The Cupid's Diaries escrita por Mayy Chan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu acho que essa one ficou (levemente) grande, sabe? É a maior que eu já fiz em toda a minha vida, então realmente espero que gostem do que vão ler.

Ah, e não é porque é uma one que não pode comentar, okay? Isso só vai me incentivar a escrever mais e mais pra vocês poderem ler huehue.

Enjoy, tia Mayy *u*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517543/chapter/1

Segunda-feira, 01 de Setembro

Querido (ou nem tanto assim) Diário,

Todo mundo, no aniversário de dezesseis anos pede uma festa de arromba ou uma viajem para um lugar maneiro, tipo a Disney, ou Japão no meu caso. Bem, eu ganhei um porco e você pra poder anotar minhas aventuras na Itália, pra onde eu fui junto com a minha irmã nojenta e o Bacon.

Pois bem. Infelizmente eu tive que acabar ignorando o fato de você ser rosa e peludo depois da série de merdas que aconteceu hoje.

Sabe aquelas menininhas iludidas que acham que o primeiro dia de aula é um recomeço onde você pode finalmente aumentar as suas notas, arrumar um namorado bonitão, se tornar popular, ditar moda, ou mesmo se dar melhor com as professoras? Bem, isso nunca acontece. E sabe como eu sei disso? Eu sou, provavelmente, a menina mais iludida de toda a Half-Blood School.

Meu irmão me acordou exatas duas horas antes de eu ir pra escola com um telefonema estúpido pra falar as típicas coisas de um CDF sobre sistemas operacionais e bonecos de ação — quer dizer, eu não estava prestando atenção, mas ele é mais previsível do que aquelas líderes de torcida sem cérebro —, quando eu mesmo tinha avisado que não iria hoje porque seria desperdício de tempo porque só íamos ficar discutindo sobre como as férias tinham sido interessantes e movimentadas.

Enquanto vagueava pelos canais e comia cereal com leite, me lembrei da tinta que Abby tinha comprado pra fazer mexas no seu cabelo — é claro que aquela débil mental ia esquecer aqui — e quis experimentar. Foi aí que eu comecei a ferrar com o meu dia, mesmo só tendo uma noção de quão grande a merda era.

Fiz tudo o que a caixa pedia e separei uma mecha do meu cabelo. Ah, se eu pudesse voltar praquele segundo em que eu encostei aquele pincel na minha cabeleira loira, eu seria a menina mais feliz do mundo. Passei levemente a tinta vermelha no meu cabelo e esperei uns dois minutos. Okay, essa também seria um bom momento pra eu ter parado de ser idiota e largado aquela idéia lesada. Resumindo: a tinta não pegou direito e acabei ficando com uma mecha do cabelo rosa claro.

Sei que a minha mãe não ia brigar, então aproveitando o meu modelito novo (e meio merda, porque nunca fui muito fã dessa cor), resolvi ir fantasiada em homenagem ao Dia dos Namorados. Claro que era pra ser uma crítica ao fato de tantos meninos reclamarem por se sentirem “amarrados”, mas acabou que eu saí de casa parecendo um Cupido: vestido vermelho bem rodado, meia-calça fina branca e uma sapatilha com um coração enorme encima no mesmo estilo dos acessórios. É, eu tenho alguns problemas de comportamento excêntrico.

A pior parte mesmo foram os óculos, que eu tive que usar com a mesma armação azul de sempre, mas fingi não ligar enquanto as pessoas me olhavam estranho na rua. Será que é tão difícil entender que isso é uma fantasia que faz uma crítica muito enfatizada no meu clube das “Solteironas (Por opção ou não)”

Normalmente podíamos usar qualquer roupa, contanto que não mostrasse nada demais. Mas, ao chegar na escola e olhar pro decote de Drew Tanaka, que se mantinha na porta com o seu típico olhar de “eu-sou-uma-piranha-e-sei-disso”, soube que a antiga regra tinha sido abolida, ou a nova diretora não estava nem aí pra roupas enquanto enchesse o dinheiro de grana e a sala de detenção cheia.

Ao chegar no meu armário, fui notar que tinha esquecido a minha senha outra vez, o que deixou de ser novidade depois da vigésima vez.

— 16, 03, 14, 04. Cara, o que tem de tão difícil na sua senha? — perguntou Thalia Grace, minha melhor amiga e conselheira.

Como meus irmãos são mais velhos do que eu, a escola é a única coisa que eu não tenho que compartilhar com eles, a não ser o apartamento do meu pai. Mas, como todo mundo tem que ter alguém pra dividir os momentos tristes da vida, como a aula de Filosofia, eu tenho Thalia, uma punk vegetariana com problemas de comportamento.

— A mesma coisa que faz com que você nunca saiba nada de Biologia. E ai, como foram as férias?

— Não sei. Porque não pergunta pro espelho? Eu tenho uma leve impressão que eu passei as férias inteiras com a menina que você vai enxergar. Ah, falando em espelho, que merda é essa no seu cabelo?

— Tentei fazer uma mecha vermelha pra parecer rebelde, mas saiu rosa.

— E aí tentou se vestir de Silena Beauregard?

Silena, mais conhecida como Si, era a menina mais patricinha e fofa da escola, inclusive uma das minhas melhores amigas. Se ela fosse um pouco menos neurótica com o meu estado atual de roupas, até que a levaria pra passar as férias na minha casa.

— Não, mas aposto que quando ela me ver, eu vou sofrer em suas mãos com aquelas unhas perfeitas.

— E não é?! Como alguém consegue manter o esmalte por tanto tempo? Será que ela não enjoa daquele escarlate festa ou sei lá o que?

— Odeio admitir isso, mas você não tem muito moral pra falar isso, Grace. Eu te conheço desde os meus sete anos, tempo o suficiente pra saber que você só varia entre suas cores: preto e preto fosco. Fora que eu nunca te vi pintar a unha, o que me dá mais duas hipóteses: Um, você é uma bruxa alienígena do futuro que veio descobrir segredos da humanidade a partir de mim; e dois: você arruma a sua unha de dois em dois dias. Só que, pra mim, a um é a mais fácil de acreditar.

— Falou pouco, mas acertou bonito. Porque, claro, eu sou uma bruxa muito perigosa de um Condado antigo que veio pra comer seu cérebro genial, cabeção.

— Poderia esperar a sua refeição até depois do sinal do último horário? Oito e vinte eu tenho aula de Álgebra.

— Fechado então. Traga ketchup, não se esqueça. O que vai fazer até lá?

— Tentar não matar o meu editor-chefe, se não se importa.

— Toda a liberdade. Até mais.

— Até.

Deixei o resto dos materiais lá dentro, pegando apenas o necessário. Logo tomei caminho para o lugar onde fazíamos a edição de toda a mídia escolar.

Já na porta, a abri, e dei de cara com Rachel, encarregada pelo designer. Um gênio artístico, é como eu prefiro chamá-la.

— E aí, Dare?

— Annie! O seu visual de primeiro dia é tão... inusitado.

Em minha opinião, ela não deveria falar muito sobre a minha roupa, graças a sua personificação da minha tia Verônica, uma pintora meio louca que era madrinha da ruiva.

— Gosto de inovar um pouco. É tipo uma crítica ao fato que o Dia dos Namorados é superestimado.

— Você é solteira, Chase. Qualquer coisa que envolva esse dia vai, obviamente, ser superestimado.

— Menos chocolate.

— Tuché. O que são esses papeis na sua mão?

— Mais um artigo. Não desisto enquanto não ser completamente promovida para a coluna de relacionamento.

— Você tem garra, Chase. É bom não deixar que aquele sorrisinho perfeito de badboy do seu superior não te afete.

— Não vai, acredite. Sou completamente imune a beleza.

— Que a sorte esteja com você.

— Ela sempre está. — saí apressada.

Acredite ou não, éramos ótimas amigas desde o primário, até hoje. Não nos falamos loucamente, mas ainda sim sempre nos damos muito bem, da mesma forma que seria com o resto da escola caso eles realmente se lembrassem que eu existo.

— Olá, Chase. Que manhã mais agradável! — exclamou Silena, avaliando minhas roupas assim como fazia com todo mundo.

— O que você está pensando em mudar na minha roupa, Beauregard?

— Maquiagem, é tudo o que eu digo. Se vai se fantasiar de Eros na versão feminina, precisa de maquiagem, muita maquiagem. Algo que personifique.

— Quem é “Eros”? Desde quando você sabe o que é personificar?

— Eros, Cupido, filho de Afrodite, a deusa mitológica que homenageou o nome da minha mãe. E, talvez, só talvez, eu venha dando uma conferida básica naqueles seus livros de psicologia.

— Claro, como não adivinhei antes? — perguntei irônica enquanto a mesma já passava uma base em mim.

— Eu não sei. Só queria pensar no que te deu de vir com uma fantasia dessas pra escola, por mais que esse conjuntinho esteja um charme. Você realmente pode ser uma pessoa muito criativa, Annabeth. Quem me dera você tivesse essa idéia de moda todos os dias.

— Nem nos seus sonhos mais selvagens, Beauregard.

Silena era a colunista de moda do jornal e do site da escola, e, com a mesma certeza que tenho de que pinguins são fofos, eu tenho de que ela é apaixonada pelo que faz. Influência da mãe, digo eu. O único problema era o chilique que ela tinha quando me via com as roupas normais: calça jeans, camisetas largas com uma coisa engraçada na frente e sapatinha.

— Minha mãe me mandou ter liberdade de expressão, então eu fiz isso.

— Você não pintaria o seu cabelo porque sua mãe pediu.

— O look surgiu a partir de uma pintura defeituosa, então ficou mais ou menos assim. Não se preocupe, não é eterno. Apenas uma daquelas tintas temporárias, mas ainda sim eu não soube manusear.

— Quando for fazer essas coisas me chame, cabeção. Prontinho. Tá até parecendo outra pessoa.

Me olhei no espelho e não segurei o riso. Ela não tinha feito muito, apenas tampado a minha cicatriz na sobrancelha, passado um batom rosa avermelhado e um pouco de rímel.

— Adorável. Eu me casaria com o meu reflexo.

— Eu faço o que posso. — sorriu e fez uma reverência estúpida.

— Obrigada, mas agora eu tenho que ir pra sala do diretor-chefe. Cara, será que existe um cara mais chato do que aquele?

— Chato, sim. Mas incrivelmente sedutor e cavelheiro também. Ele é um cretino perfeito. Vai mostrar mais uma das suas obras brilhantes.

— Modéstia parte, ficou um pouco mais do que perfeito. Trabalhei nele durante as últimas duas semanas e ainda tive que estudar pros testes e fazer as minhas resenhas semanais.

— Gosto de imaginar qual seria o tipo de mágica que eles fazer pra arrumar mais livros para você ler. Aposto que nem come enquanto faz isso.

— Quase não. É simplesmente algo natural depois de um tempo. Da mesma forma em que andar de saltos, ou usar as roupas de meretriz da Drew.

— Uau, que rebeldia da sua parte, Chase. Estou até surpresa.

— Só cansei daquela infeliz me olhando como se fosse superior. Aposto que o orifício anal dela sente inveja de tanta merda que ela fala.

— Adoro quando você faz essas piadinhas de gente inteligente.

— Eu faço o meu melhor. — a imitei revirando os olhos e alisando o vestido.

— Se te interessa, você tem exatos dezessete minutos para falar com o nosso editor-chefe. Vai mesmo continuar tentando?

— Não desisto enquanto não tiver um artigo na capa publicado por mim.

— Só se certifique que ele continue vivo e respirando depois da demonstração.

— Vivo sim, mas ele vai perder o ar com o meu artigo, queridinha. — fui embora mandando um beijo jogado pelo ar.

A porta da sala onde eu precisava entrar não era tão longe, então as coisas meio que fluíram assim que bati na porta. Ele não havia mudado muito desde a última vez que eu entrara aqui, apenas deixara a barba crescer um pouquinho, ou não a tinha feito direito. Tinha que tomar uma conclusão rápido, antes que as coisas saíssem do meu controle.

Não que eu seja apaixonada pelo meu editor-chefe, mas que ele é provavelmente o cara mais sedutor, cavalheiro e bonito que já habitara aquela sala, isso era verdade.

— Toc toc. — falei.

— Pode entrar, Annabeth Chase. Só espero que não esteja trazendo um tipo de animal rastejante para me forçar a ajudar com o seu trabalho de Mutação Genética.

— Não dessa vez, Jackson. Minha mãe excluiu iguanas quase completamente da minha lista de animais engraçados que eu ainda vou ter alguma vez na vida.

— Tanto faz. Acho que você já tem idade o suficiente para entender que se uma lagartixa te morder, você não vai começar a regenerar.

— Você só diz isso porque é o Peter Parker sem a parte engraçada, fofa e adorável.

— Uau, nunca me senti tão ofendido. — disse irônico olhando para a tela do notebook. — Agora, se não se importa, eu adoraria que você falasse logo o que quer e depois me deixe terminar esse artigo.

— Eu quero passar para a coluna de relacionamento, isso é claro.

— Seria realmente adorável te ter trabalhando ao meu lado, mas eu ainda preciso da sua ajuda.

— Vamos lá, Jackson. Eu sei que você deve estar cansado de estar ao meu lado. Se eu passar para outra sessão, vai ser como se nem existíssemos um pro outro.

— Me desculpe, Chase, mas eu não sou um cara de realizar caprichos de menininhas mimadas. Além disso, não aguento ler mais nenhum artigo deprimente sobre como o amor é doloroso e entediante. É pra isso que eu tenho uma namorada.

— Pra provar a mim que o amor é um arco-íris de chocolate?

— Não, pra não me tornar um cara revoltado com o resto do mundo como você está parecendo.

— Errou, idiota. Tudo que eu escrevo é pra retratar o amor como ele é de verdade. O meu problema é nunca ter pegado um caso de amor de verdade.

— Você não vai conseguir isso por mim, não vai mesmo.

— Qual é, Jackson? Você é sete meses mais velho que eu, e estamos no mesmo ano. Será que você pode parar de falar que nem o meu avô Tom, o da plantação de tomates? Olha, os meus artigos não são desinteressantes, são só...

— Irrelevantes?

— Olha, eu só não tive uma liberdade de expressão maior. Posso fazer mais do que ficar cuidando da sessão literária. Não que eu não goste disso, eu amo, mas...

“Eu quero parar de escrever sobre o amor ficcional pra falar daqueles loucos e fervorosos da vida real”. — me imitou com uma voz fina e revirando os olhos — Céus, você é tão previsível, Chase. Você sempre me diz a mesma coisa, e eu sempre tenho que responder que, infelizmente, a vida real não é um conto de fadas e nem...

“Uma fábrica de realização de desejos”, eu sei. Nunca deveria ter te mostrado aquele livro.

— Olha, Chase, qual seriam os meus motivos de te deixar sair do meu campo de visão pra poder te soltar pelo mundo com esse seu senso de humor adorável e a paciência? Você precisa mais é de...

“Fazer parte da equipe”. — imitei-o — E depois eu que sou a previsível! Olha, lê só esse novo artigo e me fale o que achou.

— Mas, Chase...

— Por favorzinho. — dei o meu sorrisinho angelical, enquanto alongada a última palavra.

— Okay, mas essa é a última vez. E se eu ler algo do tipo: “e ele era um canalha no final”, ou mesmo “e ele matou ela”, eu te tiro da equipe. Só não conta isso pra ninguém, valeu?

Fiz o sinal de um zíper passando pela minha boca, e só então ele começou a leitura das páginas que eu entregara. Sua feição concentrada era uma coisa muito fofa, o que praticamente me fazia esquecer que as vezes ele pode ser um nojento.

Hoje ele estava de bom humor, por um motivo que eu não sei qual. Só sei disso porque: um, ele me deixou entrar; dois, ele ainda não falara nenhuma palavra de baixo calão. Achei que hoje a coisa ia ser mais séria, porque Luke Castellan, o cara que cuida da coluna de esportes, não me acompanhara, mas aparentemente isso deixara o Jackson mais calmo e agradável.

Esperei pacientemente ele terminar de ler, e ergui as minhas costas quando ele voltou o seu olhar pra mim.

Caro diário, acho que você não vai entender o motivo de eu ter feito isso, mas é só porque não tem olhos pra poder ter uma breve noção da beleza enorme que rodeia o garoto.

Olhos verde azulados, cabelos escuros, pele levemente bronzeada porque, aparentemente, praticava surf, e, para deixar tudo mais perfeito, era um perfeito cavalheiro.

— Isso é... tão diferente.

— Então estou dentro?

— Chase, entenda de uma vez: você não tem o que é preciso para poder pegar essa vaga. Por mais que você tenha um artigo bom e realmente deu um conselho útil, também me deu milhares contando histórias de mulheres estupradas, mortas pelos maridos e até uma de um marido psicótico que matou a família inteira na frente do filho. É impressão minha ou seu feminismo está saindo do controle?

— Olha, eu só queria retratar as coisas como elas realmente são no mundo real. No meu primeiro dia aqui você disse com alto e clara voz: “Nada aqui é um conto de fadas. Eles querem a verdade e nós daremos isso para eles”, e eu realmente estou levando a sério pra ganhar essa merda de vaga.

Ele bufou e esfregou a mão na testa. Me senti mal por o fazer ficar bravo, mas não ia desistir do que eu queria tão cedo, nem que eu tivesse que andar vestida assim pelo resto do ano pela escola.

— Okay, okay. Mas não se anime tão cedo, porque só tem essa chance.

— O que você quiser.

— Vai ter que publicar na já enterrada coluna do Cupido, e me vender a sua imagem com essa roupa pra eu entregar para Rachel. Ela colocará um novo tópico para isso, e tudo vai dar certo. E, claro, escolha um pseudônimo.

— Eros, a Cupido. — falei a primeira coisa que me veio na mente.

Diário, eu tenho que explicar a minha hesitação: a coluna do Cupido era uma onde Silena publicava antes. O seu intuito é responder dúvidas amorosas que chegavam pelas cartas que eles colocavam em caixinhas bonitinhas que eram espalhadas pela escola. Era a maior bagunça: alguns te amavam, outros te odiavam, depende. E, acima de tudo, eu tinha um pseudônimo idiota.

— Fechado.

— Seja bem vinda ao jornal da escola então, Eros.

Quarta feira, 03 de Setembro

Em todos esses anos, ainda tinha a breve esperança de que, algum dia, a minha vida seria no mínimo normal. Achava até que estava conseguindo levar bem as coisas, me misturar um pouco, arrumar uns amigos até legais.

Meu maior sonho desde que descobri o jornalismo foi estampar uma capa com uma das minhas matérias. Só que, de tudo que podia acontecer, a mais impossível se tornou não só possível como realidade: eu era a capa no site e jornal da escola.

E não, não era nada que tinha saído da minha cabeça. Era eu, Annabeth Chase, com uma máscara e a mexa cor-de-rosa idiota. Sem falar do vestido, do arco-e-flexa e até das asinhas de anjo que colocaram na minha produção. O motivo disso? Aparentemente “Eros” era a garota mais popular da escola.

Agora vamos avaliar a seguinte situação: eu sou tanto a maior nerd da escola, como também a mais amada. Dois extremos, mas ninguém fora do jornal sabe quem sou de verdade. É, a vida é uma grande merda confusa.

Porque, acredite ou não, eu sou a merda de um Cupido.

Sexta-feira, 05 de Setembro

Querido diário, sabe o que é uma pessoa ferrada? Tipo, muito ferrada mesmo? Quando aceitei esse acordo, não pensei que nada fosse ser desse jeito.

Me desculpe por te esquecer, mas eu nunca lembro de completar os meus diários. E talvez, só talvez, eu esteja desrespeitando a regra dos diários e te contando algumas mentirinhas básicas, só pro risco do meu irmão vir me visitar e roubar “ocasionalmente” você.

Só que agora é bom eu te contar a verdade verdadeira, aquela que está ferrando com a minha vida desde terça-feira.

Eu sou “Eros, a Cupido”.

Não, eu não tenho tempo mais de responder todas as cartas, então tive que revelar o meu segredinho sujo pra Thalia, que agora me ajudava a responder algumas das perguntas, e depois mandávamos para a Rachel, que editava bonitinho e postava no site, e depois a ruiva entregava o papel para Silena, que colocava nos armários de quem havia enviado.

Só agora que eu fui entender o porque a Beauregard tinha abandonado o cargo. Primeiramente, eu recebia em torno de umas cinquenta cartas por dia. Segundo, minha mão criava bolhas de tanto escrever. Terceiro, a maioria das pessoas eu conhecia e acabei descobrindo mais do que devia.

Nico di Angelo, um dos badboys mais irresistíveis que eu já tive o prazer de conhecer, que reconheci pela letra, era apaixonado por Thalia, assim com Luke. Travis Stoll gostava de Katie Gardner, mas achava que a mesma o odiava, então ficava sem reação. Tyson, o irmãozinho mais novo de Percy, tinha uma queda pela melhor amiga Ella.

E não era aí que a coisa acabava. Também descobrimos que a maior parte das meninas da nossa escola tem uma queda por Connor Stoll, mesmo que ele já tenha deixado claro que a única preocupação da sua vida é sua irmã, da qual ele morre de ciúmes.

Só que, ao invés de tudo que eu esperava do cargo, eu estava mais ferrada do que nunca.

Primeiramente, eu tinha destruído o relacionamento de Drew e Percy. Sim, eu destruí completamente o relacionamento do meu editor-chefe com o sorriso sedutor e rosto perfeitinho.

Drew era uma piranha, todo mundo sabia. Mas o fato de ela estar traindo — no pior sentido da palavra — o único cara realmente bonito que sabia ao menos a tabela periódica de cor era simplesmente inusitado pelo simples fato de que era com Pollux, o novo geniozinho de Química que ela tinha encontrado pra usar e abusar. Agora, resumindo pra quem ainda está mais por fora dos acontecimentos: o motivo da traição e até no namoro era boas notas.

Eu quase tirei a minha sapatinha e enfiei na narina dela quando nos esbarramos pelo corredor, mas tudo que eu pude fazer foi dar um grito bem alto: “Drew, quando você passa na frente de uma vaca, ela sente inveja de você, querida”. Claro que Percy desaprovou completamente e disse que era pra eu ter um pouco mais de respeito pelas pessoas, mas eu simplesmente estava completamente fora do meu limite.

Katie Garder, a colunista de design de interiores, também achou ridículo, assim como Clarice, Silena, Miranda, Thalia, Rachel, Calipso, Reyna, e até Jason. Não, eu não sou uma fofoqueira infeliz, mas eu e minhas melhores amigas resolvemos responder as cartas quando fomos fazer uma festa do pijama da casa da Grace.

Obviamente estávamos todas super animadas, rindo de alguns casos, lamentando por outros e descobrindo sobre amores secretos. Miranda até descobriu que Connor estava pensando seriamente em pedi-la em namoro e simplesmente começou a dar pulinhos que nem uma adolescente problemática.

Foi até que a voz de Rachel nos despertou.

— Meninas, acho que temos um problema. — foi tudo o que ela disse.

Simplesmente nenhuma de nós queria acreditar, mas era mais do que necessário. Aquela piranha realmente tinha mandado uma carta pra mim, falando que estava traindo o namorado. Claro que não deixara assinatura, mas todos reconhecemos a letra feita com caneta de perfume de Drew Tanaka.

Hoje, quando cheguei a sala de edição, fiquei completamente boba. Nenhuma, exatamente nenhuma, de nós sabia exatamente o que fazer, como contar, como parecer uma coisa boa e nem nada disso.

Ela era a garota mais desejada da escola, fazia parte do time de torcida, tinha a escola toda do lado dela. Nós éramos oito garotas idiotas que tinham toda a verdade em mãos.

Droga, nosso nível de bagunça deveria ser castigado com um ano completo de castigo daqueles do tipo “um ano sem usar computador” ou mesmo “nunca mais assistir nenhum filme de romancinho”. Cara, como eu posso ter arrumado tanta confusão em menos de uma semana?

— Toc toc. — falei ao enfiar a cabeça dentro da sala de Percy.

— Entra logo, Chase. Eu sei que não vou poder te tirar daqui nem que eu queira mesmo.

— Não mesmo. — me sentei na cadeira a sua frente. — Sabe o que eu realmente estou achando, Jackson? Nós devíamos nos conhecer melhor.

— Como assim?

— Vamos jogar. Eu te faço uma pergunta, tento adivinhar a resposta, você diz se está certo ou não e vice-versa.

— Não tenho tempo pra os seus chiliques infantis de menininhas de quatro anos, Chase. Realmente não tenho.

— Dane-se o tempo. — virei o seu relógio de mesa e o encarei. — Tem animais? Não, porque tem alergia.

Ele revirou os olhos, mas finalmente pareceu parar de resistir.

— Não, mas isso foi muito fácil. E você tem um animal diferente como... um gato siamês.

— Errou, idiota. Eu tenho um porco chamado Bacon.

— Por que simplesmente não me sinto surpreso em você ter um animal tão... incomum?

— Eu não faço a mínima idéia. — sorri lateralmente. — Sua vez.

— Você sabe tocar algum instrumento? Violão.

— Eu sou um prodígio no apito, se quer saber. E você sabe tocar algo? Deve ser algo bem idiota tipo... gaita de fole.

— Eu sei guitarra.

— Só fez isso pra se exibir, seu idiota. — resmunguei. — O que você comeu ontem de manhã? Ovos com bacon.

— Sanduíche de manteiga de amendoim e geléia, um clássico. E você? Ovos com bacon?

— Torrada com tofu. Sua namorada já te traiu? Sim.

— Não. Quer dizer, é só um jogo, não é? Você não quer dizer nada com isso? — ele perguntou idiotamente.

— Fique com os seus pensamentos. — falando isso eu saí da sala.

Quarta-feira, 09 de Setembro

Hoje eu literalmente passei a tarde na biblioteca. Não pense que eu estava achando que Percy era um coitadinho tamanha forma que mal conseguia encará-lo, porque isso é simplesmente uma atitude idiota. Ultimamente tenho passado tanto tempo aqui que quando saio mal consigo encarar a luz do Sol, tudo pra aquele trabalho inútil de Física.

O Jackson estava tão deprimido que mal conseguiu me ajudar a fazer a tarefa. Sempre contava com ele pra poder me explicar tudo porque estava um ano avançado de mim, mas aparentemente eu também conseguia aprender sozinha, mas de uma forma bem mais entediante, solitária e nada barulhenta.

Odeio admitir isso, mas eu sentia falta de Percy comigo. Ele era uma pessoa engraçada, divertida e sempre me fazia rir nas horas mais idiotas. Não tinha conhecido um mundo sem ele ainda, e quando finalmente descobri, vi que era mais chato do que aparentava.

Tentei me divertir, mas a coisa mais interessante que tive foram aquelas contar difíceis, mas que acabei aprendendo a fazer de uma forma até divertida com as dicas antes recebidas. Realmente, estudar sem ninguém era uma merda.

Fiz o certo em contar, por mais que ele não tenha acreditado em mim no começo, acabou aceitando que a sua namoradinha era uma nojenta e acabou ficando tão triste que eu queria fazer alguma coisa.

Tentei até chutar aquela bunda dela, mas a piranha era rápida e acabou me arrancando alguns cabelos, mas ainda saí com a melhor deixando a marca dos meus cinco dedos no meio da cara dela. Foi delicioso passar a detenção naquela semana, simplesmente maravilhoso.

Me sentei encima do balcão e parei de equilibrar o lápis sobre um biquinho idiota.

— Toc toc. — ouvi alguém se sentar do meu lado.

Ao olhar pra frente tive uma das visões mais satisfatórias do meu ano: Percy com uma camiseta normal escrito “You’re a freacking idiot”, calça jeans e tênis. Será que é errado ficar secando o seu editor-chefe?

— Hey, Jackson.

— Quer fazer um jogo?

— Quer fazer a minha prova?

— Depois eu posso te ensinar tudo isso. — tirou o livro das minhas mãos e se colocou na minha frente. — Verdade ou consequência?

— Uau, e eu mesma achava que seria a primeira a oferecer a jogar um jogo mais perigoso. Vamos lá, me dê tudo que tem. Você começa.

— Verdade ou consequência?

— Solte as suas feras, caro Jackson. Me mande uma consequência que me faça arrepender de ter aceitado jogar.

— Me beija.

— Não, Jackson, infelizmente não. Por mais que esse seja o meu sonho desde os meus sete anos, — falei fingindo estar sendo irônica — não o quero fazer em uma biblioteca. Seria muito antiético da minha parte.

— Pra mim não.

— Dane-se, faça outra. Essa está fora de cogitação.

— Você é uma franguinha, Chase, uma garotinha assustada que não sabe beijar um garoto.

— Tuché. Eu realmente não sei beijar um garoto.

E então, meio assim de repente, eu senti sua boca sobre a minha, e suas mãos indecisas alternavam entre minhas costas e cintura. Rapidamente retribuí meio apavorada mesmo, colocando a minha mão nos seus cabelos revoltados e bagunçando-os mais ainda. Seu beijo era realmente intenso, profundo, algo que não sabia exatamente como identificar.

Quando ele aprofundou o beijo, tudo que pude fazer era copiar os seus movimentos porque claramente não tinha idéia do que realmente deveria estar fazendo. O ar já era escasso quando o beijo foi interrompido.

— Pronto, essa é só a teoria, precisa de mais prática, Menina Cupido.

— Desse jeito fica maio difícil cansar de praticar.

— Tuché. Agora vamos estudar logo porque mais tarde tenho que levar a minha nova namorada pra dar uma volta.

— Lisonjeada, mas não tinha me avisado antes pra eu escolher um vestido. — brinquei.

— Não tem problema, você ficaria bonita até com um saco de batatas.

E então a ficha caiu: eu era a nova namorada de Percy Jackson, e ainda por cima estava feliz com isso. É, a vida é uma caixinha de surpresas com glitter, purpurina e muito, muito, muito rosa.

Natal, 25 de Dezembro

Bem, querido diário, eu bem que disse que nunca ia te usar. Sabe que eu até pensei em escrever todos os dias, mas a coluna do Cupido estava meio que ocupando todo o meu tempo.

Há um ano e alguns meses eu comecei a escrever em você quando achei que nada mais tinha esperança. Eu queria uma vaga na coluna de comportamento, mas tudo pareceu sair do rumo. Primeiramente, eu fiquei com uma mecha cor-de-rosa no cabelo por, em torno, uns quinze dias. Segundo, eu acabei ficando da sessão de dicas de relacionamento, onde eu rapidamente me popularizei e coloquei tudo o que eu acreditava sobre a mesa. Terceiro, eu descobri que meu editor-chefe sedutor era apaixonado por mim.

No fim, eu era um mistério até o dia da minha formatura, quando eu passei a minha vaga pra Drew Tanaka, que se redimira com Percy. Aparentemente, ela estava com ele porque tinha medo de terminar, mesmo que fosse apaixonada por Luke Castellan, que por sua vez só ficava com ela pra passar ciúmes em Thalia, que acabou preferindo Nico.

Agora as coisas pareciam estar tomando o seu devido rumo, o que me deixou desumanamente feliz.

Esse Natal, eu resolvi passar meio longe do meu pai e os meus irmãos. Na verdade eu fui pra Oklahoma com Percy para visitar sua família que queria saber sobre a faculdade de biologia que ele escolhera, assim como me conhecer.

Por fim não me formei em jornalismo, mas sim em direito. Mas eu também não imaginava passar um ano namorando o cara que tinha renegado todas as minhas tentativas de publicar algo na capa do jornal da escola.

Sally, a mãe do meu atual namorado, me aceitou completamente e afirmou que eu já fazia parte da família. É claro que me senti completamente orgulhosa, já porque tinha uma noção que a senhora Jackson, que agora estava namorando um cara chamado Paul, era uma confeiteira de respeito — e acabou por me ensinar uns segredinhos de sua deliciosa culinária.

Percy me pedira em namoro no Natal, quando eu mal imaginava tal coisa. Na verdade, não foi bem um pedido, ele só havia falado pro irmão que “ia levar a namorada dele no McDonnalds”. E então eu sorri, porque sabia que as coisas eram pra ser assim.

E então vivemos felizes para sempre.

Mentira, a gente sempre tinha uma briguinha aqui, outra ali. Claro, éramos pessoas diferentes, então não havia nada que eu pudesse fazer.

Mas então vivemos (quase) felizes para sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, bem, espero que tenham gostado, amoras *u*

Fiquei impressionada com o apoio que vocês tem me dado com as minhas fanfics, então não precisam se preocupar porque não irei abandonar nenhuma por momento hue.

XOXO, espero que tenham gostado, tia Mayy