Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 6
Jennifer 2.1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Assim que acordo vejo que meu celular está vibrando. Sentou-me na cama e afasto os cabelos do rosto. Me espreguiço e dou um longo bocejo. A quem quero enganar? Eu não tinha dormido praticamente nada. Coço os olhos e desbloqueio a tela. Outra mensagem de Leo. Solto um suspiro e deixo o celular sobre o criado-mudo.

Eu sinceramente não tenho ideia do porquê estou fazendo isso. A imagem de Leo agarrado à cintura daquela vadia não sai da minha mente. Na verdade, eu não tinha ideia de quem era aquela garota, mas era o único termo que eu pensava no momento para descrevê-la.

Mas o que eu tinha haver com isso? Ele era solteiro e podia pegar quantas quisesse. Mas a raiva que senti no momento e a mágoa que estou sentindo agora me contradizem.

Éramos amigos, nada mais do que isso. Bom, a não ser pelo quase sexo na casa dele. Droga! Aquilo tinha me marcado de uma forma completamente diferente, e não estou me referindo as marcas do meu pescoço ou das minhas coxas, mas as sensações que senti naquele dia. Sinto meu corpo se arrepiar ao lembrar das mãos de Leo passeando pelo meu corpo e decido que está na hora de levantar.

—Não posso me apaixonar por ele. Não posso. —repito mentalmente, quase como um mantra.

Leo sempre teve a fama de pegador. Sabe-se lá quantas ele tinha ficado enquanto estávamos com essa idiotice de amizade colorida. Me sinto idiota por alguns segundos. Será que ele só estava me usando? Balanço a cabeça. Leo não era assim. Ele não faria isso. Não comigo.

Arrumo a cama preguiçosamente, esticando o lençol e guardando o travesseiro no armário. Tinha passado o domingo inteiro trancada no quarto, na cama, de pijama. Minha mãe já estava preocupada comigo e eu não tirava sua razão.

Esqueço por alguns segundos que Nick não vai me buscar. Só se passaram três dias, mas parece que se transcenderam anos. Estou ignorando Leo, então não seria lógico eu pedir uma carona.

Pego meu celular outra vez e ligo para minha anjo da guarda particular.

—Annie?—escuto ela resmungar algo com seu irmão do outro lado da linha.

—Oi, Jenn. —sua voz está mais próxima e ela parece ter acordado naquele instante.

—Será que você poderia me dar uma carona hoje? —minha voz sai mais aguda do que o normal.

—Claro. —ela responde imediatamente e depois solta um suspiro. —O Leo não vai pra escola não?

—Eu não sei. —mordo o lábio nervosa. Ela tinha sacado.

—Ah, Jenn! —ela reclama. —O que tá acontecendo? Você está estranha desde daquele dia do jogo.

—Não estou nada. Estou normal. —começo a organizar minha mochila, controlando meu tom de voz.

—Eu te conheço, Jennifer. É porque você viu o Leo se agarrando com a Priscila, né?

—O quê? Nada haver isso...

—Você tá gostando do Leo, Jennifer?

Paro de respirar por alguns segundos, segurando o impacto que suas palavras tem contra mim.

—Para com isso, cara! —digo num tom ao mesmo tempo apressado e irritado. —Eu não estou gostando de ninguém. Para de me encher com isso!

—Eita! Tá bom então. Não precisa ficar estressadinha. —ela solta uma risada baixa. —Daqui a meia hora eu tô ai, beleza?

—Tudo bem.

—Beijo.

—Beijo.

Vou para o banheiro e tomo um banho rápido. Faço uma maquiagem discreta e deixo meus cabelos soltos. Coloco o uniforme escolar e pego minha mochila sobre a cadeira.

Assim que desço, vejo que minha mãe já preparou meu café.

—É pra comer direito em mocinha? —ela me reprime. —Você não comeu quase nada ontem.

Minha mãe era uma mulher bonita, com cabelos escuros e olhos cinza, como os meus. Trabalhava em tempo integral, como gerente de um supermercado famoso. Não por necessidade, já que o emprego de meu pai nos fornecia certa estabilidade financeira, mas porque ela odiava ficar em casa, parada. Era do tipo comunicativa até demais.

—Pode deixar. —digo me sentando e bebendo um gole de suco de maracujá. —E meu pai? —ergo meu olhar para ela assim que se senta na cadeira ao meu lado.

—Ele volta hoje à noite. —sou incapaz de reprimir um sorriso. Não que eu gostasse mais dele, mas eu e meu pai tínhamos uma cumplicidade invejável. Eu realmente sentia falta dele, mas já estava acostumada com suas viagens à negócios. —Parece que ocorreu tudo bem e a empresa já assinou o contrato. Ele vai ficar algum tempinho conosco.

—Que maravilha! —praticamente bato palmas a mesa enquanto minha mãe ri.

Volto a comer e logo termino meu café, e corro para escovar os dentes. Quando estou secando minhas mãos, escuto a buzina de Annie.

—Tô indo, mãe.

Jogo minha mochila sobre os ombros e pego minha chave. Ao sair, tranco a porta e praticamente corro até o carro de Annie.

—Oi, amiga. —digo dando um beijo na bochecha dela assim que me sento no banco de carona.

—Oi, Miss Estressada. —ela ri e retribui o beijo.

—Me desculpe. —falo sem graça.

—Tá tudo bem. —ela dá de ombros. —Já até me acostumei.

Quando Annie dá partida no carro, vejo um vislumbre de Leo saindo na porta. Ele parece confuso, mas não há tempo para explicações. O carro se afasta rápido demais.

—Mas me conta amiga... —ela tamborila os dedos no volante assim que paramos num sinal vermelho. —Você estava com ciúmes, não é? —me olha pelo canto dos olhos.

—Acho que sim. —admito fazendo uma careta. —Eu te falei, né? Do lance da amizade colorida e tal.

—Acho que vocês devem dar um tempo nisso antes que um dos dois se machuque. —seu tom de voz é sério. —É óbvio que uma hora um vai confundir, ou já está confundindo... —ela olha pra mim significativamente. —E vai acabar estragando a linda amizade de vocês.

—Eu sabia que isso não era uma boa ideia desde o inicio. —murmuro.

—Como não? —ela arregala os olhos em minha direção. —Desculpa aí, não me ataque, nem nada assim... Mas você já olhou pro Leo? Olhou bem mesmo? —minha reação é uma risada nervosa. —Se eu não tivesse com o Isaac, ah meu Deus!

—Annie!

—Eu parei, juro pra você que parei. —e nós duas rimos.

Antes que eu perceba, já estamos na rua da escola. Ela estaciona numa das últimas vagas, obrigando-me a andar um bom pedaço. Mas resolvo não reclamar.

—Vai continuar ignorando o Leo?

—Prefiro falar com ele só no intervalo.

—Você quem sabe. —ela dá de ombros. —Mas fique sabendo que ele não ficou se agarrando com a Priscila. —viro-me confusa para ela.

—Como assim?

—Assim que eles começaram ele se afastou e veio pro nosso lado perguntar onde você estava.

—Jura? —ela apenas assente com a cabeça.

Assim que Priscila puxou Leo e eles se beijaram, eu virei às costas e entrei no campo. Não fiquei ali pra terminar de assistir a cena. Bom, eu não teria estômago para isso.

Entro na sala e sento duas cadeiras a frente da de costume. Nanda e Annie se sentam atrás logo atrás. Eu olho pra cada pessoa que entra na sala, na esperança que uma delas seja Leo, mas nada dele chegar.

Então uma voz masculina me distrai:

—Posso me sentar aqui?

Eu olho. Estava tão distraída que não havia visto ele se aproximar. Demoro alguns segundos para reconhecê-lo, até que um nome me vem a mente: Diego.

—Ah, claro! —digo apontando para a cadeira e sorrio nervosa.

Eu não estava acreditando que Diego Scott estava falando comigo. Era sério aquilo?

Aos treze anos eu era completamente apaixonada por ele. Daquelas que se fosse possível vasculharia o lixo só pra pegar o chiclete que ele teria jogado fora. Nojento? Bom, pra mim era uma espécie de obsessão.

—Eu te vi lá no dia do jogo. — ele sentou-se e jogou a mochila sobre a mesa. Depois apoio o queixo na mão e voltou o olhar para meu rosto. —Você parecia chateada. —ele une as sobrancelhas, a espera de explicação.

—Ah, não foi nada demais. —coloco uma mecha de cabelo para trás da orelha e tento ignorar os olhares maliciosos que Annie lança em minha direção.

—Você mudou muito Jennifer. —ele sorri pra mim. Seus cabelos castanhos e seus olhos azuis não haviam mudado nada. Abro um sorriso tímido.

—Espero que a mudança tenha sido pra melhor.

—Ah, claro que sim. —ele ri percebendo meu desconforto. Ele me olha nos olhos me deixando paralisada por alguns segundos. —Que tal um dia desses a gente ir ao cinema, ou alguma coisa?

O quê? Era sonho ou ele estava mesmo me convidando pra sair?

—Ah, seria ótimo. Quando? —pergunto, tentando não parecer entusiasmada demais.

—Pode ser hoje de tarde?

—Hoje? —franzo as sobrancelhas, estava ansiosa, mas não sabia que seria assim tão rápido.

—Você tem algum compromisso? —ele parece desapontado.

—Não. —nego com a cabeça no mesmo instante.

—Ótimo, te pego às 19? —concordo com a cabeça e levanto o olhar para porta.

Leo acaba de entrar na classe e passa por nós, me lançando um olhar venenoso. Se senta nos fundos da sala. Então me viro em sua direção.

Posso falar com você depois? —digo apenas movendo os lábios em sua direção.

Ele apenas acena afirmativamente com a cabeça. Nenhum vestígio de sorriso em seus lábios.

—Vocês brigaram? —pergunta Diego em voz baixa. Ele estava nos observando, alternando o olhar ora para mim ora para Leo.

—O quê? —ergo as sobrancelhas. —Ah, não! —era tão óbvio assim?

—É porque vocês estão sempre juntos. —ele vê meu desespero e abre um sorriso tranquilizador. —Por isso até demorei pra vir falar com você. Pensei que vocês estavam saindo.

—Somos só amigos. —falo secamente.

—Fico feliz em saber disso. —solta uma risada e é tão boa de ouvir que acabo o acompanhando.

Passo a aula me alternando em fazer os exercícios e conversar com Diego. Descubro algumas coisas sobre ele que antes não tive oportunidade, como o fato de ele ser filho único como eu. Além de músicas e livros em comum.

Era estranho, parecia que ele fazia de tudo para me agradar ou concordava com tudo que eu dizia. Na verdade, gostava de encontrar pessoas com opiniões divergentes. Era melhor debater do que concordar, uma hora aquilo se tornava chato.

Leo havia ficado toda a aula de cabeça baixa e parecia distraído. Tenho certeza de que não prestou atenção na aula ou ao menos copiou o dever no quadro. Suspiro indignada.

Assim que o sinal toca, a maioria sai em disparada para o pátio. Me levanto rapidamente, sem ao menos me despedir de Diego, e caminho em direção à ele.

Quando estou preparada pra despejar as dezenas de desculpas, ele diz:

—Que tal irmos para o corredor? —ele se levanta e coloca as mãos no bolso. —Não deve ter ninguém lá.

—Ah, claro. —digo desconcertada.

Ele passa por mim e eu o sigo. É uma sensação estranha. Parece até o tempo em que ficamos afastados, mas, ainda assim, pior.

Assim que chegamos ele para, encostando-se a um armário. Seu semblante está sério e me sinto um pouco intimidada. Passo a mão pelo cabelo, mas as palavras parecem fugir de mim.

—Agora você vai me explicar porque passou o fim de semana todo me ignorando? —ele cruza os braços.

—Leo, eu...

—Por que saiu daquele jeito do campo? O que foi que eu fiz? —ele pergunta em voz baixa, mas seu tom me faz sentir que seria melhor se ele gritasse comigo. A calma não combina em nada com ele.

—Eu simplesmente não consegui ver você se agarrando com aquela vadiazinha na minha frente e eu...

—Você tá me dizendo que me deixou preocupado o fim de semana inteiro porque estava tendo uma crisezinha de ciúmes? —ele ri balançando a cabeça.

A forma como ele diz "crisezinha de ciúmes" me faz me sentir estúpida.

—É, tem razão. —solto um suspiro e me encosto ao seu lado. —Eu fui uma idiota mesmo.

—Não foi isso o que eu quis dizer.

—Acho que isso já foi longe demais. —olho para cima, tentando encontrar as palavras certas. Como se elas fossem estar escritas ali, não é Jennifer?

—O quê? —ele me olha confuso.

—Estamos brigando, nos ignorando. E tudo isso é por causa dessa estupidez de amizade colorida. —balanço a cabeça. —Cadê a amizade nisso? Já estamos confundindo as coisas. —eu já estou confundindo as coisas, acrescento mentalmente. —Isso tem que acabar.

—Esse é o problema Jennifer... Nós dois sabemos que não queremos que isso acabe. —ele sussurra parando a minha frente e erguendo meu queixo, me obrigando a olhar para ele.

—Leo...

—Estava tudo bem. Uma hora isso ia acontecer. Mas só por isso vamos destruir algo que faz bem pra nós dois? —ele acaricia meu rosto.

—Me desculpa... —sussurro e ele sorri de leve, encostando sua testa na minha.

—Não precisa se desculpar.

Após alguns segundos assim, envolvo, hesitante, meus braços em sua cintura. Ele me aperta, com o rosto escondido sob meus cabelos.

—O que o Diego tanto falava contigo na aula? —ele pergunta assim que se afasta, mas permanece com os braços a minha volta.

—Só eu senti o tom de ciúmes nessa pergunta? —eu rio e ele revira os olhos impaciente.

—Você não respondeu.

—Ele me convidou pra sair hoje à tarde. —mordo o lábio, desviando o olhar.

—Hum...

—O quê? —reprimo um sorriso.

—Acho engraçado o fato de você me ignorar por vários dias porque uma garota me agarrou, e vou deixar claro que foi contra minha vontade. Aí agora você vai sair com o Diego e eu tenho que levar na boa. —ele diz com tanta ironia que começo a rir na mesma hora. —E os direitos iguais nisso? Isso não é justo! —ele reclama.

—O mundo não é justo.

—Não é mesmo. —ele então se inclina e me beija suavemente.

Leo era meu conforto, meu amigo, meu porto seguro.

Meu filme de romance clichê quando eu estivesse na fossa.

Meu CD de heavy metal quando eu estivesse revoltada.

Meu travesseiro quando me sentia deprimida... E não podia perder isso.


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Notas finais do capítulo

E então? O que vocês estão achando? O que acha que vai acontecer agora?
(A última frase eu peguei de uma fanfict que adoro ♥).