Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 7
Jennifer 2.2


Notas iniciais do capítulo

POV' Jenn



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517208/chapter/7

Estava sentada ao lado de Leo, com a cabeça encostada em seu peito, enquanto ele acariciava suavemente meus cabelos.

Assistíamos a um filme, no sofá da sala de minha casa e confesso que estava me sentindo tão confortável, que meus olhos estavam se fechando, e eu tinha que piscar rapidamente para me manter acordada.

Uma chuva terrível caia lá fora, e trovões eram ouvidos de minuto em minuto. A mãe e irmã dele tinham ido pra casa de sua avó mais cedo e não conseguiram voltar devido a tempestade, que deixou todos ilhados.

Minha mãe então, solidária, havia convidado Leo para passar a noite lá em casa. Já havíamos até mesmo preparado o quarto de hospedes, que ficava em frente ao meu.

Estávamos em silêncio até ele se virar em minha direção. Um clarão surgiu no céu, fazendo eu me encolher involuntariamente.

—Então você não vai me falar como foi ontem? —ele perguntou num tom casual.

Ontem... Bom, eu tinha saído com Diego, um carinha da escola pelo qual já fui apaixonada.

Depois de tanto tempo ele finalmente tinha me chamado pra sair. Um pouco impossível de acreditar. O convite foi feito de forma totalmente repentina e eu nem sabia o que aquilo significaria.

Eu estava em dúvida se iria ou não, mas o que eu teria a perder?

—Você quer mesmo saber? –digo erguendo as sobrancelhas.

Ele assente passando os dedos distraidamente pela minha perna.

—Bem... Ele me levou ao shopping. –repassava mentalmente os acontecimentos, antes de dizer em voz alta. Não queria chatear Leo, mas também não queria menosprezar o que tinha acontecido. –Compramos pipoca e refrigerante e fomos assistir a um filme. Vimos A Culpa é das Estrelas. Aquele livro que eu vivia te falando, lembra? —ele confirma e sorri. Eu havia praticamente obrigado ele a ler aquele livro, antes mesmo de virar uma modinha sem fim. —Apesar de tudo, ainda chorei quando o Gus morreu.

—Ah, pelamor de... —ele começa a protestar.

—Shiu! –coloco um dedo sobre seus lábios. Ele revira os olhos e então continuo. —Depois do filme ele me levou a minha lanchonete favorita, aquela que sempre vamos. —ele faz uma expressão de carranca. —Aliás Rita te mandou lembranças. —a garçonete que sempre dava em cima de Leo descaradamente quando íamos até lá. —Comemos e depois ele me trouxe pra casa. Fim! —digo de forma teatral.

isso que você tem a dizer?

—O que você quer que eu diga? –falo inocentemente.

—Ah, não sei. Se vocês andaram de mãos dadas... Se ele tentou te beijar, ou algo assim. —ele baixou os olhos, fitando as mãos quando disse essa última frase.

—Não. Andamos de braços dados, como eu ando com a Nanda e Annie. E ele não tentou me beijar.

—Que otário. —ele ri.

—Otário? —pergunto franzindo a testa. —É a primeira vez que eu saio com ele.

—E pretende sair outras? —o tom possessivo estava ali outra vez. E droga, como eu gostava daquilo.

—Isso é um interrogatório? —falo num tom zombeiteiro.

—Só estou perguntando.

—Eu não pergunto sobre suas namoradinhas.

—Então já está afirmando que ele é seu namoradinho? —um sorriso triunfante surge em seus lábios.

–Claro que não. —ele então começa a rir vendo minha clara frustração. —Qual é a graça?

—Você. —ele diz num tom óbvio, me afasto dele e cruzo os braços. —Fica bravinha à toa. Sabe que eu adoro te provocar. —ele roça o nariz em meu pescoço, me deixando completamente arrepiada.

—Então você conseguiu o que queria. —minha voz sai falhada.

—Eu sempre consigo. —ele sorri e morde o lóbulo de minha orelha, puxando-o e, em seguida, soltando-o.

Então, eu volto a pensar no dia anterior e um flashback invade minha mente.

Diego era mais sério, mas mesmo assim simpático. Tinha me dado até um ursinho de pelúcia que tinha conseguido em uma daquelas máquinas de garra. Era pouco falante, e era eu que, na maioria das vezes, tinha que puxar assunto, antes que um silêncio constrangedor se instalasse.

Era atencioso, e sempre queria mais ouvir do que dizer. O tipo de cara com quem você gostaria de desabafar. Falamos das coisas que gostávamos. Da família e dos interesses quando terminássemos o colegial. E obviamente, tive que dar minha crítica sobre o filme, assumindo o papel de leitora.

Uma hora engraçada foi quando sem querer ele espirrou mostarda em meu rosto. Ele ficou tão nervoso e vermelho que foi difícil parar de rir, o que o deixou ainda mais sem graça.

O ruim da situação é que eu não conseguia parar de pensar em Leo. "Se Leo estivesse aqui, ele faria isso dessa forma. " Ou quando Diego não sabia algo ou como agir, eu pensava "Leo saberia".

Não era nada honesto com Diego. Leo me conhecia por completa, até mais do que eu mesma, enquanto ele ainda estava por conhecer. Mas as comparações vinham quase sempre à mente, já que eu estava em lugares que normalmente frequentava na companhia de Leo.

—Jenn? Jennifer? —escuto a voz de Leo ao longe.

Sinto meu ombro sendo balançado. Abro meus olhos e vejo que ele está a minha frente.

—O filme já acabou. —percebo que ainda estou no sofá, com a cabeça apoiada numa almofada. —Você dormiu e achei melhor não acordá-la, mas é melhor ir logo pra cama.

—Ah. —resmungo, cobrindo meu rosto com um de meus braços.

—Quer ir no colo? —diz Leo com uma voz debochada.

Olho pra ele avaliando a oferta. Apesar de seu tom, sei que se eu pedisse, com um pouquinho de manha, ele realmente faria isso.

—Me leva nas costas, mô. —digo fazendo bico.

—Nas costas? —seu tom era incrédulo. —Como é que eu vou dormir depois? Você deve pesar uma tonelada.

—Vá se ferrar!

—Tá bom, parei. —ele ergue as mãos se aproximando. —Só não me bata.

Ele se agacha na minha frente. Eu fico em pé sobre o sofá, tomo impulso e subo em suas costas. Ele me segura pelas coxas enquanto entrelaço os braços em torno de seu pescoço.

—Iupi. Avante Leo! —ergo um dos braços em direção a escada.

—Não me provoca ou te solto e te largo aí no chão.

—Você não faria isso. —digo num tom provocativo.

—Experimenta!

Ele então começa a caminhar, subindo lentamente os degraus. Encosto minha cabeça em seu ombro.

—Jenn?

—Hum?

—Vê se para de comer. Você não era tão pesada assim não.

—Você é que tá fraco. —digo rindo.

—Vou te mostrar quem é o fraco depois. —sinto meu rosto corar e resolvo ficar em silêncio Ouço então sua risada baixa.

Leo abre a porta do meu quarto e me coloca sobre a cama.

—Está entregue, madame.

—Obrigada. —rio já afastando a colcha e me ajeitando sobre meu travesseiro.

—Tá achando que é só obrigada? —ele ri e se aproxima. Ergo minha cabeça enquanto ele se inclina e me dá um beijo demorado. Um fogo desconhecido se acende sobre minha pele. O mesmo que senti naquele dia, no quarto dele. Seguro sua nuca em busca de mais, mas ele simplesmente segura minhas mãos e as afasta. Depois me dá um beijo suave na testa. —Boa noite, Jenn.

—Boa noite, Leo.

Quando já está na porta quase a fechando, ele volta e me olha.

—E seu pai, Jenn? Ele não voltaria hoje?

—Devido à tempestade os voos foram cancelados. —meu tom desanimado combina perfeitamente com minha expressão no momento.

—Ah, sim. Sinto muito. —ele abre um sorriso fraco.

—Tudo bem. —tento parecer indiferente, mas aquela demora dele já me preocupada. —Amanhã ele já deve estar de volta.

—Até amanhã então.

—Até.

Deito-me pra dormir, mas só consigo cochilar por cerca de vinte minutos, ou menos. Depois que me viro de um lado do outro, sem conseguir ao menos sentir sono, resolvo me levantar.

Meu pensamento é que Leo ainda deve estar acordado. Então, sorrateiramente vou até o quarto de hóspedes. Entro sem bater e sem fazer barulho. Não queria que minha mãe acordasse.

Então me deparo com Leo dormindo profundamente. Contemplo essa imagem por alguns segundos. Seu rosto ficava tão suave. Ele parecia o garoto que eu brinquei na infância. O mesmo Leo.

Quando estou me virando pra sair e voltar pro meu quarto, escuto sua voz sonolenta:

—Jenn? —o corpo erguido e apoiado sobre os cotovelos, os olhos estreitos, como se estivesse me localizando aos poucos na meia-luz do quarto.

—Desculpe, não queria te acordar. —digo sussurrando e me reaproximando da cama.

—O que foi? —ele também sussurra e esfrega os olhos com o dorso da mão.

—Eu perdi o sono e vim ver se você ainda estava acordado. Já estava de saída.

—Fica um pouco aqui. Até você sentir sono de novo. —ele diz me estendendo a mão. Penso por alguns segundos, pensando seriamente em recusar sua oferta, mas que mal haveria?

Seguro sua mão e me sento na beirada da cama. Ele me puxa, me fazendo deitar ao seu lado. Coloca um dos braços sobre minha cintura e chega mais perto, tão perto a ponto de nossos narizes se tocarem.

—Leo! —alerto.

—Não vou fazer nada, prometo. —ele sorri enquanto eu apoio minha cabeça em seu peito. Seus dedos começam a se mover em meu braço, pra baixo e para cima. Depois sobem até meu rosto e alisam minha bochecha com delicadeza. Fecho meus olhos. —Dorme comigo.

—É melhor não. —balanço a cabeça na mesma hora, imaginando o que minha mãe diria se visse eu e Leo na mesma cama pela manhã. Como eu explicaria que éramos amigos, mas ao mesmo tempo, éramos mais do que isso?

—Por favor. —ele sussurra contra meus cabelos. Seu tom é tão suplicante e quando olho para seus olhos verdes, não consigo dizer não. Então chego mais perto dele e me deixo ser envolvida por seus braços. É uma sensação tão boa. Respiro fundo, aproveitando aquele momento. Antes que eu perceba, eu caio no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem bastante!
Deem ideias sobre o desenrolar da história. Vai me ajudar muito!