiz parte de um grupo porque ninguém me queria nele, mas acho que sou eu que me saboto. Não importa, só quero que saiba que você é muito importante para mim, notei quando pensei que você ia morrer.

–Awn- alguém diz- Mas que fofo! Vomitando arco-íris agora.

–O que você faz aqui Joshua?- me levanto.

–Vim te levar comigo- ele sorri e me puxa para fora.

–Não vou- falo enquanto ele me puxa pelo braço pelos corredores.

–Você não tem escolha- ele fala baixo quando um homem passa por nós.

–Eu não vou!

Ele não responde só me leva para as escadas de emergências, começando a correr.

–Não quero ir!- grito me soltando.

–O mestre precisa de informações, e eu tenho ordens de te levar- ele me puxa de novo, fazendo com que eu fique de costas para os degraus.

–Já disse que não quero ir- berrei tentando me soltar.

Consigo largar meu braço, mas me desequilibro no degrau e caio para trás. Rolo toda a extensão, andares e andares. Sinto uma dor alucinadora na barriga, e permito me perder na escuridão.