Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 8
Jennifer 2.3




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Assim que acordo percebo que estou no meu quarto. Olho ao redor, confusa por alguns instantes. Esfrego os olhos e passo a mão pelos fios rebeldes de meu cabelo. Levanto-me devagar. Leo deve ter me trago pra cá. Com certeza passou pela cabeça dele que minha mãe acharia completamente absurdo estarmos dormindo na mesma cama. Ela era daquelas de pensamentos antigos, em que isso era um dos maiores pecados. Mas eu confiava em Leo o suficiente pra permitir isso.

Vou direto para o banheiro e tomo um banho rápido, escovo os dentes ainda no box. Penteio meu cabelo e faço minha maquiagem diária, que consiste só em apagar algumas imperfeições, como as espinhas que tanto me incomodavam. Coloco o uniforme e pego um casaco. Saio do quarto e vejo que a porta do quarto de hospedes está aberta. Dou uma espiada e vejo que Leo já se levantou e a cama já está feita.

Desço as escadas lentamente.

—Vamos logo Jennifer! Vocês vão se atrasar. —escuto a voz de minha mãe da cozinha.

—Acho que ela ainda está dormindo tia Marina. —diz Leo assim que me sento à mesa.

—Não enche! —resmungo.

—Eita. Alguém acordou de mau humor hoje ou é impressão minha? —diz ele erguendo as sobrancelhas.

Não respondo apenas passo geleia em minha torrada e dou uma mordida.

Leo me conhece o suficiente pra saber os dias em que não estou bem. Ele costuma dizer que eu sou "de lua". Meu humor é sempre um mistério.

Quando Leo vai para o banheiro escovar os dentes, eu o sigo.

—Me desculpa. —digo o abraçando por trás.

Ele se vira pra mim.

—Tudo bem. Já meio que me acostumei. —ele dá um pequeno sorriso.

Fico na ponta dos pés e lhe dou um selinho. Ele dá uma gargalhada.

—O que foi? –pergunto.

—Você.

—Como assim?

—Uma hora me dá um fora, outra hora tá toda fofa. Uma hora diz que quer acabar com esse "lance de amizade colorida" —ele diz fazendo aspas com os dedos —E outra hora está na minha cama pedindo carinho. Eu sinceramente não te entendo.

Mordo o lábio inferior e olho para o chão.

—Você me confunde. Nunca sei realmente o que quero quando o assunto é você. —digo o fitando.

—É porque você não está enxergando o que é óbvio.

—O que é óbvio?

—Que você quer meu corpo nu na sua cama. —ele sorri maliciosamente.

Rolo os olhos e faço um som de desaprovação.

—Você não se enxerga mesmo né?

—Claro que sim. Meu espelho é muito bom. Sei que sou irresistível, e esse seu desejo não é de hoje.—ele diz me puxando pela cintura.

—Você irresistível? Poupe-me. —digo tirando suas mãos de minha cintura e saindo do banheiro.

Vejo que meu celular está vibrando. Outra mensagem.

Diego: Oi linda

Fico olhando pra mensagem por um tempo. Olho pro lado e percebo que Leo está ali. Ele tenta esconder ao máximo, mas consigo ver o desconforto que ele sente.

Eu: Oi Di

—Vamos? Já estamos atrasados. —diz Leo andando em direção à porta.

—Tchau mãe. —digo em tom alto.

—Tchau tia. —diz Leo.

—Tchau crianças, boa aula! —escuto a voz dela vinda da cozinha.

—Crianças. —digo rolando os olhos.

Vou caminhando ao seu lado, em silêncio. Tenho vontade de segurar sua mão, chego até mesmo a erguê-la em sua direção, mas penso no que isso pode significar e a recolho, colocando-a no bolso. Leo parece perceber, e sem dizer nada, pega minha mão e entrelaça meus dedos aos dele.

—Seu namoradinho não para de mandar mensagem, né? —Leo pergunta quando pela terceira vez eu guardo o celular no bolso.

—Foi o fim de semana todo assim. Já tá me enchendo. —olho pra ele. —E ele não é meu "namoradinho". —desenho aspas no ar.

—Se continuar assim, em breve será.

—Não sei não. Acho que não daria muito certo.

—E por que não? —ele parece surpreso.

—Ele é muito grudento.

—Mas você é grudenta. —ele ri.

—Exatamente. Não precisa de dois grudentos na relação. Deve ficar cansativo.

Ao chegarmos na escola vejo que, na verdade, estamos adiantados.

—Não estamos tão atrasados. Ainda tá todo mundo aqui. —digo.

—Pois é. Deve ter rolado alguma coisa. —ele dá de ombros indiferente.

Chegamos perto do pessoal. Annie abre um grande sorriso quando nos vê de mãos dadas.

—Ui, olha o casal mais hot do momento!

—Já vai começar Annie? –pergunto.

—Eu acho que a Annie tá com ciúmes. O Isaac não deve estar dando conta do recado. —diz Leo sarcasticamente.

—Pois fique sabendo que ele dá conta muito bem, até mais do que você daria. —ela diz presunçosa.

Sinto meu celular vibrar de novo.

—Mas que droga! —digo em tom baixo.

—O que foi? –pergunta Nanda.

—O namorado da Jenn não para de mandar mensagem. Ela tá ficando irritada já... E eu também. —ele acrescenta em som quase inaudível.

Pai: Acabei de chegar em casa, querida.

Eu: Ah, meu Deus! Jura? Poxa... Só vou poder te ver lá pras 13h.

—Não é o Diego. É meu pai. —digo sorrindo.

—Ele voltou? —pergunta Leo com o mesmo sorriso.

—Acabou de chegar.

Pai: É, eu sei. Boa aula!

Eu: Obrigada. Beijos, até.

Então checo as outras mensagens.

Diego: Vai vir pra escola hoje? Preciso falar com você.

Eu: Já estou na escola '-' .

O inspetor enfim autoriza nossa entrada, mas antes que eu entre na sala, sou interrompida por Diego.

—Oi, Jenn. —ele sorri. Se inclina e me dá um beijo na bochecha.

—Oi, Di. —retribuo o sorriso. —Você queria falar comigo?

—Ah, quero sim. Vamos dar uma voltinha? —ele estende a mão para mim.

—Mas tá na hora da aula... —digo olhando pra porta a nossa frente.

—Ninguém vai sentir nossa falta. —ele diz sorrindo.

Ele me puxa pela mão em direção ao corredor, para o mesmo lugar em que, há alguns dias atrás, eu havia discutido com Leo.

—E então? —digo encostando as costas em um dos armários e o fitando.

—Bem. —ele passa as mãos pelo cabelo e seu sorriso vacila. —Você deve ter achado estranho eu ter chegado do nada em você aquele dia e já ter te convidado logo pra sair. Certo?

—É. —balanço a cabeça em concordância. —Foi bem inesperado. —digo com sinceridade, mas sem entender aonde ele queria chegar.

—Eu precisava te falar a real sobre isso. —ergo uma das sobrancelhas enquanto ele solta um suspiro. —No inicio era basicamente uma brincadeira, nada mais do que isso.

—O quê era uma brincadeira, Diego? —eu já estava visivelmente impaciente.

—Os garotos do time de futebol fizeram uma aposta... —ele me encara nos olhos pela primeira vez até então. —Eu não sabia, Jenn. Nem desconfiava de quanto você era legal e o quanto tinha mudado,

—Fala logo! —sibilo entre os dentes. Já até imaginava aonde aquilo iria chegar, mas queria ouvir da boca dele.

—Era uma aposta pra quem conseguiria te co... pegar primeiro. —ele se atrapalha nas palavras e o olho chocada.

—O quê? —tenho vontade de gritar, mas minha voz falha.

—Eu sinto muito, Jenn.

—O quê você disse à eles?

—Jenn, eu...

—O quê você disse, Diego?

—Eu falei que tinha conseguido. Tinha ficado com você.

—Você mentiu? Na cara de pau?

—Foi constrangedor ter que inventar fatos, mas eu estava precisando do dinheiro e...

—Você disse que nós beijamos? —pela sua expressão sei que não foi apenas isso que Diego falou e tenho vontade de virar a mão em sua cara. —Qual é o problema de vocês, porra?

—Eu me arrependi. —ele ergue as mãos, como se quisesse se defender. —Eu te juro! Mas eu já tinha dito e não podia voltar atrás sem parecer um fracote.

—Mas você é um fracote. Um babaca!—digo com raiva e dou alguns tapas fortes em seu braço. Ele ao menos se encolhe, apenas olha pra mim, com um ar arrependido e aquilo faz minha raiva duplicar.

—Jennifer! —ele segura minhas mãos, mas eu as solto e o empurro para trás.

—Vocês são todos iguais. Só queriam ver quem "comeria" a ex-nerdzinha que vocês tanto desprezaram e que de repente acharam interessante. —estou gritando e pouco me importo se escutem ou não. —Eu sabia que você era esse tipo de moleque, mas tinha esperanças que você tivesse mudado. —lanço um olhar de desprezo em sua direção e saio correndo para o banheiro.

Antes que eu entre na cabine e me sente sobre o vaso sanitário, com a tampa abaixada, sinto as lágrimas escorrerem pela minha bochecha. Droga, droga, droga!

Passo os primeiros tempos de aula lá. Tento me acalmar, mas sei se eu for para a aula, todos os meus amigos me encheram de perguntas e não sei se estou pronta pra dizer aquilo em voz alta.

Como eu podia ser tão idiota? Tão ingênua? Era óbvio que Diego não me chamaria para sair assim, do nada, repentinamente, ainda mais depois do escândalo que me envolvia com Nicolas.

Estava utilizando todos os palavrões conhecidos para insultar Diego mentalmente até escutar as vozes de Nanda e Annie.

—Jenn. Você tá aí? —pergunta Nanda batendo de porta em porta.

Abro a porta de um dos compartimentos devagar e passo o dorso da mão sobre as bochechas.

—Você está chorando? —diz Annie boquiaberta.

—O que aconteceu, Jennifer? —pergunta Nanda igualmente assustada.

Encosto-me na beira da pia e respiro fundo antes de relatar o que Diego tinha dito.

—E agora eu vou ficar fama na escola. Já não basta ter sido corna, agora de puta também. —digo dando um soco na parede. Minha mão fica latejando, mas não me importo. Não estava me importando com nada no momento. —Eu não estou magoada com Diego. Estou com muita raiva. Muita.

Escutamos o barulho de passos e todas viramos ao mesmo tempo em direção à porta, quando Leo passa por ela.

—Você enlouqueceu? Aqui é o banheiro feminino. —Annie o repreende.

—Só tem vocês aqui. —ele rola os olhos e depois seu olhar para em mim. —O que aconteceu, Jennifer? —ele se aproxima com uma expressão preocupada.

Peço para que Annie e Nanda relatem, não tenho mais estômago para repetir aquilo. Já até imaginava o que Diego teria inventado para os outros. Os detalhes sórdidos que nunca existiram. Imaginava o que os outros teriam falado, pensado e até rido. Ouvir aquilo só aumentava o meu ódio.

—Então era você a garota que eles comentavam no vestiário. —ele parece perdido nos próprios pensamentos enquanto cobre os lábios com a mão. —Onde ele está? —ele volta a me olhar.

—Deixa isso para lá! —mas ele simplesmente me dá as costas e dispara pelo corredor. —Leo! —grito, mas ele não me escuta.

Começo a correr atrás dele, ainda chamando por seu nome, mas ele me ignora. Quando ele diminui o ritmo de seus passos, penso que conseguirei alcançá-lo, mas então ele parte para cima de Diego.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: POV' Leo.